sábado, 8 de março de 2025

De regresso a Vinhais: o retrato de um casal desconhecido em 1900



Regresso novamente a Vinhais, a terra da minha mãe, essa vila perdida no Nordeste transmontano, mas a um tempo antigo, situado algures entre os fins do século XIX e o início do XX. Desse período, restou um registo escrito, que o meu pai levantou há 30 anos ou 40 anos atrás a partir das memórias dos mais velhos, bem como de documentos da família, entre as quais um caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) anotou quem foram os seus pais, os irmãos destes, os seus irmãos e o seus amores contrariados com Graça Pires de Morais. Este trabalho de compilação do meu pai ainda foi notável, atendendo a que tratava da família da mulher. Do seu lado, tinha os pergaminhos dos Montalvões, mas o meu pai antes de tudo gostava de história e tinha a mentalidade de arquivista, sabendo que nas famílias tem que haver alguém, que registe com rigor, sistematize as memórias e passe-as à geração seguinte.

O  caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), anotou de forma sintética a sua biografia


Desses documentos da família Morais Ferreira há também fotografias antigas. Umas fui identificando por conterem dedicatórias, mas outras permanecem ainda no anonimato. Presumo que sejam da família, pois apresentam o tipo claro dos Morais, olhos azuis, verdes, castanhos claros, tez branca e os cabelos também loiros, castanhos claros ou castanhos arruivados. Obviamente, em retratos a sépia ou a preto e branco é difícil determinar com precisão as cores.

Como vou publicando aqui no blog, as histórias e fotografias da família deste lado das terras frias de Vinhais, sou por vezes contactado por primos, ou por descendentes de amigos de então, que aparecem retratados nessas imagens e muitos deles acrescentam elementos às histórias ou identificam mais pessoas. É uma reacção muito gratificante, que me aproxima dessas terras frias, as quais sinto que pertenço.

Umas pessoas que me contactou foi Leonor Gomes, professora, com a suspeita de que existiria um parentesco entre as nossas famílias. Fomos trocando e-mails e informações, até que a Leonor me enviou o retrato de um casal, tirado cerca de 1900, em que o Senhor seria o seu bisavô. Reconheci de imediato a fotografia deste casal, pois há um semelhante no espólio da família, na secção dos desconhecidos, que presumo serem parentes. Apenas há uma diferença, no retrato da prima, consta apenas um casal, enquanto que no meu há um menino, muito provavelmente filho do casal. A partir daqui encontramos o fio, que nos permitiu reconstruir toda uma teia de relações familiares.

O retrato do espólio família da prima Leonor


O retrato do espólio da minha família


A diferença entre os dois retratos é que no segundo aparece o filho do casal José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, o menino Amândio Augusto 


Com efeito, o Senhor da fotografia é José Clemente de Morais (1856-1919), um dos irmãos mais velhos meu do meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), portanto meu tio-bisavô. Ao lado de José Clemente está a sua mulher, Arminda Felicíssima de Carvalho, professora primária. O casal residia na Mofreita. O menino que posa no meio do casal é certamente o filho, Amândio Augusto de Morais, nascido em 1890 e que aqui teria 8 ou 10 anos, o que me permite datar a minha fotografia por volta de 1900. Este menino veio a ser oficial do exército, esteve em África e no tempo do meu pai fez sua compilação da história dos Morais, a família conserva-se ainda a viva sua memória. Ao que parece guiava muito mal e na sua casa, tinha uma garagem com duas portas, para evitar fazer marcha atrás. 

No espólio da minha família conserva-se este retrato que poderá ser de de Amândio Augusto 

Mas regressando ao tempo em que este retrato foi tirado, cerca de 1900, tenho ainda outra fotografia de um menino, também com este tipo clarinho, que me parece ser igualmente o Amândio, mas não sei. Também poderia ser o meu tio avô, o Francisco Manuel, que nasceu em 1891 e tinha uma idade muito próxima do seu primo direito, nado em 1890. Enfim, é uma hipótese, a confirmar.


O meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) e sua família. Era irmão do José Clemente. O filho mais velho era mais ou menos da mesma idade do primo Amândio


Mas a Arminda Felicíssima de Carvalho morreu em 1913 e o meu tio-bisavó, José Clemente de Morais envolveu-se com outra Senhora, Arminda Pires (20.8.1885 – 23.2.1970), da qual teve dois filhos, Soledade e José Alexandre. Tiveram casamento marcado para o dia 13 de Junho, mas por um desses infortúnios da vida, José Clemente morreu um dia antes, a 12 de Junho de 1919, deixando a Arminda Pires só com dois filhos. Poderá ter sido vítima da pneumónica, pois pandemia ceifou sobretudo os jovens e os mais velhos. Em 1919 José Clemente tinha 63 anos.

De um dos filhos de José Clemente de Morais, a Soledade, nasceu a Túlia, e desta, a minha prima Leonor, que só agora tive o enorme prazer de conhecer, ainda que virtualmente. Curiosamente, o primeiro filho de José Clemente de Morais, o Amândio teve também uma filha chamada Túlia. Será uma simples coincidência ou demonstrará que os dois lados da família se davam?

Toda esta história é muito curiosa e interessante e prova que para quem se interessa por história familiar, vale sempre a pena partilhar o resultado das suas investigações na net, porque um dia, vai aparecer alguém que tem o mesmo velho retrato em casa e que nos fornece a chave de um enigma.

José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, meus tios-bisavós


7 comentários:

  1. Primo, muito obrigada
    Adorei!!!!!!
    Bjinho .




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    1. Olá Luís
      Obrigada por partilhares estas histórias.
      Gosto muito de saber !
      Sei pouco mas a história do teu parente que era mau condutor e tinha dois portões na garagem é conhecida na família.
      Beijinho

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    2. Prima
      Eu é agradeço a sua ajuda e de futuro iremos colaborar mais ainda. Bjos

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    3. A história da garagem com duas saídas tornou-se quase uma lenda familiar. Há uns anos fui à Mofreita visitar os restos do recolhimento onde esteve a Graça Pires de Morais. Creio que com a ajuda de um primo, o Francisco consegui perceber onde seria a casa do Amândio, mas não encontrei vestígios dessa garagem. Mas também está tudo tão abandonado

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  2. Uma história deliciosa Luís. Adorei!!!

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    1. Ana Muito
      Muito obrigado. Estas histórias que a net permite são muito curiosas. Graças ao blog tenho conhecido muita gente, em que os nossos antepassados se cruzarem há 100 ou 150 anos atrás e os resultados são sempre interessantes. bjos

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  3. São curiosas estas relações que se estabelecem, e que permitem reconstituir a história de uma família que entretanto se perdeu nas viagens, nos casamentos nas relações que se estabelecem ao longo do tempo, e que, invariavelmente, acabam por levar as pessoas a tomar diferentes destinos.
    Por vezes nem sequer têm a hipótese de optar por estes diferentes destinos,a vida se encarrega de o fazer por elas.
    Mas o facto de haver alguém que vai unindo as pontas dos "cordelinhos" é muito curioso e atraente para as estas pessoas que partilham raízes, quantas vezes sem o saber.
    Parece que estas meadas acabam por dar sentido àquilo que existe perdido nas gavetas, que são aqueles retratos que, à falta de identificação, perdem significado e acabam no chão das feiras de velharias.
    Parabéns por mais este novelo desenrolado
    Manel

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