quarta-feira, 19 de março de 2025

Uma paixão no Porto: o sempre jovem Francisco Manuel Morais

No centro encontra-se o Francisco Manuel de Morais


Recentemente, por causa da identificação de um retrato antigo da família materna, os Morais, das terras frias de Vinhais, reabri as caixas com documentos, que trouxe de casa do meu pai, após a sua morte. Alguma delas já as tinha visto com atenção, mas uma caixa de tosca madeira, provavelmente daquelas coisas onde antigamente se vendia o sabão, tinha-me escapado. Nelas estão muitas cartas de família, pagelas, facturas e outras caixinhas mais pequenas de papelão, onde alguém um dia, talvez há 50 ou 60 anos, guardou uns botões, uma fivela, um resto de linha, peças de qualquer coisa que se escangalhou, na esperança de virem a ser úteis novamente.




Dessa caixa de madeira, constam muitas cartas do meu tio-avô, Francisco Manuel Morais, que morreu num acidente de caça a 4 de Outubro de 1916, apenas com 25 anos. Era um jovem bonito e prometedor, que estudava medicina no Porto.




Aos 16 anos, quando eu estava a desabrochar e a deixar de ser um patinho feio, a minha tia Lalai, mostrou-me um retrato do Francisco Manuel, dizendo-me que eu estava a ficar parecido com ele e eu fiquei envaidecido, pois este tio-avô com o seu penteado de risco ao meio parecia um galã do cinema mudo, daqueles que a Ilustração Portuguesa publicava tantas fotografias, de modo que desenvolvi desde dessa altura uma empatia por ele. 

O Francisco Manuel de Morais


Entre as cartas, que escreveu à sua mãe e irmã, encontrei um envelope com uma madeixa de cabelo e um lenço de homem, que presumo, que lhe tenham pertencido e que alguém guardou depois da sua morte.




Mas, antes do fático dia de 4 de Outubro de 1916, dois anos antes, o Jovem Francisco Manuel encontrava-se a estudar no Porto e estava perdidamente apaixonado pela Estela, conforme conta numa carta à sua irmã, a minha avó Adelaide, numa carta datada de 8 de Marco 1914.

É uma carta muito longa (a minha mãe tinha também o hábito de escrever muito nas cartas), em que o Francisco Manuel conta que vai passar uma hora com a Estela todos os serões e que são namorados, mais do que isso, noivos. A felicidade é muita, mas o ambiente em casa da Estela é tenso. A jovem vive com a mãe, a D. Maria e há ainda a Palmira e Augusta, talvez suas irmãs. Presença também da casa é o Silvério, que namorará uma das jovens. Mas, mas há um padrasto que parece ser um homem intratável. O Francisco Manuel conta nesta carta uma cena, em que o homem berrava como um doido e tentou atirar com um grande copo à D. Maria, mas a Estela interpôs-se e o Padrasto acabou por atira-lo a ela, magoando-a no ombro. O homem faz ameaças brutais, há um revolver e as cenas repetem-se todos os dias com mais ou menos variantes.


Depois desta cena, a D. Maria pensa fugir com a filha para Vinhais, terra do Francisco Manuel e só não o faz, para não o atormentar este, na época de exames.

O Francisco Manuel vê a sua Estela definhar. Vejo-a sofrer, vejo-a doente, magríssima, abatida e a isto continuar durante anos, eu vou desposar um cadáver, vou abrir a vala onde pode sumir-se a minha felicidade.

A solução para o terrível problema e para a qual pede a colaboração da irmã, é depois de terminar os exames, levar a Estela para Vinhais, casarem discretamente e depois disso a jovem ficará a viver com os pais e ele regressará ao Porto, para terminar o curso de medicina. Nessa altura a Estela ficará a chorar com minha mãe a minha ausência, acariciando-a, dulcificando-lhe o mais possível os dias da velhice e a desanuviar o espírito do meu pai com a sua abnegação, o seu amor de filha. A Estela será também uma irmã extremosíssima para a Adelaide, aquela que veio a ser a minha avó. Enfim, todos viveriam como Deus e os Anjos.


Francisco Manuel, os seus pais e a irmã, minha avó Adelaide



Mesmo, não conhecendo os pormenores de como esta história se desenvolveu é óbvio que os pais do Francisco Manuel foram contra a ideia. Ter um filho a estudar no Porto era muito caro e com efeito li umas quantas cartas dele na diagonal, em que está sempre a pedir dinheiro à mãe. Certamente que lhe terão dito que a prioridade dele seria terminar o curso e terão também seguramente feito as contas, do que lhes custaria sustentar na sua casa uma nora e a talvez até a mãe na nora, enquanto o filho estudava, sem trabalhar e ganhar dinheiro. Terão também pensado, que enquanto o filho estivesse no Porto, poderia conhecer outra moça e depois que faria eles com aquela nora. Além do mais, o meu bisavô Clemente da Ressurreição teve a ambição de estudar medicina na juventude, mas a mãe, que queria que ele fosse para padre, não autorizou, de modo que filho estaria a realizar aquilo que ele sempre desejou, ser médico.

