Em Sousel, no Distrito de Portalegre, numa daquelas ruas antigas da povoação, descobri a fachada de uma casa, decorada com uma figurinha muito ingénua, que parece suportar uma coluna.
Este boneco é um atlante e apesar do seu ar tão popular é um tema recorrente da arquitectura clássica. Segundo a wikipedia portuguesa Atlante é um tipo de coluna antropomorfa onde, no lugar do fuste, se apresenta a forma esculpida de um homem.
A imagem de um homem a fazer de coluna a suportar uma parte de um edifício tem origem na figura mitológica de Atlas.
Este boneco é um atlante e apesar do seu ar tão popular é um tema recorrente da arquitectura clássica. Segundo a wikipedia portuguesa Atlante é um tipo de coluna antropomorfa onde, no lugar do fuste, se apresenta a forma esculpida de um homem.
A imagem de um homem a fazer de coluna a suportar uma parte de um edifício tem origem na figura mitológica de Atlas.
Atlas ou Atlante era um Deus grego, mas dos mais antigos, isto é, um Titã. Estes deuses antigos, os titãs que precederam aquelas figuras, que tão bem conhecemos, como Afrodite, Atena ou Apolo, envolveram-se numa batalha terrível com os Deuses mais novos chefiados por Zeus e foram derrotados e castigados. Atlas foi condenado por Zeus a carregar o firmamento.
A imagem do antigo deus a carregar o mundo, foi usada pela arquitectura clássica desde os tempos da antiga Grécia até às primeiras décadas do Século XX. A representação dos atlantes nas fachadas dos edifícios foi a forma que os arquitectos do passado encontraram para transformar os tristes e cinzentões pilares de suporte, em qualquer coisa mais interessante e apelativo aos olhos de quem passava na rua.
A imagem do antigo deus a carregar o mundo, foi usada pela arquitectura clássica desde os tempos da antiga Grécia até às primeiras décadas do Século XX. A representação dos atlantes nas fachadas dos edifícios foi a forma que os arquitectos do passado encontraram para transformar os tristes e cinzentões pilares de suporte, em qualquer coisa mais interessante e apelativo aos olhos de quem passava na rua.
O atlante no seu trabalho de suportar o firmamento encontra-se no canto inferior esquerdo da casa |
Este Atlante alentejano continua ser apelativo a quem passa na rua, mas já não sustenta peso nenhum. A sua função é meramente decorativa. Julgo que a única coisa que o Atlante tem que suportar estoicamente são os fios da electricidade, com que a EDP desfigurou esta casinha e aliás uma boa parte dos edifícios históricos de Norte a Sul do País.
Aliás, um quarteirão mais à frente voltei a encontrar uma decoração da mesma família, desta vez uma espada e uma vieira de Santiago na fachada de uma casinha antiga, também atravessadas criminosamente pelos fios da EDP. Sou de opinião que uma firma como a EDP, que movimenta milhões (a julgar pelas facturas com valores exorbitantes que recebemos em casa), bem poderia começar a ter uma atitude mais responsável perante o património.
como funcionária dessa empresa que se auto proclama socialmente responsável, sugiro que se dê ao trabalho de enviar essas fotos e esse comentário ao nosso amigo Mexia e seu charmant Catroga, pois certamente receberá uma resposta e quem sabe se náo despertará algumas consciências para o facto de que essa atitude fica "mal na fotografia" de quem faz tantas acções desinteressadas de voluntariado à conta dos trabalhadores...tão gentilmente "convidados "para essas acções...
ResponderEliminarAna Silva
Adorei o atlante e a concha. Concordo completamente com a sua ideia sobre os fios da electricidade. Estragam completamente as fachadas e ainda faz mais pena quando elas têm decorações bonitas como estas.
ResponderEliminarLuís
ResponderEliminarLá vai encontrando pequenas maravilhas no meio das tristezas do país. Observar esses tesouros escondidos e revelá-los, é um bálsamo. Esse pequeno atlante, na sua ingenuidade, reporta-nos para os majestosos atlantes de talha dourada que se podem ver em algumas das nossas igrejas.
if
Luís
ResponderEliminarLá vai encontrando pequenas maravilhas no meio das tristezas do país. Observar esses tesouros escondidos e revelá-los, é um bálsamo. Esse pequeno atlante, na sua ingenuidade, reporta-nos para os majestosos atlantes de talha dourada que se podem ver em algumas das nossas igrejas.
if
Cara If
EliminarTenho uma grande tendência a fixar-me nos pormenores, talvez em resultado da profissão que tenho.
