domingo, 11 de março de 2012

Jarro de Massarelos: 1912/1920

Há peças que não são muito antigas nem muito valorizadas no mercado de antiguidades e velharias, como este jarro da fábrica de Massarelos, do início do século XX, mas que tem um valor forte para nós. A minha avó materna só bebia água por ele. Tê-lo em minha casa e vê-lo todos os dias é como poder rever por um momento as férias da minha infância numa casa grande de Trás-os-Montes e recordar-me da minha mãe e das minhas tias, que me contaram a história dele. Hoje, já só eu sei a sua história.
Segundo o Dicionário de marcas de faiança/ Filomena Simas, Sónia Isidro. – Lisboa: Estar Editora, 1996, este jarro terá sido executado entre 1912/1920, anos que a minha avó estaria a ter os primeiros filhos. Começou a dar a luz aos 16 anos, teve sete crianças, tendo a última nascido em 1931.


Não sei o que é que os filhos têm a ver com o jarro, mas as memórias são muitas vezes causadas por simples objectos, que nos mostram que o tempo passou demasiado depressa, que os adultos que protegeram a nossa infância já morreram e que nós já estamos na meia-idade. Os tons sépias idênticos aos das antigas fotografias que Massarelos usou nesta época, emprestam também a este simples objecto uma carga sentimental, que me toca.


E depois há um certo ar de arte nova nesta peça que recorda a Cidade do Porto, que ao contrário de Lisboa manteve e preservou a arquitectura ecléctica dos finais do século XIX, princípios do século XX. Enfim, hoje estou sentimental.


16 comentários:

  1. Independententemente da história de família e do valor sentimental que justificadamente o liga a ele, que bonito é este jarro, Luís!
    Tem efetivamente uma decoração com linhas Arte Nova, que em Portugal coincide muito com o período de produção Massarelos correspondente a esta marca.
    Eu penso que se este jarro aparecesse à venda seria muito valorizado e eu, por exemplo, seria tentada por ele....:)
    Também acho a asa lindíssima!
    Parabéns por possuir mais este tesouro de família.
    Abraços

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  2. Exmo Sr.

    Também eu sou uma admiradora das maravilhosas peças de Vista Alegre com as singelas rosinhas. Possuo algumas (poucas) e não me canso de as admirar.
    Foi por mero acaso que, quase sem querer, e através de uma imagem encontrada na net, que descobri o seu blogue, e com ele me deleitei toda a santa tarde. Deambulei pela história da sua família, e chego à conclusão de que afinal, não sou só eu que me dedico à pesquisa das nossas ancestralidades em todas as suas vertentes!
    Aproveito para dizer que as minhas origens familiares estão na zona de Abrantes/ Sardoal, e que também tenho dedicado horas a fio em Arquivos Distritais, Arquivos Históricos e afins.
    O seu jarro é uma maravilha!
    desejo que consiga desenlear completamente no novelo das partes algo obscuras da história familiar. Sei como é!! As minhas demandas do Santo Graal começaram com a descoberta de uma exposta da Roda...
    Enfim, sem mais delongas despeço-me fazendo votos para que continue sendo o fiel depositário de todas essas memórias, e que consiga passá-las a quem as mereça!

    Aceite os meus cumprimentos

    Alexandra Roldão

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  3. Olá Luís.Gosto muito quando irrompe nas suas memórias de infância. A sua avó era uma senhora requintada, de apurado bom gosto, fina, educada, de linhagem fidalguia.
    Pelo que diz, só bebia água deste jarro de Massarelos, lindíssimo em tons séptia.

    Pois,eu nunca poderia ser tal como ela, sou libertina, espontânea, gosto de beber água em qualquer púcaro, copo, desde que bem lavados, até de coxos de cortiça e juntando as mãos a fazer de concha.

    Uma extraordinária peça de faiança, nunca vi este desenho, gostei francamente da forma como foi decorada e sobretudo da cor utilizada, revela um gosto refinado do pintor, tal qual como o da sua querida avó Mimi, uma senhora interessante, de alto bom gosto e bondosa para os netos, que hoje se relembram dela com tanto carinho, que é no mínimo enternecedor.
    Que sortudo. Nem todos se podem gabar de avós tão extraordinárias. Não sou das mais queixosas.

    Beijos

    Isabel

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  4. Boa tarde caro Luis

    Belo jarro este que aqui nos mostra...a sua avÓ tinha bom gosto em só querer beber água por tão belo jarro!!!

    Em relação ao seu comentário/pedido no meu blog já coloquei outra foto sobre a tal gravura flamenga...pode ser que o amigo consiga descobrir o que significa!!!!!

