sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pequeno oratório neogótico com Cristo


Sendo um homem sem fé, não sei exactamente porque encho a casa com Cristos. Talvez, por pertencer aquela geração dos anos 80, de que a cantora Madonna se tornou um símbolo, ao vestir-se de preto, como as velhas das aldeias sicilianas ou portuguesas e se enfeitou com crucifixos nas roupas, nas orelhas, nos cabelos e no peito. Creio no entanto que com os Cristos e a arte sacra a espalharem-se de forma invasiva pelo meu apartamento, procuro rodear-me dum ambiente diferente, que me transporta a casas de vilas e aldeias portuguesas do passado ou aquele ambiente barroco e carregado das nossas igrejas. Decorei a minha casa de uma forma completamente alheia à moda e ninguém ali encontrará qualquer coisa dos ambientes minimalistas, que imperam na decoração contemporânea. Uma casa é um refúgio e na minha procuro esquecer, que há um tempo lá fora em Portugal que é profundamente agressivo para o cidadão.
Enfim, hoje deu-me para isto. Mas o meu objectivo é falar deste pequeno oratório, em forma de capela gótica, que comprei por pouco dinheiro, numa casa de velharias ali para o Bairro das Colónias. Deve ser uma coisa do século XX, talvez dos anos 20, 30 ou até mesmo 40 ou 50. Esteve muito tempo pendurado na minha casa só com uma estampa religiosa. Depois, o meu amigo Manel, teve a gentileza de oferecer-me mais um Cristo, com a medida certa do oratório, pois apercebeu-se que na minha casa ainda não existiam imagens do Nazareno em número suficiente. O oratório foi depois forrado com os restos de um tecido de Damasco que o Manel me deu e o resultado ficou bastante convincente.

4 comentários:

  1. Eu via ali o oratório tão solitário e vazio que não resisti mais em conluiar-me no sentido de o preencher com quem de direito!
    E creio que ficou bonito, apesar do Cristo não ser uma peça excepcional.
    Quanto ao damasco ficou melhor na tua peça que naquela, similar, onde o usei, em minha casa!
    E o Cristo até tem um não sei quê de Vénus de Milo (que me perdoem a blasfémia, mas não é intencional).
    Manel

    ResponderEliminar
  2. Sempre adorei Cristos sem braços. Essa falha dá-lhes o mesmo tipo de beleza da Vénus de Milo, um belo que o tempo impiedoso esculpiu nas obras de de arte, parafraseando um bocadinho a Yourcenar.

    ResponderEliminar
  3. Gosto quando o Luís nos deixa "espreitar" um bocadinho a sua casa.
    Sempre a adivinhei, tal como a descreve: completamente alheia à moda,nada de ambientes minimalistas, que nos escondem a alma dos seus donos,que fazem as vozes e passos ecoar dando um ar desabitado às casas.
    Não me identifico nem um bocadinho com casas,onde se percebe, que os donos, pouco ou nada têm a ver com o que lá está dentro.
    Gosto do Cristo que mostra;tem um ar frágil e sofrido.O oratório também é lindo, mas...o gótico provoca-me sempre um certo desconforto.
    Um abraço
    Maria Gabela

    ResponderEliminar
  4. Cara Maria Gabela

    Obrigado pelo seu comentário.

    É curioso que o apesar de gostar deste oratório, as minhas preferências vão também para o barroco, o românico, ou os estilos primitivos.

    Julgo que o barroco foi um estilo tão forte e vigoroso em Portugal, que se enraizou nos nossos gostos.

    Por outro lado associamos muitas vezes o gótico à arquitectura e decoração tumulares, que estiveram muito em voga nos cemitérios portugueses nos finais do séc. XIX, príncipios do XX.

    Abraços e é sempre um prazer vê-la neste blog

    ResponderEliminar