sábado, 31 de maio de 2014

Travessa de carne assada inglesa do início do Século XIX



Para quem gosta de coisas antigas e não tem muito dinheiro, a faiança inglesa do séc. XIX é uma boa opção para fazer uma colecção ou pura simplesmente para decorar com charme uma sala ou uma cozinha com dois ou três pratos antigos.

A louça inglesa do século XIX atingiu altíssimos níveis de qualidade, as suas paisagens são sempre sedutoras e nas feiras de velharias vão-se encontrando bons exemplares a preços razoáveis.

O meu amigo Manel foi comprando aqui e acolá muita louça inglesa e a peça que vos apresento hoje é das minhas preferidas. É uma travessa de grandes dimensões, 42 x 34 cm , mas com um formato muito particular, tem sulcos ao longo da superfície, que depois conduzem a uma concavidade maior. Servia para servir carne assada. Pelos sulcos escorria o molho, que ia ter à concavidade, onde com uma colher era fácil recolher o molho para os respectivos pratos. por cá, Miragaia também fabricou este tipo de travessas, mas curiosamente designaram-nas por Peixeiras, pois eram usadas para servir peixe. Segundo a Maria Andrade, esta readaptação portuguesa dos meat dish, explica-se talvez pelo maior hábito de comer peixe que sempre existiu em Portugal, sobretudo no litoral, ao contrário dos nossos aliados ingleses que sempre comeram mais carne.

A travessa não tem qualquer carimbo ou monograma, pois os fabricantes nem sempre marcavam todas as peças de um serviço, mas como os ingleses e americanos tem centenas de bons sites sobre faiança antiga, rapidamente descobrimos muitas outras peças com esta decoração, marcadas como HAMILTON/STOKE. A decoração é conhecida entre os antiquários e coleccionadores pelo nome de Fisherman with Nets, cuja tradução livre será pescadores lançando as redes. Em todo o caso, segundo indicação do MAFLS há notícia de este motivo ilustrado na travessa ter também surgido em peças com a marca, impressa, Tams & Co. (The Dictionary of Blue & White Pottery, 1780-1880, vol. I, p.138

Não encontrámos muitas informações na net sobre este fabricante. Descobrimos que a fábrica pertencia a um tal Robert Hamilton, nascido em 1779 e activo entre 1811-26. Este Senhor era genro do industrial de cerâmica Thomas Wolfe, que por sua vez tinha sido sócio de Josiah Spode, outro patrão da indústria cerâmica e a sua fábrica estava sediada em Stoke-on-Trent, no Staffordshire. Portanto o Senhor Robert Hamilton tinha a sua fábrica no principal centro cerâmico de Inglaterra, estava relacionado familiarmente com outros industriais do ramo e ao seu lado existiam fábricas de louça, que hoje quase são lendárias no meio dos antiquários e coleccionadores, como Spode ou Minton.
Faiança Hamilton. Um típico padrão decorativo da época. Paisagem campestre, com vaquinhas, um rio e um castelo em ruínas ao fundo

Este enquadramento serve para demonstrar que a produção de Robert Hamilton é muito representativa da louça inglesa das duas primeiras décadas do Século XX. 

Neste período, o estilo da faiança de Spode servia de modelo para muitos fabricantes ingleses. Spode tinha popularizado o transfer way na loiça azul, técnica que consiste em usar uma gravura numa placa de cobre, que era estampada num tecido, que depois era aplicado na loiça ainda em forma de biscoito. Este processo permitia decorar a loiça com complicados e refinados desenhos retirados de gravuras. E de facto nessa época Spode inspirou muitas fábricas de faiança inglesa, que produziam mais ou menos todas, tipos decorativos da mesma natureza.
Spode. Ruínas italianas, outro motivo decorativo típico da faiança inglesa.

Em primeiro lugar os motivos chineses, do qual o mais célebre é o padrão do salgueiro ou Willow pattern, seguiam-se depois um infinito número de ruínas em Itália, as paisagens campestres inglesas, como por exemplo as decorações com vaquinhas, que Sacavém veio a imitar mais tarde e ainda os motivos indianos, inspirados nas gravuras Thomas Daniell. Portanto, Herculaneum não foi de todo a única a inspirar-se nas estampas com paisagens indianas e também chinesas de Thomas Daniell.

