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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Meus anjos


Talvez não sejam bem anjos, mas antes aquilo que os italianos designam por putti, o que em português não se pode traduzir literalmente, pois o resultado fica muito feio. Enfim, à falta de melhor designação, são uns meninos gorduchinhos, que no passado enfeitavam o topo de grandes altares de talha dourada. Normalmente, eram postos aos pares e seguravam uma coroa ou abriam uma cortina como se fosse um pano de cena, sempre com a função de chamar a atenção para a imagem de Cristo, da Virgem, ou do Santo que ocupava o centro do altar.
Comprei-os na Feira-da-Ladra e como a minha casa é muito pequena, sem 10 cm que sejam de parede livre, foram parar ao tecto, o que até nem foi mau, porque consegui respeitar a colocação original para o qual estas peças de talha foram concebidas.

O tecto desta divisão foi já mandado fazer por mim, aproveitando o próprio formato da água furtada e imitando deliberadamente os antigos tectos de maceira dos solares portugueses. É um bocadinho ridículo colocar tectos com um ar palaciano num triste T1, mas ao mesmo tempo, os visitantes que sobem por umas escadas desengonçadas e acanhadas até minha casa, são apanhados por um efeito surpresa, quando abrem a porta e vêem aquela recriação de uma sala do Solar de Mateus à escala 1/43.

Falta-me agora qualquer coisa para pôr no meio dos anjos. Se eu fosse a Salomé, pedia a cabeça do José Sócrates, mandava-a dourar a ouro de lei e colocava-a lá no meio como se fosse um mascarão daqueles usados na Renascença.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cornija e capitel em talha dourada: uma pequena loucura


Por vezes, enlouquecemos e queremos ter uma qualquer peça insensata em casa, para a qual não temos espaço, mas ainda assim vamos em frente e depois de uma negociata de ciganos, damos por nós a transportar uma cornija e capitel em talha dourada num saco do Pingo Doce, a subir com aqueles 9 ou 10 kilos, uma calçada lisboeta daquelas a pique e finalmente três andares sem elevador de um prédio desengonçado e antigo.

Depois, abrimos o saco e... como dizem os brasileiros, caímos na real e percebemos que não há 40 cm de parede livre em casa. Segue-se um momento de desespero, mas rapidamente a esperança regressa, quando nos lembramos da frase daquele coleccionador francês, que dizia, que quando encontramos uma boa antiguidade a preço de ocasião, devemos sempre compra-la, pois uma boa peça encontra sempre o seu lugar em casa.
Pede-se a opinião de amigos, desviam-se uns pratos para o lado, umas travessas passam para outra parede, tira-se o berbequim do armazém e lá se consegue encaixar a cornija num sítio adequado que respeite a sua concepção original, pois este elemento arquitectónico foi desenhado para correr entre a parede e o tecto.

Pronto, foi tudo isso que recordo desse período de insanidade mental.
Agora, que recuperei a minha lucidez, investiguei alguma coisa sobre talha dourada e apesar de ter apenas um fragmento de um todo decorativo, consegui apurar que pertence à primeira fase da talha dourada barroca portuguesa, designada pelos especialistas como 1ª fase: estilo nacional (entre 1675 e 1725) e cujas principais características são colunas torsas (ou retorcidas) profusamente ornamentadas com motivos fitomorfos (folhas de acanto, cachos de uva, por exemplo) e zoomorfos (aves, geralmente um pelicano); coroamento formado por arcos concêntricos; revestimento em talha dourada e policromia em azul e vermelho.
Vi uns quantos altares barrocos deste período do estilo nacional, dos quais destaco o da Igreja de Minde (em cima)ou o Altar de S. João Evangelista no Museu Regional de Beja (em baixo) e neles estão sempre presentes este tipo de cornijas com com uma cabeças de anjinhos nos capitéis

terça-feira, 6 de julho de 2010

Pequeno capitel em talha dourada


Certo dia na Feira-da-ladra comprei em conjunto uma cafeteira de porcelana e este fragmento de talha dourada. A cafeteira, que mais tarde descobri que poderia ser de fabrico russo encontrou logo um lugar no louceiro lá de casa, mas o pequeno capitel andou perdido no meu apartamento minúsculo, uns bons dois anos sem encontrar nenhum sítio onde pudesse brilhar com os seus doirados. O pobre capitel estava também muito mutilado atrás e num dos lados e tinha que ser exposto de um modo tal, que tapasse um pouco as marcas do tempo, esse grande escultor, como diria a Crayencour, mais conhecida pelo anagrama Yourcenar.

