domingo, 30 de setembro de 2012

O Velharias do Luís faz três anos

 
Toquem os sinos, chamem a banda filarmónica, lancem foguetes e vão buscar o Sr. Bispo, Sua Exa. o Presidente da Câmara, o Senhor Governador Civil e o Senhor Comandante dos Bombeiros para fazerem discursos e homílias, pois este blog faz três anos neste dia 30 de Setembro. Todos estão convidados para minha casa e fazerem uma visita, ainda que virtual, pelas paredes povoadas de estampas antigas, faianças, crucifixos e imagens religiosas e onde gente morta há muito, espreita das fotografias antigas, postas um pouco por toda a parte.


Neste blog, há 3 anos que escrevo dois textos por semana sobre a minha casa e as velharias que a povoam, o que é um óptimo exercício mental, pois obriga-me a ler, a fazer umas pesquisas aqui e ali. Nada de muito profundo, mas o suficiente para me manter activo mentalmente. Julgo aliás que é essa a principal razão que me leva a manter esta actividade, pois estou praticamente a esgotar os tarecos desta casa mínima de duas assoalhadas. Começo a invadir a casa do Manel.


Também é verdade, que continuo a escrever porque fui descobrindo que este blog tem um público, um nicho de mercado, embora pequeno. Os amadores de antiguidades, gravuras, faianças e porcelanas encontram aqui textos simples, que os ajudam a identificar as peças lá de casa ou a interpretar o que vêem nos museus.

O autor do blog nas terras de Vinhais. Tras-os-Montes estão sempre presentes neste blog

E à conta do blog faço contactos curiosíssimos com gente do Norte a Sul do País e ainda do Brasil. Além de momentos de convívio agradáveis e trocas de informações sobre faiança ou arte, consegui já publicar através desses conhecimentos quatros textos, o último dos quais no boletim municipal de Vinhais.


Se não existisse a internet, eu estaria desconsolado a escrever textos para colocar lá no fundo na gaveta ou talvez nem os escrevesse. Aqui tenho um público, seres humanos que estão do outro lado da linha e com os quais partilho o meu gosto pelas velharias, pela decoração e pela história. Agradeço-vos a companhia, que me tem feito nesta casa onde vivo só.
  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cantão popular: faianças Vitória

a Soupière chinoisante

Durante uma boa meia dúzia de anos fui webmaster de um site institucional, isto é, eu estava encarregue de carregar os conteúdos da página da internet de um organismo do Ministério da Cultura. E claro, por obrigação profissional, consultava as estatísticas de utilização desse site e fazia relatórios periódicos à direcção.


Aqui no blog mantive os mesmos hábitos de verificar as estatísticas dos visitantes. Não por vaidade, porque sei que uma página onde se escreve sobre velharias, memórias familiares e muita, muita arte sacra é obviamente pouco popular. Pretendo perceber quem é que tem pachorra para me aturar e porque é que o fazem. Esta tarefa orienta de alguma forma o que escrevo e como apresento a informação.


No último mês descobri, que tinha tido um aumento dos visitantes franceses e que vinham quase todos reencaminhados através de um site: http://placedelours.superforum.fr/t9910-soupiere-chinoisante-faiancas-vitoria-portugal.

Curioso como sou fui logo lá espreitar e descobri que era um fórum sobre velharias e que um dos assuntos, que estava à discussão era uma Soupière chinoisante, que mais não era do que uma terrina portuguesíssima de cantão popular. Os participantes discutiram entre si, houve quem arrisca-se que podia ser uma peça alemã ou espanhola, mas uns participantes mais afoitos, lançaram mão do Google e chegaram ao meu blog, ao da Maria Andrade e ao Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém e concluíram que a faiança era seguramente portuguesa. O mais curioso disto tudo é que a terrina apresentava uma marca de fabrico, o que é uma raridade.
Faianças Vitória

Registei-me no Fórum e como português que sou, consegui rapidamente ler a marca, que era Faianças Vitória, uma fábrica de que nunca tinha ouvido falar na vida.
 

Fiz umas quantas pesquisas na internet e cheguei ao artigo de Manuel Ferreira Rodrigues, Os industriais de cerâmica: Aveiro, 1882-1923, publicado na revista Análise Social ,vo1-xxxi (136-137), 1996 (2.°- 3.°), 631-682 , que refere ter existido na região de Aveiro uma fábrica, fundada em 1922 por uns irmãos Vitória e cuja laboração se estendeu quase até aos nossos dias. Não tenho a certeza se estes irmãos Vitória seriam os fabricantes da terrina do fórum http://placedelours.superforum.fr, mas julgo que podemos pensar que sim, embora com as devidas reservas. A terrina deve ser uma peça dos primeiros anos do Século XX, o que coincide com o início da actidade destes senhores Vitória.