Faiança Hamilton. O Canton River inspirou-se nas estampas de Thomas Daniell, que este fez após a sua viagem à Índia e à China

Nas duas primeiras décadas do Séc. XIX, também segundo o modelo de Spode, a decoração tendia a ser muito preenchida e os azuis eram mais escuros. Este foi um período de crescimento exponencial da indústria cerâmica inglesa. Devido as guerras napoleónicas, as manufacturas francesas e alemãs estiveram impossibilitadas de exportar. Os ingleses aproveitaram esta fraqueza da indústria continental e invadiram livremente o mercado americano e quando finalmente a guerra acabou, conquistaram também os mercados europeus com os seus produtos baratos e boa qualidade.
Faiança inglesa destinada ao mercado americano, com paisagens e monumentos dos EUA. Foi produzida pela Ridgway e representa a biblioteca de Filadélfia. Foto de Z & K Antiques

Os ingleses chegaram a produzir loiça especialmente destinada ao mercado norte-americano, normalmente com tons azuis mais escuros e representando vistas e paisagens de monumentos e cidades americanas. Aliás eu e o Manel chegamos a nos interrogar se a decoração desta travessa não representaria uma paisagem americana, o edifício que se vê ao fundo com uma arquitectura palladiana poderia talvez ser Monticello, a casa de Thomas Jefferson, mas é um palpite arriscado e sem grande fundamento. Em todo o caso, não é seguramente uma paisagem inglesa, pois na velha Albion não existem palmeiras.

Monticello. A casa de Thomas Jefferson, na Vírgina
Enfim, não conseguimos apurar que vista esta travessa representa, ou se será mesmo paisagem real. Em todo o caso, é uma peça que representa a qualidade o charme da faiança inglesa do século XIX.

Alguma bibliografia:

An introduction to English pottery / by Giselda Lewis. - London: Art and Technics, 1950

Ligações:
http://www.blueandwhite.com/museum.asp

http://www.thepotteries.org/location/districts/stoke3.htm

 http://collections.vam.ac.uk/item/O78051/plate-hamilton-robert/

30 comentários:

  1. Esta peça sempre me chama a atenção no meio das outras quando vou ao Manel, e agora ela ficou ainda mais encantadora com tanta informação que você publicou aqui.
    Segunda agora (2/7) chego em Lisboa, e quem sabe não tenho uma nova chance de revê-la (e revê-los, o que me apetece bem mais).
    abraços!

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    1. Fábio

      Fico muito contente de saber que vais regressar à Ocidental praia lusitana.

      Esta travessa é de facto encantadora, até pelas suas enormes dimensões que fotografia não conseguiu captar.

      Um abraço

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    2. Se o Luís me permite, quero dar as boas-vindas ao amigo Fábio de novo de visita às nossas terras!
      Nesta semana em que ele chega vejo eu partir de novo os meus brasileiros mais queridos... O tempo passa tão depressa!
      Beijos

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  2. Boa tarde, Luís.

    Há notícia de este motivo ilustrado na travessa ter também surgido em peças com a marca, impressa, Tams & Co. (The Dictionary of Blue & White Pottery, 1780-1880, vol. I, p.138).

    Quanto ao motivo americano que surge no último prato, terá sido produzido pela Ridgway e representa a biblioteca de Filadélfia (Ada Walker Camehl, The Blue-China Book, 1948, extratexto).

    Não poderia ter seleccionado vista mais apropriada...

    Saudações!

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    1. Caro MAFLS

      Muito obrigado pelas suas achegas tão bem fundamentadas. De facto desconhecia de todo que Tams & Co também tivesse produzido este motivo, mas é natural, pois estas fábricas copiavam-se muito umas às outras tentando corresponder ao gosto da época.

      Quanto à Ridgway com a vista da Biblioteca de Filadélfia foi bandalheira minha não ter feito desde logo a legenda como deve ser.

      Actualizei o blog com as suas indicações.

      Um abraço e muito obrigado

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  3. Desconhecia em absoluto este formato das travessas de carne assada ou à portuguesa de peixe assado, é uma informação deliciosa e demonstra um cuidado e imaginação que hoje já ninguém tem.
    Mais uma aprendizagem, muito agradecida!
    Abraço!
    Ana Silva

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    1. Cara Ana

      Muito obrigado. Também desconhecia este formato de travessas para servir carne assada e que são encantadoras pela sua originalidade, além de que deveriam ser muito práticas. Claro, hoje não nos atrevemos a pôr uma destas peças a uso. Enfim, teremos que nos contentar com o pyrex.

