Numas das minhas últimas idas à feira-da-Ladra perdi a cabeça e comprei esta pequena Vénus pré-histórica. Embora tenha uma predilecção dominante pelos dourados, pelos damascos escarlates e pelo barroco, também me encanto por peças rústicas, populares ou muito primitivas e esta peça, estava lá no chão a chamar por mim e não fui capaz de lhe resistir. Não faço a menor ideia onde o vendedor a foi desencantar e até é bom nem fazer muitas conjecturas sobre a sua proveniência…
Estas esculturas são muitas vezes designadas por Vénus de Willendorf, que é a obra de arte mais famosa deste género e que se acha guardada num museu em Viena. É curioso observar que a minha peça tem mais ou menos as mesmas características da Vénus de Willendorf, cerca de 11 cm, material calcário, um grande ventre, grandes seios, rosto mal esboçado e braços quase imperceptíveis. Claro, a peça de Viena, tem uns cabelos muito bem esculpidos e no geral é uma obra de melhor qualidade, não fosse ela uma das esculturas mais famosas de toda a pré-história.
Foi muito complicado descobrir um bom sítio para a pendurar em minha casa, pois é um tipo de peça que carece de uma luz especial. Estas esculturas pré-históricas valem talvez muito mais pelo significado que ocultam em si mesmas, do que propriamente pela forma em que se apresentam, pois mais não são do que calhaus afeiçoados pela mão humana. Para valorizar este significado mágico, é necessário darmos-lhes uma luz dramática, que lhe empreste de novo a áurea sagrada de um ídolo poderoso, iluminado pela luz de uma fogueira, no interior de uma cabana rústica numa noite de Inverno, algures no Paleolítico Superior.
A última fotografia está muito interessante.
ResponderEliminarA incidência da luz faz com a peça se pareça também com uma cabeça de animal.
Que interessante. Realmente estas peças vivem através das sombras que criam e das imagens que despertam no nosso imaginário.
Manel
Tenho quase a certeza que vi esta peça no chão na feira da ladra no meio de outras tipo achados marinhos e pedras esculpidas em jeito de cruz dos templários. Na altura olhei para a peça e não a associei à Vénus de Willendorf, acabei o 12º à pouco, mas já sou cota...risos) e lembro que fiz um trabalho sobre escultura onde a mencionei. Pelo que vi nas postagens além de muito bom gosto na escolha das peças é astuto na sua procura. Eu perco-me nas compras. Gostava de ser mais selectiva. Um bom mote este blog para eu mudar a minha atitude.
ResponderEliminarTem toda a razão. Foi precisamente nesse sítio que esta Vénus me encontrou e que conseguiu que eu a levasse para a minha casa. Sou de facto relativamente selectivo nas compras, talvez porque tenha gostos bem definidos, mas tal como todos nós nos dias que correm, acabo por comprar sem precisar realmente, apenas me compensar das frustrações do quotidiano. Aliás, em abono da verdade, ninguém precisa realmente de velharias e as antiguidades devem ser os bens mais inúteis que se pode ter em casa. Mas, há gente como eu e provavelmente a Maria da Luz, que gostam de se rodear de passado, de móveis com recordações, de objectos simbólicos que nos façam sentir um pouco mais confortáveis num mundo chato e agressivo
ResponderEliminarRi-me muito com o seu comentário bem humorado
Bem haja pelas suas palavras. Comungo na integra o que diz sobre a "compensação" que as velharias nos oferecem.Afinal vi a sua Vénus, quem diria! Vou sempre às feiras de manhã. Mais uma técnica.Tenho 3 casas todas cheias de velharias. Selecciono-as por qualidade entre a casa onde moro, a 2ª hab e uma rural muito antiga, infelizmente esta foi assaltada no inicio deste ano, roubaram-me 50 peças em faiança, eram 49 e no verão ao abrir a mesinha de cabeceira para limpar reparei que o penico de Sacavem também tinha ido.Quanto à sua travessa dita de "Vilar de Mouros" julgo não ser.Apesar da estanpagem tipo chalet ser caracteristico dessa fábrica o rebordo não é, tem que continuar a pesquisa mais para o centro entre Aveiro,até Alcobaça. Com esta me vou. Ah, em jeito de remate confesso que fiquei fã da forma como escreve. Quanto a mim, escrevo demais, torno-me monótoma, quicá cansativa. Desculpe. Xau.
ResponderEliminarAinda bem que descobri uma aficionada de faiança. Um dos objectivos deste blog era congregar pessoas com gosto pelas faianças portuguesas e desejosas de trocar conhecimentos na área de uma forma informal, evitando academismos e outras coisas tolas.
ResponderEliminarDe facto, não me convenci que a tal travessinha fosse Vilar dos Mouros. Alias, a primeira vez que a vi, achei que era Alcobaça, mas como nos catálogos dos leiloeiros e nos antiquários o motivo era sempre atribuído a Vilar de Mouros, acabei por mudar de opinião sem convicção.
Fazer atribuições na faiança portuguesa constitui uma grande trapalhada, pois muito raramente as peças são marcadas, os fabricantes copiavam-se descaradamente uns aos outros, os artificies saltavam de oficina para oficina levando consigo os moldes e motivos e toda agente usava o barro da região Oeste.
Só lhe peço uma coisa, ó Luz Maria, por favor, faça comentários à faiança nos posts da faiança, pois só dessa maneira, este blog conseguirá ser didáctico, para quem vá aqui a parar, à mercê de pesquisas no google.
Agradeço as suas palavras sobre a minha forma de escrever, pois raramente recebi elogios sobre os meus dotes literários. lol. É verdade, deixou de ser seguidora do meu blog. Alguma razão em particular? Pessoalmente, espero que continue a fazer comentários.
Abraço
Isso é uma falsificação, aparece na feira da ladra regularmente um senhor "do alentejo", que vende tesouros semelhantes ao seu, o único "MAS" é que ele é já foi várias vezes agredido por ter vendido falsificação do "calibre" da sua, e os "habitués" da feira (leia-se abutres) já todos sabem que nem é bom chegar perto desse senhor.. Vai uma aposta em como isso é falso? Se a vida fosse fácil tornar-se ia aborrecida, né :p
ResponderEliminarCaro amigo
ResponderEliminarJá me disseram outros habitués da Feira e meus seguidores no blog, que estas vénus são falsas e devem ter razão, estudando um pouco pré-história, fica-se a conhecer que estas vénus são muito raras na Península. No entanto, para falsificações são muito boas e foram baratas.
Abraço e volte sempre
Luís