segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Por Bragança: as margens do Rio Fervença


Bragança é uma cidade pela qual tenho uma ligação forte. O meu pai passou lá a sua adolescência e desde pequeno ouvi da sua boca histórias e descrições daquela terra, que talvez seja a mais periférica e longínqua das cidades portuguesas do continente. Igualmente, quando estava de férias em Vinhais, todos os anos havia um passeio até Bragança normalmente conduzido pelo meu tio Chico, que agarrava em nós, a miudagem toda e metia-nos no Saab até aquela cidade e visitávamos a “domus municipalis”, o castelo e ainda o Museu Abade de Baçal.

Nos últimos quarenta anos, a cidade cresceu muito. Foram rasgadas novas avenidas e construídos muitos prédios e vivendas, mas tudo aquilo é feio e tem um certo ar de subúrbio mal arranjado. O centro histórico foi ficando esquecido e talvez por essa razão conservou-se razoavelmente, pois em nome do progresso, ninguém se lembrou de lá construir prédios com 10 andares, nem agências bancárias de arquitectura espalhafatosa. Hoje, que já há uma maior consciência do valor do património, a Câmara Municipal de Bragança tem vindo a promover a reabilitação do Centro histórico, que são basicamente duas ruas paralelas, correndo da praça da Sé até ao Castelo.
 

Logo abaixo da praça principal de Bragança, existe um jardim público, daqueles bonitos, com um coreto e canteiros desenhados à régua e esquadro, que confina com o rio Fervença, que não há muito tempo era um caneiro imundo, onde esgotos da cidade desaguavam. Para minha surpresa, o rio foi inteiramente despoluído e à sua volta criaram-se passeios pedestres, com bancos de jardim, aproveitando o arvoredo já existente. O resultado é muito agradável, pois ao longo de uma extensão muito grande, julgo que mais de um quilómetro ou mais, pode-se passear ou andar de bicicleta junto às margens do Fervença, que é agora um rio lindo, que corre cheio força, com cascatas naturais e ladeados de moinhos, que fizeram o meu encanto. Um deles foi recuperado, o outro ainda está ainda em muito mau estado, mas espero que quando o restaurarem, não o arranjem demais e deixem-no com um certo ar de ruína romântica.
 
 

Mas esse passeio ao longo das margens do rio Fervença também é bonito pelas vistas que podemos desfrutar do velho burgo brigantino. Seriam até vistas de postal ilustrado, se uma casa medonha dos anos 70/80 não estivesse cravada na encosta do lado direito do Castelo. Depois das férias, quando cheguei a casa e abri as fotografias no meu computador, apeteceu-me ser um ditador feroz e mandar implodir aquela casa ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.
 
A casa estraga o aquilo que seria um belo postal ilustrado, onde além do castelo e do casario antigo de Bragança não falta sequer o típico pombal do Nordeste transmontano
 
Ao olhar para esta fotografia não consigo deixar de ser moralista e pensar que por todo o País autoriza-se a demolição de casas antigas, mas que raramente se manda destruir aberrações arquitectónicas, como esta casa nova, que estraga irremediavelmente uma paisagem histórica. Bem entendido, imagino que quem mandou erguer esta casa, fê-lo com o dinheiro de uma vida de trabalho em França, mas quem autorizou a sua construção. cometeu um acto criminoso.
 
Apetece-me ser um ditador feroz e mandar implodir a casa assinalada na seta ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.
 

2 comentários:

  1. Pouco a pouco algumas câmaras, espalhados por esse país fora, vão tomando consciência de que há cidadãos, quanto mais não seja para votar. Se elas não fizerem nada por esses mesmos cidadãos nem que seja pelo altruísmo e boa vontade, benemérita, de melhorar a sua vida, pelo menos que o façam com os olhos postos nos votos que esses mesmos cidadãos poderão deitar nas urnas.
    Cidadãos são pessoas comuns que fazem um país, não são entidades abstratas, somos todos nós, um por um, e se quisermos um país que valha a pena teremos que investir afinal naquilo que o constitui.
    Quantas vezes não passo eu por localidades que não possuem passeios ou mesmo algum pequeno espaço que permita um cidadão caminhar ao longo de uma rua sem ir pelo meio da via pública!!!
    Quantas vezes vejo eu pessoas a fazer exercício físico, quer correndo, quer bicicletando ou simplesmente passeando no próprio pavimento alcatroado, por não haver outra possibilidade?
    Ou então, as câmaras/juntas de freguesia investem em instrumentos públicos destinados ao exercício físico dos seus concidadãos (que boa ideia seria, claro!), mas colocam-nos em espaços ... onde não existe uma única sombra(!), à torreira do sol - será que não dão conta que não estamos na Gronelândia nem tão pouco na Suécia????
    Será que esperam que alguém lá vá só pela noite??? Ou será que querem matar os cidadãos com uma insolação ... a natalidade vai diminuindo, é verdade, mas querem fazê-lo a passo acelerado?
    Então isto não é um atentado? São coisas destinadas para "inglês ver", e "tapar o sol com a peneira".
    Coisas eleitoralistas que significam desperdício do dinheiro do contribuinte, mas nunca em seu proveito.
    Quantos campos de jogos faraónicos vejo construídos por esse país, com o pavimento todo cheio de lixo porque ninguém os usa, e devem ter custado bom dinheiro!!! Muitas vezes porque já praticamente não há juventude no interior, outras vezes porque, por burocracia, dificultam o acesso a esses mesmos complexos!
    Devem sentir-se ufanos pelo lixo que fizeram/fazem!!!
    Será que os poderes nos tomam a todos por tolos?? Alguns serão, claro, cegos por obediências partidárias obtusas, tradicionalismos esquecidos e tolos ou pura distração, mas essas situações têm tendência alterar o seu curso, e ainda bem.
    Bragança toma cuidado dos seus concidadãos, e ainda bem. Um exemplo a seguir, que, felizmente, também os há!
    Manel

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  2. Manel

    Ao abrigo do programa Pólis a Câmara Municipal de Bragança fez um trabalho notável de recuperação do rio e de toda a área envolvente. As águas do rio são tecnicamente potáveis, o que presumivelmente significou um trabalho gigantesco de desvio da rede de esgotos para uma ETAR. A área verde circundante é extremamente aprazível, pois aproveitou a vegetação já existente e permite caminhar, correr, andar de bicicleta, ou sentar-se para namorar, ler um livro ou ainda pura e simplesmente ouvir a música do rio a correr, que é uma coisa sempre tão relaxante.

    Um rio limpo e um bom parque à volta são elementos importantes para a boa qualidade de vida de uma cidade e as pessoas aderem espontaneamente e vê-se logo gente de todas as idades a utilizar o espaço.

    Para tudo ser perfeito só faltava mesmo demolir aquela casa pintada naquele azul sinistro.

    Um abraço

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