      Um abraço

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  4. Luís
    Que linda é esta travessa "well-and-tree" do Manel!
    Já esperava há muito por uma peça destas vinda daí, aliás, há quase quatro anos!!! :)
    É verdade, o tempo passa e já faz em Outubro 4 anos que apresentei no "Arte livros e velharias" a minha travessa de carne com "poço e árvore" para o molho.
    Nessa altura o Luís referiu que o Manel tinha pelo menos uma travessa deste tipo e eu fiquei curiosa e à espera de que um dia... Ela aqui está, esplendorosa no seu formato invulgar e com um desenho lindíssimo do chamado "Historical Staffordshire"!
    É certo que grande parte da produção de toda esta loiça inglesa se destinava ao mercado americano e eu também estou convencida que aquele edifício é mesmo a casa de T. Jefferson na Virgínia.
    Claro, depois há a montagem do desenho, os elementos da paisagem que se acrescentam para compor a cena, o que é bastante comum nas gravuras usadas para loiça, de que conhecemos como exemplo muito popular a "View in Fort Madura" da Herculaneum Factory.
    Enfim, gostei muito da forma como desenvolveu o tema e ilustrou o poste.
    Beijos

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    1. Maria Andrade

      Ainda bem que gostou. A faiança inglesa não é o meu forte e tenho sempre medo de disparar com alguma asneirada.

      De facto já há muito tempo andava com vontade de mostrar algumas das peças de loiça inglesa do Manel e decidi começar com esta, que talvez seja das mais emblemáticas.

      Fiz várias pesquisas sobre Monticello. Além das imagens da actuais da casa, tentei também encontrar gravuras antigas sobre Monticello, que é um dos monumentos americanos mais equilibrados e de melhor gosto. Se de facto na frente da casa há um espelho de água, não está assim tão próxima de um rio e não tem palmeiras no jardim. O monte parece uma espécie de visão fantasista do Vesúvio. Mas como disse muito bem, os senhores que concebiam estas decorações, fantasiavam um bocadinho e colocavam coisas daqui e de acolá.

      bjos

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  5. Gostei de ler este seu post assim como outros anteriores, que sempre cativam o meu interesse, embora não os comente, seja por falta de tempo, seja por uma certa inércia. Mas, este, tocou-me talvez mais de perto, por ter uma dúzia de chávenas de café SPODE exactamente com o motivo de ruínas italianas. Para meu gosto, talvez um pouco pesado, por ser muito elaborado e o tom do azul não lhe dar uma certa leveza. Foram compradas nos anos 50, no Bazar Central, na Rua dos Clérigos (Porto), propriedade de Augusto Basto. Salvo erro, era este Bazar o representante da SPODE, senão em Portugal, pelo menos, no Porto. Muito obrigado por partilhar aqui o muito que sabe do pouco que eu conheço.

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    1. Cara Belita

      Muito obrigado pelas suas palavras simpáticas.

      Há uma certa tendência para as peças do século XIX acusarem um gosto pesado, mas ao mesmo tempo o charme delas está também nesse excesso.

      Eu também não sou especialista em faiança inglesa, aliás não sou um especialista de todo em matéria nenhuma. Mas cada vez que apresento uma peça nova, faço sempre alguma pesquisa sobre ela, tentando-lhe dar um enquadramento histórico e artístico, que possa vir ser útil aos coleccionadores amadores de velharias, que procuram na net identificar as tuas peças.

