segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ménade


Os museus e palácios do Ministério da Cultura têm uma rede de lojas onde se vendem excelentes réplicas das suas colecções, sempre escolhidas por gente com um gosto irrepreensível.

Há uns tempos, entrei numa dessas lojas e descobri esta réplica de um fragmento de relevo, existente no Museu de Évora, que me apaixonou completamente e levei-a para casa.

A irregularidade dos planos e a falta de esquadria da água furtada antiga onde vivo parecem talhadas para receber fragmentos, ruínas e partes de objectos como esta Ménade. Parece que os séculos a partiram especialmente para caber entre o tecto e a televisão da minha casa.


Segundo o Museu de Évora As Ménades eram umas ninfas que alimentaram o Deus Baco e são conhecidas como as bacantes divinas. Inspiradas pela embriaguez cantam e dançam freneticamente até serem possuídas por um êxtase místico. Representam-se nuas ou vestidas com véus ligeiros que mal lhes dissimulam a nudez. Em grupo de nove, dançam coroadas de hera, e trazem na mão um tirso, por vezes um cântaro, ou então tocam um instrumento como uma flauta de dois tubos ou um tamborim.

As Ménades representam a irracionalidade e o abandono aos instintos e talvez por essa razão esta Ménade se tenha adaptado tão bem à minha casa tão irregular e assimétrica.
Esta peça é uma réplica de um original romano, da época do imperador Augusto (31 a. C a 14 d. C), achado no século XVIII nos alicerces da muralha romana de Beja. Depois, fez parte da colecção do célebre Arcebispo de Évora, frei Manuel do Cenáculo, que por sua vez esteve na origem do núcleo inicial do Museu de Évora

5 comentários:

  1. Caro Luís
    Também eu adoro ver as vitrines do átrio da entrada dos Museus. Contemplar réplicas emblemáticas. Já trouxe, sobretudo luzernas ou candeias romanas.
    Mais do que a beleza ímpar da Ménade que aqui aprendi, adorei ver o tecto inclinado da sala com um espelho soberbo, não consigo perceber como o segurou na parede, um enigma. O seu sentido de estética extravasa o senso comum. Eu acaso entrasse na sua casa demorava horas a contemplar cada pormenor e a deleitar-me claro está sem nunca me cansar.
    Fiquei com uma duvida quando refere "e trazem na mão um tirso, por vezes um cântaro"
    O que é um tirso? ou será terço?
    Bom gosto, delicada decoração, obrigada por nos mostrar tão lindos e recatados cantos da sua casa,
    Beijos
    Isabel

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  2. Cara Isabel

    Segundo a Wikipedia, Tirso vem do grego "thyrsos" e "era um bastão envolvido em hera e ramos de videira e encimado por uma pinha.

    Nas mitologia grega (assim como na romana), era usado pelo deus Dioniso (ou Baco) e pelas seguidoras do deus, as ménades (ou bacantes).

    A hera e a videira eram de resto as plantas emblemáticas deste deus. Segundo os textos gregos, as ménades utilizariam os tirsos como uma espécie de arma, sendo conhecidos os cortejos frenéticos em honra a Dionísio (os tíasos) aos quais estas se entregavam.

    Tem sido sugerido que o tirso teria um carácter fálico, sendo a pinha um símbolo para o sémen"

    Como vê estas ménades eram umas raparigas com um comportamento pouco exemplar e simbolizam tudo o que há de irracional e abandono aos instintos.

    O que a Maria Isabel vê no tecto do esconço não é um espelho, mas a moldura de um leque, de que já falei aqui http://velhariasdoluis.blogspot.com/2010/04/o-leque-da-mimi.html.

    O leque está preso em cima e em baixo para se adaptar à inclinação da parede.

    Beijos

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  3. Obrigado Luís.A sua resposta como sempre foi muito explicativa. Nem me lembrei de ir à Wikipédia....lol
    Se quer que lhe diga tinha um feeling que o dito tirso a fazer lembrar-me Santo Tirso e de lá conhecer um belo homem e neles sentir haver qualquer coisa de fálico!
    Opiniões
    Beijos
    Isabel

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  4. Luís
    A sua Ménade é linda, mas o que eu gostei realmente de ver, foi a moldura do leque da sua avó Mimi. É lindo, robusto, não se diria que protege uma peça tão delicada.
    Gostei também do local escolhido.
    Um abraço e bom fim de semana.
    Maria Paula

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