quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bandeira, Fervença e Afurada


Conforme prometido volto hoje ao Prato pertencente ao Manel, aquele que tem um motivo bonito, muito colorido, que para uns serão borboletas ou libelinhas, ou para outros, uns pavõezinhos andando em círculo. Mas, provavelmente a Maria Andrade, terá razão e representarão uns botões envoltos por pequenas folhas.


No post em que tratei deste prato, tentei compara-lo com um prato atribuído a Miragaia, mas a Seguidora Misteriosa enviou a imagem de um prato da sua colecção, com os mesmo motivos decorativos, mas com uma imagem central, representando algum malfeitor conhecido no século XIX, o que me estragou o esquema todo de aproximar este prato da produção Miragaia. Com efeito, a faiança da seguidora misteriosa recorda mais aquelas peças da Fábrica da Bandeira, representado figuras da época, como a Maria da fonte, o D. Miguel ou os Meninos Gordos. Depois para baralhar mais a coisa o Joaquim Malvar enviou um prato da sua colecção também com uma variante deste motivo do botão, só que atribuído a Fervença

Com esta confusão toda, resolvi parar, ler mais um pouco e aproveitar para consultar os catálogos da Colecção António Capucho e Os Meninos gordos : contar uma história através da faiança, este último título da uma sugestão da Maria Andrade.


O resultado desta pequena reflexão, que não pretende de todo ser um juízo final é o seguinte:



Sempre achei que este prato do Manel, que tem uma faiança muito brilhante, um colorido vivo e uma decoração que eu diria jocosa, me recorda um prato lindíssimo da colecção António Capucho, representando uma cobra.



Prato Bandeira da antiga Colecção António Capucho

Esta peça está atribuída a Bandeira e aparece reproduzida na obra António Capucho: retrato do Homem Através da Colecção. Lisboa: Civilização, 2005. A fábrica da Bandeira situava-se em Vila Nova de Gaia e terá estado activa entre 1840 e o início do século XX-

O prato da Seguidora Misteriosa


O motivo do botão de flor do prato do Manel encontra-se no prato da seguidora misteriosa. Contudo o brilho da faiança é tão diferente entre as duas peças. Uma consulta ao catálogo Os Meninos gordos : contar uma história através da faiança, de Isabel Maria Fernandes deu-me uma razão para esta diferença de brilho.


Prato Fervença de Colecção Particular
Provavelmente o prato da Seguidora Misteriosa será de uma fábrica diferente, Fervença, conforme se pode pela imagem de um prato de uma colecção particular, constante no referido catálogo e atribuído aquela fábrica. A Fábrica da Fervença funcionou em Gaia, mais ou menos entre 1824 e 1860.



Depois aparece o prato do Joaquim Malvar,  que ele tem como Fervença e que apresenta igualmente estes botões florais, só que maiores. No mesmo catálogo dos meninos gordos, descobri um prato com algumas semelhanças a este, mas identificado como uma peça feita pela Fábrica da Afurada, que laborou entre 1830 e 1860, na localidade do mesmo nome e que é mesmo ali ao lado de Vila Nova de Gaia.

Prato do Museu Municipal de Viana do Castelo, atribuído à Fábrica da Afurada

Enfim, isto é só um esboço para tentar arrumar pouco as ideia`s, que foram surgindo acerca de um motivo floral, que várias fábricas terão usado. Amanhã, talvez  tenha que rever novamente todas as ideias feitas.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Vista Alegre e o Vieux Paris

A última aquisição que quase me fez esquecer o roubo dos subsídios de férias e Natal

A semana passada comprei mais uma peça do serviço daquela cafeteira, com florinhas, que mostrei aqui recentemente. É uma chávena de chá e portanto a cafeteira será afinal uma leiteira. Foi muito barata, pois está partida e colada, mas fiquei muito feliz na mesma e até me esqueci por uns momentos dos subsídios de Natal e Férias, que me roubaram.



Depois ao longo desta semana andei a vaguear pelos sites franceses, a entrar nas páginas dos antiquários, dos brocanteurs (casas de velharias) e nas enchéres (os leilões). Estive a fazer umas pesquisas sobre Porcelana de Paris, pois suspeito que uma outra cafeteira que comprei há uns tempos será uma peça Vieux Paris e queria confirmar com provas essa suspeitas.

