quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Alminhas do Purgatório e o Arcanjo S. Miguel na igreja matriz de Loulé

A azulejaria portuguesa é uma eterna fonte de surpresas. Quando pensamos, que já vimos tudo, descobrimos mais um padrão, uma decoração completamente nova, que são testemunhos eloquentes da imaginação dos mestres desta arte tão barata e tão característica de Portugal.

Recentemente, estive no Algarve, a convite do Zé Júlio, do blog http://o-outro-bau-do-zejulio.blogspot.pt/, que é um guia óptimo e divertido, para quem quer conhecer outras coisas naquela província, para além das praias, discotecas, resorts e campos de golf. Um dos sítios que visitámos com o nosso Zé Júlio foi a igreja matriz de Loulé onde descobrimos por mero acaso um revestimento azulejar do século XVII, em que motivos decorativos abstractos se combinavam com azulejos avulsos, que representavam ora uma alminha no purgatório, ora um S. Miguel. A composição ao todo conta com 16 azulejos, o que é típico do século XVII, mas nunca tinha visto nada naquela época, misturando azulejos abstractos e figuras humanas.

A composição é formada por 16 azulejos
Este painel azulejar encontra-se na capela das Almas, da Igreja de S. Clemente, a matriz de Loulé e esta associação entre as alminhas do Purgatório e o Arcanjo São Miguel é absolutamente lógica. No Dia do Juízo final, este Arcanjo é quem conduz os mortos e pesa as almas numa balança. Os ingleses designam-no pelo poético nome, The Lord of the Souls, isto é, o senhor das almas.

O Arcanjo S. Miguel é o príncipe das milícias celestiais e foi ele quem um dia expulsou um anjo rebelde dos céus, um senhor que muito tem assustado a espécie humana ao longo de séculos, o célebre Satanás. Por essa razão, S. Miguel é representando como um guerreiro alado, que esmaga um Dragão, isto é Satanás, o anjo caído. A Igreja Católica considera-o o seu defensor e depois da contra-reforma, tornou-se um símbolo do triunfo do catolicismo sobre a heresia protestante, isto é, mais uma vez, Satanás. E no entanto, a devoção a este arcanjo, saído dos textos bíblicos e defensor da ortodoxia, católica, apostólica e romana substituiu e reutilizou os cultos de duas divindades pagãs, Mercúrio ou Hermes do mundo greco-romano e a Anúbis, Deus do Antigo Egipto.


Mercúrio para os romanos, ou Hermes para os gregos era o mensageiro dos Deuses, mas também o condutor dos mortos para o Hades, o mundo subterrâneo, para onde os antigos acreditavam que iam as pessoas que morriam.
Detalhe do Livro dos Mortos, mostrando o Julgamento das Almas. British Museum. © Trustees of the British Museum.

Mas também o Cristianismo, que nos seus primeiros tempos se propagou sobretudo na metade oriental do Império Romano, nomeadamente no Egipto, substitui-se aos milenares cultos do País dos Faraós e assimilou elementos da antiga religião egípcia. Para os egípcios, Anúbis, o deus da morte presidia ao julgamento dos mortos, pesando as suas almas. Os que em vida tivessem sido maus eram devorados por Amnit, um demónio cujo corpo seria composto por partes de um leão, hipopótamo e crocodilo. Os bons eram conduzidos por Anúbis até ao além, a vida eterna. Portanto o Arcanjo S. Miguel deve muito muito a este Anúbis, cujo culto se extinguiu há muito.

Em suma, encantei-me por estes azulejos, com uma alminha do purgatório e um S. Miguel, na igreja matriz de Loulé, poéticas reminiscências de cultos de um mundo antigo, que floresceu na orla do mediterrâneo, há já uns milhares de anos.