O que é certo, é que o Francisco Manuel Morais nunca casou com a sua amada Estela e morreu num acidente de caça em 1916, sem se ter conseguido formar. Segundo a tradição familiar esta caçada tinha sido organizada pelos amigos para se despedirem dele, uma vez que tinha sido recrutado para ir combater na Grande Guerra. Se não tivesse sido morto neste estúpido acidente teria talvez perecido dois anos depois em La Lys. Parece que havia uma fatalidade a pesar nos destinos deste rapaz tão bonito.



Por conhecer o desfecho trágico da vida deste tio, confesso que a leitura desta carta me impressionou. Pareceu-me que estava a ler as linhas de um daqueles livros ultrarromânticos do século XIX, em que já sabemos que tudo aquilo vai acabar mal. Fiquei com a ideia que o Francisco Manuel seria um rapaz ingénuo, criado numa vila interior, com a imaginação alimentada pela leitura de demasiados romances, sem um sentido realista da existência. Talvez por essa razão, a sua mãe, a Graça Pires de Morais, depois da morte deste jovem tão bonito e promissor tenha mandado queimar todos os livros do filho, todos aqueles romances, que moldaram este pendor para paixões irrealistas, mas isto são suposições minhas.

Em todo o caso, na tradição familiar era conhecida a existência de uma jovem no Porto, pela qual o Francisco Manuel se teria perdido de amores e esta carta comprova a sua existência. Diz-se também que houve um filho desta ligação, mas para comprovar isso, terei que ler todas as cartas dele e o tempo foge-me a cada instante.




Transcrevo na íntegra a carta, a pensar naqueles que gostam de ler cartas


Porto, 8-3-1914

Querida mana


Hoje vai para ti, mesmo porque quero abordar um assunto muito importante que comuniquei só à mãe e, se quiseres, à tua amiga D. Inês. É bom que esta tenha conhecimento do conteúdo da minha carta porque está em condições de poder apreciar os factos.


Vamos ao caso. Como sabem (as três) eu vou todas as noites passar uma hora com a Estela e, claro, nessa hora, dois namorados, mais do que isso, dois noivos, temos sempre que dizer um ao outro. Terceira pessoa que venha meter-se-lhe de permeio com conversas aborrecidas sem interesse, é um obstáculo que com muito custo se tolera. Esse obstáculo, de mais a mais propositado, é o padrasto da Estela. Porque às vezes não estou para o aturar e me conservo mudo, vendo passar os minutos sem poder trocar com ela duas palavras, ele tem em a aborrecer, em lhe querer mal. A causa verdadeira, porém, de tal atitude é muito outra: é que ele vê que, quer eu quer o Silvério podemos dar um pouco de de felicidade ao futuro das filhas da D. Maria, que não são dele e, alem disso, ver os primores que saem das mãos delas e nada que as dele protejam e aprendem. E não julguem que esta animadversão se limita a palavras ou maus modos.


Não; há dias chegou a vias de facto. Mas eu conto: depois de eu sair de lá, ficaram na sala a Palmira, Estela, D. Maria, Augusta, Silvério e ele. Principiou a gracejar com o Silvério dizendo-lhe que tinha que ajuntar dinheiro para as prendas que havia de oferece-nos. De repente, porém, por qualquer palavra que a Augusta disse, contradizendo-o, ele armou em terrível e perguntou se queriam bater-lhe dizendo que já uma vez o José lhe insinuara não lhe dever obediência. A D. Maria, em face do desproposito e da mentira, porque ele berrava como um doido, desmentiu-o e o homem pegou num grande copo (a primeira coisa que encontrou à mão) e preparou-se para atirar. A Estela, vendo aquilo, correu a cobrir com o copo alcança-la da mão, e o estupido e desalmado, reavivando o ódio que lhe tem, atirou e deu-lhe num ombro. Se o Silvério não o domina atirava mais ferindo-a talvez gravemente visto que o alvo dele era a cabeça.

Imaginem o resto atendendo a ameaças brutais e ao facto de ir procurar um revolver e digam-me com franqueza se isto não é um inferno, que se repete todos os dias com mais ou menos variantes. A D. Maria queria, logo no dia seguinte, fugir com ela para aí, se não o fez, foi por minha causa, para não me atormentar nesta ocasião de exames. A Sra. D. Inês, que conhece bem esta família, pode dizer-te e à mãe se isto não é ódio velho, agora reacendido pela inveja.


Pergunto: como fazer terminar este estado de coisas? Como arrancar a Estela, única mulher de quem eu espero felicidade, única a quem confio a realização das minhas esperanças de ventura porque me compreende e porque lhe conheço o génio, a este martírio que me dá cabo dela?