      Um abraço e comente sempre que lhe apetecer. É um prazer para todos

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  6. A informação sobre este motivo como aparecendo sob a marca de "Tams & Cº" significa que não seria produzida por esta família, mas sim comercializada por eles.
    Os irmãos Tams são de origem inglesa, provenientes de Burslem, Staffordshire, mas emigraram para os Estados Unidos e estabeleceram-se sob o nome comercial "Tams & Cº" nos anos que vão de 1823 a 1825, onde importam louça e outros produtos que depois revendem, na cidade de Filadélfia, então uma cidade dotada de grande desenvolvimento económico.
    Em 1825 alteram o nome para "Tams, Anderson and Tams", e em 1828 alteram de novo o nome para "Tams and Brothers, china merchants", e pouco depois, para "Tams and Brothers".
    Mas continuam a ser revendedores e importadores de louça, muito seguramente proveniente em grande parte da sua região inglesa de origem, onde se localizavam a maioria das fábricas de cerâmica da Inglaterra dos séculos XVIII e XIX.
    Continuo a pensar que, com alguma probabilidade, o motivo terá tido origem na fábrica de Hamilton, o qual poderá ter revendido peças para a Tams & Cº, os quais o poderão ter revendido sob a sua marca, tanto mais que este desenho parece-me ter sido feito para ser exportado para os EUA.
    A casa parece-se muito com Monticello e a própria paisagem é algo estranha a uma típica de Inglaterra.
    Creio que o fabrico deste desenho deve-se ter dado muito próximo de 1820, e parece-me ser de produção inglesa, quase seguramente.
    Gostei muito do teu texto e da história que teceste à volta deste tema.

    Obrigado pelas sua palavras Maria Andrade.
    Ainda há mais uma travessa "well-and-tree" aqui por casa, mas ainda é maior que esta, no entanto, mais recente, talvez dos anos 60/70 do século XIX, com um motivo exótico sobre o "Bosphorus", de T.Fell & Cº.

    Fico encantado com as notícias do Fábio. Ainda bem que regressas. É sempre um prazer saber-te por cá.

    Tenho pena de não ter fotografias melhores da peça, foi o que consegui.
    Não é fácil de conseguir boas fotografias e falta-me a tua paciência para tirar centenas delas até que uma seja a certa.
    Manel

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    1. Manel

      Muito obrigado. Partiste das achegas dadas pelo MAFLS e completas-te-as muito bem. Se de facto a Tams & Cº se especializou em fazer a distribuição de faianças inglesas no mercado americano, esse é um factor que reforça a nossa suspeição que esta peça foi destinada a ser vendida nos EUA e que talvez possa representar uma paisagem americana.

      Um abraço e muito obrigado pelo teu comentário muito pertinente. Não há dúvida, que com o contributo de todos, vai-se conseguindo montar uma teia, uma explicação mais completa para cada uma das peças aqui mostradas

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    2. Com a pressa de acabar o comentário e ir trabalhar acabei por não agradecer ao MAFLS a gentileza da informação que aqui trouxe, a qual veio reavivar algumas ideias que tenho sobre a exportação de faiança inglesa para os EUA e que existiriam padrões mais adequados para esta finalidade. Não é um assunto muito explorado, mas que me interessa de sobremaneira.
      Agradeço-lhe não só a informação que aqui deixou como também o rigor que coloca nos escritos que publica no seu blog, uma das referências da cerâmica em Portugal
      Manel

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  7. Luís,
    Uma travessa muito bonita e uma história que nos encanta. O Oriente maravilha e esta imagem traz-nos esse Oriente longínquo.
    A porcelana chinesa terá tido provavelmente influência, ou pelo menos os seus motivos que se entrelaçam com a Arte Nova e o gosto do Ocidente pelo Oriente.
    Um abraço!:))

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    1. Cara Ana

      O Oriente está sempre presente em toda a faiança e porcelana europeias. É o paradigma ao qual todos os ceramistas recorrem constantemente.

      Um abraço

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  8. Ups...acho que vou levar com a vassoura...tal como faziam as minhas avós quando os gatos faziam alguma patifaria...
    Se calhar vou ser a última a comentar esta bela travessa do Manel...
    Creio que já tudo foi dito, a única coisa que me ocorre acrescentar é que, ou muito me engano, ou a casa do Manel terá peças de fazer inveja a muitos museus...
    Ele tem a sensibilidade, mas também a sorte de encontrar belíssimos exemplares, que vão enriquecendo cada vez mais todos os cantos, recantos, tectos e prateleiras.
    Tenho de começar a abrir os olhos para essas loiças inglesas, mas tenho a impressão que aqui pelas minhas bandas não aparecem...

    Um abraço aos dois, e um bom resto de Domingo

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      Ninguém por cá liga muito à louça inglesa, de modo que se vai conseguindo comprar boas peças a preços razoáveis.

