segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Passamanaria de azulejos: Museu Regional de Beja


Recentemente fui visitar um sítio um pouco esquecido de todos e com um certo ar de abandono, o Museu Regional de Beja, o que é uma pena, pois o edifício onde está instalado, o antigo Convento da Conceição, tem uma azulejaria de cortar a respiração. Aliás, só por causa dos azulejos, o Museu Regional é um local de visita obrigatório em Portugal, apesar de a ourivesaria e algumas pinturas serem também dignas nota, como por exemplo as telas atribuídas ao pintor espanhol José Ribera.

Quem se interessa pelo tema, sabe certamente que no século XVII a azulejaria portuguesa foi influenciada pelos têxteis. Por exemplo, nas igrejas portuguesas muitos frontais de altar são revestidos com painéis azuleares inspirados nas colchas indianas. Da mesma maneira, são comuns nesta época os lambris de azulejos inspirados nas rendas de bilros, generalizadas na Europa no século anterior, a partir da Flandres e da Itália. Este motivo das rendas surgirá também na faiança. A Maria Andrade e a Ivete Ferreira já escreveram nos seus blogs sobre esta influência dos têxteis na azulejaria e acerca do motivo decorativo das rendas.
Azulejos com o padrão das rendas e o motivo Passamanaria

Contudo, até visitar o Museu Regional de Beja, nunca tinha visto azulejos, que imitassem tão claramente uma faixa de passamanaria, idêntica aquelas franjas e borlas que rematam as cortinas, os tapetes orientais e até enfeitam alguns sofás. Certamente que esta pequena descoberta no Museu Regional de Beja, não é novidade nenhuma para um especialista em azulejaria, mas para mim que sou um mero amador das artes e da história, deixou-me completamente surpreendido. Fiquei realmente a matutar na ideia, que no fundo muita da azulejaria portuguesa do século XVII pretende reproduzir na parede um tapete ou um tecido oriental. 
 
 

16 comentários:

  1. Luís
    Que encanto! A sua "descoberta" faz-nos reviver, a Grandeza da nossa produção azulejar! Fomos e somos excelentes em muitos campos e, um deles, a azulejaria. Trouxemos influências do Oriente para os têxteis que soubemos reproduzir, magistralmente, nos frontais de altar.
    A última imagem - da passamanaria- que nos mostra, representa bem essa excelência.
    Um abraço

    if

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    1. Ivete

      A azulejaria portuguesa é uma fonte inesgotável de surpresas, pelo menos para as pessoas como eu, meras amadoras dos assuntos de arte. A toda a hora, nos surpreendemos quando andamos nas ruas ou visitamos igrejas, palácios e museus.

      Um abraço

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  2. Que curioso,
    Não tem nem uma semana ainda que em um grupo de facebook que frequento, um arqueólogo publicou diversas fotos exatamente deste sítio, e eu lá comentei, o que vale para aqui também, que este era o padrão de tapete que mais fazia juz ao nome! Com franjas e tudo mais.
    Lindo, tão original, de execução cuidadosa e onde se vê a dedicação e amor pela arte de quem os fez.
    Obrigado e parabéns pela postagem
    abraços!

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    1. Fábio

      Conhecia a influência dos têxteis na azulejaria e até já tinha lido num manual qualquer coisa sobre esta ideia de que os azulejos podem por vezes ser como que tapetes orientais aplicados na parede. Inclusive houve há uns anos uma exposição de azulejaria portuguesa em Madrid, que se intitulava "Tapices cerâmicos". Contudo, só quando visitei o Museu Regional de Évora é que assimilei realmente o que tinha lido de forma apressada nos manuais. Enfim, nada como visitar museus para acrescentar o nosso conhecimento. Os livros só não chegam.

      Um abraço

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  3. A riqueza azulejar deste local é perfeitamente fantástica.
    Fiquei boqueaberto perante a riqueza do que me foi dado ver, tanto mais que se encontra perdido neste local, visitado por poucos e até algo abandonado, pareceu-me.
    O estado do edifício é deplorável, com entrada de humidades no próprio corpo da igreja.
    As peças expostas valem bem uma visita a todos os que gostam de arte e história em geral e azulejaria em particular.
    No entanto, a pintura, com peças excecionais que vão do séc XV ao XVIII, está mal exposta, e a necessitar urgentemente de quem a restaure, como é o caso dos Ribera (pelo menos encontram-se atribuídos a este pintor).
    Alguém conseguirá socorrer este edifício ... bem, estendo este pedido à própria cidade de Beja, que me pareceu perdida no tempo e sem qualquer futuro em vista, ou então sou eu que estou a ser exagerado, por ter lá ido em final de semana (era um lindo sábado cheio de sol). Talvez em dia de semana a situação seja diferente.