Alguma bibliografia:

Iconographie de l'árt chrétien / Louis Réau. Paris. PUF, 1956

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Adijo Kerida, uma história de Vinhais


A Tia Lalai e a Tia Francisca
Há fotografias antigas de família que exercem uma atracção especial sobre nós e muitas vezes temos dificuldade em explicar porquê. Uma delas, é esta fotografia que mostra uma menina, a irmã da minha mãe, a Tia Lalai, ao lado da sua tia Francisca. O primeiro sentimento que me provoca é de estranheza. No tempo em que as conheci com vida, a primeira era já uma mulher madura e a segunda, uma idosa. Vi-as depois envelhecer, definhar e morrer, mas estas caras na primavera da vida são me estranhas. Contudo, estas duas tias apresentam feições, um ar de família, que persiste em nós, os parentes que ainda estamos vivos.
Hannah Arendt

Há uns anos, quando trabalhava na Biblioteca da Universidade Católica, recebemos uma obra de Hannah Arendt, ou talvez fosse um estudo sobre ela, não me recordo já bem, e numa das guardas do livro vinha publicada uma fotografia desta célebre pensadora judia, que me fez estremecer, porque aquela senhora, nascida na Prússia Oriental, a milhares de quilómetros de Portugal, poderia ser muito bem uma qualquer das mulheres da minha família materna. Poderia ser talvez uma irmã da Tia Francisca, ou talvez ela própria, num momento diferente da sua vida. 
Hannah Arendt
Com efeito, há uma tradição na minha família materna, que diz que descendemos de judeus. É uma tradição sem fundamento que a sustente. Não há quaisquer provas documentais nem sequer uma memória um pouco mais precisa, que tivesse sido passada de pais para filhos, acerca de um qualquer costume judaizante, como por exemplo, acender uma lamparina de azeite com uma torcida de linho constituída por 7 fios, na noite de sexta-feira para iniciar o início do Sabbath, o dia de descanso judaico.

A velha casa da Quadra
Diz-se apenas que as origens judaicas proviriam de uma aldeia, no Concelho de Vinhais, a Quadra, na qual nasceram o avô da minha tia Lalai e a mãe da Tia Francisca, que eram irmãos. Nessa aldeia perdida no sopé da Serra da Coroa, a uns escassos 3 ou quatro quilómetros de Espanha, existe ainda uma velha casa, onde se criou essa irmandade. O meu pai fotografou-a no início dos anos 90, mas nada ali indica que viveram judeus. É uma casa antiga de pedra, semelhante a todas daquela região.

A cozinha da casa da Quadra
Aliás, a quase ausência de testemunhos escritos ou vestígios materiais deixados por estas antigas comunidades judaicas impossibilita praticamente qualquer tentativa de entroncar nela as nossas raízes. Perseguidos em Portugal desde o século XVI, os judeus foram forçados a baptizarem-se, viviam oficialmente como cristãos e procuram esconder tudo o que pudesse revelar a verdadeira fé que sentiam no seu interior. Não tinham por isso templos, destruíram os seus livros sagrados e não ostentavam nenhum símbolo nas suas casas que os pudesse distinguir dos restantes membros da comunidade. Iam à Igreja, baptizavam-se, casavam e morriam segundo o ritual católico. Este traço do secretismo é aliás uma característica específica das comunidades judaicas que ficaram em Portugal, depois de D. Manuel os ter obrigado em 1497 a converterem-se ao cristianismo, fenómeno que os historiadores designam por criptojudaísmo.