      Esta travessa ainda não é uma peça de Museu, pelo menos em Portugal. É ainda uma velharia. Os museus portugueses valorizam mais a faiança portuguesa da mesma época e depois ainda há poucos museus dedicados ao século XIX, sobretudo às artes decorativas.

      Bjos e obrigado

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  9. Obrigado pelas suas palavras, mas quanto à minha casa fazer inveja a museus, eu até não me importava nada que assim fosse, mas, infelizmente, tal não acontece.
    Tenho coisas que, numa ou outra fase da minha vida me agradaram, mas não passam disso mesmo, coisas que me dá prazer a sua contemplação e são honestas, porque não pretendem ser aquilo que não são, no entanto, conheço casas que ... essas sim, fazem inveja a muitos museus, sobretudo àqueles museus de província, que vão tendo peças desta ou daquela família, que, de forma magnânima, fizeram o favor de as doar para que todos tenham acesso a uma arte esquecida.
    Eu tenho aquilo que me agrada e que a minha bolsa vai podendo comprar, mas não são seguramente peças de museu, apesar de também não serem pretensiosas.
    São, pelo menos, honestas.
    Tive uma peça, cuja história já o Luís aqui contou, que era aquilo que não me parecia, e que, na altura, me pareceu bonita, no entanto, como alguém mais sabedor que eu, me informou sobre a sua verdadeira face, passei a considerá-la pretensiosa, por pretender ser aquilo que não era, pelo que acabei por me desfazer dela.
    Mas agradeço-lhe muito as suas palavras
    Manel

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  10. Prezados Luis e Manel.

    Fortuna e Paz.

    Como já sabem, costumo, de antemão, desculpar-me pela apreciação um tanto quanto rasa, visual ou com ideias soltas... Isto muitas vezes por ignorar muita coisa que só aos poucos vamos conhecendo, pelo gosto próprio ou dos amigos.

    Há um tempo Vc, Luis, disse que se impressionava com a extensa catalogação das peças da louça inglesa.
    E é verdade, quase tudo que temos delas em poucos cliques vemos estampados exemplares semelhantes com boas informações. E como Vc disse, o mesmo não ocorre com a louça portuguesa. E com as nossas pobrezinhas daqui, então?... Se o Fábio Carvalho não nos vale aí é que ficamos perdidos mesmo... Se o encontrar, mando um abraço, se faz favor.

    Não tenho nenhuma travessa dessas de assado mas há tempos estou de olho em umas de uns amigos antiquários. O que me atraiu foi o tamanho, penso que sejam das maiores entre os utilitários, né?

    Quanto ao medo do uso: Penso que as de faiança estão descartadas mas há peças de porcelana de cento e quantos anos que estão tinindo como se fossem de ontem na louça, esmaltagem e decoração... Uma porcelana que sempre parece nova é a de Limoges, sobretudo as grandes travesas com reforço no fundo.

    Sobre as calhas para o caldo: a primeira vez que vi pensei que fosse uma decoração em baixo relevo em forma de ramo... mas a parte que recolhe o óleo parecia-me estranha e em pouco minutos concluí que não era mera decoração.

    Cores: entre a primeira e a segunda foto há uma diferença. Qual delas retrata melhor? O azul intenso da primeira ou acinzentado da segunda ?

    Um abração para Vcs Luis e Manel.

    No meu último post, que não tem nada de muito especial, a não ser,eu considero, um pequeno broche ("alfinete", a M.Isabel disse que este termo por aí outros sentidos também... enquanto for inocente deles não preciso me preocupar muito). Talvez Vcs tenham visto: de material orgânico guarnecido em prata com uma pintura muito bela em miniatura retratando S.Joaquim de uma forma que não conhecia.

    Amarildo

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    1. Amarildo

      De fotografia para fotografia, dependo da exposição e da luz as cores alteram-se sempre um pouco. Por essa razão nunca uso o flash e tento sempre tirar fotografias durante o dia, para conseguir reproduzir fielmente a cor das peças. Em todo o caso, julgo que a primeira imagem é mais fiel aos azuis e brancos da travessa e por essa razão foi escolhida para abrir o blog.

      A faiança inglesa está muito bem estudada e é fácil descobrir rapidamente informações na net. Ao contrário, a faiança portuguesa, como raramente está marcada a sua identificação é uma quebra-cabeças, embora haja sempre gente que ache que tudo sabe. Enfim, como dizem os franceses, "hélas".