    Senti uma nostalgia pungente por saber que me encontrava no local onde viveu aquela freira de triste sina, Soror Mariana Alcoforado.
    Há alguns anos li as cartas que lhe são atribuídas, mas fiquei com vontade de repetir. Lembro-me que aquelas cartas eram como gritos e lamentos não respondidos nem correspondidos
    Manel

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    1. Manel
      Sempre me recordo de Beja como uma terra mortiça e creio que desta vez ainda a achei mais parada no tempo. Creio que nos últimos anos a cidade tem sido vítima desta política de fechar escolas, tribunais, hospitais, repartições de finanças, quartéis e delegações regionais nas terras do interior.

      Mas, o Museu Regional de Beja é de facto uma visita obrigatória e devia constar com grande destaque de todos os roteiros turísticos.

      As cartas atribuídas a Soror Mariano de Alcoforado constituem uma obra que ainda hoje nos emociona. Como pessoalmente prefiro escrever a telefonar, uma paixão epistolar foi sempre qualquer coisa que me atraiu e que já pude experimentar. Por outro lado, o facto de não se saber exactamente se foi Mariana de Alcoforado quem escreveu as cartas, empresta ao assunto um certo ar de fascinante mistério

      Um abraço

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  4. Luís,
    Já visitei esse museu há algum tempo. Dediquei mais o meu olhar à pintura. Talvez porque é mais a minha paixão. Também me foquei em alguns azulejos mas não os que o Luís aqui traz.
    Achei graça como colocou a questão. Agora tenho pena de não ter visto em pormenor mas foi porque os liguei ao século XVII, com padrão repetitivo, e não reparei na bordadura ("passamanaria") tão original.
    Como o Manuel foca também senti alguma nostalgia ao recordar Mariana Alcoforado.
    Um abraço!:))

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    1. Ana

      A riqueza azulejar deste Museu é tão grande, que dava matéria para uma vintena de posts neste blog. Por outro lado, a variedade de azulejos é tal forma ampla, que temos dificuldade em captar tudo e reparar em todos os tipos e todas as soluções. Também é verdade, que tenho sempre tendência a fixar-me em pormenores. Aliás, este é quase sempre um blog de pormenores, de pequenos detalhes.

      Ainda hoje as cartas de Soror Mariana de Alcoforado me comovem.

      Um bjo

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  5. Nossa!!! que cadeira linda !! nunca vi. parece feita de café com chocolate.. o que é ? tem um estilo ?

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    1. Cara Regina

      A cadeira que pode ver na fotografia foi feita em pau-santo, uma madeira que vinha do Brasil. Por aí, na sua terra, esta madeira é conhecida por Jacarandá. Como é uma cadeira muito antiga, do século XVIII, a madeira que já de si era boa ganhou uma patine, que lhe deu esta cor fabulosa. Julgo que a cadeira é estilo D. José.

      Um abraço

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  6. Não sabia que os têxteis eram reproduzidos em azulejaria...é muito bonito. A renda de bilro bem feita é linda. Atualmente aqui é feita hoje na Bahia é uma pobreza de pontos.
    Abraços, Luís.

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    1. Caro Jorge

      Desculpe só agora lhe responder, mas por vezes ficamos sem tempo na vida ou empregamo-lo mal.

      Com efeito, no século XVII a azulejaria portuguesa inspira-se muitas vezes nos têxteis. aliás, quase toda a azulejaria portuguesa é uma arte de fingimento, pois usa-se um material barato para criar a ilusão de revestimentos ou decorações de luxo, como o mármore, os tapetes persas, as tapeçarias francesas, as boiseries ou pinturas de grandes mestres. A grande originalidade da azulejaria portuguesa é conseguir transformar um espaço arquitectónico através da ilusão.

      Um abraço

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    2. e acrescento... e nesta arte da ilusão, que começou um pouco como imitação, criou uma nova arte, totalmente própria em si, nova, original, na medida em que foi evoluindo em torno de si mesma!
      abraços

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    3. Fábio

      Concordo plenamente. Esta forma de fingimento evoluiu e criou uma arte muito própria e muitíssimo original.

      Um abraço

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    4. Esses azulejos amarelo com azul, do XVII, são lindíssimos. São raros aqui em Salvador, mas o que tem é lindo.
      Essa cadeira...deslumbrante!
      Obrigado e abraços, Luís.

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