quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O solar dos Montalvões no Ruin'arte

Foto de Gastão de Brito e Silva. http://ruinarte.blogspot.pt

A antiga casa da minha família paterna, o solar dos Montalvões, que se encontra em avançado estado de ruína foi hoje assunto do http://ruinarte.blogspot.pt.

Para quem não conhece ainda este blogue, posso adiantar que é um dos espaços mais interessantes da internet sobre património cultural. O seu autor, Gastão de Brito e Silva, dedicou este blogue à fotografia das ruínas que existem pelo País inteiro. No seu blogue a fotografia apresenta-se como obra de arte, mas também como uma cruel denúncia do desleixo e da incúria a que o património arquitectónico é deixado de Norte a Sul de Portugal.
Foto de Gastão de Brito e Silva. http://ruinarte.blogspot.pt

Neste post do ruin'arte, o Solar dos Montalvões foi fotografado como se uma luz irradiasse dentro dele, como se as gerações, que se criaram e morreram naquela casa revivessem no segundo em que o Gastão carregou na máquina fotográfica.
Foto de Gastão de Brito e Silva. http://ruinarte.blogspot.pt

Estou muito grato ao Gastão por ter feito esta reportagem sobre o Solar da família Montalvão, para o qual me convidou a escrever um texto. Como seu blogue tem um alcance nacional, é consultado e lido por milhares de pessoas, talvez na Câmara Municipal de Chaves alguém acorde e se lembre que esta casa é património municipal, ou talvez o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana tenha a ideia de registar este monumento no inventário on-line www.monumentos.pt ou a ainda, quem sabe, a Direcção-Geral do Património Cultural se decida a iniciar um processo de classificação deste edifício.

Convido-vos a admirar o excelente trabalho do Gastão Brito e Silva e partilhar nas vossas redes sociais mais este triste e banal caso de abandono do património cultural.


Foto de Gastão de Brito e Silva. http://ruinarte.blogspot.pt

domingo, 10 de agosto de 2014

Molduras antigas de cortiça provenientes de Estremoz

 
Apresento hoje duas molduras compradas no Alentejo, mais exactamente em Estremoz, que apresentam um trabalho absolutamente precioso, com folhas, flores e decorações várias, feitas em cortiça, cortada em lâminas muito finas. O trabalho final foi encaixilhado numa estrutura de madeira. Foram adquiridas pelo pelo amigo Manel em muito mau estado, com muitos dos elementos decorativos caídos ou em falta.
O Manel usou estes trabalhos preciosos de cortiça, para emoldurar estampas antigas com santos. Mas originalmente estas peças terão sido executadas para encaixilhar fotografias de parentes queridos. Uma delas, a que neste momento tem o Cristo, apresenta além da área central dois espaços mais pequenos para colocar outras fotografias. Provavelmente na reserva central, colocar-se-ia a fotografia grande do casal e à volta os retratos dos filhos em formato tipo bilhete de identidade. Aliás, o Manel, quando a comprou ainda tinha no centro o resto de uma fotografia, com uma dedicatória, datada do primeiro quartel do século XX. Há uns anos, eu próprio, também comprei uma destas molduras trabalhadas em cortiça, contendo igualmente uma fotografia antiga, que também retirei para colocar a estampa de uma virgem do início do século XIX. No entanto a minha moldura não é tão espectacular como as do Manel e nem foi restaurada, pois faltam-me os olhos e a paciência do meu amigo.

Tentei encontrar algumas informações sobre estas molduras com trabalhos delicados feitos em cortiça. Consultei a obra A arte popular em Portugal de Fernando de Castro Pires de Lima, editado pela Verbo, nos finais dos anos 60 e que refere os vários trabalhos de cortiça feitos pelos pastores alentejanos, executados apenas com o auxilio de uma navalha, entre os quais, as molduras, mas não reproduz nenhuma fotografia, para eu saber se de facto se tratarão de peças idênticas a estas. Também fiz algumas pesquisas na net, onde percebi que o trabalho feito pelos pastores em cortiça, para matar o tempo, enquanto apascentavam os seus rebanhos, ficou conhecido pela designação arte pastoril. Mas sinceramente acho este trabalho demasiado frágil para ser transportado na sacola do pastor todos os dias de um lado para o outro, a não ser que ele fizesse os elementos decorativos no campo e procedesse à montagem final do conjunto em casa. 

Em todo o caso, quem fez estes trabalhos, algures no Alentejo, onde os sobreiros abundam por todo o lado, não lhe faltava talento nem precisão de mãos. o Manel, que o diga, que se viu grego para reconstituir alguns dos elementos decorativos, como as rosas em cortiça.