segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ainda outro fabricante de Cantão popular

Terrina  vendida no catálogo do leilão da colecção de faianças António Capucho, Parte III, Abril de 2005

Os leitores deste blog já andarão fartos do assunto cantão popular. Talvez porque há tantas peças deste motivo por toda a minha casa, pense frequentemente nele. Olho para o lado direito, para o esquerdo, para cima e para baixo e lá vejo os palácios orientais e as árvores estilizadas, reminiscências do padrão do salgueiro. E claro, a história deste motivo continua a intrigar-me. Se já sabemos alguns dos nomes dos fabricantes deste motivo no século XX, isto é, a Lusitânia em Lisboa ou Coimbra, o Cavaco em Gaia e as Louças da Pinheira, Faianças Vitória e S. Roque na zona de Aveiro, para o século XIX estamos na mais pura ignorância. E no entanto há todo um conjunto de peças que são nitidamente da centúria dos oitocentos, talvez uma ou outra até da primeira metade deste século. 

 
Por essas razões, fiquei muito contente quando ao desfolhar pela vigésima vez o catálogo do leilão da colecção de faianças António Capucho, Parte III, Abril de 2005, realizado pelo Palácio do Correio Velho, encontrei uma terrina de cantão popular, marcada Santo António do Vale da Piedade. Embora a marca não esteja reproduzida no catálogo, o que é pena, o referido leilão identifica-a como sendo de cerca de 1840 e consta do Dicionário de marcas de faiança e porcelana portuguesas- Lisboa: Estar Editora,1996, p 58, 215.




Pela primeira vez temos uma peça de cantão popular do Século XIX marcada, o que é uma pequena descoberta notável para nós, os que gostamos desta versão popular do Willow Pattern. Claro, este novo dado não nos permite atribuir todas as peças do motivo cantão popular do século XIX a Santo António de Vale da Piedade. Certamente que houve mais fábricas no Porto e em Gaia ou em Coimbra a produzir louça como esta no Século XIX. Mas em todo o caso, Santo António de Vale da Piedade poderá ser uma hipótese razoavelmente plausível para catalogar uma terrina, como esta que aqui apresento e que anda lá por minha casa, sem ter ainda um poiso certo. Terei talvez 20 % cento de probabilidades de acertar.
 
A minha terrina

outro lado da terrina
 

25 comentários:

  1. Viva Luis,

    Relativamente à coleção de António Capucho a FNAC tem uma promoção ESPETACULAR de um catálogo da sua coleção, com muito azulejo e fainaça. Tem também, e sei que gosta do tema, uma publicação sobre a fainça dos "meninos gordos". Outras sobre ourivesaria, arte sacra e arquitetura. Passe pela FNAC do Chiado e concerteza vai-se perder, como me perdi no fim de semana, mas trouxe para casa vários quilos de "papel" de altíssima qualidade, e melhor, a preços "low coast"!!!

    Abraço
    C.

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  2. Que maravilha, Manel!
    você não teria aí na biblioteca de usa casa, ou do museu, o tal "Dicionário de marcas", para escanear a marca que o catálogo do leilão faz referência, e publicar aqui?
    abraços!!

    em tempo: jamais estarei farto de ver posts sobre cantão popular.

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  3. Como você falou no catálogo do leilão, resolvi procurar nos meus catálogos de leilões em PDF também, e achei um conjunto de 5 peças com o motivo cantão popular atribuídas à Miragaia sec XIX, infelizmente foto minúscula, e sem foto de marca.
    Vou te mandar por email, pois mesmo que a foto seja pequena, ao menos é uma referência de outra fábrica no séc. XIX que teria produzido o padrão "país" ou "cantão popular".
    abraços!

