segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Desfile por ocasião da coroação do imperador Carlos VI


Comprei esta bela gravura do início do século XVIII, muito barata, em Budapeste, num alfarrabista da rua Vaci. A Vaci é uma artéria pedonal, cheia de lojas, muito comprida, que está para a capital magiar, como a Rua Augusta para Lisboa. Foi uma trapalhada completa compra-la, pois toda a rede de multibancos e cartões de crédito da cidade tinha falhado nesse dia. Tive que acabar por trocar escudos por florins numa das centenas de casas de Câmbio que existiam então no centro da cidade.

Foi uma paixão à primeira vista pois nunca tinha visto nada assim. Trata-se de uma gravura de grandes dimensões, dividida em 31 linhas, que representa um desfile de gala completo, com variadíssimos tipos de coches, cavaleiros e peões. Cada um deles está numerado e deve ter existido uma folha à parte com as legendas dos números, onde se poderia saber quem seriam aquelas digníssimas pessoas, que faziam parte do cortejo. Esta representação da coroação de Carlos VI como imperador do Sacro Império Romano Germânico, na cidade de Frankfurt é muito semelhante à técnica da Banda Desenhada

Não sei se esta gravura fazia parte dum livro. Talvez fosse vendida como folha volante, para que aqueles que não pusessem ter assistido à coração, ficarem com uma ideia do esplendor da cerimónia. A minha colega Eva-Maria sugeriu-me até que seria vendida em forma de rolo.

Infelizmente o documento não apresenta o nome do impressor, nem do gravador. Só tem a legenda em alemão, identificando o evento e a data Einzug Ihro Römischen Kayserlichen Mayestaet Caroli VI in Frankfurt am Mayn / Den 19 Dech Ao 1711.

Frankfurt sobre o Meno era o local tradicional de coroação dos imperadores do Sacro Império, entidade supra nacional, que incluía não só os domínios dos Habsburgos como também toda a Alemanha.

Para nós Portugueses, o nome de Carlos VI não nos diz nada. Mas a sua única filha, que para conseguir herdar o trono do pai, teve que se bater com metade da Europa, na chamada guerra da Sucessão, é nada menos nada mais do que a célebre Maria Teresa de Áustria, a déspota iluminada, que foi mãe de outra celebridade histórica, Maria Antonieta, rainha de França.


Mais recentemente, a Eva Maria, minha colega, enviou-me uma imagem, que representa a última embaixada polaca em Istambul, em 1790, que adopta um esquema gráfico idêntico ao da minha gravura

3 comentários:

  1. Mas este Carlos VI tinha tudo a ver connosco, pois era nada menos que primo direito do nosso D. João V, pois as mães eram irmãs.
    E chegou a assumir a coroa de Aragão, que abandonou pela da Áustria ... pudera! Eu faria o mesmo!
    E até viajou por Portugal, sendo aqui muito bem recebido, pois, como possível herdeiro da coroa espanhola, era tido como "persona non grata" por Carlos II, que lhe preferiu Filipe V, o Bourbon, neto de Luís XIV; nós por aqui, já no final do período da restauração, e ainda de candeias às avessas com os espanhóis, fizemo-lo sentir-se em casa!
    Manel

    ResponderEliminar
  2. Muito bom e belo Luis! Foi um verdadeiro achado,resta saber se essa rua têm sempre tão boas pechinchas históricas??

    Grande abraço!

    ResponderEliminar
  3. João Paulo.
    Na altura, em 2000, quando comprei esta gravura, Budapeste era uma cidade relativamente barata para os portugueses. Não sei se continuará assim. A evolução das economias do Leste europeu tem sido muito rápida. Bem e depois há sempre golpes de sorte em que descobrem óptimas oportunidades.

    Manel,
    Obrigado pelo teu contributo sobre o Carlos VI. Completas-te uma falha no meu post. De facto, esquecemo-nos que estas personalidades históricas europeias eram todas aparentadas entre si e formavam uma teia de influências e interesses que se estendia a todo o continente. Este Carlos VI era contemporâneo
    dos nossos velhos conhecidos, a Princesa dos Ursinos, Luís XIV, Madame de Maintenon e muitos outros, que tem sido tema de tantas leituras que fizemos nos últimos tempos.

    ResponderEliminar