Só vejo uma solução: leva-la daqui, faze-la minha mulher, dar à minha mãe uma filha que a adora e a ti uma irmã extremosíssima. Ainda hoje, falando com ela cerca do futuro, eu lhe perguntei: se consentirem que nos casemos, sujeitas-te a ficar com minha mãe, velha, doente, a aturar o génio sombrio de meu pai e a ver-me partir para os meus estudos? Chorou a pobrezinha, e respondeu-me com ardor que seria para ela um prazer o ir chorar com minha mãe a minha ausência, acariciando-a, dulcificando-lhe o mais possível os dias da velhice, o ir desanuviar o espírito do meu pai com a sua abnegação, o seu amor de filha; e que vida de aí, da nossa casa, que eu lhe mostrei nitidamente a adoptaria de bom grado pronto em mim a única esperança de melhores dias.

Contigo conta ela como amiga e como irmã como eu conto também. Se o não fizesse, eu, não serias tu a primeira a ter estas palavras

Admitamos agora que estão de acordo comigo. Nesse caso eu mostro o meu projecto que é o seguinte: logo após os meus exames de Julho iríamos para aí e, sem barulho, sem festas, muito humildemente nosso padrinho uníamo-nos para sempre. Passávamos as férias juntos e, em Outubro, ela ficava na sua nova vida e eu viria continuar os meus trabalhos.

Que felicidade se eu pudesse contar contigo! Com que redobrado ardor eu pegaria nos livros para conquistar o consentimento e as boas graças do pai que bem sei ser o principal obstáculo! Por estes dias espero dar-lhe um pouco de alegria com o bom resultado do meu exame que deve ser entre os dias 16 e 20. E digam-me, se no fim do ano eu lhe aparecer com tudo feito não quebrarei o gelo que o envolve, não conseguirei que ele aceite como filha esta que é o meu estímulo? Digam-me alguma coisa, deem-me a sua opinião; mas de manifestarem em desacordo, mostrem-me, pela amizade que lhes tenho, razões fortes a para procederem assim. Não me venham dizer que é melhor esperar o fim da minha formatura porque isso já eu sei Eu bem compreendo que era melhor. Mas Santo Deus, vejo-a sofrer, vejo-a doente, magríssima, abatida e a isto continuar durante anos, eu vou despois um cadáver, vou abrir a vala onde pode sumir-se a minha felicidade. Por tudo isto e confiando muito que me querem, espero que a resposta a esta carta me traga esperanças e não a mais amarga das desilusões. Recomenda-me a todos. Beijos ao Zeferino e à Miquinhas e tu aceita um saudoso abraço do teu irmão muito amigo.

F. Morais


PS. Diz à mãe que recebi o vale e que naturalmente não torno a escrever sem fazer exame porque tenho muitíssimo que estudar.

sábado, 8 de março de 2025

De regresso a Vinhais: o retrato de um casal desconhecido em 1900



Regresso novamente a Vinhais, a terra da minha mãe, essa vila perdida no Nordeste transmontano, mas a um tempo antigo, situado algures entre os fins do século XIX e o início do XX. Desse período, restou um registo escrito, que o meu pai levantou há 30 anos ou 40 anos atrás a partir das memórias dos mais velhos, bem como de documentos da família, entre as quais um caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) anotou quem foram os seus pais, os irmãos destes, os seus irmãos e o seus amores contrariados com Graça Pires de Morais. Este trabalho de compilação do meu pai ainda foi notável, atendendo a que tratava da família da mulher. Do seu lado, tinha os pergaminhos dos Montalvões, mas o meu pai antes de tudo gostava de história e tinha a mentalidade de arquivista, sabendo que nas famílias tem que haver alguém, que registe com rigor, sistematize as memórias e passe-as à geração seguinte.

O  caderninho onde o meu bisavô Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), anotou de forma sintética a sua biografia


Desses documentos da família Morais Ferreira há também fotografias antigas. Umas fui identificando por conterem dedicatórias, mas outras permanecem ainda no anonimato. Presumo que sejam da família, pois apresentam o tipo claro dos Morais, olhos azuis, verdes, castanhos claros, tez branca e os cabelos também loiros, castanhos claros ou castanhos arruivados. Obviamente, em retratos a sépia ou a preto e branco é difícil determinar com precisão as cores.

Como vou publicando aqui no blog, as histórias e fotografias da família deste lado das terras frias de Vinhais, sou por vezes contactado por primos, ou por descendentes de amigos de então, que aparecem retratados nessas imagens e muitos deles acrescentam elementos às histórias ou identificam mais pessoas. É uma reacção muito gratificante, que me aproxima dessas terras frias, as quais sinto que pertenço.

