terça-feira, 26 de abril de 2016

Porte-embrasse com cariátide, cerca de 1850


As feiras de velharias são sempre uma coutada própria para caçar tesouros, tão dourados e opulentos quanto inúteis. Qual dos caçadores de antiguidades conseguiria resistir a uma peça como esta, que mostro nas fotografias, um acessório em bronze, decorado com uma cariátide, para prender cortinados? 
A peça antes da limpeza

É certo que não é uma peça muito útil, pois seria necessário ter outra igual para lhe devolver o uso original. Aliás, o mais certo é esta cariátide terminar aqui a sua carreira utilitária de acessório de cortinados e iniciar uma nova vida como bibelot extravagante na casa do meu amigo Manel. 
 


Mas que importa, se ainda é útil ou não? 

Quando se compra uma peça destas é como se capturássemos um dos interiores da obra À la recherche du temps perdu, de Marcel Proust e o transpuséssemos para nossa casa.


Este Porte-embrasse de cortinado tem algumas marcas, mas não parecem ser relativas ao fabricante, mas antes aos números de série de cada uma das peças que a compõem. Suspeito que talvez seja francês. Consultei uns quantos catálogos franceses com peças de alguma forma semelhantes a esta, as cuivreries d'ameublement, editados nos finais do século XIX e inícios do séc. XX, nomeadamente pela Casa Garnier, que se encontra on–line ou pela E. Granger, na Rue Ramboteau, que me levaram a suspeitar que a peça seja francesa, ou pelo menos o modelo que lhe deu origem foi certamente francês. Mas essas minhas pesquisas não foram conclusivas.
 
Galerie Atena
Mas não desisti de tentar identificar a proveniência deste Porte-embrasse com cariátide e vasculhei de seguida a internet de fio a pavio, fiz pesquisas em inglês, francês e acabei por encontrar um par exactamente igual num antiquário francês, o ATENA, na rue du Fbg Saint Honoré, onde pude comprovar a sua origem francesa. Neste antiquário a peça é identificada com sendo do estilo regência (c. 1700-1730) e é datada de cerca de 1850. 
 
 

terça-feira, 12 de abril de 2016

Alpendre com cobertura revestida de azulejos em Elvas


Elvas é daquelas cidades que se visita sempre a correr, de preferência em passagem para a Espanha ou para outro lado qualquer do Alentejo. Acabamos por conhecer mal a cidade e é uma pena, pois em termos patrimoniais é fabulosa. As muralhas seiscentistas do tempo em que Portugal esteve em guerra com Espanha, 28 anos ao todo, justificam plenamente a visita, mas também o casco histórico é bonito e bem preservado, cheio de pormenores interessantes, que nos fazem abrir a boca de espanto, como este alpendre, com uma cobertura de revestida de azulejos enxaquetados, formando como que uma complexa cúpula . 

Este alpendre faz parte do colégio jesuítico de Elvas, construído sobre a antiga igreja de Santiago e que é hoje a biblioteca pública da cidade. Segundo os dados que encontrei no site monumentos.pt, este alpendre e a sua cobertura azulejar terão sido executados em 1716, embora os azulejos tenham um efeito tão surpreendente, que mais parecem uma obra feita por um modernista qualquer para a Exposição de Artes Decorativas de Paris, de 1925.

São pormenores arquitectónicos deste tipo, que as terras alentejanas conservam sempre muito bem e que espalhados aqui e acolá transformam uma cidade em qualquer coisa de muitíssimo atraente. Claro foi uma chatice fotografar este alpendre sem apanhar automóveis. Aliás, os carros surgem sempre com tanto destaque nas fotografias dos monumentos, que muitas vezes penso ser possível fazer uma história do automóvel no nosso País através das histórias da arquitectura em Portugal.

Em todo o caso, este alpendre é um exemplo muito engraçado de uma prática, que ainda era rara em Portugal no século XVIII, que era a colocação dos azulejos no exterior. Nessa época o uso da azulejaria no exterior circunscrevia-se aos jardins e às coberturas das torres de algumas igrejas.
 
 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Azulejos pombalinos em casa do Manel


Esta Páscoa, o meu amigo Manel e eu metemo-nos novamente ao trabalho de encastrar mais azulejos antigos na sua casa alentejana. Desta vez o sítio escolhido, foi um vão por debaixo da janela do seu quarto, que estava cheio de humidade. O objectivo de colocar ali azulejos foi obviamente estético, criar um ponto de interesse no quarto, um cenário de museu, mas também destruir um reboco apodrecido pela humidade.
O quarto antes dos azulejos. São visíveis as manchas de humidade no reboco.

O painel escolhido foi uma mistura de azulejos coleccionados em diferentes alturas, ao longo de mais de 15 anos, alguns deles comprados em feiras de velharias, outros pura e simplesmente achados nos contentores das obras. Ao nível do chão, escolhemos uma barra de azulejos marmóreados, como era tradição na segunda metade do século XVIII, depois usamos um friso, uma espécie de concheado barroco, mas que o Manel crê que sejam uma representação já muito abstracta das franjas de um tapete, o que faz sentido pois a propósito do Museu Regional de Beja, já aqui se falou da influência dos têxteis na azulejaria portuguesa. Por dentro, fez-se o enchimento deste tapete cerâmico com azulejos de estrelinha e no centro tive a ideia de colocar um anjinho solto, comprado pelo Manel há muitos anos.


O mesmo quarto durante os trabalhos 
Todos eles fazem parte daquilo que se chamam os azulejos seriados pombalinos, isto é, datados da segunda metade do século XVIII e que apresentam esta característica espantosa, a possibilidade de com eles se poderem fazerem inúmeras combinações diferentes.
O anjinho tornou-se o centro do painel.
Reconheço, que este processo de rebentar com uma parede para encastrar azulejos não é para todos. Desta vez, o Manel usou um martelo pneumático eléctrico, o que faz menos lixo do que a técnica do martelo e o escopro, que usámos anteriormente. Porém, o resultado final compensa a poeiraçada toda e os 40 azulejos postos transformaram toda uma divisão, criando naquele vão de janela um ambiente palaciano, para o qual os nossos olhos convergem de imediato.