quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Colocação de mais azulejos em casa do Manel


Estas férias o Manel e eu decidimos lançarmo-nos na empreitada de colocar mais um painel de azulejos na sua casa. A ideia era fazer um cenário para o canapé estilo D. Maria, que recebi de herança do solar de Outeiro Seco.


O Manuel começou por montar o painel no chão, que já tinha sido previamente numerado, pois este motivo com os enrolamentos nem sempre é simples de se acertar, além de que alguns do azulejos não são exactamente do mesmo padrão.

Alguns dos azulejos não são exactamente do mesmo padrão
Depois houve a preocupação de acertar os azulejos marmoreados com a cercadura dos enrolados, o que também não foi simples, pois os marmoreados estavam alguns deles partidos e outros tinham sido cortados no passado, para caberem em algum canto.

Muitos dos azulejos marmoreados não apresentam as mesmas dimensões. Uns partiram-se e outros foram em tempos cortados para serem afeiçoados a algum canto
Aliás, cada um destes azulejos tem uma história própria, que o Manel e eu conseguimos contar para cada um deles. Alguns azulejos da cercadura foram achados na minha rua, nos mesmos sacos em que encontrei o Dragão. Uns poucos dos marmoreados encontrei-os em contentores das obras ao longo da rua dos Remédios, em Alfama, e também aqui na Baixa, e todos os outros foram comprados pacientemente pelo Manel, ao longo de mais de dois anos.

O roço já aberto. Antes de colocação, molha-se a parede e os azulejos 

Mas voltando à colocação, de seguida o Manel desenhou na parede a superfície onde o painel iria encaixar. Estendemos um grande saco preto no chão e então veio a melhor parte para mim, com o martelo e o escopro começamos a partir o reboco e pude dar largas ao meu instinto destruidor de skin head, abafado por anos de silêncio, passados em bibliotecas e arquivos.


Feito o roço e limpos os escombros, começou a colocação. O Manel fez a massa e como é mais habilidoso tratou da colocação os azulejos. Eu fazia de trolha, assistente dele, molhando os azulejos antes de lhos dar. Depois dos trabalhos concluídos, já a noite tinha caído, houve que lavar os instrumentos todos lá fora com um frio de rachar.

Os azulejos após a lavagem com água
Deixamos secar tudo e no dia seguinte, lavei os azulejos para retirar os restos de massa e o brilho de toda a tradição da azulejaria portuguesa apareceu de imediato. Quando colocámos o canapé, este ganhou um cenário perfeitamente palaciano, o que só evidencia a capacidade, que um material muito barato, pintado de uma forma rápida e apressada tem de transformar um espaço.

A cercadura será talvez da primeira metade do séc. XVIII
 
No canto esquerdo do painel alguns azulejos são diferentes, provavelmente ainda do séc. XVII

18 comentários:

  1. Excelente trabalho! E que bela combinação do rodapé de azulejos e o canapé, complementado pelos vasões e a luminária.
    Concordo contigo, os azulejos conseguem sempre um efeito surpreendente, dinâmico, enriquecedor, ao mesmo tempo acolhedor e quente, coisa que muito material bem mais caro, como o mármore, não consegue.
    abraços!

    ps: "trolha" aqui é uma palavra de tão baixo calão... (rs)

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  2. Olá Luís

    Excelente trabalho, enriquecido pelo ajudante de pedreiro, vulgo trolha, vocábulo tão usual nas terras do interior. Há muito tempo, no Brasil, passei por algumas "vergonhas", quando empregava determinadas palavras, normais para nós e com um significado tão diferente em terras brasileiras...
    Há dias fui ao Museu da Cidade e pude observar diversos silhares de azulejo, todos em azuis,mas com rodapés marmoreados, de manganés. O efeito é espectacular, tal como o do Manel (espero que não se importe que o trate pelo nome)e faz viver o canapé que relembra os antigos espaços de onde é oriundo.
    Parabéns pelo resultado.
    if
    P.S. Se precisar dos vossos serviços especializados, estão disponíveis?

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    1. Cara If

      Qualquer dia o Manel e eu começamos a colocar azulejos ao domicílio, para compensar os vencimentos roubados pelo nosso chefe, o Passos Coelho. Lolol.

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  3. Olá,Luis e Manel
    Pelas fotos,deduzo que o Senhor Manel tenha uma casa de sonho
    Canapé muito antigo,azulejos belíssímos,loiças muito bonitas e interessantes...
    Ou seja,a casa dos meus sonhos,tal o clássico
    Adoro estilo Vitoriano,veludos ,linhos bem antigos rendas ,pratas etc
    Pratas tenho algumas bem antigas. Mesmo muito antigas e interessantes
    Um dia ,com tempo vou enviar várias fotos de muitas coisas
    Se o Luis não se importar,claro
    Será para o seu mail
    Muitos parabéns,meninos
    A casa deve estar um espanto
    E como disse uma vez
    Grandes amigos devem ser,já que o Luis ate serve de trolha,lol
    Um beijinho aos dois

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    1. Cara Grace

      A casa do Manel está muito bonita, efectivamente, mas repare que o captou esta fotografia é uma espécie de cenário teatral. O painel é pequeno, não se estende pela casa toda, mas criou neste canto um ambiente especial, de antigo palácio português. Com meia duzia de azulejos consegue-se criar muitas ilusões. Por isso, defendo que os azulejos portugueses devem ser sempre encastrados na parede e não emoldurados em quadrinhos.

