Este pequeno painel de azulejos foi comprado numa fase em que andava mais ou descontrolado com a azulejaria. Na feira-da-ladra já evitava aproximar-me de alguns vendedores com medo de cometer disparates. que saíssem muito caros ao bolso. Hoje, com a crise, estou mais poupado e ando mais pelos contentores das obras, aproveitando restos das demolições. Um dia destes despeço-me e vou viver a apanhar azulejos e madeiras antigas e vende-los no chão da feira-da-ladra. Enfim, já estou a dispersar-me como a Maria Isabel e é melhor voltar aos azulejos.
Embora seja sempre difícil datar azulejos, pois o mesmo motivo, se tivesse êxito junto da clientela seria fabricado por muitos anos, julgo que este pequeno painel será datado da primeira metade do século XVIII, portanto é anterior ao período pombalino, em que a produção de azulejos cresce exponencialmente, para fazer face à procura dos reconstrutores de Lisboa. Encontrei duas quadras no Museu Nacional do Azulejo, idênticas ao meu painel, uma com o inventário 5734 (foto superior) e outra com o inventário 5039 (imagem inferior) e que estão datadas como sendo dos primeiros vinte e cinco anos do século XVIII.
Parte do catálogo do Museu Nacional do Azulejo está acessível no site das colecções nacionais, em http://www.matriznet.ipmuseus.pt/ , que apesar das limitações de pesquisa, dá sempre muito jeito para irmos identificando as peças.
Deste meu pequeno painel, encanta-me o facto de a cor dominante ser o azul-escuro e os desenhos serem a branco. É como se fosse uma imagem em negativo do habitual esquema do desenho a azul sobre fundo branco.
Olá Luís
ResponderEliminarQue bem conseguido este post...
Falar de azulejos brancos e azuis, os meus favoritos!
Fez-me rir...
Com que então a dispersar-se como eu...
Interessante como mudamos sempre algo em nós em função de outros que habitualmente connosco comungam e partilham leituras e ideias
Nada mais fascinante!
Adorei ontem ao ler um dos seus comentários, dizia-me que quase corou com as minhas palavras...agora quem diria a falar de azulejos...dispersou-se e disse "Um dia destes despeço-me e vou viver a apanhar azulejos e madeiras antigas e vende-los no chão da feira-da-ladra"...
Adorei tal franqueza!
Há anos que penso dedicar-me a tal...
Assim é, adoro tudo nas feiras, sobretudo o contacto humano, se os feirantes persistem é porque vai dando, no meu caso até nem tenho dívidas, só que desse para a " bucha", já me encantaria...
Certezas?
Muitas hipóteses de assim calhar um dia destes!
Beijos
Isabel
Não me quero esquecer
ResponderEliminarEntrámos no seu signo astral Leão
Está quase de parabéns
Pena, não saber o dia
Pois!
Atreveria-me a convidá-lo no deguste de um cafezinho ali na zona do Carmo que conheci à pouco tempo, prima pelo ambiente ao requinte antigo, a fazer lembrar as feiras pela diversidade de mobiliário e outros adereços mui castiço!
Fica a menção do desejo!
Também que conte muitos, com muita saúde e alegrias que bem merece
Desfrute com exaltação o seu dia
Beijos
Isabel
Faço 47 anos no dia 5 de Agosto e poderá contactar-me para montalvao.luis@gmail.com
ResponderEliminarBeijos
Nesta altura nem tempo tenho para fazer visita ao teu blog! Mas breve tirarei desforra!
ResponderEliminarRápido entrarei de férias e aí ... será a desbunda!
Bem, para mim desbunda não é mais que poder dormir um pouco mais, preguiçar pela manhã, frente à mesa onde me chama o aroma da chávena de café, o sol a inundar-me o espaço, e ler ... ler e ler até ao almoço!
Os azulejos são sempre algo que encanta quem vê! Difícil ficar indiferente, sobretudo pelas nossas ascendências islâmicas! Nem creio que estas ascendências sejam necessárias!
Aliás, o termo provém mesmo do árabe (creio que do termo az-zulaich), disse-mo um marroquino com quem privei há muitos anos atrás, também ele maravilhado pelos nossos!
Nem doutra forma poderia ser! A beleza, esteticamente referida, ultrapassa fronteiras fisícas, rácicas, sociais ou temporais.
E, em termos práticos, o seu uso como revestimento é quase perfeito, pois é um material isolante, resistente, impermeável, barato e de fácil manutenção.
E, quando utilizados no revestimento de interiores, sobretudo na presença do lume duma lareira, reflectem-no e estilhaçam-no em milhões de fragmentos que acordam e induzem a poética na imaginação das mentes mais sensíveis e sonhadoras.
Permitem a repetição infinita de um padrão, que, se utilizado em solitário, ficaria perfeitamente anónimo e indiferente (basta ver aqueles tristes e únicos exemplares, algo frios e sem vida, que se expõem, desenquadrados, nas feiras), no entanto em conjunto, ganham vida, excitam a imaginação, as cores casam-se e jogam em sinfonia umas com as outras (lembro-me dos enxaquetados, ou os de padrão, que existiram em todas as épocas, mas que ganharam riqueza acrecida no séc. XIX), ganham relevo e parecem querer soltar-se da prisão das paredes (os de ponta de diamante, inteira ou cortada, são os meus favoritos) ...
Outros, para enganar os incautos e "épater le bourgeois", imitam materiais mais nobres, esponjados, marmoreados, jaspeados em diversos coloridos, excepto dourados e prateados, que, pelo que sei, nunca foram produzidos industrialmente (conheço o ladrilho em vidro e folha de ouro, utilizada esta em "sanduíche", prática comum nos revestimentos dos mosaicos bizantinos, compondo os interiores "in cielo d'oro" de Ravena , mas a sua técnica de fabrico é diferente!).
Ou então são narrativos, exacerbam a religiosidade dos crentes, contam histórias, fixam a memória às paredes! Servem-nos o passado em bandejas verticais e até horizontais (os pavimentos alicatados da capela do Palácio da Vila de Sintra compõem preciosos tapetes persas!).
Seguramente o azulejo é um material dos mais versáteis que conheço, mas que, de forma desgraçada, foi tornado em material espúrio face à decadência que a história tomou neste último século!
Manel
Luís
ResponderEliminarBem haja por ter a delicadeza que lhe é peculiar e o respeito em me responder
Estive quase no limite em pedir desculpas, julguei que teria sido inapropriada, inoportuna, desadequada, simplória...
Me desculpe!
Direi, não é por mal, sou uma lamechas, boa pessoa, franca demais, mui transparente
Quando gosto, gosto,tem dias que me esqueço dos limites...sei que não deveria!
Que dizer!
Adorei a afinidade, não é que fazemos anos no mesmo dia...5, eu no mês das flores, Maio e o Luís no melhor mês do ano, o favorito para férias, Agosto
Estarei nessa altura fora sem acesso a Pc...mas enviarei um e-mail antes, já que me autorizou
Bem haja pela franqueza
Beijos
Isabel
Caro Manel
ResponderEliminarO teu texto é uma pequena maravilha, como sempre. Encanto-me com a forma com que escreves
nao gostei detestei
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