Regresso novamente a Vinhais, a terra da minha mãe, essa vila perdida no Nordeste transmontano, mas a um tempo antigo, situado algures entre os fins do século XIX e o início do XX. Desse período, restou um registo escrito, que o meu pai levantou há 30 anos ou 40 anos atrás a partir das memórias dos mais velhos, bem como de documentos da família, entre as quais um caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) anotou quem foram os seus pais, os irmãos destes, os seus irmãos e o seus amores contrariados com Graça Pires de Morais. Este trabalho de compilação do meu pai ainda foi notável, atendendo a que tratava da família da mulher. Do seu lado, tinha os pergaminhos dos Montalvões, mas o meu pai antes de tudo gostava de história e tinha a mentalidade de arquivista, sabendo que nas famílias tem que haver alguém, que registe com rigor, sistematize as memórias e passe-as à geração seguinte.
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O caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), anotou de forma sintética a sua biografia |
Desses documentos da família Morais Ferreira há também fotografias antigas. Umas fui identificando por conterem dedicatórias, mas outras permanecem ainda no anonimato. Presumo que sejam da família, pois apresentam o tipo claro dos Morais, olhos azuis, verdes, castanhos claros, tez branca e os cabelos também loiros, castanhos claros ou castanhos arruivados. Obviamente, em retratos a sépia ou a preto e branco é difícil determinar com precisão as cores.
Como vou publicando aqui no blog, as histórias e fotografias da família deste lado das terras frias de Vinhais, sou por vezes contactado por primos, ou por descendentes de amigos de então, que aparecem retratados nessas imagens e muitos deles acrescentam elementos às histórias ou identificam mais pessoas. É uma reacção muito gratificante, que me aproxima dessas terras frias, as quais sinto que pertenço.
Umas pessoas que me contactou foi Leonor Gomes, professora, com a suspeita de que existiria um parentesco entre as nossas famílias. Fomos trocando e-mails e informações, até que a Leonor me enviou o retrato de um casal, tirado cerca de 1900, em que o Senhor seria o seu bisavô. Reconheci de imediato a fotografia deste casal, pois há um semelhante no espólio da família, na secção dos desconhecidos, que presumo serem parentes. Apenas há uma diferença, no retrato da prima, consta apenas um casal, enquanto que no meu há um menino, muito provavelmente filho do casal. A partir daqui encontramos o fio, que nos permitiu reconstruir toda uma teia de relações familiares.
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O retrato do espólio família da prima Leonor |
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O retrato do espólio da minha família |
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A diferença entre os dois retratos é que no segundo aparece o filho do casal José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, o menino Amândio Augusto |
Com efeito, o Senhor da fotografia é José Clemente de Morais (1856-1919), um dos irmãos mais velhos meu do meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), portanto meu tio-bisavô. Ao lado de José Clemente está a sua mulher, Arminda Felicíssima de Carvalho, professora primária. O casal residia na Mofreita. O menino que posa no meio do casal é certamente o filho, Amândio Augusto de Morais, nascido em 1890 e que aqui teria 8 ou 10 anos, o que me permite datar a minha fotografia por volta de 1900. Este menino veio a ser oficial do exército, esteve em África e no tempo do meu pai fez sua compilação da história dos Morais, a família conserva-se ainda a viva sua memória. Ao que parece guiava muito mal e na sua casa, tinha uma garagem com duas portas, para evitar fazer marcha atrás.
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No espólio da minha família conserva-se este retrato que poderá ser de de Amândio Augusto |
Mas regressando ao tempo em que este retrato foi tirado, cerca de 1900, tenho ainda outra fotografia de um menino, também com este tipo clarinho, que me parece ser igualmente o Amândio, mas não sei. Também poderia ser o meu tio avô, o Francisco Manuel, que nasceu em 1891 e tinha uma idade muito próxima do seu primo direito, nado em 1890. Enfim, é uma hipótese, a confirmar.
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O meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) e sua família. Era irmão do José Clemente. O filho mais velho era mais ou menos da mesma idade do primo Amândio |
Mas a Arminda Felicíssima de Carvalho morreu em 1913 e o meu tio-bisavó, José Clemente de Morais envolveu-se com outra Senhora, Arminda Pires (20.8.1885 – 23.2.1970), da qual teve dois filhos, Soledade e José Alexandre. Tiveram casamento marcado para o dia 13 de Junho, mas por um desses infortúnios da vida, José Clemente morreu um dia antes, a 12 de Junho de 1919, deixando a Arminda Pires só com dois filhos. Poderá ter sido vítima da pneumónica, pois pandemia ceifou sobretudo os jovens e os mais velhos. Em 1919 José Clemente tinha 63 anos.
De um dos filhos de José Clemente de Morais, a Soledade, nasceu a Túlia, e desta, a minha prima Leonor, que só agora tive o enorme prazer de conhecer, ainda que virtualmente. Curiosamente, o primeiro filho de José Clemente de Morais, o Amândio teve também uma filha chamada Túlia. Será uma simples coincidência ou demonstrará que os dois lados da família se davam?
Toda esta história é muito curiosa e interessante e prova que para quem se interessa por história familiar, vale sempre a pena partilhar o resultado das suas investigações na net, porque um dia, vai aparecer alguém que tem o mesmo velho retrato em casa e que nos fornece a chave de um enigma.
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José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, meus tios-bisavós |