Comprei esta xícara e o respectivo pires na feira de Estremoz por um preço muito convidativo. Apresenta uma decoração floral, que preenche toda a superfície das peças, em tons de azul-escuro, características típicas da faiança inglesa do início do século XIX. Mais tarde, logo na década de 40 desse século, os azuis tornam-se mais claros e a decoração menos carregada. Quanto, a forma, a xícara não apresenta asa, o que normalmente nos indica que se trata de uma peça antiga, pelo menos do primeiro quartel do século XIX.
A atribuição não oferece dúvidas, pois apresenta a marca impressa Davenport, que na chávena, quer no pires. Segundo página thepotteries.org, que é sempre uma referência para quem se interessa, por faiança inglesa, esta marca foi usada por aquela fábrica britânica entre 1805-1820.
A Davenport (1794-1887) foi uma das fábricas mais importantes em Inglaterra do século XIX, mas também no mercado internacional e com efeito, aparece muita louça de Davenport nas feiras de velharias e nos antiquários em Portugal, o que traduz a popularidade dessa companhia no também nosso País. A Davenport fabricou uma faiança de alta qualidade, destinada a uma burguesia, sem meios para encomendar uma Companhia das Índias ou um serviço de porcelana de Paris, mas que apreciava esta louça azul e branca tão decorativa e que fazia um vistão nas suas casas, tanto à mesa como arrumada no aparador de uma sala de jantar. Ainda hoje, passados cerca de 200 anos, a loiça inglesa dessa época, sobretudo se exposta em conjunto continua a seduzir-nos.
O padrão usado neste conjunto é uma decoração à feita com rosas e já que me falta bibliografia especializada sobre faiança inglesa do século XIX tentei encontrar qualquer informação sobre esta decoração na net. Na página da wikipedia inglesa sobre a Davenport refere-se que um dos empregados desta fábrica foi o artista James Holland (1800–1872), que se notabilizou pelas suas pinturas forais. Tentei explorar essa possibilidade, de que esta decoração tivesse sido idealizada por aquele pintor paisagista, mas em vão. Além disso, praticamente todas fábricas inglesas neste época, mais ou menos por volta de 1820, produziam pratos e travessas, decoradas com bordaduras de flores não muito diferentes destas. Talvez seja mais raro é toda a superfície ser decorada com flores, como esta chávena. Normalmente, no centro do prato ou travessa constava uma paisagem romântica, a vista de uma cidade, um lago, ou uma cena campestre com umas vaquinhas a pastar.
Resolvi então pesquisar no Google pelos termos white and blue english pottery, early 19 th century, excluindo a palavra Davenport e consegui perceber que este motivo das rosas foi fabricado não só pela Davenport, como também pela Wedgwood, uma das marcas inglesas com mais prestígio. Encontrei dois pratos exactamente iguais no site https://www.blueandwhite.com e no blog da Judy Dish marcados Wedgwood.
Prato da Wedgwood, padrão Rosas, c. 1825. foto de https://www.blueandwhite.com |
Prato da Wedgwood, padrão Rosas, c. 1825. foto de http://dishynews.blogspot.com/2013/07/roses-on-transferware.html |
Este fenómeno, o mesmo padrão ser usado por mais que uma fábrica e por vezes, até por três ou quatro fábricas é muito comum na faiança inglesa do século XIX, e para um coleccionador amador como eu é impossível saber qual delas concebeu o desenho original.
Em suma, esta chávena e pires foram fabricados pela Davenport, talvez por volta de 1820, usando um padrão decorativo com rosas, também produzido pela Wedgwood.
Algumas ligações consultadas:
Este conjunto tem sempre a nostalgia das faianças inglesas de inícios do XIX e do azul e branco característicos.
ResponderEliminarGosto imenso deste "horror ao vazio" que caracteriza os designs pintados sobre a louça deste período.
Faz-me sempre lembrar a quantidade de faiança inglesa que a atriz americana Gloria Swanson colecionou ao longo da sua vida e que, após a sua morte, apareceram à venda no mercado. De se ficar muito surpreendido.
Ela era outra, das muitas pessoas, que nutrem um encanto muito especial por este tipo de peças.
Não sei bem explicar esta compulsão, pois sei que são peças que raramente (se alguma vez) se utilizarão no dia-a-dia (ou mesmo em dias especiais), e se destinam às prateleiras de um aparador, de uma vitrine, ou então, se em grande número, às prateleiras de qualquer sítio de arrumos de loiça, escondidos num qualquer móvel de uma despensa, copa ou sala de jantar.
É o fascínio que sobre nós exerce este tipo de peças!
Manel
Manel
EliminarInfelizmente não podemos usar estas loiças no dia à dia. Mesmo em bom estado, há sempre um cabelo, uma lasca, que nas lavagens sucessivas, farão estalar o prato, ou a travessa em dúzias de pedaços. Como diria, uma conservadora de museu conhecida, o destino de toda a loiça é partir-se. Enfim, se queremos que estas peças sobrevivam mais uma dezenas de anos temos que as colocar na parede, num aparador ou expositor.
A faiança inglesa a primeira metade do século XIX é linda e mesmo não sendo porcelana, a decoração é tão feliz, que nos apaixonamos por elas.
Esta xícara é também um bom exemplo de como o mesmo padrão foi usado por várias fábricas inglesas em simultâneo.
Um abraço
O conjunto é muito bonito. Bom dia!
ResponderEliminarMargarida. Muito obrigado pelo seu simpático comentário. Um resto de um bom Domingo e um abraço
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