Apesar de ter não sei quantos açucareiros em casa, expostos num pequeno louceiro, no dia-a-dia deitava açúcar directamente do boião para a chávena. Como a minha filha se tivesse queixado dessa prática um pouco desleixada, resolvi comprar um açucareiro para uso corrente na feira de velharias de Estremoz. Encontrei um velho açucareiro em casquinha, bonito é certo, mas que já tinha perdido praticamente quase todo o banho de prata, a que foi submetido aquando do seu fabrico. Mas, como era de metal, portanto inquebrável e até me agradava aquela cor velha entre o vermelho e o dourado, comprei-o por um preço muitíssimo em conta. Aproveitei e comprei uma caixa de chá com a mesma decoração e que também já tinha perdido toda a casquinha de prata.
Antes da aplicação do Pratex |
Coloquei as duas peças a uso e vivia contente com elas, até que o meu amigo Manel me falou num produto, o Pratex, que devolve a prata, às velhas peças, que perderam o seu revestimento original. Resolvi levar o açucareiro e a caixa de chá para o Alentejo, onde mediante um algodãozinho lhes apliquei o Pratex, deixei secar e puxei lustro e o resultado foi maravilhoso, tão fantástico, que resolvi nalgumas zonas, aplicar em menor quantidade o preferido produto, para deixar aqui e acolá alguma patine, o chamado toque do tempo.
Antes da aplicação do Pratex |
Aproveitei também a ocasião para tentar apurar alguma coisa acerca da época e do local onde estas peças foram produzidas, mas obtive poucos resultados. No verso, o açucareiro apresenta a marca EPNS, sigla que se refere ao método pela qual a peça foi prateada, Electro Plated Nickel Silver e não a um fabricante em especial. No fundo a sigla EPNS servia para o consumidor saber que estava a comprar um açucareiro ou uma salva com um banho em prata e não uma genuína peça em prata. O açucareiro apresenta umas marcas na asa, mas tão pequeninas, que não as consegui ler.
EPNS (Electro Plated Nickel Silver) |
Não consegui identificar as marcas na asa |
O processo EPNS (Electro Plated Nickel Silver) foi inventado logo nos primeiros anos do século XIX, mas só começou a ser aplicado à indústria a partir de 1840 pelos ingleses George Elkington and Henry Elkington e rapidamente se generalizou pela Europa e pelos Estados Unidos. A sigla EPNS foi usada sobretudo pelos fabricantes ingleses e americanos.
Caixa de chá encontrada à venda no e-bay em Inglaterra e dada como peça vitoriana. |
Não consegui avançar muito mais nas minhas pesquisas sobre a identificação destas duas peças, mas encontrei muitas peças com decoração semelhante ou igual à venda nos sites ingleses, datadas dos finais do século XIX e nessa época mercado da casquinha era dominado pelo Reino Unido. É provável que este açucareiro e esta caixa de chá tenham sido feitos em Inglaterra, nos finais do século XIX ou mesmo até no início do XX, por algum fabricante de Sheffield, cidade inglesa onde se concentrou grande parte da indústria de cutelaria, aço e metais do Reino Unido.
Alguns links consultados: http://www.silvercollection.it/dictionarysilverplatesymbols.html
As peças ficaram bonitas.
ResponderEliminarTinha comprado o produto há relativamente pouco tempo, deu resultado em alguns suportes, noutros nem por isso.
No entanto, parece que é mais adequado a este que compõe estas tuas peças.
Descobri também que, deixar algumas "falhas", ajuda a criar um sentido de patine que é muito agradável.
As tuas peças parecem-me ser do século XIX.
Manel
Manel
EliminarEste Pratex foi uma descoberta tua maravilhosa. No facebbok já duas pessoas me contactaram para descobrir onde se compra o Pratex, que é na Rua da Escola Politécnica nº 33 1250-099 Lisboa 914 483 890.
Com efeito, não queria que as peças parecessem demasiado novas, de modo que apliquei menos produto, numa ou outra parte.
Fiz muitas pesquisas na net e encontrei muitas peças inglesas em casquinha, semelhantes a estas e datadas dos finais do XIX. São peças vitorianas inspiradas nos modelos neoclássicos feitos em prata genuína e destinadas a uma burguesia, que já vivia suficientemente bem para comprar casquinha, mas ainda sem dinheiro para a prata.
Um abraço
Achei lindos o açucareiro e o porta chá, gostei da forma toda facetada. Eu adoro esses antigos aparelhos feitos de metal e banhados à prata que quando ficam velhos e perdem a pátina ficam super bonitos.
ResponderEliminarAqui no Brasil as peças banhadas a prata chamavam de electoprata. Quem não tinha cão caçava com gato, quem não tinha dinheiro pra comprar aparelhos de chá e faqueiros de prata, o jeito era se conformar com a electoprata que demorava bastante para perder o banho de prata. Esse metal também era chamado de prata alemã, que é a alpaca, liga de metal que eu acho linda.
Aqui em Salvador, muitos hippies nos anos 70 usavam a alpaca para fazer joias. Eu tenho um anel super bonito. Hoje não tem mais esses artesãos que vendiam na rua. Há alguns anos mandei fazer um anel de alpaca misturado com cobre, ficou bonito. A alpaca tem uma beleza diferente da prata, é amarelada e menos brilhante, mas muito bonita. Com a alpaca se fazia muito material para montaria.
Eu tinha um cinto com fivela de alpaca que, infelizmente, eu fiz a loucura de dar...
Tenho uns talheres de electoprata/alpaca que gosto demais, gastos, meio poídos pelo uso e alguns deixo expostos na cozinha.
E salve a alpaca!
Um abraço.
Jorge
EliminarAo longo da primeira metade do século XIX os ingleses desenvolveram uma série de processos industriais de colocar no mercado produtos que pareciam prata, com um preço ao alcance de um grande número de pessoas, tais como a casquinha/ electoprata, que consiste em dar um banho de prata às peças ou a alpaca, uma liga de cobre, níquel e zinco, que também parecia prata.
Os talheres de alpaca compram-se aqui por muito bom preço. O Manel comprou um desses faqueiros quase completo. Esses talheres de alpaca são lindos, mas tem um grande inconveniente, não podem ir à máquina de lavar loiça. Eu por exemplo, detesto lavar loiça à mão, mas o meu Amigo Manel, que não se importa tem-nos a uso corrente.
Eu também gostei muitas destas peças em casquinha já muito gastas e que por essa razão foram baratíssimas, aliás, quando lhe apliquei o pratex, procurei deixar uma ou outra parte com menos produto, para que não parecessem que tinham acabado de sair da loja.
Acho que hoje em dia, passados 100 ou duzentos anos, as imitações do passado tem um, grande charme.
Um grande abraço