segunda-feira, 25 de março de 2013

Cafeteira de faiança inglesa C & J. SHAW


Ao longo de três anos de escrita deste blog, desenvolvi os meus conhecimentos de velharias e antiguidades, mas também o interesse pela fotografia, técnica para a qual eu era uma nulidade perfeita. Agora começo a gostar de brincar com a fotografia e de fazer experiências. O que vos mostro hoje é precisamente uma brincadeira, que consistiu em fotografar uma cafeteira inglesa do início do século XIX à maneira das naturezas mortas do século XVII. Além do claro escuro não faltaram sequer as frutas. A única diferença, é que esta fotografia busca apenas alcançar um efeito estético e as naturezas mortas do século XVII transmitiam uma mensagem a quem as contemplava, procuravam mostrar que a vida humana era tão efémera como as flores e os frutos pintados. As pessoas eram alertadas para deixarem de parte as vãs vaidades humanas, como o dinheiro e as jóias e a procurarem uma existência piedosa indiferente aos bens mundanos, que lhes poderia granjear a imortalidade das suas almas, isto é, a salvação junto de Deus. Por essa razão, as naturezas mortas são também designadas pelo termo latino Vanitas, as vaidades.

Mas, pronto, já fugi ao assunto da faiança e escapei para as naturezas mortas e o cristianismo. Retomando o fio à meada, esta cafeteira foi comprada na feira de velharias de Lagoa, no Algarve. Fui eu que a descobri, mas convenci o Manel a compra-la, pois em minha casa não cabe nem mais um alfinete e o meu amigo lá a trouxe para casa todo contente, para juntar a sua colecção de louça inglesa.

C & J. Shaw. VINCIT VERITAS. STONE CHINA
Foi produzida por um fabricante, C & J. Shaw, do qual se sabe pouco, ou pelo menos do qual não existe muita informação na internet. A fábrica situava-se no Staffordshire, a região produtora de cerâmica por exelência do Reino Unido, mais exactamente na localidade de Lane End e laborou apenas 13 anos, entre 1825-1838. Portanto, a cafeteira do Manel pode ser datada do segundo quartel do século XIX, precisamente nos referidos 13 anos.

Pouco mais consegui encontrar sobre este fabricante. Sei que o C & J. Shaw produziu o motivo Grecian Statue, que nós conhecemos pelo nome do cavalinho, a decoração que a Fábrica de Sacavém popularizou em Portugal.  Mais tarde, no terceiro quartel do século XIX, apareceu um tal C. & J. Shaw junior, que comercializou faianças em Portugal, usando o mesmo monograma, mas também não encontrei informações  sobre ele. A propósito de Shaw Junior ver os blogues da Maria Andrade e Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Apesar de se conhecer pouco deste C. & J. Shaw, aparecem muitas peças com esta marca nos nossos mercados de velharias, o que nos faz pensar se este fabricante teria algum distribuidor em Portugal, um daqueles muitos comerciantes ingleses, que fixaram residência no Porto. Enfim, quem sabe.


10 comentários:

  1. Luís!!
    A fotografia está fora de série! :).Essa técnica dos claros e escuros que anda a desenvolver fica muito com o tema das faianças.Esta, com a associação às naturezas mortas ficou muito bem. Parabéns

    A cafeteira é linda e fora do comum e com a idade que tem, estar completa é um feito. Acho muito bem que tenha convencido o Manel a comprá-la:)
    beijos e boa semana.

    P.S. A tijoleira rústica é um encanto

    ResponderEliminar
  2. Viva, Luís.

    Belo conceito, este da recriação de uma natureza-morta, e bela ideia a de lhe dar um toque menos seiscentista com a inclusão da banana.

    Aproveito para deixar uma nota informando que a C. & J. Shaw ainda veio a ter um Júnior na empresa, comercializando peças no terceiro quartel do século XIX (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/232943.html).

    Saudações Pascais!

    ResponderEliminar
  3. Maria Paula

    Ainda bem que gostou desta brincadeira fotográfica, que consistiu em fotografar uma peça do século XIX à maneira das naturezas mortas do século XVII.

    A tijoleira é artesanal, feita no Alentejo, onde se notam patas de bichos, que por ali passaram, enquanto o barro secava.

    bjos

    ResponderEliminar
  4. Caro MAFLS

    Muito obrigado pela sua chamada de atenção. Actualizei o blog com as suas informações.

    É realmente estranho não existirem quase informações sobre este C. J Shaw e no entanto os ingleses tem sites estupendos, muito sistemáticos, com a história e as marcas dos seus fabricantes de faiança.

    A natureza morta foi um jogo fotográfico. Além de informações práticas sobre antiguidades, julgo que as pessoas procuram nestes blogs um certo deleite estético e por isso tento colocar fotografias realmente apelativas.

    Um abraço e mais uma vez obrigado

    ResponderEliminar
  5. Bem, Luís, a sua arte fotográfica está a atingir um nível !!! A primeira foto é um regalo para os olhos, mas a última não lhe ficam muito atrás e o mérito também é da peça que é muito fotogénica !:) Tem um porte muito elegante, lindos pormenores decorativos e está muito bem acompanhada com outras faianças do Manel na última foto.
    Realmente não se consegue encontrar informação sobre este C. & J. Shaw, nem no potteries.org, o que acho estranho. Já hoje vi o nome numa lista de fabricantes, mas depois nenhuma informação relacionada. É um mistério que precisamos de desvendar...
    Beijos

    ResponderEliminar
  6. Maria Andrade

    Obrigado pelas suas palavras simpáticas.

    Só encontrei informações sobre este C. J Shaw num leilão on-line e não sei se a informação será muito fiável. http://www.worthpoint.com/worthopedia/19-staffordshire-j-shaw-purple-platter-vincit

    Vi também muitas peças com esta marca no catálogo do leilão da colecção de Gloria Swanson, a célebre actriz do Sunset boulevard, que por acaso teve uma casa na zona de Sintra. Será que foi por lá que as comprou?

    Bjos

    ResponderEliminar
  7. Adoro bules e todos os artefactos do chá.
    Bom Domingo!

    ResponderEliminar
  8. Cara Ana

    Muito obrigado pelo seu comentário tão simpático.

    um abraço

    ResponderEliminar
  9. Eu com tantas peças deste fabricante fico sempre desasado por ser rara a informação, e não faço ideia porquê.
    Os ingleses que pesquisaram a sua loiça até à exaustão deixaram este fabricante de fora. Será que estarei a fazer a pesquisa de forma errada?
    Tanto mais que as peças que tenho deste fabricante até têm qualidade, apresentando desenhos muito cuidados, sobretudo no casamento dos motivos, local onde nem sempre os trabalhadores ou encarregados pela qualidade, prestam muita atenção.
    Mas a informação que descobriste já me foi preciosa, ainda que, possivelmente, possa não ser muito fidedigna.
    A qualidade das tuas fotografias vai melhorando a olhos vistos. Muitos parabéns
    Manel

    ResponderEliminar
  10. Manel

    Julgo que nos faz falta bibliografia sobre faiança inglesa do Séc. XIX. Nem tudo está disponível na internet e há informações que só se encontram em livros.

    Um abraço

    ResponderEliminar