      Bjos e mais uma vez obrigado pelos seus tão simpáticos comentários

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  4. Fábio

    Trolha em Portugal é o ajudante do pedreiro. É normalmente um rapaz que está a aprender o ofício. Mas, também aqui a palavra tem alguma conotação negativa e pode significar um homem, que faz pequenas obras em apartamentos, sem grande qualificação e sem passar factura. Enfim, no contexto do texto do blog a palavra surgiu como uma brincadeira.

    Os azulejos nunca nos deixam de espantar pela suas capacidades em mudar o espaço e em Portugal o seu uso foi a maneira barata que se encontrou de tornar opulentos interiores arquitectónicos pobres. Aqui tentou-se dar essa nota de brilho da azulejaria portuguesa, montando como que um pequeno cenário para o canapé antigo.

    Um abraço

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    1. Oi Luis,
      Eu sei o significado de trolha em PT. Quer dizer, sei, pois fui olhar o dicionário ao ler teu post!! Mas o significado aqui é bem mais chulo do que apenas um sujeito sem qualificação profissional, como a "if" já deve ter descoberto em sua viagem ao Brasil. :-)

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    2. sobre o que você disse em "maneira barata que se encontrou de tornar opulentos interiores arquitectónicos pobres.": Acabei de ver umj vídeo sobre o Convento do Pópulo, em Braga, e quase morri com tanta arte e beleza juntas em um único lugar! Não trocaria nem por mil toneladas de mármore de Carrara!!

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    3. Fábio

      Tens toda a razão. Uma das coisas mais fantásticas que os paineis azulejares antigos apresentam, são as portas falsas, como há em algumas sacristias. Há uma igreja perto de Alcobaça, Cós, que era também um convento beneditino, que apresenta uma desas portas falsas em azulejos, que é uma coisa perfeitamernte fascinante. No jardim de uma quinta em Lisboa, julgo que em Carnide, há uma dama que nos espreita por de trás de um portão de ferro e tudo isto em azulejo. É realmente uma arte que recria com um material econónico todo um mundo de ostentação num contexto arquitectónico à partida desinteressante.

      Quanto ao trolha, essas pequenas diferenças fazem parte da graça dos encontros e desencontros entre lusos e brasileiros-

      Abraços

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  5. Esta dupla de rapazes está imparável!
    Deslumbram-nos com estes trabalhos e deixam alguns de nós roidinhos de inveja... (quem diz alguns, diz algumas :))
    O efeito é muito bom!
    Também vi marmoreados a formar rodapé com azuis e brancos no Museu do Traje e fartei-me de os fotografar para ver se alguma vez...
    Mas, enfim, não há um Luís e um Manel por perto...
    Parabéns aos dois e abraços

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    1. Que não seja por isso Maria Andrade ... podemos fazer sempre fazer uma deslocação, e tenho a certeza que não ficaríamos a perder, pois, a sua simpatia, já a conheço bem :-), e, estou certo, as terras onde vive devem estar de acordo
      Manel

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    2. Manel, não quero cá os amigos para virem trabalhar... mas umas opiniões de quem percebe da coisa... serão sempre bem vindas ;)

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  6. Maria Andrade

    Os marmoreados fazem rodapés estupendos com os azuis e brancos.

    Sabe que os primeiros azulejos quue arranjei para minha casa, mandei-os colocar a um senhor que estava a fazer obras no prédio, compensando-o com uma gorjeta gorda. Depois de o ver fazer esse trabalho várias vezes, achei que rebentar com a parede e colocar um bocado de massa nos azulejos não era assim tão complicado e comecei eu a coloca-los. Claro, os paineis de minha casa são pequeninos e não tem tantos azulejos como os do Manel.

