
como foi
A internet não nos deixa de surpreender pela enorme capacidade que tem de pôr gente que não se conhece de parte nenhuma a comunicar. Com a net, muitos voltaram a escrever cartas, em formato electrónico é certo, mas ainda assim fazendo renascer antiga arte epistolar e dando origens a variantes curiosas deste género, na forma de blogues e fóruns.
Naturalmente todos sabemos, que na maior parte dos casos a Internet é usada para engatar e escrever tontices, mas creio que neste blog se tem criado um espírito muito positivo de comunicação entre nós, com bons resultados. Uma das coisas mais extraordinárias que aqui se tem assistido é uma investigação em directo, de carácter policial, histórico e arqueológico acerca do antigo Solar dos Montalvões, em Outeiro Seco. Eu comecei por explorar e divulgar a compilação de dados acerca da família pacientemente feita pelo meu pai, ilustrando-a com fotografias actuais e antigas, usando sempre as plantas da casa levantadas no terreno pelo Manel e contando com os sólidos conhecimentos de arquitectura e arte deste último, os incentivos da Isabel e ainda do Altino, que me convidou para participar numa publicação sobre Outeiro Seco.
Como é
Depois apareceu o Humberto e qual Indiana Jones e revolucionou tudo. Descobriu o paradeiro dos santos da capela do Solar, que na família julgávamos perdidos, achou o retábulo do altar mor da referida capela na Casa da Cultura de Outeiro Seco e ainda localizou o antigo sino na igrejinha de N. Senhora do Rosário, cujas fotografias custaram-lhe uma subida a uma escada de seis metros.
Por último, O Humberto fez uma descoberta ainda mais aparatosa. Encontrou fotografias da capela de Sta Rita, do Solar dos Montalvões, no seu esplendor de barroco final, antes da sua destruição e pilhagem. Foram-lhe cedidas pelo Carlos Nepomuceno, um amigo seu e conterrâneo, cujos pais ainda vivem na casa mesmo em frente à Capela.
Quando abri o e-mail com estas fotografias experimentei a mesma sensação de maravilhamento, que aquela jornalista alemã, que acompanhava as obras do metro da cidade eterna, sentiu quando a máquina perfuradora pôs a descoberto os frescos de toda uma antiga vila romana. Esta cena do imortal filme Roma, de Felini traduz a realidade da construção do metropolitano de Roma, que como todos sabem, foi uma trapalhada, pois os empreiteiros tinham que estar sempre a interromper as obras e a desviar a linha, devidos aos constantes achados arqueológicos no subsolo romano.

Nessa mesma cena, os frescos há tanto tempo preservados numa câmara fechada, que representam um cortejo fúnebre onde está retratada toda uma família, que viveu há dois mil anos, desaparecem e desbotam-se em escassos minutos contaminados pelo oxigénio, enquanto a jovem jornalista grita inutilmente, pedindo que alguém faça alguma coisa para parar aquela destruição. Quando a cena termina as pinturas a fresco desapareceram para sempre
No final da leitura do e-mail do Humberto, perante a destruição irremediável que a capela de Sta Rita sofreu, senti uma tristeza idêntica à da rapariga alemã do filme, quando viu desaparecer perante si os frescos romanos