Umas pessoas que me contactou foi Leonor Gomes, professora, com a suspeita de que existiria um parentesco entre as nossas famílias. Fomos trocando e-mails e informações, até que a Leonor me enviou o retrato de um casal, tirado cerca de 1900, em que o Senhor seria o seu bisavô. Reconheci de imediato a fotografia deste casal, pois há um semelhante no espólio da família, na secção dos desconhecidos, que presumo serem parentes. Apenas há uma diferença, no retrato da prima, consta apenas um casal, enquanto que no meu há um menino, muito provavelmente filho do casal. A partir daqui encontramos o fio, que nos permitiu reconstruir toda uma teia de relações familiares.

O retrato do espólio família da prima Leonor


O retrato do espólio da minha família


A diferença entre os dois retratos é que no segundo aparece o filho do casal José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, o menino Amândio Augusto 


Com efeito, o Senhor da fotografia é José Clemente de Morais (1856-1919), um dos irmãos mais velhos meu do meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944), portanto meu tio-bisavô. Ao lado de José Clemente está a sua mulher, Arminda Felicíssima de Carvalho, professora primária. O casal residia na Mofreita. O menino que posa no meio do casal é certamente o filho, Amândio Augusto de Morais, nascido em 28 de Abril de 1896 e que aqui teria 8 ou 10 anos, o que me permite datar a minha fotografia por volta de 1900. Este menino veio a ser oficial do exército, esteve em África e no tempo do meu pai fez sua compilação da história dos Morais, a família conserva-se ainda a viva sua memória. Ao que parece guiava muito mal e na sua casa, tinha uma garagem com duas portas, para evitar fazer marcha atrás. 

No espólio da minha família conserva-se este retrato que poderá ser de de Amândio Augusto 

Mas regressando ao tempo em que este retrato foi tirado, cerca de 1900, tenho ainda outra fotografia de um menino, também com este tipo clarinho, que me parece ser igualmente o Amândio, mas não sei. Também poderia ser o meu tio avô, o Francisco Manuel, que nasceu em 1891 e tinha uma idade muito próxima do seu primo direito, nado em 1896. Enfim, é uma hipótese, a confirmar.


O meu bisavô, Clemente da Ressurreição Morais (1858-1944) e sua família. Era irmão do José Clemente. O filho mais velho era mais ou menos da mesma idade do primo Amândio


Mas a Arminda Felicíssima de Carvalho morreu em 1913 e o meu tio-bisavó, José Clemente de Morais envolveu-se com outra Senhora, Arminda Pires (20.8.1885 – 23.2.1970), da qual teve dois filhos, Soledade e José Alexandre. Tiveram casamento marcado para o dia 13 de Junho, mas por um desses infortúnios da vida, José Clemente morreu um dia antes, a 12 de Junho de 1919, deixando a Arminda Pires só com dois filhos. Poderá ter sido vítima da pneumónica, pois pandemia ceifou sobretudo os jovens e os mais velhos. Em 1919 José Clemente tinha 63 anos.

De um dos filhos de José Clemente de Morais, a Soledade, nasceu a Túlia, e desta, a minha prima Leonor, que só agora tive o enorme prazer de conhecer, ainda que virtualmente. Curiosamente, o primeiro filho de José Clemente de Morais, o Amândio teve também uma filha chamada Túlia. Será uma simples coincidência ou demonstrará que os dois lados da família se davam?

Toda esta história é muito curiosa e interessante e prova que para quem se interessa por história familiar, vale sempre a pena partilhar o resultado das suas investigações na net, porque um dia, vai aparecer alguém que tem o mesmo velho retrato em casa e que nos fornece a chave de um enigma.

José Clemente de Morais e Arminda Felicíssima de Carvalho, meus tios-bisavós. Casaram na Mofreita a 9 de Abril de 1881


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

As velharias do Luís em nova casa ou a colecção de biscuits




Na minha antiga casa, em menos de 30 metros quadrados úteis, estive 21 anos a montar uma decoração, onde todos os espaços estavam pejados de velharias. Tectos, soleiras de portas, cozinha, casa de banho, quarto, sala e ainda um esconso foram ocupados com cristos, faianças, estampas, esculturas, apliques, porcelanas, registos de santos e até uma casa de bonecas. O resultado até era interessante, uma mistura de caverna de ali-babá com uma capela barroca e com passamanes em estilo Segundo Império por ali e acolá.

A escadaria da minha antiga casa


Mas era um terceiro andar sem elevador, na meia encosta de uma colina lisboeta. Um prédio com uma escada daquelas antigas, onde o primeiro lance era quase a pique.