Fiquei também muito contente porque neste momento já consegui identificar quatro fábricas que produziram cantão popular: 

  - Lusitânia (em Coimbra ou Lisboa); 

  - Cavaco (Gaia);

  - Louças da Pinheira (Aveiro); 


  -  S. Roque (Aveiro), que fez um cantão mais modernizado;

  - e Faianças Vitória, também em Aveiro.


Pelos menos no início do século XX Aveiro parece ser um centro de fabrico deste motivo. Só é pena é que todas estas peças marcadas sejam produções do início do século XX.


As peças mais antigas de cantão popular não apresentam marcas é impossível descobrir quem as fabricou
As belas travessas, terrinas e pratos mais antigas, feitas ao longo do século XIX e que não apresentam marcas continuam continuam a guardar o seu mistério.


Agradeço aos participantes do http://placedelours.superforum.fr a amabilidade me cederem o uso das fotografias.


Também cantão popular, esta terrina do Séc. XIX também não apresenta marca é impossível determinar o seu fabrico.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Palácio amarelo de Portalegre: um detalhe

Portalegre: Palácio dos Romos de Sousa Tavares ou o Palácio Amarelo


Até há bem poucos anos não queria saber de máquinas fotográficas. Pedia sempre a alguém que tirasse as fotografias por mim. Nem o rolo sabia tirar ou pôr da máquina.


Só quando comecei a escrever este blog, passei-me a interessar por fotografia. Como queria mostrar às pessoas como via os objectos e transmitir-lhe a o que pensava ser sua verdadeira beleza, passei a ser eu a fazer as fotografias. E assim fui aprendendo, que as porcelanas, as faianças só se fotografam de dia e de preferência pela manhã ou aprendi também a evitar os reflexos dos vidros quando fotografo estampas. Igualmente descobri o valor do cenário para o bule de porcelana ou o menino Jesus em barro. Claro, depois o trabalho de corte e costura no computador também ajudam a fazer milagres, como centrar as fotografias ou recortar coisas indesejáveis, como uma esferográfica ou um telemóvel que ficaram por acaso na foto.


No entanto, praticamente só sei fazer imagens de objectos. Quanto à arquitectura, ela é muito grande para minha câmara e só lhe sei ver os detalhes, como por exemplo esta varanda do Palácio Amarelo em Portalegre. Aqui julgo que apanhei numa só imagem todo o requinte do Palácio dos Romos de Sousa Tavares e ao mesmo tempo o ar senhorial de Portalegre, que deve ser certamente a cidade portuguesa com mais palácios e solares por quilómetro quadrado. Ando sempre deslumbrado nas suas ruas, a descobrir casas bonitas atrás de casas bonitas e a imaginar-me a comprar uma delas, restaura-la e enche-la de antiguidades. Imagino também os quintais dessas casas, escondidos nas traseiras, com limoeiros e laranjeiras e os meus filhos lá a brincar, ainda que estes cada vez estejam menos em idade de brincar. As ruas das cidades antigas tornam-nos sempre sentimentais e fazem nos sempre desejar coisas que já não são possíveis.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Prato de faiança portuguesa marcado SL



Esta semana continuo a apresentar algumas das velharias do meu amigo Manel. Desta vez é um prato do século XIX, mas que tem uma particularidade rara na faiança portuguesa: está marcado e inequivocamente! Apresenta no verso as iniciais SL, dentro de um círculo e não um borrãozito qualquer, que alguns amantes da faiança, vítimas do seu próprio optimismo, insistem em tomar por marca. Mas, apesar de marcado a atribuição não é clara.


Segundo o Dicionário de marcas de faiança e porcelana portuguesas- Lisboa: Estar Editora,1996 estas iniciais são uma marca de Fabrico de Miragaia. Contudo do catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia. Lisboa: IMC, 2008 que discrimina todas as marcas usadas pela fábrica Rocha Soares, não constam as letras S.L.


O José Queiroz na obra Marcas de cerâmica portuguesa. Aveiro. Estar Editora, 1987 também não atribui estas iniciais a Miragaia.