A seta indica a localização da Quadra
Para quem não saiba, em 1492, os Judeus foram expulsos de Espanha pelos reis Católicos e aos milhares, atravessaram a fronteira e fixaram-se em Portugal, muito deles nas terras raianas portuguesas, como Bragança ou Vinhais. Em 1497, foi a vez do Rei Português D. Manuel decidir também a sua expulsão, mas com algumas diferenças do caso espanhol. Podiam converter-se ao catolicismo ou partir. Contudo, como ao Rei não lhes interessava perder esse grupo de gente laboriosa e rica, dificultou-lhe ao máximo a sua partida. Só poderiam abandonar o país pelo porto de Lisboa. Se os Judeus que estavam na capital puderam fugir para a Holanda, França, Marrocos ou para o Império Otomano, os que viviam no interior viram-se presos numa armadilha. Por detrás tinham a Espanha, onde a perseguição já era feroz e à frente, tinham o litoral, onde só os deixavam saír a conta gotas. Foram ficando, até porque a Inquisição só veio mais tarde, em 1536. Para essas comunidades começou uma longa noite, em que praticam o Judaísmo em segredo e ao fim de muitas gerações, esqueceram o hebraico, queimaram os livros sagrados e praticaram em segredo um judaísmo estropiado, muitas vezes já misturado com o catolicismo. Uma dessas comunidades sobreviveu até aos nossos dias, em Belmonte, uma terra também na fronteira, que foi identificada em 1917, com surpresa de todos, por Samuel Schwarz, um judeu suiço, que descobriu um grupo de gente que não se misturava com os outros membros na comunidade, que praticam uma religião, que já nem sabiam nomear e rezavam umas ladaínhas num hebraico corrompido. 
Imagem de um Processo do Tribunal do Santo Ofício, referente a Pedro de Leão, comerciante de seda, natural de Outeiro Seco e morador no termo de Vinhais. Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Em Vinhais e Bragança, sabemos da existência destes judeus forçados à conversão pelas fontes cristãs. Existem 480 processos do Santo Ofício guardados na Torre do Tombo movidos contra habitantes das terras de Vinhais. Ainda pouco, na exposição Vinhaes - Fragmentos de História, que esteve patente ao público na Casa da Vila, em 2012, li que num dos livros de denúncia da Inquisição, em 1583, um tal Rodrigo Bernardes queixava-se que em Vinhais há dos muros para dentro, 50 moradores e desses só 3 ou 4 são cristãos velhos. Parece que enterravam os seus mortos, junto da Igreja de S. Facundo, junto de um velho Sardão (curiosamente, o actual cemitério foi construído precisamente em redor desta Igreja, como que a continuar uma tradição antiga).

Nos anos 20, ali ao lado, em Bragança, um grupo desses judeus reactivou o culto e durante alguns anos mantiveram uma sinagoga e uma escola, conforme li na obra de David Augusto Canelo, Os últimos Criptojudeus em Portugal. belmonte: Centro de Cultura Pedro Álvares Cabral, 1887.

Enfim, todas estas explicações servem para demonstrar que é plausível que este ramo da minha família, originária da longínqua Quadra descenda de Judeus. O meu pai ainda empreendeu alguns estudos genealógicos nos arquivos paroquiais para tentar chegar aos antepassados judeus. Foi um estudo complicado, pois os livros paroquiais estão repartidos entre o Arquivo Distrital de Bragança e o Arquivo Diocesano da mesma cidade. Conseguiu remontar até aos finais do Século XVIII, mas não encontrou nada que indicasse que aqueles homens e mulheres meus antepassados judaizassem. Aliás como poderia encontrar nesses registos de baptismo, casamento e morte mantidos pela Igreja uma confissão expressa de judaísmo? 

Naturalmente, que nesses momentos que iam à igreja paroquial, todos eles arvorariam o seu ar mais piedoso e beatífico.

Só talvez se cruzasse esses nomes com os processos da Inquisição movidos aos naturais do Concelho de Vinhais obtivesse alguns resultados, mas a doença da minha mãe impediu-o de realizar esse trabalho e eu como me devo reformar lá para os 70 anos, não sei se o conseguirei concluir.

