quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A casa de banho do velharias do luís na TV


 As minhas excentricidades decorativas, que tenho mostrado aos poucos neste blog, voltaram a interessar a televisão. Desta vez, a propósito do Dia Mundial da Casa de Banho, a televisão voltou a minha casa e fui convidado para o programa da Júlia Pinheiro, as Queridas Manhãs, para falar nessa divisão do meu apartamento, que decorei de forma muito pessoal com toalheiros antigos, faianças inglesas do século XIX e azulejos pombalinos e um pequeno eléctrico lisboeta.
 
É certo que o programa da Júlia Pinheiro, não é propriamente uma coisa cultural, daquelas que passam no segundo canal e que fui convidado a título de curiosidade, mas em todo o caso foi interessante passar a mensagem numa televisão com uma enorme audiência, que se podem fazer decorações divertidas, sem obedecer a nenhuma convenção ou moda, com objectos antigos, muitas vezes desprezados e atirados para o lixo pela maioria das pessoas.
 
Achei também um certo interesse ao contraste entre os dois entrevistados, eu, que nasci na classe média, habituado aos confortos modernos desde a nascença e a senhora idosa alentejana, criada no campo, numa pobreza tão característica dos meios rurais portugueses do passado e que agora vive feliz, porque tem uma casa de banho, horrorosamente setentona é certo, mas um supremo luxo para ela. Quase que me envergonhei da minha snobeira em tornar a minha casa de banho, um espaço cuidadosamente decorado com coisas em segunda mão, quando a senhora disse que não lia no wc porque era analfabeta. Mas enfim, não posso flagelar-me e sentir-me culpado da miséria que até uns cinquenta anos caracterizava Portugal. A via que escolhi seguir na vida, a cultura, o património e a história não é feita à custa da pobreza dos outros.

15 comentários:

  1. Curioso, o vídeo.
    Também gosto de fugir ao que é comum em termos de decoração e gosto das bonitas peças que tem na sua casa-de-banho ! :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isabel.

      Obrigado pelo seu comentário. Com um certo engenho e imaginação, podemos sempre transformar espaços banais e tristes em qualquer coisa mais divertida e alegre para se poder viver. Também é verdade que uma casa antiga com os seus ângulos insólitos tem sempre mais possibilidade em termos decorativos, que as divisões rigorosamente simétricas dos apartamentos modernos.

      Um abraço

      Eliminar
  2. Caro Luis

    Finalmente o meu pc tem som...saí da era das imagens mudas...e os sons complementam-se na ampla visão que temos das coisas.
    É curioso que nos ultimos anos tenho sido uma figura sombria que visita feiras de velharias e em tudo o que coloco a mão é extremamente caro. Creio que o Luis tem um fragmento de sorte e intuição nas suas investidas pelas feiras de velharias.As respostas que oiço são: O Sr sabe que tem aí uma peça boa...é faiança de Coimbra...etc e etc....que pena...ficam lá..
    Os objectos de que nos rodeamos são um pouco da nossa imagem e um pouco do nosso grito silêncioso.Não é por acaso que nos sentimos atraídos por elas...Quando vejo uma peça nessas feiras, é esse artefacto que tenta comunicar comigo....e o sentimento de posse é emanado por essa peça, não por mim...
    Felicito-o mais uma vez pelo contributo e empenho que tem dado no seu blog
    Cumprimentos
    Vitor Pires

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Vítor

      Ainda bem que o seu PC entrou na era do sonoro.

      Comprar velharias é sempre uma pequena aventura. Também tenho muitas vezes o mesmo problema do Vítor e há certas bancas das quais nem me aproximo, porque já sei que quando me interessar por algum objecto vão me responder que é pombalino, é francês, é de Miragaia ou é do século XVII e vão pedir-me uma enormidade de euros. Por outro lado, há sempre vendedores mais sensatos, que negoceiam os preços e querem fazer dinheiro e regressar a casa com a carrinha bem menos carregada e são sempre a esses que eu me dirijo.

      Os objectos parecem ter por vezes uma estranha vida interior, ou talvez nós sejamos tão românticos ao ponto de pressentir neles, as histórias de vida, que presenciaram outrora.

      Um grande abraço e obrigado pelas palavras simpáticas

      Eliminar
  3. Continuas a tua carreira televisiva. Qualquer dia convidam-te para fazer um programa só teu!