Portanto já são dois contra um e podemos excluir a hipótese de Miragaia. De facto, vi a exposição no Porto sobre esta fábrica portuense e não havia lá nada semelhante.



Nesse mesmo livro, José Queiroz adianta que essa marca foi usada na primeira metade do século XIX e eu concordo, que deve ser dessa época, pois a decoração em grinaldas do prato é muito típica das artes decorativas das primeiras décadas de oitocentos. O mesmo autor adiante ainda que é uma marca de uma fábrica de Lisboa ou das suas cercanias.

Mas que fábrica?

Comecei a pensar que nesta rede de blogs temos discutido muito se as faianças são do Porto, Coimbra, Viana ou Estremoz e a esquecermo-nos da capital do País, Lisboa, que no século XIX era a cidade com mais manufacturas, com mais poder económico e onde estava o conhecimento tecnológico. E na primeira metade século XIX houve muitas fábricas em Lisboa para além do Rato (encerrada em 1834), cujas marcas estão sobejamente estudadas e das quais esta não consta. Existiu a Bica do Sapato, que fechou em 1818, mas a produção é muito sofisticada, muito neo-clássica e nada tem a ver com este prato.


Para além destas, quase uma dúzia de fábricas laboram em Lisboa, entre 1800 e 1850 e poderiam ter fabricado este prato, mas tirando uma outra, com a cerâmica Constância, fundada em 1836, ou a Viúva Lamego (1849) pouco ou nada conhecemos delas, tais como a Fábrica do Mestre Miguel (1847), a Fábrica da Travessa do Pé de Ferro (1813), a Fábrica de Loiça da Calçada do Monte (activa ainda em 1833), a Fábrica do Largo das Olarias (que funcionava ainda em 1878), a Fábrica da Abrigada ou a Fábrica da Roseira, famosa pelos azulejos, mas que também se dedicou à loiça.


Todas estas manufacturas, que José Queirós menciona na sua obra a Cerâmica portuguesa, são possíveis candidatas à paternidade deste belo prato. Eu não me vou pronunciar sobre a sua maternidade ou paternidade, porque muitas vezes, tal como na vida, não se conseguem tirar conclusões e apenas sentimos dúvidas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Açucareiro da Vista Alegre do último quartel do Século XIX.




Não há nada como ver belas antiguidades para esquecer o governo, o FMI e a Troika e outra gente, que não convidamos de todo para nossa casa, mas que insistem em aparecer inoportunamente, à hora do jantar, através da Televisão, aquele electrodoméstico, que faz barulho lá ao fundo da sala.

Açucareiro da Vista Alegre do último quartel do Século XIX.


Por isso conversei com o meu amigo Manel, que concordou em deixar-me fotografar um açucareiro seu, em porcelana da Vista Alegre e mostra-lo aqui para levantar os espíritos, com a simples visão de bom exemplar de um dos períodos mais felizes da produção da Vista Alegre, a segunda metade do Século XIX. Segundo o Dicionário de marcas de Faiança e porcelana portuguesas de Filomena Simas e Sónia Isidro e o catálogo da exposição Vista Alegre: porcelana portuguesa: testemunho da história. Lisboa: Estar Editora, 1998 a marquinha apresentada será talvez do último quartel do Século XIX




É um açucareiro decorado com muita sobriedade e sem qualquer afectação, com um formato, que a vista Alegre usou bastante no Século XIX. Embora com uma decoração floral, tenho um bule com esta forma. Mas, foi vítima dos tremeliques de alguma tia velha ou de uma criada trapalhona e perdeu a pega da tampa. Se um dia me decidir restaura-lo, já sei que modelo de pega devo mandar reproduzir.


O a forma do meu bule é da mesma família que o açucareiro do Manel


Espero que o açucareiro, os damascos e os bons tecidos que lhe sevem de fundo, tenham introduzido uma nota de bom gosto nestes dias de chumbo, que se abateram sobre nós
O açucareiro cuja imagem o Manuel concordou partilhar

sábado, 15 de setembro de 2012

Um pequeno mistério: uma estampa de Santa Brígida





Esta imagem de Santa Brígida que comprei numa feira de alfarrabistas ali ao pé da Bertrand é um caso curioso por duas razões:
 

Primeiro é uma estampa do século XVIII, colada num pagela recortada dos finais do XIX ou princípios do XX e encaixilhada no século XXI. Foi feita ao longo de três épocas;

Três épocas distintas: a estampa do séc. XVIII colocada sobre uma pagela dos finais do XIX, príncipios do XX e encaixalhada numa moldura feita nos dias de hoje


Em segundo lugar, há uma certa áurea de mistério sobre esta Santa Brígida, que torna a estampa muito atractiva.


