Certo dia na Feira-da-ladra comprei em conjunto uma cafeteira de porcelana e este fragmento de talha dourada. A cafeteira, que mais tarde descobri que poderia ser de fabrico russo encontrou logo um lugar no louceiro lá de casa, mas o pequeno capitel andou perdido no meu apartamento minúsculo, uns bons dois anos sem encontrar nenhum sítio onde pudesse brilhar com os seus doirados. O pobre capitel estava também muito mutilado atrás e num dos lados e tinha que ser exposto de um modo tal, que tapasse um pouco as marcas do tempo, esse grande escultor, como diria a Crayencour, mais conhecida pelo anagrama Yourcenar.
Assim iam as coisas com o meu pobre e esquecido capitel, quando no final de 2009, fui visitar o esplêndido Museu Arqueológico de Córdova e vi espalhados pelas salas capitéis e capitéis magníficos. Uns eram romanos, outros visigodos, mas talvez os mais encantadores fossem os do período muçulmano. A exposição encontrada pelos técnicos do museu para estas peças, que originalmente sobrepunham colunas, foi muito feliz. Colocaram-nas sempre nas paredes à altura dos olhos ou então um pouco acima, tentado corresponder à posição original para as quais os capitéis foram concebidos. Fez-se então luz na minha cabeça e percebi que a solução era encontrar um local na minha casa minúscula, atafulhada de velharias, onde o capitel pudesse ser visto à altura dos olhos.
Depois de muitas experiências, decidi-me finalmente pelo local. Coloquei-lhe na parte de trás uma daquelas coisas que se põem nos quadros e pendurei-o no topo duma soleira de porta, encimando um conjunto de quadros com santinhos. Creio que o resultado foi bastante feliz. Não se notam muito as mazelas desta talha dourada e o capitel parece que coroa uma coluna cheia de pequenos quadros de santos.
Luís
ResponderEliminarSeja muito bem regressado!É um prazer e uma alegria ver o Velharias reaberto.
O capitel é lindo e acho que ficou esplêndido,no local escolhido.De facto parece que coroa toda a sequência das imagens.
Diz que esta ideia lhe ocorreu quando visitava o Museu Arqueológico de Córdova, curiosamente também resolvi,ou melhor, irei resolver nas férias, o problema da colocação de uns azulejos, visitando,na semana passada, o Museu Nacional do Azulejo.Como expõe então o MNA, os azulejo? Cola-os numa placa de acrílico; mas os azulejos não assentam totalmente na placa, pois entre os dois é colocado uma peça cilíndrica, talvez com uns cinco centímetros de espessura.Fica lindo!
Um abraço para si.
MariaGabela
a peça, linda, e o local escolhido, perfeito! vou aos poucos espiando seu apartamento, entre frestas e pequenas aberturas fotográficas; quanto mais vejo, mais gosto.
ResponderEliminarE como fica bem num misto de mísula e cachorro!
ResponderEliminarTal como fiz na minha casa com os estuques esculpidos, sobretudo nas grandes aberturas que mandei fazer entre salas! Fica muito bem!
E esta tua, era uma peça de difícil colocação! Andou a pobre de Herodes para Pilatos, ora empoleirada num armário, ou à beira de uma prateleira, mas finalmente encontrou um local à altura, em todos os sentidos do termo!
E gosto muito do ar delapidado que o tempo da Yourcenar fez o favor de lhe conceder! O tempo é um escultor fabuloso!
Manel
Cara Maria Gabela
ResponderEliminarJá sentia falta dos seus comentários. Fez muito bem visitar o Museu Nacional do Azulejo. É a visitar museus que se educa o gosto e se passa a distinguir fancaria de coisas realmente boas.
Continuo com o problema da colocação dos azulejos atravessado. Há pouco um rapaz restaurador disse-me que o ideal para fixar azulejos à parede é uma mistura de cal hidráulica com areia fina. Esse método permite no futuro retirar os azulejos apenas com água, que dissolve essa argamassa.