Assim iam as coisas com o meu pobre e esquecido capitel, quando no final de 2009, fui visitar o esplêndido Museu Arqueológico de Córdova e vi espalhados pelas salas capitéis e capitéis magníficos. Uns eram romanos, outros visigodos, mas talvez os mais encantadores fossem os do período muçulmano. A exposição encontrada pelos técnicos do museu para estas peças, que originalmente sobrepunham colunas, foi muito feliz. Colocaram-nas sempre nas paredes à altura dos olhos ou então um pouco acima, tentado corresponder à posição original para as quais os capitéis foram concebidos. Fez-se então luz na minha cabeça e percebi que a solução era encontrar um local na minha casa minúscula, atafulhada de velharias, onde o capitel pudesse ser visto à altura dos olhos.

Depois de muitas experiências, decidi-me finalmente pelo local. Coloquei-lhe na parte de trás uma daquelas coisas que se põem nos quadros e pendurei-o no topo duma soleira de porta, encimando um conjunto de quadros com santinhos. Creio que o resultado foi bastante feliz. Não se notam muito as mazelas desta talha dourada e o capitel parece que coroa uma coluna cheia de pequenos quadros de santos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Como era interior da capela do Solar dos Montalvões: fotografias de interesse excepcional

como foi

A internet não nos deixa de surpreender pela enorme capacidade que tem de pôr gente que não se conhece de parte nenhuma a comunicar. Com a net, muitos voltaram a escrever cartas, em formato electrónico é certo, mas ainda assim fazendo renascer antiga arte epistolar e dando origens a variantes curiosas deste género, na forma de blogues e fóruns.

Naturalmente todos sabemos, que na maior parte dos casos a Internet é usada para engatar e escrever tontices, mas creio que neste blog se tem criado um espírito muito positivo de comunicação entre nós, com bons resultados. Uma das coisas mais extraordinárias que aqui se tem assistido é uma investigação em directo, de carácter policial, histórico e arqueológico acerca do antigo Solar dos Montalvões, em Outeiro Seco. Eu comecei por explorar e divulgar a compilação de dados acerca da família pacientemente feita pelo meu pai, ilustrando-a com fotografias actuais e antigas, usando sempre as plantas da casa levantadas no terreno pelo Manel e contando com os sólidos conhecimentos de arquitectura e arte deste último, os incentivos da Isabel e ainda do Altino, que me convidou para participar numa publicação sobre Outeiro Seco.


Como é


Depois apareceu o Humberto e qual Indiana Jones e revolucionou tudo. Descobriu o paradeiro dos santos da capela do Solar, que na família julgávamos perdidos, achou o retábulo do altar mor da referida capela na Casa da Cultura de Outeiro Seco e ainda localizou o antigo sino na igrejinha de N. Senhora do Rosário, cujas fotografias custaram-lhe uma subida a uma escada de seis metros.


Por último, O Humberto fez uma descoberta ainda mais aparatosa. Encontrou fotografias da capela de Sta Rita, do Solar dos Montalvões, no seu esplendor de barroco final, antes da sua destruição e pilhagem. Foram-lhe cedidas pelo Carlos Nepomuceno, um amigo seu e conterrâneo, cujos pais ainda vivem na casa mesmo em frente à Capela.

Quando abri o e-mail com estas fotografias experimentei a mesma sensação de maravilhamento, que aquela jornalista alemã, que acompanhava as obras do metro da cidade eterna, sentiu quando a máquina perfuradora pôs a descoberto os frescos de toda uma antiga vila romana. Esta cena do imortal filme Roma, de Felini traduz a realidade da construção do metropolitano de Roma, que como todos sabem, foi uma trapalhada, pois os empreiteiros tinham que estar sempre a interromper as obras e a desviar a linha, devidos aos constantes achados arqueológicos no subsolo romano.


Nessa mesma cena, os frescos há tanto tempo preservados numa câmara fechada, que representam um cortejo fúnebre onde está retratada toda uma família, que viveu há dois mil anos, desaparecem e desbotam-se em escassos minutos contaminados pelo oxigénio, enquanto a jovem jornalista grita inutilmente, pedindo que alguém faça alguma coisa para parar aquela destruição. Quando a cena termina as pinturas a fresco desapareceram para sempre

No final da leitura do e-mail do Humberto, perante a destruição irremediável que a capela de Sta Rita sofreu, senti uma tristeza idêntica à da rapariga alemã do filme, quando viu desaparecer perante si os frescos romanos