Quando a comprei nunca tinha ouvido falar de Santa Brígida e mal tive algum tempo iniciei umas quantas pesquisas no google e no dicionário de iconografia cristã do Réau e descobri surpreendido que afinal não houve uma só Santa Santa Brígida, mas sim três! Uma irlandesa, uma sueca e ainda uma outra francesa.
Santa Margarida de Cortona

Mais, comecei a perceber que iconograficamente era quase impossível distinguir as duas primeiras Brígidas, pois podem ser ambas representadas como abadessas segurando uma cruz na mão, o que é uma iconografia comum a mais não sei quantas beatas e santas, como por exemplo Margarida de Cortona ou a beata Elisabetha de Bona.


Beatav Elisabetha Achler
A terceira Brígida ou melhor Brigitte de Nogent-les-Vierges foi uma virgem mártir e portanto é mostrada como donzela, com uma palma de mártir e não como uma abadessa. Julgo que posso excluir esta pobre mártir como candidata a ser a minha Santa Brígida.


Procurei saber se através da biografia das referidas Santas, conseguiria perceber qual delas seria objecto de maior devoção em Portugal e qual delas era mais provável estar representada na minha estampa.


A santa Brígida ou Brigitte da Suécia nasceu em 1302 perto de Upsala e teve uma vida notável, para uma mulher da sua época, tendo viajado por quase todo o mundo conhecido. Com o seu marido caminhou da Suécia até Santiago de Compostela e imaginámos as aventuras que não terá experimentado nesta viagem em pleno século XIV, numa Europa sem estradas e cheia de assaltantes e perigos Já depois da morte do marido, voltou a atravessar a Europa e visitou a Roma a cidade eterna, que a deve ter impressionado muitíssimo com todos os seus edifícios em pedra, ela que vinha de um país onde apenas se construía em madeira. O seu propósito era obter do Papa uma autorização para fundar uma ordem religiosa, mas como os santos padres andavam nesta época divididos entre Avinhão e Roma, experimentou as maiores dificuldades em fundar a ordem.


Mas, Brigite devia ser uma mulher com coragem e espírito de aventura e com 68 anos voltou a fazer a trouxa e partiu para a Terra Santa, passando por Napóles e Chipre. Morreu na viagem de regresso e os seus ossos voltaram a Suécia onde se tornou, depois da canonização em 1391 uma espécie ícone nacional. Talvez por causa desse seu lado viajante e cosmopolita é uma das Santas padroeiras da Europa, juntamente com Catarina de Siena e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein, a judia que se fez carmelita e foi assassinada em Auschwitz.)
Brigída da Suécia

A Santa Brígida da Irlanda viveu num tempo mais recuado e a sua existência é lendária e também mais fascinante. Terá nascido cerca de 452 na Irlanda, baptizada por um discípulo de Santo Patrício, fundou também uma ordem religiosa e depois da sua morte tornou-se na santa nacional irlandesa, substituindo-se ao culto pagão da deusa da fertilidade dos campos da antiga Hibérnia. A propósito dela, contam-se lendas curiosíssimas que ilustram esta função de deusa da fecundidade, como por exemplo de uma vaca que possuía e dava leite várias vezes ou dia e cujo leite servia para fazer manteiga e alimentar muitos pobres ou ainda uma vez que transformou a água do seu banho em cerveja, também com o propósito de dar beber aos necessitados.
 

O seu culto espalhou-se para o País de Gales e para a Bretanha francesa e talvez causa deste seu lado mais pagão a Santa é uma das figuras que os celtistas mais usam com estandarte, para as suas convicções de que existe uma tradição cultural que remonta ao período celta entre a Irlanda, o País de Gales, a Bretanha francesa, a Galiza e o Norte de Portugal. Segundo a Wikipedia, há uma lenda que conta como Brígida teria nascido na Galiza, raptada na infância e levada para a Irlanda.



Aliás muito curiosamente há uma cabeça de Santa Brígida da Irlanda na Igreja do Lumiar, em Lisboa, trazida por uns Cavaleiros irlandeses ao tempo do Reinado de D. Dinis. Esta relíquia foi muito venerada no passado, chegou mesmo ter uma festa popular assaz concorrida, dia 1 de Fevereiro, mas que hoje caiu no esquecimento.