Quando o meu pai adoeceu gravemente ficou preso num segundo andar sem elevador, em que para ir uma consulta ou ao Hospital era necessário chamar os bombeiros, esses bravos rapazes, que o carregavam pelas escadas acima ou abaixo come se fosse uma pluma. Nós não podíamos pôr o meu pai numa cadeira de rodas e leva-lo a passear, apanhar Sol ou distrair-se e os seus últimos tempos de existência foram particularmente penosos. Há aliás muitos idosos em Lisboa presos nas suas casas de prédios sem elevador, conforme já me disseram inúmeras vezes profissionais de saúde. Por essas razões, decidi vender esta casa, perdendo uma vista para o Castelo e a Graça e comprei outra mais moderna, no bairro dos Olivais, com 70 m2, um rés-do-chão e onde estaciono o carro à porta. Pelo menos. Se tiver uma doença em que perca a mobilidade, os meus filhos poderão levar-me a passear numa cadeira de rodas.




Mas um apartamento dos anos 70 não tem os recantos e as irregularidades de uma casa antiga e é mais difícil escapar daquela monotonia das divisões rigorosamente rectangulares. Contudo, estes 70 m2 permitem-me agrupar as peças por famílias, faze-las respirar dando-lhes maior visibilidade.

Umas das colecções que andava perdida no meio das loiças ou em móveis aqui e acolá era das figurinhas biscuit. Muitas deles estavam pura e simplesmente escondidas num canto do armário louceiro ou quase tapados por porta-retratos.

O louceiro ou vitrina em cima do meu fiel Rocinante

Aproveitei agora o espaço disponível e comprei no Olx uma vitrina ou um louceiro por um bom preço. Estava em mau estado, comido em algumas zonas pelo caruncho . A pedra de mármore no topo também não era original, terá pertencido a uma cómoda. Mas, o meu amigo Manel restaurou-a toda, limpou as madeiras, arranjou as fechaduras, encerou-a, eletrificou-a e ficou linda. 




Este fim-de-semana fui busca-la a casa do Alentejo do Manel e lá veio ela no tejadilho do automóvel até Lisboa e mal cheguei, comecei a dispor os biscuits e fiquei encantado com efeito. Esta vitrina ou louceiro é uma peça dos finais do XIX, que em tempos terá feito parte de uma mobília de sala de jantar e é no fundo da época das minhas figurinhas de biscuit, de modo que o conjunto fica muito harmonioso. Claro, tive que pôr-lhe em cima o mono da televisão, mas enfim, mas não podemos passar sem aquela maquineta feia que nos liga ao mundo.

O efeito geral é tão bonito, que comecei a experimentar a reconfortante sensação de que o meu apartamento dos anos 70, com aquelas linhas monótonas era afinal uma velha casa de família, daquelas várias, que conheci ao longo da vida e que foram desfeitas entretanto.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Um prato inglês do primeiro quartel do século XIX: The Villagers da Davenport



Ainda não consegui retomar hábito o de escrever regularmente aqui no blog. Mudei de casa e os trabalhos foram enormes. Além da embalagem, transporte, obras e assuntos burocráticos, a decoração tem sido complicada. Vivia numa casa muito pequena, cheia que nem um ovo e tudo o que tinha era de pequenas dimensões, de modo que não consigo replicar os arranjos, que ali tinham. Se o tento fazer, fica um segmento de parede cheio e o outro ao lado vazio. Aos poucos tento uma disposição mais folgada dos meus tarecos e agrupada por famílias, a colecção dos reis de Portugal, uma parede com cristos, gravuras, faiança portuguesa ainda e desenhos e gravuras de arquitectura ou as minhas réplicas arqueológicas. 

A minha colecção de réplicas arqueológicas


O único espaço onde consegui replicar a decoração da minha anterior casa, foi na casa de banho, que enchi com louça inglesa azul e branca do século XIX. Como esta faiança apresenta sempre paisagens marítimas ou com lagos e rios vai muito bem com a função da divisão.

A decoração da casa de banho com faiança inglesa


Como tenho mais espaço, aproveitei e comprei mais um prato inglês, típico da produção daquele País no primeiro quartel do século XIX, com uma decoração carregada e pintado numa paleta de azuis-escuros. 

A marca da Davenport



Apresenta a marca da Davenport, umas das fábricas com maior produção no Reino Unido e a julgar pela quantidade de peças, que aparecem ainda nas feiras de velharias, deve ter sido a marca inglesa que mais vendeu em Portugal. O padrão é o The Villagers, em português, os aldeões e o tema é bucólico. 



Numa paisagem campestre estão três figuras e um cão, tendo por pano de fundo, um rio e uma aldeia com a torre da igreja a sobressair. Segundo os sites de venda on-line este padrão terá sido executado cerca de 1825, enfim, no primeiro quartel do século XIX. Curiosamente, quando comprei este prato raso, achava que já tinha lido sobre este padrão e pensei até que fosse no blog da Maria Andrade, o Arte, Livros e Velharias. Contudo, descobri que afinal é o meu amigo Manel quem tem uma grande e bonita travessa deste padrão e que eu tinha fotografado há uns tempos, com a ideia de fazer um post sobre aquela peça, mas com as malvadas das mudanças o assunto varreu-se da cabeça. A travessa é deslumbrante e nela pode-se admirar muito melhor o desenho, do que no meu prato, de dimensões pequenas.