    Um abraço

    ET

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  5. O jarro é muito bonito e, ainda que não tivesse o significado sentimental que possui, valeria bem a pena tê-lo.
    Se o encontrasse, seguramente não ficaria na banca!
    A cor, o motivo rebuscado, num padrão mais ligado ao arabescos do estilo Art Nouveau, fazem dele uma peça de eleição.
    A tua avó de Vinhais tinha bom gosto e percebe-se como ganhou o hábito.
    Manel

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  6. Olá Luís,
    esta imagem lembrou-me um jarro de igual formato que a minha mãe herdou da minha bisavó. A decoração, pelo que me lembro, era com figuras femininas vestidas com túnicas, a cores. Infelizmente, foi alvo de uma bolada há muitas décadas! A minha mãe colou-a, pelo valor sentimental que tinha mas, tardiamente, refugiou-a num qualquer armário e não a vi mais. Ainda bem que a tua sobreviveu para me lembrar tanta história! Bjs, Luísa.

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  7. Maria Andrade

    Obrigado pelo seu comentário. Esta peça tem de facto muita piada e nunca vi nenhuma peça idêntica nas feiras de velharias aqui do Sul. Julgo que Massarelos não penetrava nos mercados do Sul, sem dúvida por causa da forte concorrência de Sacavém.

    Bjos

    Luís

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  8. Cara Alexandra Roldão.

    Gostei imenso do seu comentário e espero poder continuar a contar consigo aqui neste blog, mas por favor esqueça o Senhor e trate-me por Luís.

    Os blogs permitem que pessoas com interesses comuns se encontrem e partilhem informações e mais, são também um estímulo ao conhecimento. Aqui formou-se um pequeno grupo à volta das velharias e antiguidades, cujos membros se picam uns aos outros para ir mais além mais.

    As memórias são parte integrante dos objectos e a tentativa de reconstituir a sua história é uma procura de saber o que somos e qual foi o contributo dos nossos antepassados para a formação do nosso carácter e cultura.

    Abraços

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  9. Maria Isabel

    Eu também bebo água de um jarro de pyrex, banal e triste, comprado talvez na Polux ou no Continente. Mas em 1910 ou 20, a loiça é ainda cara e quando se comprava uma peça era para toda vida. Não vimos já como nesta época se mandavam ainda gatar os pratos partidos?

    Por qualquer razão a minha avó estabeleceu uma relação afectiva com o jarrinho. Talvez tenha sido oferecido por um parente de quem gostava ou uma prenda do marido? Enfim, o resto é romance e deixo ao critério da sua imaginação achar uma razão para o gosto que ela tinha nesta peça.

    beijos

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  10. Caro ET, obrigado pelo comentário e irei espreitar a nova imagem da sua estampa.

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  11. Cara Luisa

    Há muito que não comentavas nada, o que é pena.

    Uma vez li que o destino de toda a faiança ...é partir-se. De vez em quando sobram estas peças para contar uma história. Reconheço que se vivesse a tempo inteiro com os meus filhos não teria tantas peças de faiança inteiras.

    beijos

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  12. Manel

    É verdade. A arte nova em Portugal não é assim tão vulgar como isso e esta peça por apresentar uma decoração muito próxima desse estilo torna-se muito mais interessante.

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    Respostas
    1. Luís, atrasada como sempre, mas o tempo, corre, corre e eu já não me organizo da mesma maneira :(

      A jarra é muito bonita. Creio, já ter visto um prato com um decoração muito semelhante, mas não tenho a certeza.

      Os objectos para mim valem muito pela componente afetiva. Penso muitas vezes nas coisas, que ficaram lá, todos certinhos, nos precisos lugares em que foram dispostos pela dona da casa. Até as camas ficaram feitas :)
      Que caminho terão seguido? Provavelmente rumaram a Cuba. Quem sabe?
      Por vezes, dou comigo a pensar, do que muito o que vou comprando é quase uma tentativa de repor o que perdi num ápice.
      Um abraço
      Maria Paula

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  13. Um jarro linsissimo de uma época em que a louça para além da utilidade era arte. No caso uma decoração com linhas Arte Nova...

    PS - Adorei o seu blog.

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  14. Maria Paula

    Bonito o seu comentário. Percebi o que escreveu. Também em todas as minhas casas, tento de alguma forma evocar a casa da família da minha mãe em Vinhais, que mais tarde ou mais cedo irei perder.

    Beijos

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  15. Caro Polittikus

    É um prazer contar com a sua presença neste blog.

    Abraços

    Luís

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