Recentemente o meu amigo Manel adquiriu um serviço de chá, com uma porcelana muito fininha e uma decoração muito requintada, que apesar de não estar marcado acreditamos ser de porcelana francesa, provavelmente do período Segundo Império (1852-1870).
Claro, quando as peças não estão marcadas é sempre um risco fazer atribuições, pois a segunda metade do XIX, é um período de plena revolução industrial, em que há já um intenso comércio mundial e as ideias, as formas e as técnicas circulam rapidamente de país para país. Os russos, os portugueses ou os ingleses copiam a porcelana francesa, os franceses não são indiferentes à cerâmica inglesa e toda a gente se inspira na China e no Oriente. Por consequência, uma peça de porcelana que nos parece francesa poderá ser apenas um reflexo do brilho artístico de Paris na produção de uma fábrica em Viena, Bruxelas ou Praga.
No entanto, fiz algumas pesquisas na net e de facto encontrei em alguns sites de antiquários franceses uns quantos serviços, cujas peças tem formatos semelhantes, embora com decorações diferentes e são dados como porcelana francesa do Segundo Império.
Na obra La porcelaine européene au XIX siècle / Antoinette Fay-Hallé, Barbara Mundt. - Fribourg : Office du Livre, SA., 1983 encontrei reproduzido outro serviço com formas idênticas a este, produzido pela manufactura parisiense Clauss, por volta de 1860. Aliás, um dos traços mais característicos de todas estas peças são as pegas, que formam como que umas canas de bambu entrelaçadas. Esta decoração das canas de bambu inspirada na China é muito típica do chamado estilo Segundo Império ou Napoleão III (1852-1870) e foi usada não só na loiça como também no mobiliário, ou em pequenas peças decorativas como molduras.
Cadeira estilo Segundo Império, que pertenceu a Madeleine Castaing |
Este estilo eclético do segundo Império, que misturava a China com neogótico e usava e abusava da passamaneria e dos canapés estofados em capitonée, passou entretanto de moda e durante toda a primeira metade do século XX, toda a gente o achava um horror. Nessa época, em França, as pessoas chiques e de bom gosto escolhiam para mobillar e decorar as suas casas antiguidades nos estilos Luís XIV, Luís XV ou Luís XVI. Só a partir dos anos 40, quando a decorada e antiquária francesa Madeleine Castaing (1894- 1992) abre a sua loja em Paris é que progressivamente consegue influenciar o gosto da sociedade e valorizar o século XIX. Curiosamente, uma das características do gosto quase vitoriano de Madeleine Castaing, foram as canas e os bambus, com que decorou o corredor do seu apartamento em Paris, na Rua Bonaparte.
Enfim, este post não é muito conclusivo. O serviço de chá parece ser francês e apresenta as características decorativas do estilo do segundo Império. Mesmo que não seja parisiense, o adjectivo que o melhor o define é sem dúvida o termo francês raffiné.
Alguma bibliografia:
La porcelaine européene au XIX siècle / Antoinette Fay-Hallé, Barbara Mundt. - Fribourg : Office du Livre, SA., 1983