O problema é que só vendem cal hidráulica em pacotes de 40 kg. Onde é que eu ponho um saco de 40 kg em minha casa? E Depois moro num terceiro andar sem elevador, a meia encosta duma colina lisboeta e não me apetece carregar com o sacão de cal por aí fora.
Também pondero a hipótese do acrílico, mas prefiro sempre os azulejos na parede.
Em todo o caso, independentemente do sistema de fixação, comece sempre a colocar azulejos a partir do rodapé. Não se sinta tentada a fazer do seu painel de azulejos um quadro, colocando-o à altura dos olhos
Abraços
Caro Bernardo
ResponderEliminarÉ muito bem vindo ao meu apartamento, atafulhado de memórias e velharias.
Abraços
Bom regresso de mini férias
ResponderEliminarBoa aposta na mostra do capitel
Não fui ao Museu de Córdova, mas fui ao nosso ali nos Jerónimos,também por lá existem belos exemplares
O que me fascina nos seus posts é a analogia constante à sua eloquente admiradora Yourcenar
Um fascínio comum que passei a admirar através de si
Temos outra!
Gostamos que a nossa casa seja um pequeno Museu muito pessoal repleto de muitas recordações...
Elas nos maus momentos de solidão e de dor...fazem-nos sonhar, deambular..esquecer um mundo agreste, uma vida triste, imerecida...
Fantasiar através de um simples deleite de olhar...ajudam-nos a viver, a suportar um dia atrás do outro
Adorei reviver a Vénus de Winderford
Afinal,escultura que algumas vezes vi prostrada numa banca de chão nas feiras Destino feliz, acabou por lhe fazer o chamamento de a comprar...
Revisitar o seu Museu faz-me bem...
Beijos
Isabel
Os meus posts andavam muito incompletos sem os seus comentários. Já pensava que a Isabel teria tido alguma zanga virtual com o meu blog. Mas enfim, já fiquei a saber que posso voltar a poder contar com as suas opiniões, que são importantes para mim. Não tanto o que a Isabel comenta acerca desta ou daquela loiça, ou deste ou daqueloutro candeeiro, mas mais as suas opiniões acerca dos textos em que arrisco a fazer mais literatura sobre histórias antigas e de família ou escritos mais pessoais e intimistas. Nessas alturas, a Isabel dá o melhor de si e consegue fazer comentários com rasgo, na sua forma habitual, de dispersão em todas as direcções.
ResponderEliminarBjos
Luís
Bem haja Luís, fiquei mais forte...
ResponderEliminarConfesso tenho andado para o triste, sem vontade de escrever...mas vou lendo...
Como poderia eu deixar de o acompanhar?
Faz parte da minha pequenez de amizades que prevalecem no meu quotidiano, mesmo que não apareça, estou sempre com o seu blog no meu pensamento...que falar dos comentários sábios do Manel e das graças da Maria Gabela...
Amizades virtuais de forte cariz, de cunho mui pessoal no mesmo gosto pelas coisas
Obrigado, as suas palavras vão-me hoje ajudar!
Só ultimamente recebo elogios ao meu modo de escrita, nem a propósito tenho um emal de um amigo para responder que me diz...
" Você tem, de facto muito jeito, para descrever; seja sobre o que for, a sua descrição é muito rica, porque lhe junta sempre os sentimentos e isso dá vida ao que descreve. Fale de flores, de pedras, de património, de culinária, de paisagens ou de pessoas... Pode pensar em publicar um livro, de preferência com descrições sobre a nossa terra, estou a falar a sério (serei o 1.º leitor e se quiser posso fazer a revisão, sem lhe cortar o dom...)"
Desculpe partilhar, mas apeteceu-me, porque incrivelmente fiquei bem melhor
As férias fizeram-lhe bem, voltou à engrenagem mais intimista, sedutora no domínio do texto e do conteúdo
Uma paixão segui-lo, sabia?
Então, nunca duvide!
Bjs
Isabel