Preocupa-me o destino deste tipo de obras e destas casas, que nunca serão classificadas, nem protegidas pela lei e no entanto tem um encanto delicioso e constituem um testemunho de forma como a arquitectura popular assimilou modelos eruditos.
Abraços
Cara Ana Silva
ResponderEliminarÉ certo que os fios da EDP são os maiores e mais feios, mas outros fios de outras companhias de telecomunicações atravessam os edifícios antigos, estragando tudo e todos. Com tanto turismo que o País tem já seria tempo de estas companhias serem socialmente mais responsáveis.
Talvez alguém com altas responsabilidades na EDP faça um dia uma pesquisa, venha ter a este blog e se aperceba com vergonha dos pequenos grandes crimes, que constituem estes fios a atravessar edifícios históricos.
Um abraço
Cara Margarida Elias
ResponderEliminarMuitas vezes ando com a máquina fotográfica na mochila e vou tirando aqui e ali fotografias de igrejas, palácios, azulejos ou pormenores arquitectónicos como este. Quando chego a casa e abro as fotografias no PC, descubro que o que está sempre em grande destaque são os automóveis, que se sobrepoem às igrejas e palácios e os malvados fios eléctricos. Tenho tirado fotografias, que poderiam ser fantásticas, se não fossem os fios da EDP. Parecem ser uma espécie de vírus que ataca qualquer fotografia.
Um abraço
E a fachada da minha casa alentejana com fios e mais fios a desfeá-la da pureza do branco ou o encanto do azul ultramarino com que a pinto.
ResponderEliminarEu bem tento pintá-los igualmente, aos fios, no intuito de os tornar, pelo menos, menos visíveis, ou menos interferentes, mas ... debalde.
Olho e dou de caras com toda aquela fealdade e fico raivoso e cheio de vontade de arrancar tudo aquilo ... mas depois fico sem eletricidade ... e vai-se-me a vontade.
E pensar que o anterior dono pagou muitas centenas de contos de reis, juntamente com outros vizinhos próximos, para que "prantassem" logo ao lado da casa o poste de betão mais feio que conheço em Portugal inteiro, o qual, desgraçadamente, me ilumina a soberba noite alentejana forrada dum céu de veludo azul escuro, furado aqui e além pela luz ténue das estrelas.
Quanto ao atlante, ou Atlas, tal como ficou conhecido, parece que depois (sabe-se lá quando), e segundo Homero, foi libertado da sua má sina e nomeado como guardião dos pilares do céu.
Este aqui parece estar relativamente feliz com a sua sorte e tem um ar encantador. É esta singeleza que lhe dá esta frescura ingénua tão atraente.
Quanto à espada, é fabulosa. Desde o primeiro dia em que a vimos, num dos muitos passeios que demos por Sousel noturna, fiquei muito sensibilizado por este elemento. E lembrar que o edifício em que se encontra não tardará muito estará no chão!
Mas olha lá se eles deitam abaixo os "abortos" de que Sousel é fértil também?
Manel
Manel
EliminarEsta espada é intrigante. Seria algum devoto de Santiago, uma etapa do caminho português?
Hoje, Fátima conquistou integralmente o mercado das peregrinações portuguesas, mas ainda não há muito tempo se faziam peregrinações a Santiago. A minha mãe lembra-se de em miúda ouvir as histórias quase fantásticas de um senhor velhinho que tida ido peregrinar a Compostela na juventude. Descrevia maravilhado todas as "estautas", como ele dizia, do Pórtico da Glória. Talvez esta espada e vieira estejam relacionadas com um dos caminhos portugueses de Santiago.
Abraço
Bem, para quem venha do sul seria uma das hipóteses, e, pelo menos, o caminho é poético e tranquilo, ao contrário daquele hediondo que bordeja a EN1 e que, (uma desgraça nunca vem só), conduz a Fátima!!!!!!