No meio dessas navegações todas, consegui confirmar outra suspeita que também já há muito que alimentava. A Vista Alegre na sua fase inicial seguiu muito de perto os modelos da porcelana de Paris. Uns amigos franceses, que se interessam também por velharias e loiças já me tinham alertado para a semelhança entre os formatos e as decorações florais da Vista Alegre e as produções do chamado Vieux Paris
O serviço de chá Vieux Paris

E de facto num site de antiguidades o http://www.proantic.com   descobri um serviço de chá decorado com umas florinhas muito idênticas às minhas peças da Vista Alegre. Há apenas aqui e ali umas diferenças, como as asas das chávenas, pois as francesas fazem um caracol mais acentuado no topo. Mas num primeiro olhar, é quase difícil dizer o que português e o que é francês.



A chávena Vieux Paris

A chávena VA

Para quem não saiba, a chamada Porcelana de Paris ou Vieux Paris, não corresponde a única marca específica. É uma designação genérica que cobre a produção de uma série de fabricantes e decoradores de porcelana estabelecidos em Paris, entre os finais do XVIII e a primeira metade do século XIX. Essas casas tanto podiam fabricar a porcelana como comprar peças em branco, normalmente em Limoges e pinta-las depois.

A Vista Alegre inspirou-se muito directamente nos motivos florais e nas formas do Vieux Paris, o que não era nada de espantar, pois a cidade da luz era o centro europeu de todas as modas, que eram copiadas sem complexos de Lisboa a St. Petersburgo.
o número da chávena

Também a Vista Alegre parece ter herdado uma das características da produção do Vieux Paris, o sistema de numeração, que cada artificie tinha para marcar as suas peças. Afirmo isto baseado na observação que fiz das 3 peças que tenho, deste serviço, a chávena, o pires e a cafeteira. A chávena apresenta no reverso o número 7, o pires o nº 8 e a cafeteira o 18. Estes números não se podem reportar à decoração, pois ela é sempre a mesma. Ao molde e ao tempo de cozedura também não, porque andei a espiolhar o verso das chávenas, que deixei na loja e os números eram todos diferentes. Portanto só resta a possibilidade de estes números serem uma espécie de assinatura, que os artificies deixavam nas suas obras, como forma de controlarem o número de peças produzidas e de os seus superiores puderem identificar pelo número, quais eram os trabalhadores virtuosos e quais eram os mais trapalhões.



o número da cafeteira

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mais alguma coisa sobre a Infanta Isabel Luisa Josefa


Isabel Luisa Josefa. Pormenor do frontispício do II volume da Alma Instruída do Padre Manuel Fernandes, de 1690 

As estampas e os livros antigos são charadas fascinantes, que quando se começam a decifrar, tornam-se caminhos muito empolgantes, com pequenas metas vencidas, que constituem vitórias vividas em silêncio e que podemos partilhar com poucas pessoas.


Talvez porque ainda assim temos sempre necessidade de contar aos outros essas vitórias discretas e os pensamentos, que nos ocupam quando viajamos de metro ou cozinhamos, estou outra vez a escrever acerca daquilo que descobri sobre Princesa Isabel Luisa Josefa.

Isabel Luisa Josefa. óleo do Museu Nacional dos Coches, que esteve atribuído a Josefa de Óbidos.


Em primeiro lugar descobri que a minha estampa de 1690, gravada por Gérard Edelinck e desenhada por Claude Guy Hallé e Jerome Trudon foi executada a partir de um retrato da princesa, hoje existente no Museu Nacional dos Coches. As semelhanças são por demais evidentes entre a figura da minha estampa e senhora representada nesta pintura, obra que por acaso esteve muitos anos atribuída a Josefa de Óbidos. De facto, a Infanta era uma mulher realmente bonita, mesmo para os nossos cânones actuais de beleza, que mudaram muito desde o século XVII para cá

Isabel Luisa Josefa. frontispício do III vol. da Alma instruída, de 1699. Gravura de Nicolas Bazin

Depois, apos muitas pesquisas no matriz net, a base dos museus nacionais, descobri no Museu de Lamego a estampa, que ornamentava o terceiro volume da Alma instruída do Padre Manuel Fernandes, publicado em 1699. Trata-se de uma gravura representando a princesa da Beira deitada num leito de dossel, rodeada por três anjinhos e cujo significado me escapa um bocado. O anjinho segurando a lisonja com a cara escondida e o segundo anjinho apontando para o céu, sugerem-me qualquer alegoria à sua morte, mas não estou seguro.