Talvez a existência desta relíquia em Portugal, me faça pensar que a minha imagem represente Santa Brígida da Irlanda, mas esta minha convicção é certamente condicionada pela simpatia que experimento pelo lado mais pagão e fantástico da Santa.



Monja Brigidina sueca dos dias de hoje. O toucado é igual ao da Santa Brígida da minha estampa




 
Na verdade, a estampa poderá muito bem representar a Brigitte da Suécia, pois o toucado é igual ao que ainda hoje usam as irmãs brigidinas na Suécia, conforme descobri por acaso numa pesquisa na Internet.


Fico sem certezas absolutas sobre esta imagem, mas talvez na cabeça dos crentes do Século XVIII as duas santas brígidas se associassem numa só pessoa.

 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um Prato de Fervença?





Um seguidor deste blog, um coleccionador do Norte, enviou-me muito simpaticamente um belo prato em faiança para eu mostrar aqui no blog. Este nosso amigo estava na dúvida se o prato seria Bandeira. Neste blog ou no da Maria Andrade já abordámos várias vezes como as produções de Bandeira e Fervença se confundem. Ainda, para mais não podemos comparar ao vivo as peças em discussão, comparar-lhes o peso, o brilho e a cor. Além de que fotografia nem sempre é fiel à cor original da faiança. Fervença e Bandeira são um assunto em que todos nos confundimos.


Não tendo marcas, nem hipótese de confrontar as peças ao vivo, resta-nos comparar os padrões e cores das peças em dúvida com obras, que foram identificadas por entidades credíveis, como por exemplo os museus nacionais ou eventualmente as leiloeiras, que costumam serão prudentes nas suas atribuições, pelo menos as boas casas.

Prato do Leilão de Abril de 2012 de Cabral Moncada


Pessoalmente, encontro semelhanças entre o prato do seguidor do Norte com o prato que apresenta também uma decoração com treliça e flores, posto à venda no Cabral Moncada, no leilão de Abril de 2012 e atribuído a Fervença. Também lhe encontro parecenças com um prato da Menina gorda, do Museu Nacional de Arte Antiga, igualmente atribuído a Fervença. 

Prato atribuído a fervença do Museu Nacional de Arte Antiga

A fábrica de Fervença foi fundada por Nunes da Cunha entre 1824 e 1826 em Gaia. Esta manufactura integrou o depósito geral da louça da Rua da Esperança, portanto os proprietários tinham ligações com os Rochas Soares de Miragaia. Terminou a sua produção entre 1859-60 e o equipamento transitou para a Fábrica do Cavaco.


Em suma, este prato talvez seja Fervença e assim sendo, terá sido fabricado entre 1826 e 1860. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Azulejos: o mastim que afinal é um dragão



Já há quase dois anos achei uma série de azulejos, nos restos do entulho de uma obra, ali na calçada do Garcia, em Lisboa. Entre as coisas que encontrei, estava um azulejo magnífico, certamente o resto de um painel maior e que eu interpretei como se fosse a cabeça de um cão.



Esse azulejo que encastoei na parede, afinal não é um feroz mastim, como eu sempre pensei, mas sim, um ferocíssimo dragão e quem o descobriu foi um dos seguidores deste blog, o Pedro Freitas.



Com efeito, o Pedro descobriu num antiquário em Lisboa, o d’Orey & Cardoso, que esta cabeça era o corpo de um dragão e fazia parte de uma albarrada, que o referido antiquário tem completa. No centro dessa albarrada existiria um vaso com flores, que estava ladeado por dois dragões, cujas caudas se enroscavam no rabo de duas figuras femininas fantásticas, talvez esfinges ou quimeras, enfim seres híbridos parte mulheres, partes aves e outra parte sabe-se-lá-de-quê.
O meu dragão faria parte de uma Albarrada como esta do antiquário d’Orey & Cardoso. Uma albarrada é um painel de azulejos constituído pela representação de um vaso de flores, normalmente com uma figura de cada lado, dispostas simetricamente, representando pássaros, meninos, ou golfinhos ou figuras fantásticas.

Agradeço muito esta informação ao Pedro Freitas e fiquei a pensar que nisto das antiguidades não podemos ter certezas, mas se é inseguro vivermos na dúvida, ao mesmo tempo é fascinante a constante descoberta de coisas novas e eu fiquei muito contente de ter um afinal dragão a guardar a minha casa.