EliminarSeria interessante conseguir saber se por aqui passava alguma dessas rotas míticas e místicas!
Manel
Luís, graças à atenção que deu a este tosco titã alentejano já fiquei a saber algo mais sobre a mitologia greco-romana.
ResponderEliminarAcho curioso que este tipo de ornamentos de fachada em relevo, quer o atlante, quer a espada e a vieira, se encontre mais para sul, geralmente no Alentejo. Terá certamente a ver com a pobreza dos materiais e a vontade de embelezar as casas com os recursos possíveis...
Quanto aos fios elétricos e aos carros com que deparamos nas fotografias, os carros ainda se conseguem muitas vezes eliminar por corte na edição de fotos, são geralmente periféricos ao motivo fotografado, mas os fios é que estão lá mesmo em cima!(podem-se apagar com o "paint" mas dá cá uma trabalheira!) Estão aqui bons exemplos da poluição visual que eles provocam, mas infelizmente parece que os responsáveis pela sua instalação são totalmente insensíveis ao problema!
Bjos
Tão bonito este Atlas, nunca tinha visto um popular, pelo menos que me recorde.
ResponderEliminarUm achado.
Quanto à EDP é lastimável que uma empresa de sucesso nas pequenas coisas não se vista de luxo.
Achei graça ao comentário do Manuel. As noites alentejanas são fabulosas. Vivi em Marvão e céu igual não encontrei mais.
As estrelas bailam no céu e caem em piruetas.
A espada, quiçá referente a D. Nuno Álvares Pereira a quem Sousel foi doada (?) e a Vieira são belíssimas.
Boa estadia no Alentejo.
Abraço!
Ana
Maria Andrade
ResponderEliminarO seu cometário é muito oportuno. Julgo que a facilidade com que se encontram estas decorações nas casas alentejanas tem de facto a ver com uma certa pobreza de materiais e que foi ultrapassada de uma forma imaginativa, com o recurso a técnica da molduragem, que o Manel muito bem explicou a propósito de uma Janela em Alter do Chão, no post http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2013/03/uma-janela-rocaille-com-varal-da-roupa.html.
Pelas mesmas razões a pintura a fresco é muito abundante nas igrejas alentejanas, pois as tintas são feitas à base de cal misturadas com pigmentos, materiais muito mais baratos que a madeira, usada na talha.
Bjos
Ana
ResponderEliminarEncantei-me com este atlante, talvez porque uma das minhas primeiras paixões em arte tenha sido a escultura românica, onde abundam estas figuras muito ingénuas nas fachadas ou no interior das igrejas.
Um abraço
Publiquei:
ResponderEliminarhttp://historiamaximus.blogspot.pt/2013/10/um-atlante-numa-rua-alentejana.html
Contacto: historiamaximus@hotmail.com
Cumpts,
JJHN
Caro JJHN
ResponderEliminarNeste mundo cibernético em que todos copiam sem citar fontes, agradeço muito o seu cuidado em me avisar e indicar o meu nome e o endereço deste blog.
Um abraço
Caro LuisY,
EliminarÉ um cuidado que sempre tive e faço questão de continuar a ter. Pois, trata-se não só de uma questão de respeito para com os autores dos artigos, como também de uma forma de dar aos mesmos a oportunidade de me pediram para os retirar se assim o quiserem.
Abraço,
JJHN
Vim aqui na sequência do seu comentário no malomil. Os meus parabéns e obrigado pela divulgação do nosso património.
ResponderEliminarNa circunstância, infelizmente, ilustra não apenas o nosso património como também a indiferença, o desprezo e a insensibilidade de empresas de telecomunicações e pela EDP, empresa que distribui energia apropriando-se impunemente daquilo que é propriedade privada, apresentando os balanços de que vamos sabendo.
Abraço.
Caro Dutilleul
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário.
Com efeito é chocante como a EDP, uma empresa fabulosamente milionária, que constrói fundações culturais e centros de arte faraónicos em Lisboa tenha depois uma atitude tão criminosa nos centro históricos das cidades e vilas portuguesas com os seus fios.
Enfim, vamos protestando no espaço cibernético, pode ser que algum administrador da EDP tenha vergonha.
Um abraço