A gravura, foi feita por um tal Bazin, que descobri tratar-se de Nicolas Bazin (1633 - 1710), que exerceu a sua actividade de gravador em Paris e que se especializou em cenas religiosas e retratos, como este da Princesa da Beira ou o que vemos aqui, representando a rainha Maria Teresa, mulher de Luís XIV, pertencente ao Museum of Fine Arts, Boston
A rainha Maria Teresa, mulher de Luís XIV. Gravura por Nicolas Bazin

Falta-me agora descobrir a estampa, que servia de frontispício ao primeiro volume da Alma instruída e que também representava D. Isabel Luisa Josefa.

Mais sobre este assunto

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vaso de Jardim oitocentista



Houve uma época em que os jardins tinham lagos, roseirais, buxos, pérgolas e caminhos, ornamentados aqui e ali com estátuas e vasos. As grandes famílias burguesas de oitocentos mandavam construir jardins à semelhança das casas aristocráticas do século anterior, com canteiros geométricos à francesa, ou então ainda segundo a nova moda do romantismo, com os caminhos a cruzarem-se fazendo um “8”, os chamados jardins em forma de biscoito. Para decorar os caminhos desses parques usavam estátuas, vasos e urnas, mas em faiança, que eram réplicas económicas das peças em pedra usadas no século anterior, nos palácios e solares.

Este vaso de Jardim que apresento hoje é uma peça vinda desse século XIX, em que as famílias eram grandes, as senhoras protegiam-se do Sol atrás de sombrinhas e as rosas, as peónias e os buxos e os lagos com peixes doirados ainda estavam na moda e as crianças vestiam-se à marujo.

O vaso foi descoberto pelo Manel na Feira de Estremoz, muito mal tratado, rachado, com um canto partido e com falhas tapadas por cimento. Imediatamente o meu amigo se encantou por ela e passou quase uma hora a negociar-lhe o preço. Acabou por compra-la. Levou-a para casa, lavou-a, colou a peça que faltava, tirou-lhe o cimento e aos poucos o vaso de jardim recuperou o antigo brilho.

O vaso de Miragaia apresenta passarinhos na grinalda e uma base diferente da peça do Manel

Enquanto via o Manel nestes preparos, lembrei-me que tinha acabado de ver uma peça semelhante no catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia, Lisboa: IMC, 2008 . Fotografei a peça e quando cheguei a Lisboa, comparei-a com a imagem do catálogo os dois vasos são de facto muito semelhante. As diferenças são os passarinhos na grinalda e o formato da base. Em suma, esta taça poderá ser uma peça saída da Fábrica de Miragaia entre os anos 1830-50.


No entanto há que ter cautela na atribuição e nas datas, pois não está marcada. Sabemos que após a falência da Fábrica de Miragaia, grande parte dos seus operários foram levados para a Fábrica de Sto. António de Vale da Piedade, que precisamente se notabilizou no fabrico de urnas, taças, e pinhas. Portanto o vaso poderá ser já da segunda metade do século XIX, período de grande actividade de Sto. António de Vale da Piedade . Por outro lado, como já todos sabemos, as fábricas copiavam-se umas às outras, sem grande pejo. Miragaia, Devesas, Massarelos, Sto. António eram manufacturas vizinhas e os operários e moldes circulavam facilmente entre elas e todas produziram urnas, pinhas, estatuetas para enfeitar fachadas, jardins ou portões.