    Quanto a mim, apesar de ter vivido em ambientes algo primitivos em Moçambique, houve algo em que os meus pais sempre se empenharam: acesso à higiene diária através da construção de um wc, ainda que, muitas vezes, não fosse completo; em alguns sítios onde vivi, a civilização, tal como a conhecemos hoje, ainda estava longe.
    A casa da minha avó aqui em Portugal, a única antepassada que conheci, tinha uma sanita artesanal que despejava para o quintal, e pouco mais ... todo o resto da higiene era feita em bacias, selhas e baldes.
    A história da senhora alentejana não estava fora de contexto do ambiente que se vivia no Portugal rural até aos anos 50/60 do século XX.
    Lembro-me como, durante dois curtos períodos da minha vida, cheguei a habitar uma cabana situada no alto dos Dolomitas, em que o espaço de higiene se tratava de um regato de água gelada que vinha pela encosta abaixo, passava por um cubículo em pedra com uma abertura para o exterior, sem janela, que se denominava pomposamente de "bagno", recebia as águas das lavagens, e seguia novamente encosta abaixo ... fui feliz ali, apesar do rudimentar espaço.
    No cimo do Atlas, tratava-se de um buraco no chão com uma mangueira de água que estava colocada, estrategicamente, ao lado (esta mangueira era o luxo supremo).
    Nas mansardas de Paris ("sous les toits de Paris") limitava-se igualmente a um espaço negro, com uma única abertura para o exterior, também sem janela, com um buraco no chão, uma torneira pública no corredor e um duche tomado com um balde, como eram os espaços ocupados por muitos imigrantes da América Latina que ali conheci. O "banho" mais "luxuoso" que ali conheci também, tratava-se de um grande frigorífico esventrado com uma torneira de duche ... e era o supremo luxo para aqueles imigrantes que, não obstante as condições em que habitavam, viviam no topo de grande e burguês edifício Haussmanniano, situado em pleno "seizième arrondissement", um dos mais prestigiosos da capital francesa!!!!
    Algumas casas de banho que conheci em África eram verdadeiramente salas de recreio, grandes superfícies envidraçadas que permitiam a luz natural em catadupas, cheios de plantas, prateleiras pelas paredes cheias de livros (li muitas vezes), mobiliário de verga pintado de branco coberto com confortáveis almofadões de tecido sarapintado de grandes rosas; só as bacias de lavagem eram públicas, pois a sanita e o banho situavam-se em pequenos reservados que davam sobre este espaço de convívio - a porta que lhe dava acesso não era fechada à chave.

    Mas estiveste muito bem ... continua
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel

      Não tenho conhecimentos suficientes de antiguidades ou velharias para manter um programa. No fundo, conheço apenas bem as peças que tenho em casa, isto é, estampas, faianças, alguma porcelana e um pouco de mobiliário. Tenho é alguma capacidade para fazer um discurso simples, capaz de ser entendido pela maioria das pessoas.

      A generalização da casa de banho é recente, não só em Portugal, como no resto da Europa. Vi recentemente um documentário sobre os tempos de exílio em França de Mário Soares e Maria Barroso e nesse programa contava-se que o casal tinha um pequeno apartamento em Paris, com um luxo supremo, uma casa de banho, que era muito invejada por todos os refugiados portugueses, que viviam em sítios, em que um único WC e duche casa de banho servia não-sei-quantos apartamentos.

      Também me recordo que no solar de Outeiro Seco, a casa de banho resumia-se a um cubículo, com um estrado onde estavam instaladas duas pias em louça, sem água corrente e os dejectos caiam numas das lojas do andar térreo, que ao fim de uns tempos eram reaproveitados para compostagem. Portanto, muito antes dos Finlandeses, já cá em Portugal se aproveitavam os dejectos humanos para estrume. Água corrente no solar não existia. Usava-se água de uma bica existente no pátio de honra. A higiene fazia-se nos quartos nas cómodas lavatórios, o banho toma-se em tinas com água aquecida na cozinha e apesar de fidalgos, julgo que os Montalvões tomariam ainda menos vezes banho que a senhora alentejana do programa.