      Já fui espreitar o broche e achei-o um encanto. Ainda não comentei o seu post, pois fiquei na dúvida se seria S. Joaquim e Nossa Senhora ou a educação da Virgem no Templo. Em todo o caso é uma graça de uma peça, que eu compraria sem hesitar.

      Um abraço

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  11. Peço desculpa por me estar a intrometer, mas estava a pesquisar artigos sobre Travessas de louça Inglesa, tipo "Peixeira" ou "de Carne Assada" e, deparei-me com este artigo muito interessante e respectivos comentários.
    Vou comentar, embora não saiba se irão ler, pois o último comentário que aqui vi tem cerca de um ano.
    Tenho uma travessa deste tipo, que herdei da minha mãe, mas que já era dos meus bisavós.
    É de grande dimensão, tem 48,5 cm X 37,5 cm .
    Está completa, isto é, possui uma "GRADE" ou "GRELHA" (era assim que a minha mãe dizia), da mesma louça e com o mesmo motivo, e que é perfurada. Os alimentos (carne ou peixe) são colocados em cima dessa grade, e o molho escorre pelos orifícios, para dentro da travessa. Esta possui sulcos, que canalizam o molho para a concavidade existente num dos topos da travessa.
    No fundo, na parte de baixo da travessa, existem três marcas:
    - uma coroa, com ramo de folhas e a marca "Copeland".
    - uma outra marca, com letras e números
    - e o número 19
    Pelas pesquisas que tenho feito, e as peças que tenho visto à venda, nunca vi a tal "grade" que a minha tem e, quando falo, as pessoas desconhecem.
    Talvez se tenham quebrado ao longo dos tempos e com o uso.
    A "grade" da minha quebrou ao meio (um acidente...), e está colada mas, por sorte, quase não se nota.
    Já me têm perguntado se os orifícios são para pôr flores, pois fazem lembrar as floreiras, mas não, é mesmo para colocar a comida.
    À volta tem motivos florais, quer na grade, quer na travessa. O fundo da travessa e o centro da grade têm motivos diferentes, ambos bucólicos - uma casa de campo, uma ponte, bois, e um guardador de gado a cavalo.
    Espero que o meu comentário sirva para alguma coisa, quanto mais não seja para dar a conhecer a existência nestas travessas da tal "grade" ou "grelha" para escorrer.
    Com os meus cumprimentos.
    Ana Maria Oliveira

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    1. Cara Ana Maria Oliveira

      Obrigado pela sua mensagem que vem completar este post.

      Já tinha visto peças com essa espécie de tampa perfurada, mas apenas em catálogos. Nunca vi nenhuma à venda. Julgo que essa espécie de tampa se deveria partir facilmente e como consequência poucos conjuntos sobreviveram à passagem do tempo.

      Há de facto uma certa confusão relativamente a estas travessas. Em Inglaterra são designadas por "meat dish" e quando apresentam estas concavidades por "well-and-tree". Já em Portugal, no catálogo sobre a fábrica de louça de Miragaia, são identificadas por peixeiras. Para aumentar a confusão, na porcelana designada por Companhia das Índias, estas travessas quando apresentam as tampas perfuradas designam-se por legumeiras, mas nos exemplares que vi não tem tem as concavidades por dentro

      Quanto às marcas:
      - Há relativamente pouco tempo publiquei algumas peças da Copeland com uma marca, que parecem corresponder à sua descrição: http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2015/06/azeitoneiras-e-molheira-copeland.html.

      - O conjunto de sinais e códigos é o chamado "The diamond-shaped English Registry mark" e indica o ano, o mês e o dia, em que o padrão decorativo foi registado e cuja chave de descodificação se encontra disponível em vários sites da net, como por exemplo em . http://www.thepotteries.org/mark/reg.htm

      - Sobre o número 19, não tenho a certeza, mas pode referir-se ao formato da travessa

      Em todo o caso, a sua peça seja ela peixeira, legumeira ou travessa de carne assada é muito mais valiosa e rara por estar completa e imagino que deva ser uma coisa linda.