Seja ela Miragaia, Sto António do Vale da Piedade ou Devesas, sempre que olho para este vaso, vejo as imagens de uma casa oitocentista do Norte, como muros de granito, um jardim com camélias e crianças que já morreram há muito vestidas de marujo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jarra de Altar

Tenho esta pequena jarra de altar muito simples, sem decoração de qualquer espécie e naturalmente sem marca. Comprei-a na feira-da-Ladra, aquele rapaz tatuado, que tinha um emprego de fato e gravata durante a semana e ao Sábado, gostava de relaxar na feira, vendendo antiguidades da sua casa, que já não lhe interessavam e cavaqueando com os clientes. Tinha certamente um emprego bem remunerado e não devia precisar do dinheiro para nada, mas julgo que gostava daquela sensação de liberdade, de sentir-se uma espécie de feirante cigano, pelo menos ao sábado. Era uma figura da feira, mas desapareceu nos últimos tempos.

Jarra de Massarelos do Museu de Grão Vasco

Já pesquisei bastante sobre esta jarra, mas não encontrei muitas informações concretas. Descobri que ao longo da segunda metade do século XVIII e primeiros cinquenta anos do Século XIX, quase todas as fábricas de faiança portuguesas produziram jarras bojudas para flores com este formato. Miragaia, Rato, Juncal, Massarelos e Viana manufacturaram estas jarras, umas mais bojudas que outras, outras mais decoradas, mas basicamente o formato foi sempre este.

Par de jarras do Museu de Aveiro sem marca

Mas nas bases de dados on line dos museus portugueses ou nos catálogos de arte, nunca vi uma jarra exactamente igual a esta. Isto explica-se porque os museus normalmente seleccionam as melhores peças ou se recebem faianças simples como esta, sem pintura decorativa, colocam-nas nas reservas.
Jarra do Juncal do Museu Nacional de Soares dos Reis

E no entanto, a sua simplicidade encanta-me. Recorda-me os altares das capelas das pequenas igrejas de província, onde há sempre um par destas jarras, uma em cada ponta.

jarra de Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis
Invariavelmente estas jarras estão cheias de flores frescas, postas por aquelas senhoras, designadas como cuidadoras. Tem uma capela ou mesmo a igreja matriz à sua responsabilidade e estas estão sempre imaculadamente limpas e a cheirar a cera.

Um ambiente de altar barroco na minha casa

Em minha casa, tentei sugerir esse ambiente de capela, colocando-a ao lado da Maquineta com o Menino Jesus e uma Santa de Roca. Julgo que consegui recriar um canto barroco muito português.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pequenas borboletas ou flores num prato do Norte




Quando a apresentei o prato com florinhas atribuído a Miragaia, abordou-se um prato de faiança com características idênticas, pertencente ao Manel, o comentador residente deste blog, nas palavras do Joaquim Malvar.


O prato do Manel apresenta um vidrado semelhante, uma borda estreita, um filete à volta com a mesma cor alaranjada e ainda uma decoração com um colorido vivo.


Os dois pratos apresentam um certo ar de família, que me levam a crer que terão saído da mesma fábrica, ou pelo menos de fábricas na mesma área, mais propriamente de Vila Nova de Gaia ou do Porto. O prato do meu amigo não está marcado, bem entendido, mas mesmo assim não me esqueci de fotografar o tardoz.



O prato pertencente ao Manel apresenta um colorido ainda mais vivo que o meu. Os motivos parecem pequenas flores ou insectos. Aliás esta vivacidade das cores já nos levou a pensar que talvez poderá ter saído da manufactura da Bandeira ou Fervença, localizadas em Gaia, mas o que sabemos nós?



Mas seja lá de que fábrica for, é difícil resistir ao colorido destas pequenas borboletas, flores ou libelinhas.


Mas estas borboletas, libelinhas ou florinhas devem ter sido um tema relativamente comum na faiança do Norte, pois logo a seguir a publicar este post, recebi um e-mail da Seguidora Misteriosa, que reconheceu imediamente este padrão e enviou-me imagens de um prato da sua colecção, com a aba decorada com este motivo.


No entanto, o seu prato apresenta no centro um homem brandindo um punhal, numa atitude agressiva, uma espécie de Zé do Telhado, ou um criminoso qualquer, que tenha impressionado muito as pessoas em meados do Século XIX, que contrasta com o colorido despreocupado dos pratos, que vimos até agora,  e quer não tem nada a ver com um certo ar de Miragaia. Pensa-se imediatamente no género de pratos dos Meninos Gordos e todas as produções de Bandeira. A Fábrica Bandeira parece ter-se especializado em representar figuras, que andavam nas boca do mundo. Tudo isto só me faz pensar no quanto é complicado fazer atribuições com segurança à Faiança. Julgo que temos que ser prudentes e contentarmo-nos mais em admirar as peças e menos em cataloga-las.