      Obrigado e um abraço

      Eliminar
  4. Luís

    A sua carreira de espectáculo continua em grande! Para além da simpatia e fotogenia, impressiona pelos conhecimentos que demonstra e pelo ecletismo dos seus interesses.
    Também me lembro das casas transmontanas cujas casas de banho eram afastadas, normalmente numa propriedade algo próxima.
    Nos quartos existiam aquelas mesas próprias, normalmente com um tampo de mármore, onde se colocavam os conjuntos formados por bacia, jarro e saboneteira.
    Mais uma vez, parabéns.

    if

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ivete

      Muito obrigado. Essas cômodas ou mesas com tampos de mármore, que por vezes poderiam apresentar também um espelho, destinadas a conter uma bacia e um jarro de água eram muito comuns nas casas portuguesas até há bem pouco tempo, pelos meno nas habitações das pessoas com algum desafogo económico. Aliás, nas lojas de velharias encontram-se muitos desses móveis a bom preço.

      Quanto à fotogenia, na produção maquilham sempre as pessoas, de modo que as olheiras e outras mazelas ficam sempre muito bem disfarçadas.

      Um abraço

      Eliminar
  5. Parabéns, Luís!
    Gostei muito de o ver de novo na TV a divulgar este gosto tão especial por velharias. Sempre me surprende pelo à-vontade e facilidade de comunicação que tem demonstrado frente às câmaras. E a sua casa-de banho merece bem o protagonismo que lhe foi dado!
    Mas somos uma espécie de formigas no carreiro a ir em sentido contrário... ;)
    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Maria Andrade

      Por vezes também não sei onde vou arranjar este à vontade todo. Talvez por saber que as perguntas que me vão fazer serão sempre simples. Em todo o caso, quando estava nos bastidores à espera, vi a primeira parte do programa e assustei-me um bocado, quando vi a Júlia Pinheiro deitada numa cama com lençóis de cetim, juntamente com um galã de uma novela qualquer e o Cláudio Ramos sentado numa meridienne. Tremi a pensar na possibilidade de deitar na cama com a Júlia Pinheiro e o Cláudio Ramos e imaginei que os meus filhos e os meus colegas de trabalho iriam gozar-me para o resto da vida. Mas, pronto, a segunda parte correu muito bem e sentámo-nos todos numas cadeiras muito convencionais.

      Bem sei que somos formigas no carreiro em sentido contrário, mas pela minha parte sempre fui assim e sei que as modas passam e que talvez daqui a uns tempos se deia mais valor ao que é antigo, à reciclagem e á memória no geral.

      Bjos e obrigado pelas suas palavras simpáticas.

      Eliminar
  6. Luís,
    Não consegui ver o vídeo por causa dos apresentadores, peço desculpa. Gostava de ter a sua participação. Talvez, avance e consiga.
    A sua casa de banho está com muito bom gosto. É um espaço que é importante sentirmos-nos bem pois ali começamos o dia.
    Parabéns por aparecer na tv e pela escolha positiva de quem o lá levou.
    Beijinho.:))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ana

      Não se preocupe. Sabe que estes programas destinados ao grande público são sempre um bocadinho lineares. O melhor é avançar com o cursor no final do filme para chegar à parte em que mostram a minha casa.

      Bjos e obrigado pela sua franqueza

      Eliminar
  7. Só hoje fui ver o Queridas Manhãs, pois estava viajando e esqueço de internet em viagens.
    Não sabia que havia um dia dedicado aos banheiros...agora tem dia para tudo, uma cafonice só.
    Achei bem legal até, informações úteis sobre penicos e a "solução" encontrada para os cocôs na Finlândia: congela! KKK.
    O seu banheiro é uma coisa! As travessas na parede...lindo. Queridos dias você deve passar por lá!
    Abraços.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Jorge

      É verdade. Há dias mundiais para tudo. No caso das casas de banho, isto tem a ver com uma preocupação de saúde pública, pois no terceiro mundo há muita gente a viver sem dispor de tal. No passado, ainda durante o século XIX houve epidemias terríveis de tifo e cólera na Europa, que atingiram todos os estractos sociais da população, precisamente por falta de condições de higiene. Em Portugal, uma dessas epidemias vitimou o próprio rei, D. Pedro V e a sua mulher, D. Estefânia. A generalização das casas de banho que começa nas classes altas nos finais do XIX e se vai estendo por toda a população ao longo do século XX tem a ver com a preocupações com a saúde pública, sentidas pelos médicos.

      Um abraço e ainda bem que gostou da minha casa de banho

      Eliminar