domingo, 16 de novembro de 2025

Uma dama desconhecida de um velho álbum de retratos carte-de-visite




Desde alguns anos para cá, tenho apresentado retratos de dois velhos álbuns carte-de-visite da família Montalvão, que a minha Ana Paula Vasques me ofereceu e com efeito, foram das prendas que mais gostei e mais prazer me deram na vida. Cataloguei sistematicamente todas as fotografias, mas há umas quantas sem legenda ou dedicatória, cuja identificação é praticamente impossível. Uma boa parte deles são retratos de senhoras, jovens ou meninas, que não fizeram nada de notável para que as suas fotografias constassem das páginas de uma enciclopédia, de um periódico ou de uma monografia regional. Também não posaram com uniformes militares ou trajes de estudantes de Coimbra, cujos elementos ajudariam à sua identificação. Usaram apenas as suas melhores jóias e vestidos e fizeram-se pentear à altura da ocasião do retrato, que era especial, pois a fotografia ainda era um luxo de gente abastada.

A desconhecida uso um penteado à maneira da Imperatriz Eugénia do Montijo


Um desses retratos é o de uma senhora jovem, tirada na década de 70 do século XIX, nos estúdios de Antiga Casa Fritz, na Rua do Almada, nº 122, Porto. Encontro nelas algumas semelhanças com a minha trisavó, Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão (1856-1902). Os olhos grandes parecem-me os mesmos, bem como o nariz e os lábios, mas não tenho a certeza. Claro, nos retratos que tenho da minha trisavó e tenho 5 ao todo, ela parece ter os olhos mais claros e os cabelos mais claros, que o da desconhecida, mas as fotografias da época não reproduziam as cores e eram retocadas. Além disso as mulheres na década de 70 do século XIX, também alteravam a cor do cabelo, uma técnica imemorial, que já deve vir do tempo dos romanos ou dos gregos, pelo menos.

Inverti o retrato da desconhecida para o comparar com o da minha trisavó, Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão, tirado pelo pelo fotografo Tomás Aquino Pacheco


Pedi a opinião a um amigo meu, que sabe muito de fotografia e é observador, o Humberto Ferreira e foi de opinião que apesar de algumas semelhanças, uma e outra não são a mesma pessoa.


Poderia talvez esta retratada ser a irmã da minha trisavó, a Henriqueta, (14.10.1847-25.1.1873), que faleceu com 26 anos. Com efeito, esta desconhecida da fotografia em causa, parece estar penteada a um estilo anterior aos retratos da minha trisavó, ainda à maneira da Imperatriz Eugénia do Montijo, que ditou às modas na Europa entre 1853 e 1870 e portanto este retrato poderia sido tirado logo no início da década de 70. Mas não tenho nenhum retrato da Henriqueta Ferreira Montalvão para comprovar que esta desconhecida seja ela.

A imperatriz Eugénia do Montijo. ca. 1860-1870, fotografia de Olympe Aguado, Musée Carnavalet. Paris

Tentei datar a fotografia pelo verso, a marca do fotógrafo, que como referi é da Antiga Casa Fritz, na Rua do Almada, nº 122, Porto. O célebre fotografo Emílio Biel adquiriu a este estúdio a Joachim Friedrich Martin Fritz em data incerta, talvez 1874 que passou a designar-se Antiga Casa Fritz. O cartão apresenta também as marcas E.B e F.B., iniciais correspondentes a Emílio Biel e ao seu sócio Fernando Joan Martin Niels Brütt, que formaram sociedade em 1876. Em suma, as presumíveis datas da prova fotográfica são posteriores ao falecimento em 25 de Janeiro de 1873 da pobre Henriqueta, minha tia trisavó






Mais ainda, o verso das retratos, em que minha trisavó se fez fotografar com um elaborado penteado, bem à moda segunda metade da década de 70, também na Antiga Casa Fritz, são exactamente iguais aos da desconhecida.

Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão retratada na antiga Casa  Fritz



Retrato de grupo em que consta Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão, também da Antiga Casa  Fritz



Portanto, pelas datas inferidas das provas fotográficas os retratos da desconhecida e os da minha trisavó são da mesma época, apesar dos penteados acusarem modas de períodos diferentes.

A última moda de penteados em 1875, ao mesmo gosto daquele usado pela minha trisavó nas fotografias da antiga Casa Fritz



Contudo, como o Emílio Biel ficou com a casa de Joachim Friedrich Martin Fritz é muito natural que tenha guardado os negativos da anterior gerência e alguém, talvez a Maria do Espírito Santo, tenha pedido uma nova prova de um retrato antigo da irmã, colada num cartão novo, com as marcas da nova firma.


Enfim, nada disto é conclusivo. Eu gostaria que esta dama fosse a Henriqueta, pois tenho curiosidade nesta figura. Tenho algumas cartas dirigidas a ela pelos outros dois irmãos, o António Vicente Ferreira Montalvão (1840-1919 ), o Miguel José Ferreira Montalvão (1838-1890) e parece ser sido uma pessoa com peso na família. Sei igualmente que era muito devota, através das cartas, que recebia com regularidade do Padre José Lopes de Oliveira Pojeira, cheias de pensamentos cristãos profundos. Mas, a história não é aquilo que nós desejamos e esta desconhecida poderá ser uma prima ou outra jovem qualquer amiga. Mas como estes retratos eram feitos em 8 exemplares, talvez alguma família originária de Chaves conserve uma fotografia desta dama desconhecida, mas identificado e venha parar aqui ao blog através de uma pesquisa no google. Já aconteceu por mais que uma vez.






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