Fotografia da minha trisavô, Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão (1856-1902) |
Continuo nos meus trabalhos de identificação das personagens de um velho álbum de fotografias, datado mais ou menos entre 1860 e 1900 e que terá sido formado, pelo meu trisavô, José Rodrigues Liberal Sampaio. Normalmente parte-se para uma tarefa desta natureza, com o entusiasmo de um arqueólogo prestes a entrar numa câmara funerária há muito esquecida, sentido que vamos finalmente a dar um rosto a personagens, dos quais conhecíamos apenas os nomes nas genealogias e reviver o seu círculo de amizades e parentesco, mas acabamos muitas vezes desapontados e melancólicos, pois muitas fotografias não estão identificadas e aquelas damas e cavalheiros respeitáveis, desaparecidos do mundo dos vivos há muito, muito tempo, persistem em manter os seus segredos.
Um pormenor do retrato da minha trisavó |
Contudo, com a ajuda de um bom amigo, o Manel, e alguma paciência, através da comparação sistemática de todas as fotografias deste álbum, conseguimos encontrar alguns denominadores comuns e desvendar um ou outro segredo.
A primeira fotografia do referido álbum é a de uma senhora elegantemente trajada de escuro e que eu reconheci como a minha trisavó, Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão. Apesar de até bem pouco tempo só se conhecer uma única imagem dela, identifiquei-a imediatamente pelos seus grandes olhos claros e pela postura do corpo, uma certa tendência a curvar o corpo para a frente, evidenciando o ventre. Porém, no verso da fotografia, não há uma data, uma dedicatória ou nome do atelier fotográfico, para percebermos que momento da sua vida a câmara capturou. Como a Maria do Espírito Santo nasceu em 1856 e nesta imagem ainda parece estar na flor da vida, talvez a fotografia tenha sido tirada em meados da década de 70 ou início da década de 80 do século XIX.
Uma jovem elegante desconhecida |
Um pormenor do retrato |
Avançando pelo álbum fora, o Manel e eu encontrámos mais duas fotografias de jovens elegantes, mais ou menos da mesma época e que tem um factor comum com o retrato da minha trisavó, para além de pertencerem ao mesmo meio social obviamente. Todas as três posaram para o fotógrafo junto a uma pequena mesa decorada com passamanaria, ou um guéridon, nome francês pelo qual ficaram conhecidas essas mesinhas, destinadas a suportar objectos ligeiros, decorativos ou não e que proliferam na decoração de interiores da segunda metade do século XIX. As três seguram sempre um livrinho, que parece ser um daqueles livros de missa, editados em Paris e luxuosamente encadernados, demonstrado assim às madrinhas, às primas, às tias e aos potenciais candidatos a noivos, que eram jovens elegantes, instruídas, mas não em demasia e sobretudo devotas. Há de facto nestas fotografias, uma intenção e uma mensagem.
A segunda jovem elegante desconhecida |
Um pormenor do retrato da segunda jovem elegante desconhecida |
Na prática, como a mesinha é a mesma nas três fotografias e nas duas últimas, o nome do estúdio está identificado, descobrimos que a fotografia da minha trisavó foi feita no T. A. Pacheco, Photographia Transmontana, profissional que abriu o seu atelier em 1873, em Vila Real, na Rua de Santo António. As três damas, que certamente eram do mesmo meio social e se conheciam, foram ao mesmo estúdio fotográfico em Vila Real.
O autor das três fotografias é T. A. Pacheco de Vila Real, Trás-os-Montes |
Alguma bibliografia, que refere o fotografo T. A. Pacheco:
História da imagem fotográfica em Portugal 1839-1997 / António Sena. - 1ª ed. - Porto : Porto Editora, 1998