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  4. Esta tua terrina, tal como todas as peças em que o motivo impera, é sempre apelativa ao olhar, e, tal como o Fábio, este cantão popular nunca me cansa, por muitas peças que nos rodeiem e que vejamos. Já deves ter meia centena de peças com este motivo!
    Quando julgamos que o motivo já terá esgotado todas as suas variantes, lá aparece sempre mais uma que nos espanta pela sua beleza e por mais uma coisa que, nas anteriores, não existia.
    Este motivo é sempre uma agradável surpresa.
    Estou curioso pela marca que o Fábio terá encontrado e que poderá ser mais uma achega à produção deste motivo.
    O Fábio vai tendo uma coleção muito interessante de dados sobre a nossa faiança, um bem haja para ele, pois, do outro lado do Atlântico, e a par da que vai fazendo sobre o azulejo e cerâmica no Brasil, também vai levando a cabo uma pesquisa rigorosa e organizada desta produção, em Portugal
    Manel

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    1. Manel, infelizmente o que achei são fotos das peças, para as quais se diz estarem marcadas, mas não publicaram a foto da marca junto, como disse ao Luis no comentário anterior. É uma pena!

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  5. Caro C

    O catálágo da exposição do António Capucho já o tenho, comprado num saldo da feira do livro há uns dois anos. Aproveitei agora as promoções da FNAC para comprar os Meninos Gordos por nove euros e tal!!

    Os livros de arte são tão caros que só os compro em promoções. Está fora de causa dar 50 ou 60 euros por um catálogo de arte.

    Um abraço e obrigado pela sugestão

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    1. O Catálogo do Capucho comprei quando estive aí ano passado, e estava acontecendo uma semana de promoções de catálogos em todos os museus. Comprei também um de Bordallo Pinheiro, e só não comprei o dos meninos gordos por causa de peso, pois todos estes catalogões estavam por meros 10 euros cada. Queria ter comprado uns 20, mas como ia trazer??? Estes 2 grandes, e vários pequenos já aumentaram o peso de minha bagagem absurdamente. Fora toda a louça que comprei... tive que comprar uma mala nova para voltar pra casa.
      abraços

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  6. Caro Fábio

    Boa e pertinente sugestão. Esta noite ou pelo menos amanhã vou tentar colocar a imagem da marca. É que eu não tenho máquina para digitalizar em casa.

    Já consultei a página do catálogo que me enviou, mas são peças da série País, genuínas de Miragaia.

    Este cantão popular é muitas vezes atribuído a Miragaia, mas até agora nunca apareceu uma única peça com as marcas da fábrica da Rocha Soares.

    Um abraço

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    1. Obrigado pela foto! É sempre uma informação importante à mais que se agrega.
      abraços!

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  7. Manel

    Acho que só ainda levantámos a ponta do véu sobre a história deste motivo em Portugal.

    Eu sei que deveria fotografar todas as peças de cantão popular, minhas e tuas e organizar uma espécie de conjuntos por famílias e tentar chegar a alguma conclusão, ou vá lá, à definição de alguns tipos.

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    1. Dou total força para que vocês façam isso! Seria um bom início. E já daria uma bela monografia sobre o assunto.
      Vou ficar esperando por esta pesquisa com grande expectativa.
      abraços!

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  8. Olhe, Luís, para mim esta terrina com marca Sto Ant. Vale da Piedade é um verdadeiro achado!
    É que não sei por que razão, eu punha esta fábrica quase ao nível da qualidade de Miragaia e não lhe atribuía facilmente estas pinturas mais toscas e pastas mais grosseiras, por mais apelativas que as ache. Agora já acredito que muitas das travessas e terrinas que tenho visto, inclusivé peças que tenho, poderão ser deste fabrico.
    Até me lembrei de acrescentar no meu blogue a etiqueta "Cantão Popular", para o caso de o Luís querer rever umas terrinas que lá estão e comparar com estas. Já não me lembrava da sua, que é uma bela peça!
    Este sim, foi um bom avanço no conhecimento do Cantão Popular. E também estou curiosa em ver a marca.
    Bjs.

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  9. Maria Andrade

    De facto temos aqui um dado novo para identificar algumas peças de cantão popular mais antigas.

    Estas fábricas teriam talvez produções de melhor qualidade e outras mais ordinárias, mas também mais baratas, destinadas às gentes com menos posses, mas claro tudo isto são suposições.

