sexta-feira, 9 de março de 2012

O império da crinolina (1852-1870)

Há umas semanas não consegui deixar de comprar esta pequena estampa, que presumo ter feito parte de um desses jornais de moda parisiense do século XIX, que eram avidamente lidos na Europa e na América. Talvez tenha sido extraída do mais famoso deles todos, o Journal de Demoiselles, publicado a partir de 1833 ou de outra qualquer revista de moda concorrente.




Sei que é uma estampa preciosa e arrebicada, mas o detalhe dela atrai-me. Julgo que o desenho pormenorizado era intencional, para que as modistas das elegantes de Varsóvia, Lisboa ou Barcelona, Rio de Janeiro ou Viena pudessem copiar os modelos de Paris. Mas havia também um óbvio prazer dos artistas em desenhar estas obras. Repare-se na forma como o desenhador anónimo representou com todo o cuidado, como pano de fundo, um jardim romântico composto, por um lago com um barco e uma cascata artificial, bem como por um caminho no bosque, pelo qual casais elegantes se passeiam.


Talvez goste tanto desta estampa, porque me transporta para a Paris do início do Segundo Império, onde a crinolina (1852-1870) reina em absoluto nas modas e em que são precisos pelo menos 10 metros de tecido para fazer uma saia.

Decidi colocar esta ilustração por cima do espelho da casa de banho, talvez para me recordar de que houve um tempo que as pessoas não se tinham que arranjar à pressa para ir trabalhar.


6 comentários:

  1. Olá Luís
    A sua versatilidade é impressionante. Da faiança às gravuras, do mobiliário passando pela arquitectura e genealogia, não deixa de nos surpreender.Agora incursões pela história do traje.Realmente, o período romântico expressa-se, no traje feminino, para além da ornamentação um pouco excessiva,na extrema largura das saias, de tecidos leves e finos, suportados pela crinolina. Esta veio substituir o número exagerado das saias de baixo, que se usavam até ao aparecimento desta.
    Em França atinge o seu apogeu com a imperatriz Eugénia, mulher de Napoleão III.
    Também a moda chegou a Portugal. As revistas de moda eram transportadas nos vapores e as modistas e algumas casas de moda anunciavam os seus modelos, executados segundo os últimos figurinos franceses. Impunha-se a referência a França que era, inquestionavelmente, a capital da moda.
    Salientaram-se as modistas Levaillant e Aline Neuville (que trabalhavam para a família real), de nacionalidade francesa, e as portuguesas Emília d'Abreu e Maria Cecília de Almeida Fernandes, proprietária da Maison de France, situada na Travessa de Santa Justa, 61, 1º, em Lisboa.
    Alonguei-me. Peço desculpa. É um tema que me agrada muito.
    Cumprimentos.
    if

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  2. Cara If

    Não se alongou de todo. Também tenho um certo fraquinho por história da moda e o período do segundo Império é opulento e tem pano para mangas não só para os vestidos, mas para toda uma série de pequenas histórias acerca da Imperatriz Eugénia, das elegantes da Corte, das demi-mondaines e das grandes cortesãs. Esta pequena ilustração com pouco menos de 24 cm de largura traz-nos esse mundo em que os vestidos eram executados com metros e metros de tecidos.

    Obrigado e abraços

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  3. Luís, em primeiro lugar, concordo inteiramente com a If sobre a sua versatilidade para tratar diferentes temas, sempre interessantes!
    Agora a respeito da gravura, sabe que eu não sabia o que era exatamente uma crinolina?
    Pensava que era um tipo de tecido que armava, do género de uns saiotes que eu usei em miúda de um nylon muito teso para armar os vestidos curtos e de roda.
    Tive que ir fazer pesquisa e lá encontrei as armações enormes para usar debaixo dos vestidos de tecidos finos, como a If refere.
    A gravura é muito bonita, com cores muito mimosas e bem nítidas, sobre aquele background em grisaille (inglês e francês na mesma frase?!!!)
    Um abraço

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  4. Maria Andrade

    Herdei do meu pai um certo pendor enciclopédico e interesso-me por quase tudo. Bem, quase tudo não. Ninguém me fale em futebol, gestão, matemática ou áreas muito tecnológicas. Mas voltando a esta ilustração, havia muito por onde pegar nela, podia ter desenvolvido uma explicação sobre os jardins românticos, mas talvez o traje aqui fosse o mais importante e por isso tentei data-la através das roupas das personagens e a crinolina apareceu nas minhas pesquisas superficiais como o elemento estrurante da moda deste período, que em França ficou conhecido por Segundo Império. Em Inglaterra, no mesmo período estava a Rainha Victoria no trono, que mantina óptimas relações com Eugénia de Montijo. Julgo que se encontravam em Biarritz muitas vezes. Aliás, quando Napoleão III foi deposto, em 1870, o casal refugiou-se em Inglaterra e a Rainha Victoria era visita frequente de Eugénia de Montijo.

    Somos filhos da cultura francesa e inglesa, que misturamos com a nossa alegremente.

    Beijos

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  5. Esta forma de vestir, nos salões franceses do 2º império, será o estertor de uma moda em vias de desaparecer.
    Produz no nosso olhar de século XXI um certo fascínio, pelo exótico que é, mas não consigo deixar de imaginar as torturas que aquelas pobres mulheres deveriam experimentar com todos aquelas vestimentas, o calor infernal que deveriam produzir, a agonia do apertar dos coletes e espartilhos, feitos com barbas de baleia (de tal forma o aperto era bárbaro que, não raro, quebravam-se por vezes algumas costelas ...), os afrontamentos que sentiam, pela reduzida quantidade de ar que podiam introduzir nos pulmões, os sais de que deviam sempre munir-se, quando sentiam tonturas e desmaios, que não eram raros, devido às dificuldades que estes apertos produziam na circulação sanguínea, enfim ... é uma moda apelativa, mas creio que as mulheres deverão ser as primeiras a ficarem felizes pela sua substituição.
    Hoje, a substituição, levou a uma situação quase inversa ... mas o inferno não deve ser muito diferente, quando, naqueles dias de estio ardente, em que as temperaturas se aproximam dos 35/38ºC, me passam pela frente as/os "góticas/os", com os cabedais, as botas, pesadonas (possuem uma sola de, pelo menos, 10 cm de espessura), e que tapam a perna até à coxa, correntes, pregos e picos de aço, que invadem o corpo dessas e desses "mártires", e que, se ao sol durante um pouco mais, ficam a ferver , as "lolitas góticas", cheias de rendas, as quais tapam o pescoço completamente, as saias, num xadrez de kilt, em pregas, que prolongam collants bem grossos e escuros (os pés calçados com aqueles sapatinhos de fivela, usados pelas crianças nos anos 40/50), as blusas que são cobertas por coletes a que se segue mais um casaco, os cabelos com fitas, rendas e chapéus ... uma quantidade de adereços, os quais não se coadunam com o dia-a-dia presente ...
    Umas usavam, por que era a moda adequada a uma senhora que se prezasse, as outras, porque não se conseguem ver belas sem aquela parafernália toda!
    Enfim, a que obriga o sentido de beleza em cada geração!
    Manel

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  6. Manel

    De facto, esta não foi uma moda prática de todo. Também não foi uma moda realmente elegante como foi o estilo império, mas esta estampa tem um sabor do passado que me fez compra-la e depois os pormenores são deliciosos.

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