      Um abraço

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    2. Cara Ana Maria Oliveira

      Estive a ler no site de uma antiquária, que em inglês esse tipo de peça perfurada se designa por drainer e se associa a uma travessa de carne assada

      "From the early 19th century, most dinner sets included a drainer, or mezannine as they are often called, which was flat and had a hole in the center, with smaller holes all around it. This drainer would fit inside a large serving dish and would have been used when serving meat, particularly fish, to drain the juices."

      http://nancysdailydish.blogspot.pt/2012/04/staffordshire-mezzanine-aka-meat.html

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    3. Caro Luis Y
      Agradeço muito as suas respostas, bastante elucidativas.
      A marca/código que refere coincide com a da travessa. Depois de ter feito o comentário acerca da travessa, estive a ver o que escreveu noutro sítio. A marca é igual, embora com código diferente.
      Realmente, a travessa é linda (mas eu sou suspeita...). Sempre fez parte da minha vida familiar e, todos os Natais saía à cena, vindo à mesa com o tradicional bacalhau e respectivos acompanhamentos. Embora a minha mãe sempre dissesse que era uma travessa para servir carne assada, cujo molho escorria para a concavidade.
      Hoje uso-a para decoração, como centro de mesa, ou em cima de uma arca.
      Seria impensável usá-la para servir, não só pelo tamanho e peso, mas porque tudo mudou (realmente os pyrex são muito mais práticos...).
      Quanto ao site da antiquária, em inglês, vou depois consultar, por curiosidade.
      Estive a ler o que escreveu e corresponde: a peça é lisa e plana, o orifício central é o maior (mede 2,3 cm de diâmetro), e à volta ficam os restantes orifícios, menores (0,5 cm de diâmetro).
      Pena que, como já disse, o "drainer" ter partido ao meio, e estar colado, embora não se note muito, pelo menos à primeira vista.
      Um abraço.
      Ana Maria Oliveira


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    4. Cara Ana Maria Oliveira

      Ainda bem que a minha resposta foi útil. De facto nesta era do Pyrex e do micro-ondas temos já alguma dificuldade em identificar algumas peças dos serviços de jantar do século XIX.

      Imagino que a sua travessa deva ser linda, porque a louça inglesa do século XIX era muito boa, e como é um conjunto raro, fez muito bem em retira-la do uso. Este tipo de peças são como as terrinas, com tampa, presentoir(a travessa) e concha. É muito raro apanhar-se um conjunto completo.

      Pode-se sempre retirar o excesso de cola, passando um algodão com água quente e removendo o que está mais com uma faquinha, mas claro tudo com muito cuidado.

      Um abraço

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    5. Caro Luis Y
      A meu ver, ficou bem colada. De repente, nem se nota. Mas obrigada pela dica.
      Se quiser, posso enviar fotos, para enriquecer e dar continuidade ao seu artigo. Tenho ideia que tirei algumas, há uns anos atrás, tenho é que verificar o cartão.
      A travessa merece. E o seu blogue também.
      E eu ainda sou daquelas que gosto de preservar as memórias de usos e costumes, e divulgá-las para memória futura.
      Um abraço.
      Ana Maria Oliveira

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    6. Cara Ana Maria Oliveira

      Desculpe só agora lhe responder, mas estou de férias e os meus filhos ocupam o computador o dia inteiro.

      Terei muito gosto em mostrar a sua travessa no blog, que é uma peça rara de se encontrar. Só lhe peço é o favor de enviar a fotos das marcas e por amor de Deus, não me tire fotografias da travessa à noite com flash, que alteram a cor das peças. Desculpe-me estas exigências, mas a sua travessa merece.

      O meu mail é montalvao.luis@gmail.com

      Um abraço

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    7. Caro LuisY
      Nem sempre se tem disponibilidade. Pensei que poderia estar de férias, estamos em época disso. Quanto ao computador, sei como é, acontece o mesmo com o meu filho.
      Não vi ainda as fotos que tenho no cartão, mas não as passei para o computador. Não me lembro se as fotos que eu tenho se foram tiradas com flash, mas fez bem em me avisar. Não tem por que pedir desculpa, pois a qualidade do blogue e das peças nele mostradas merecem. Vou pedir ao meu filho para tirar novas fotos. Vou tomar nota do seu mail e depois envio-lhe o meu.
      E agradeço-lhe a sua resposta.
      Um abraço.
      Ana Maria Oliveira

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    8. Cara Ana Maria Oliveira

      Cá fico à espera das fotografias.

      Um abraço

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