O prato da colecção da Seguidora Misteriosa. Foi comprado como sendo proveniente do Norte.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ó Fortuna!

Não, não é aquilo que estais a pensar. Não comprei uma peça autêntica e marcada da Fábrica do Rato, que vale uma fortuna. Mostro apenas duas deusas da Fortuna em faiança que comprei na Feira de Estremoz, muito baratinhas.


O par de mísulas representando a deusa Fortuna

Nesta época de crise, achei bem ter em casa duas estatuetas da deusa romana Fortuna, que naquele tempo representava o destino e as suas incógnitas. Os imperadores romanos sabiam isso muito bem e nunca dispensavam uma estátua desta divindade nos seus quartos, porque sabiam que a roda da fortuna podia girar a qualquer o momento. Mas se a fortuna era volúvel e instável, ela podia trazer subitamente a abundância, representada nestas minhas mísulas pela cornucópia.

A Fortuna com um dos seus atributos característicos: a cornucópia da abundância

Da cornucópia saiam sem se esgotarem frutos e flores proporcionando a todos abundância e prosperidade. É um elemento mitológico que os romanos pediram emprestado aos gregos e que tem origem numa cabra, Amaltéia, que amamentou Zeus com o seu próprio leite. Mas como Zeus era tão forte, partiu um corno da pobre Amaltéia e então para a compensar, concedeu ao chifre partido o poder de dar sem limites todos os alimentos desejados.


A volúvel Fortuna

Quanto ao fabricante destas mísulas representado a Fortuna desconheço-o inteiramente. Tenho um palpite que talvez tenham saído da Fábrica das Devesas, que encheu as cidades portuguesas e brasileiras com estátuas de alegorias e deusas da tradição clássica, mas não estou seguro. Também coloco a hipótese das Caldas. sei apenas que a vendedora me afirmou que tinham saído de um palácio no Alentejo, cujos donos tinham sido abandonados pela Fortuna.


Em todo o caso, esperando que os favores desta deusa caiam sobre todos vós, deixo-vos com a Fortuna dos Carmina Burana

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Miragaia certamente

Já há muito tempo que apresentei este grande prato de faiança aqui no blog. Nesse post aventei a hipótese de se tratar de uma peça saída da Fábrica Rocha Soares em Miragaia. No catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia. Lisboa: IMC, 2008 são mostrados alguns fragmentos de faiança achados nas escavações realizadas no local onde era a antiga Fábrica de Miragaia, e entre eles encontrava-se um caco com umas florinhas iguais às do meu prato e foi isso que, me levou a achar que poderia ser uma manufactura de Miragaia. Esta crença era também reforçada pela origem do prato, que tinha sido trazido do Norte de Portugal.

Fragmentos achados no solo da Fábrica de Miragaia. No canto superior direito está um fragmento com uma decoração idêntica ao meu prato

E assim fiquei por um período de quase dois anos, nesta mediana convicção de que se poderia tratar de um prato da Fábrica de Rocha Soares no Porto.

Pormenor do meu prato

Há cerca de 15 dias, estava a desfolhar um catálogo da leiloeira Aqueduto (21 de Março de 2007), a imaginar tudo aquilo que compraria se tivesse uma casa maior e se fosse rico, quando vejo um par de jarras de altar, com uma decoração idêntica à minha, só que com o fundo em azul. Fui ler a legenda e lá estava a confirmação das minhas suspeitas: as jarras da fotografia estão marcadas com o característico R da Fábrica Rocha Soares de Miragaia. O R é a é obviamente a inicial do nome Rocha.



Extracto do catálogo de 21 de Março de 2007 da Aqueduto
 
Na faiança e nas antiguidades em geral é preciso ter paciência, ver muita coisa, muitos livros, muitos catálogos, pois de repente a chave do mistério aparece de repente à frente dos nossos olhos