    Bjos e obrigado

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  7. Depoois de um dia inteiro dedicado à burocracia, lá consegui encontrar um bocado para vir até ao teu blog, mas não é fácil nos dias que correm ... lol.
    O efeito é surpreendente, tanto mais que é conseguido com materiais considerados pobres e de relativo baixo custo.
    E, nesta empreitada, quando adquiri a casa, decidi, de início, que ela seria uma casa de interior rural, o que cumpri relativamente aos materiais de revestimento de pavimentos, tetos, paredes e portas; deveria também manter este tipo de caraterística no mobiliário, mas isso tornava-se mais difícil, visto que já possuía, de raiz, uma série de peças com caráter mais urbano, pelo que fui obrigado a fazer uma ponte entre estas desigualdades, socorrendo-me de outros materiais de apoio, como foi o caso do azulejo.
    O teu canapé, apesar de ter algo de rústico, apresenta, no entanto, caraterísticas mais nobres, não nas madeiras, que são relativamente vulgares entre as que se utilizavam para construção de peças para a classe média, mas na forma, que essa sim, possui um caráter um pouco mais erudito, dada a época em que foi construído.
    É necessário estar sempre com atenção ao que vou utilizando, pois o meu gosto é tão eclético que dou muitas vezes por mim a optar por soluções algo estranhas ao objetivo inicial.
    É algo que chamo "andar sobre o fio da navalha", e nem sempre as coisas me saem a contento, como neste caso feliz que aqui mostras.

    Deverei dizer à if que tenho todo o gosto que me trate por Manel, claro, pois, de certa maneira, acabamos por constituir uma pequena comunidade com interesses afins e com alguns laços de cumplicidade dentro desses interesses.
    E tem tido sempre tanta amabilidade em nos trazer aqui, de forma pertinente, as suas peças para que com elas possamos aprender e conhecer, que eu é que me sinto obrigado para consigo.
    Quanto ao trabalho especializado que solicita, ele não é lá muito especializado, pois nunca o fizémos antes (pelo menos, eu não); ele é executado de forma intuitiva e o melhor que nos é possível, atendendo ao estado do reboco da parede, que temos a sorte de ser antigo, sem cimentos, pelo que retirá-los é tarefa relativamente fácil. Se se tratasse de colocar azulejo em reboco de cimento, não o faria de certeza, pois ficaria algo absolutamente horrível, e o trabalho seria insano, pois ter-se-ia que utilizar o martelo pneumático (far-se-ia, claro, mas não tenho a certeza de chegar ao fim com a parede inteira! Esburacada ficaria com certeza!).
    No entanto, se tiver algum sítio que possua paredes antigas, sem cimento, onde queira colocar azulejo, até nem será difícil fazê-lo, tanto mais que, e peço desculpa por falar egoisticamente, posteriormente não precisaria de fazer a limpeza exaustiva que gosto de fazer ... :-)
    Uma vez mais agradeço à Grace a sua amabilidade e os seus cumprimentos, os quais retribuo.
    E como eu a entendo com o seu gosto pelas casas vitorianas! O andar onde vivo em Lisboa tem essas caraterísticas, é uma mistura de vitoriano/romântico com eduardiano, onde pontua uma mistura de mobiliário inglês e português vernáculo.
    Manel

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  8. Manel

    É realmente complicado colocar numa casa tudo aquilo que nosso gosto eclético vai acumulando. O ideal seria ter um palácio, com um sala do Saxe, um salão Luís XVI, uma sala de estar estilo Napoleão III, um quarto revestido de azulejos portugueses e móveis D. José e um pavilhão rústico para decorar com peças de barro antigas, Mas como somos uns pelintras, temos que meter todos esses estilos em espaços pequenos, muitas vezes na mesma sala e juntar século XIX com XVII, rústico com faustoso. Enfim, andar no fio da navalha com afirmas tu .

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  9. Valeu a pena o trabalho, pois conseguiram criar um recanto magnífico. E que bem que "casam"o canapé e os azulejos! O remate com os azulejos marmoreados está perfeito.Parabéns aos dois:)
    Deixe-me agora dizer-lhe que o armário embutido do qual se vê um bocadinho, na quarta foto, é maravilhoso. Gosto muito deste tipo de soluções e esta parece-me particularmente elegante, pois o embutido não parte do chão, mas sim uns centímetros acima o que lhe dá um encanto especial. Tanto a casa do Manel, como a do Luís, têm alma,talvez a dos seus donos, daí tanta beleza e elegância.
    Beijos aos dois

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    1. Agradeço-lhe as palavras Maria Paula. Mas o espaço estava lá, limitei-me a intervir o mínimo possível para não deturpar o espírito da casa alentejana, pelo menos exteriormente. Interiormente é outra história ... heheheh
      Quanto ao armário embutido na parede já lá estava também quando comprei a casa e, para o recuperar, fui obrigado a desmontá-lo totalmente para poder intervir nas madeiras que estavam com bicho, empenadas e pintadas de um horrível castanho "de burro a fugir".
      Ao desmontá-lo descobri que aquele espaço tinha sido uma antiga porta de serventia à casa a partir do quintal, fechada posteriormente para que se construísse nesse mesmo quintal (que é hoje o jardim da casa) um galinheiro/arrecadação.
      Manel

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    2. Maria Paula

      Obrigado pelo seu simpático comentário.

      Bjos

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