    A segunda terrina apresentada, que me pertence, nunca a tinha mostrado no blog e achei que esta era uma ocasião propícia para a apresentar. É certamente uma peça do século XIX e eventualmente poderá ser um fabrico de Santo António, mas só muito eventualmente, pois falta-me...como hei-de dizer...a picardia para ter certezas em faiança

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    1. Logo me pareceu que ainda não tinha visto esta terrina. Agora que a fotografou de modo a ver-se o pormenor das pegas, lindíssimas e muito invulgares, acho que não a teria esquecido.
      É pena que lhe falte a picardia... mas aos poucos, vai-se avançando...

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  10. Caro Fábio

    O maior trabalho vai ser subir aos tectos, tirar as peças, fotografa-las e voltar a coloca-las nos sítios, mas comprometo-me aqui a tentar fazer um ensaio de classificação

    abraço

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  11. Ola Luis, mais um passo...tambem eu fiquei contente com mais esta informação e tambem eu não me canso deste motivo...sendo assim é possivel que cá em casa hajam "filhotes da mesma mãe"... Um abraço Luis

    Marília Marques

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  12. Muito bonita
    Eu que não sou apreciadora dessas peças,me encantei com essa terrina
    Luís,esse vícío ,pega
    Começo a dar valor a certas velharias que vejo nas casas de antiguidades pelas ruas de Lisboa
    Estou completamente apanhada por essa terrina...
    Bjs

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  13. Caro Luís, bom dia, com a mesma decoração da primeira terrina e também marcadas STº António Vale da Piedade poderá encontrar um lote de travessas tipicamente Cantão Popular no catálogo do 1ª Leilão Colecção Hipólito Raposo. Infelizmente emprestei o catálogo e ainda não mo devolveram pelo que não lhe posso enviar imagens dessas peças.
    Abraço, CC

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  14. Cara Marília

    Aos poucos o mistério dos fabricantes deste motivo vai-se esclarecendo, mas é preciso ir devagar com a faiança portuguesa há que ter sempre cautela nas atribuições.

    E quando é que Marília retoma o seu blog? Poderia recomeçar com o cantão popular...

    Beijos

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  15. Cara CC

    Muito obrigado pela valiosa informação

    Vou a correr consultar o catálogo e talvez ainda volte a este assunto.

    Obrigado e um abraço

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  16. Cara Jasmine

    Estas velhas terrinas de faiança são um encanto e é fácil prendermo-nos a elas. Por exemplo, a segunda terrina que eu mostrei é enorme e teria capacidade para servir sopa a uma família muito grande, daquelas que existiam antigamente com 6 e 7 filhos.

    Abraços e volte sempre

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  17. Amigo Luis, estou de volta aos mares....volto na proxima segunda e muito feliz com a ideia pois isto por aqui não tem grande solução à vista a nivel económico....com isto quero dizer que a minha volta ao blog não para já, uma vez que a bordo só consigo aceder a net que não me permite abrir o bloguer nem visitar os blogs :-(

    Deixo um abraço para si e aproveito para deixar aos amigos que por aqui passam....Tudo de bom e até para o ano...lá para meados de Janeiro!

    Marília Marques

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  18. Marília

    Realmente a situação do País é desastrosa. Todos os dias sei de mais alguém que perdeu o emprego e gente altamente qualificada, só que, como já fizeram 40 ou 50 anos nunca mais vão arranjar emprego na vida.

    Enfim, vamo-nos distraindo com as velharias e sempre aprendemos um pouco mais todos os dias.

    Uma boa viagem

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  19. Peço desculpa ao Luís por fazer aqui um aparte e dirigir-me à Marília
    Marília, quero desejar-lhe bons ventos e viagens tranquilas, e ainda bem que se recompôs.
    Tudo de bom para si e, sempre que regressar a terra, terá bom acolhimento, pois temos saudades suas e do seu bom senso.
    Manel

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  20. Luis
    Peço desculpa por mais uma vez usar o seu blog para me dirigir á Marílía
    Boa viagem,menina
    Que tudo lhe corra bem
    Espero que rápido refaça a sua vida e se anime
    A vida não são só lágrimas
    Um desejo de muitas felicidades e volte rápido
    Todos temos saudades suas
    Um beijinho
    Grace

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