A travessa do meu amigo Manel


O prato ficou muito bem na casa de banho, junto da restante faiança inglesa e consegui tornar aquela divisão sem graça, com azulejos setentões, num sítio um pouco mais divertido e pessoal.




quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Uma menina holandesa: figurinha em biscuit da Gebrüder Heubach


Há muito que não escrevia nada no blog. Mudei de casa no passado dia 29 de Agosto e como sou colecionador de velharias, foi uma mudança épica. Passei todo o mês de Agosto a embalar tarecos, de seguida, ao longo de Setembro e Outubro a desencaixotar, escolher novos locais e a pendurar e assim continuarei por mais uns tempos. Pelo caminho mandei fazer obras e ainda houve que lidar com toda a papelada, que uma mudança implica, de que não me apetece sequer referir, pois este é um blog de memórias e velharias e não um movimento cívico de cidadania. Mas, estou numa casa bastante maior, num bom sítio, com metro a 5 minutos a pé e estaciono o carro à frente de casa. Numa palavra, sobrevivi e estou bem.



Para me recompensar de todo este esforço, ao longo do qual perdi quatro ou cinco quilos, comprei on line uma figurinha de biscuit, uma menina holandesa. Apesar de na página de internet onde a encontrei não haver referência a marcas nem fotografias destas, percebi logo pela rosto da menina que só podia ser da Heubach, essa fábrica alemã da Turíngia, que celebrizou pela graça e qualidade das suas figurinhas de biscuit, mas também pelas bonecas para as meninas brincarem e que tanto umas como outras são hoje em dia disputadas pelos colecionadores. Com efeito, tenho um piano baby desta marca, que tem exactamente a mesma carinha laroca desta menina.

O meu piano baby da Gebrüder Heubach


No momento da transação, quando desembrulhei a peça e observei-lhe as costas, percebi que não me tinha enganado e lá estava a marca incisa com os raios de Sol usada pela Gebrüder Heubach.

A marca foi usada pela Heubach entre 1882 e 1915,



O passo seguinte foi procurar mais informações sobre esta menina em biscuit na internet, já que não disponho de bibliografia sobre o assunto. A marca foi usada pela Heubach entre 1882 e 1915, mas na maioria das páginas, que consultei atribuem estas figurinhas a um período que vai entre 1900 a 1910. Esta menina holandesa foi fabricada em diversas variantes, uma, como esta que comprei, sentada com um par de baldes, uma outra versão com dois cestos e outra ainda sem nada nos lados, mas também sentada. Igualmente tinha o seu par, um menino holandês, também ele com diversos tipos de recipientes em cada lado. Foram também produzidas em vários tamanhos e ainda em porcelana, o que desconhecia, porque acreditava que a firma anteriormente referida se tinha especializado nas figuras de biscuit.






Como referi anteriormente, a Gebrüder Heubach estava localizada no Sul da Alemanha, na Turíngia, mais exactamente em Lichte, um centro de produção de porcelana muito activo, onde funcionava uma escola de artes, na qual as fábricas de cerâmica recrutavam muito artistas, o que explica a qualidade destas figurinhas. Tenho até o palpite que quem concebeu o meu piano baby e esta holandesa foi o mesmo artista. Mas pesquisar em sites alemães é complicado e não tenho acesso à bibliografia sobre o assunto para emitir grandes opiniões. Uma senhora alemã, Dagmar Lekebusch publicou até uma monografia sobre o assunto Gebrüder Heubach: ein thüringischer Porzellanbetrieb und seine Figuren im Wandel der Zeiten (1843-1938), onde fez um levantamento dos artistas que colaboraram nesta fábrica e dedicou um capítulo só para as figurinhas holandesas, mas infelizmente só índice da obra se encontra on-line.


Esta figurinha de menina holandesa foi fabricada pela Gebrüder Heubach mais ou menos entre 1900-1910 e deve ter estado muito protegida, ao longo dos seus 120 anos de existência, pois não tem uma única falha, um dedo quebrado, vestígios de colagens ou uma racha, como é habitual nestas peças. Estaria numa vitrina, bem fechada, fora do alcance das crianças, para as quais estas figurinhas, pareceriam brinquedos preciosos muito apetecidos para tocar, mexer e inventar histórias com elas. Felizmente, há muito que deixei de ser criança e posso pega-las e admira-las.




Algumas ligações consultadas:


terça-feira, 13 de agosto de 2024

Um prato de Miragaia marcado




Nos últimos anos tenho publicado pouco sobre faiança portuguesa. Não porque tenha perdido o interesse, mas coleccionar terrinas, molheiras, pratos, jarras e travessas é uma prática que implica ter espaço e na assoalhada e meia em que tenho vivido até agora, já não há paredes livres, nem tampouco tampos de móveis para expor mais peças. Alguns dos pratos foram até parar ao tecto, de acordo com uma inspiração colhida no Palácio de Santos em Lisboa.