Maria Adelaide Ferreira (1913-1997)
Não podendo comprovar uma tradição familiar de que descendemos de Judeus, o presente texto serve mais como um In Memoriam das minhas tias Francisca da Assunção Fernandes (1904-1992) e sobretudo de Maria Adelaide Ferreira (1913-1997), a menina da fotografia, que foi uma espécie de avó para mim e a quem eu não pude dizer adeus quando morreu. Para ela fica uma música em ladino, a velha língua dos judeus fugidos de Espanha, Adijo Kerida, cantada por Francoise Atlan



Alguma bibliografia:

Os últimos Criptojudeus em Portugal / David Augusto Canelo. Belmonte: Centro de Cultura Pedro Álvares Cabral, 1887.

Testemunhos do Judaísmo em Portugal : exposição bibliográfica e iconográfica = Signs of Judaísm in Portugal : a collection of books, and prints / Gabinete de Relações Internacionais do Ministério da Cultura ; coord. e realização técnica Maria Luísa Cabral. - Lisboa : Ministério da Cultura, 1999

Vinhaes - Fragmentos de História. Vinhais: CMV, 2012. ( Agradeço ao Roberto Afonso, Vereador da Cultura da C.M. de Vinhais o envio dos painéis desta exposição em formato digital


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Cadeira com braços em estilo Luís XVI


Hoje apresento aqui uma cadeira com braços, estilo Luís XVI, que o meu amigo Manel comprou recentemente e que restaurou.

No século XVIII, as descobertas arqueológicas de Pompeia e Herculano, divulgadas através de álbuns de estampas, fizeram descobrir aos Europeus fartos de tanto barroco, a beleza e o equilíbrio da arte greco-romana. Em França, esta inspiração começa sentir-se nas artes logo no início do reinado de Luís XVI, em 1774 e deu origem a um estilo artístico no mobiliário e nas artes decorativas dos mais apreciados e também mais copiados da história da arte europeia. O estilo ficou conhecido pelo nome do soberano, Luís XVI (1774–1791), que reinou em França durante o período em que essa tendência artística esteve na moda. Não que Luís XVI fosse particularmente interessado nas artes, mas sim porque esse novo gosto à grega foi uma arte de corte, em que os príncipes de sangue e a própria Rainha Maria Antonieta fizeram encomendas fabulosas, a marceneiros, ourives e estofadores, definindo assim este novo estilo, que depois foi copiado por toda a sociedade francesa e pela Europa fora.
Quarto de Maria Antonieta no Petit Trianon. O célebre mobiliário das espigas de Georges Jacob. Foto Wikipedia

O sucesso dos móveis Luís XVI deve-se à forma graciosa e imaginativa com que se adoptaram as linhas severas e simples da antiguidade. Flores, frutos, grinaldas e outros elementos naturalistas, perfeitamente executados e tratados a uma pequena escala enfeitavam colunas e pilastras das cadeiras e cómodas, pintadas de cores claras e atenuavam a secura do formulário ornamental greco-romano. É um estilo feminino, feito para seduzir, que tem muito a ver com o próprio gosto da Rainha Maria Antonieta. 
Castelo de Versalhes. Apartamentos de Maria Antonieta. Foto Wikipedia
Talvez por isso nunca passou bem de moda. As linhas direitas do Luís XVI adaptavam-se bem aos interiores de estilo Império (1803-1821) ou da Restauração da monarquia (1821-1851) e no reinado de Napoleão III (1852-1870), por influência da sua mulher, Eugénia de Montijo, admiradora incondicional de Maria Antonieta, houve um verdadeiro ressurgimento do mobiliário Estilo Luís XVI. Nessa época, não só se procuram os exemplares originais, como se fizeram toda uma série de cópias, algumas de estupenda qualidade, que ainda hoje confundem os peritos e outras mais industriais destinadas a uma burguesia menos abastada. Os antiquários franceses designam esses móveis do século XIX, que o gosto de Eugénia de Montijo inspirou, por estilo Louis XVI, Impératrice.
O estilo Luís XVI nunca passou realmente de moda. Apartamentos de Maria Antonieta, Petit Trianon
Esta cadeira pertencente ao Manel data certamente dessa segunda metade do século XIX, pois já se encontrava estofada com molas, as quais apareceram cerca de 1850.
A cadeira reduzida ao seu esqueleto.