Mas a carne é fraca e como estou em vias de mudar de casa, comprei noutro dia por um preço absolutamente irrecusável um prato de sopa, do motivo País, com a marca incisa, SP, dentro de uma reserva oval. Quando o adquiri, já não me recordava exactamente a que correspondia a marca SP, mas sabia que este motivo País tinha sido produzido por quatro fábricas, Miragaia, Santo António de Vale da Piedade, Alto da Fontinha e ainda Viana. Como as peças de Viana são uma variante mais característica este prato só ó poderia ser das três primeiras fábricas e portanto o preço que paguei foi baixo. Os exemplares marcados têm sempre maior valor económico, mas também um interesse acrescido para o conhecimento e evolução e produção desta ou daquela fábrica.

A marca incisa, SP, dentro de uma reserva oval


Cheguei a casa e foi consultar o catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia. - Porto : Museu Nacional do Azulejo, 2008, que é fundamental para quem se interessa por faiança e logo na página 250, estava reproduzida esta marca, como sendo de Miragaia, do segundo período de laboração da fábrica, entre 1822-1850. Fiquei todo contente, pois tinha acertado na mouche e comprado um prato Miragaia autêntico.




Em termos de funcionalidade, parece-me um prato de sopa. Mas curiosamente, no catálogo da exposição de Miragaia, os autores não usaram as expressões prato de sopa ou raso, mas sim prato com covo acentuado ou pouco acentuado. Já tinha lido que a terminologia para designar a louça de servir neste 2º quartel do século XIX era diferente daquela que usamos hoje dia, o que provavelmente explica essas designações dos autores do referido catálogo. Consultei então o Itinerário da faiança do Porto e Gaia, do qual consta um glossário dos termos usados na época. Assim, o prato raso individual, no qual se serviam alimentos sólidos era designado por prato ladeiro ou de guardanapo. Ao prato apropriado para comer sopa, de caldeira mais funda da que o prato ladeiro chamava-se prato sopeiro.

Em suma, este é um prato sopeiro com a decoração País, fabricado por Miragaia, na cidade do Porto, entre 1822-1850.



É certo que o prato foi muito mal tratado ao longo dos seus quase duzentos anos de existência e por isso foi mais barato, mas também não vou usa-lo. Irá para uma parede na minha nova casa a aí terminará os seus dias numa reforma tranquila.



Alguma bibliografia consultada:

Fábrica de Louça de Miragaia. - Porto : Museu Nacional do Azulejo, 2008.

Itinerário da faiança do Porto e Gaia. - Lisboa : Instituto Português de Museus, 2001.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Um faqueiro de prata formado por três gerações




Desde há uns tempos para cá tenho publicado as minhas pequenas aventuras para completar o faqueiro de prata da minha avó Mimi, estilo D. João V, que foi dividido pela família. Assim, tenho vindo a juntar peças de várias épocas e estilos, portuguesas na sua maioria, uma outra francesa e até uma alemã e um belo dia darei um jantar para a família, com um faqueiro em prata.

Estes meus textos impressionaram a irmã do Manel, a Manuela, que resolveu oferecer-me um grande conjunto de talheres soltos, uns de prata, outros de alpaca e outros ainda de metal com baixa percentagem de prata, a chamada prata francesa. Alguns em mau estado, outros a precisar apenas de uma limpeza profunda Em todo o caso, isto não foi uma prenda, foi um prendão, se é que o termo existe em português.

O primeiro trabalho foi separar por material, prata, alpaca e metal prateado e depois por serviço e destaquei um conjunto ainda grande de 17 talheres, muito simples e bonitos, que em tempos terão formado um faqueiro, que iria à mesa nos jantares e almoços dos dias de festa. Desse faqueiro, sobraram as colheres de sopa, em número de 7 e as de doce, em número de 10.

As colheres de doce


Aparentemente é um conjunto coeso, um faqueiro, qualquer coisa que se ofereceu a uma menina família no dia do seu casamento, mas à medida que o ia limpando, fui encontrando marcas de diferentes ourives, cidades e épocas.

As marcas de prata são um assunto complicado de deslindar. Existem as marcas, que atestavam se a prata tinha a percentagem definida por lei, feitas pelos ensaiadores até 1887 e depois dessa data, pelas contrastarias e ainda as marcas dos ourives. Finalmente, para dificultar tudo isto, as marcas são minúsculas e encontram-se desgastadas pelas limpezas sucessivas,

JCA é uma marca de ourives atribuível a Júlio Cesar Amado,

A chamada bicha


Do conjunto das colheres de doce, nove apresentam marca de um ensaiador de Lisboa, a letra L maiúscula coroada e as iniciais do ourives, JCA. Além disso, apresentam o ziguezague característico, vestígio do método, que ensaiador tinha para examinar a qualidade e autenticidade da prata, em que retirava com um buril um fiozinho do metal. Tradicionalmente este ziguezague é conhecido pela marca da bicha e o seu uso desapareceu década de 80 do século XIX, com a criação das contrastarias.