Quando o Manel comprou a cadeira, já estava estofada, mas como o tecido em seda encontrava-se muito gasto e rasgado aqui e ali, teve que a reduzir ao seu esqueleto, para fazer um novo estofo. Não mexeu na sua estrutura em madeira de mogno, que estava em muito bom estado, pois as madeiras exóticas são muito resistentes aos xilófagos, isto é, os bichinhos que comem a madeira, como por exemplo, o malfadado caruncho. Também não mexeu na cor, uma espécie de cinzento pérola colocado sobre uma camada dourada muito ténue, a qual se vê aqui e além, quando a tinta foi retirada pelo uso e patine.

O meu amigo Manel executou então as seguintes tarefas, cujos passos principais aqui descritos, consegui fotografar, para que os lêem este blog tenham ideia de como se estofa uma cadeira antiga.

1. Foram pregadas à estrutura uma rede interlaçada feita de precintas, tiras fortes feitas numa mistura de juta, algodão e cânhamo, juntamente com outros materiais que a tornam mais resistentes;

2. Às precintas foram cosidas as molas, para que não se desloquem com o uso diário do assento, e estas foram distribuídas com maior incidência nas áreas onde o peso da pessoa recai com mais força;


3. Pela parte superior, as molas foram seguras com corda de sisal relativamente fina atada com nós, para permitir que as molas não se desloquem na parte superior;

4. As molas foram cobertas com tecido de serapilheira, o qual foi cosido a estas.

5. Sobre esta serapilheira foi colocada a primeira camada de fibra (O Manel utilizou uma fibra relativamente comum no estofo à antiga, proveniente de uma palmeira anã do norte de África, a qual é mais barata que o enchimento à base de crina).

6. Sobre este enchimento foi posta uma segunda camada de tecido de serapilheira, a qual é então cosida, dando forma ao assento. É nesta fase que se dá a forma das esquinas do assento e espaldar, que devem ser mais acentuadas e finas nos assentos Luís XVI ou Império, e mais doces e arredondadas no móvel de estilo Romântico ou Luís XV, por exemplo.

7. Sobre esta camada cosida pôs-se nova camada de tecido, agora um pano-cru, para servir de base ao recheio final, o qual consta de uma manta de desperdício de algodão.

8. Como tecido final a colocar era fino, em que qualquer deformação se tornar-se-ia aparente, O Manel colocou uma última camada regularizadora em dracalon.

9. Por último, colocou-se o tecido final pregando-o com agrafos, que não destroem tanto a madeira da estrutura como as tachas de estofador.
A fita de passamanaria
Este tipo de estofo deveria levar uma guarnição de pregos de estofador, de cabeça arredondada, com patine, mas o Manel preferiu colocar uma fita em passamanaria em fio metálico, que também fica adequada e não destrói tanto a estrutura do assento.

O resultado final do trabalho do Manel foi muito bom. O tecido evoca os tempos em que Maria Antonieta se divertia no Peit Trianon e o padrão em listas com motivos florais adapta-se muito bem ao estilo da cadeira. É certo, que não é um original. É uma das muitas cópias do Século XIX do estilo Luís XVI, que aliás ainda hoje é reproduzido. Todas essas muitas imitações prolongaram no tempo um estilo que foi cronologicamente muito breve, 17 anos, mas cheio de vitalidade e constituem um singular tributo ao refinamento extremo da arte do reinado de Luís XVI.

Alguma bibliografia:

Le meuble en France / Jacqueline Viaux. - Paris: PUF, 1962

Styles, meubles, décors, du moyen age à nous jours / dir. Pierre Verlet. - Paris : Librairie Larousse, 1972