Inventário de marcas de pratas portuguesas e brasileiras : século XV a 1887



Segundo o Inventário de marcas de pratas portuguesas e brasileiras de Fernando Moitinho de Almeida, Rita Carlos JCA é uma marca de ourives atribuível a Júlio Cesar Amado, sócio da Associação dos Ourives e Artes Anexas, citado em 1887 e que aparece associado as marcas de ensaiador L-46.0 e L-52.0. A marca do ensaiador destes talheres corresponde à L-46.0, datável entre 1870-1879. Portanto, 9 das colheres de doce terão sido fabricadas entre 1870 e 1879.

Inventário de marcas de pratas portuguesas e brasileiras : século XV a 1887


Mas estas 9 colheres apresentam ainda uma terceira marca, a chamada cabeça de velho. Após as reformas da década de 80 do século XIX, que passaram as competências dos ensaiadores municipais para o governo central, a partir de 1887, foi usada esta marca para certificar as pratas antigas ou pura e simplesmente sem marca

A cabeça do velho


Marcas de contrastes e ourives portugueses / Manuel Gonçalves Vidal



Esta Cabeça de velho apresentada uma forma usada em Lisboa, e creio que foi usada até aos anos 30 do século XX. Talvez por ocasião de umas partilhas, em que se tenha mandado fazer uma avaliação, alguém tenha pedido este contraste.






Marcas de contrastes e ourives portugueses / Manuel Gonçalves Vidal



A última colher de doce apresenta a marca de garantia de prata Javali, usada na contrastaria de Lisboa, entre 1887 e 1938 e a marca é do ourives de Lisboa, António José da Costa, registada em 1887 e cancelada em 1925. Portanto a colher terá sido fabricada entre 1887 e 1925 e é posterior ao restante conjunto.

As colheres de sopa mais antigas


Das 7 colheres de sopa, quatro apresentam a marca de um ensaiador de Lisboa, com a letra L maiúscula, encimada por uma coroa. Parece-me a marca igual ao dos talheres de doce, L-46.0, do Inventário de marcas de pratas portuguesas e brasileiras, datável ente mais ou menos 1870-1879.

Marca do ensaiador de Lisboa. Não consegui ler a marca do ourives


Contudo a marca de ourives é diferente e não a consegui ler. As sucessivas limpezas da prata e as lavagens desgastaram a marca.

Na colher da direita, a mais antiga, cabo foi soldado à concha. As colheres da esquerda, mais recentes, foram feitas numa só peça  


Enquanto estas 4 colheres, apresentam um sistema de fabrico, em que o cabo é soldado à concha, as restantes três colheres foram feitas numa só peça e são mais recentes também. O contraste é o javali, marca de garantia da contrastaria do Porto, usada entre 1887 e 1938 e o ourives foi Joaquim Pinto de Magalhães, que registou a marca em 1922. As duas colheres de sopa terão sido fabricadas em 1922 e 1938.


Marcas de contrastes e ourives portugueses / Manuel Gonçalves Vidal


Em suma, este conjunto de talheres do mesmo serviço terá sido adquirido progressivamente entre 1870 e 1938 pela família da sogra da irmã do Manel. Sendo que Senhora nasceu em 1909, esta terá comprado as peças mais recentes, completando um serviço já grande, iniciado pela sua mãe, ou mais certamente por uma avó. No fundo deve corresponder a três gerações. Naturalmente seria muito maior do que é actualmente. Dele fariam parte as facas, os garfos, os talheres de servir e colheres de chá, mas foi desaparecendo com as vicissitudes do tempo, que sempre afectam todas as famílias, por vezes de forma infeliz.

É um serviço muito simples e esta característica torna-o intemporal, ficando bem numa mesa em qualquer estilo, moderno ou clássico.




Bibliografia:

História das marcas e contrastes : metais nobres em Portugal,1401-2003 / Maria Nogueira Pinto ; rev. Benedita Rolo. - Lisboa : Mediatexto,2003.

Inventário de marcas de pratas portuguesas e brasileiras : século XV a 1887 / Fernando Moitinho de Almeida, Rita Carlos. - Lisboa : Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2018

Marcas de contrastes e ourives portugueses / Manuel Gonçalves Vidal ; anotações de Fernando Moitinho de Almeida. - Lisboa : Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1974


Um agradecimento especial ao André Afonso pela identificação de algumas marcas e à Teresa Lança por conseguir fotografar e ampliar as minúsculas sinalefas dos ourives.