sábado, 11 de abril de 2015

Um lua sorridente: paliteiro da Vista Alegre


Tenho uma atracção muito especial por bibelots de porcelana antigos, esses objectos, que abundavam nas casas burguesas nos finais do século passado, princípios do século XX, num tempo em que ninguém se preocupava muito em decorar com contenção ou sobriedade. Por essa razão não consegui resistir a esta lua sorridente, que encontrei na feira de Estremoz. É um paliteiro da Vista Alegre e normalmente estas peças são muito procuradas por alguns coleccionadores, por exemplo, a Fundação Medeiros e Almeida, aqui em Lisboa, tem uma belíssima e completa colecção destes paliteiros da fábrica de Ílhavo. Contudo, como este paliteiro foi partido e colado, consegui compra-lo, por um preço muito aceitável.

O paliteiro encontrou um lugar na minha casa, no meio dos bules e chávenas com decorações vitorianas. Como diria um certo coleccionador francês, uma boa peça encontra sempre o seu lugar numa casa.

Embora muito desvanecida, a marca parece-me a nº21, verde grande fogo, o que significa que este paliteiro terá sido fabricado entre 1881-1921.

Encontrei um paliteiro mais ou menos semelhante na obra Paliteiros da Vista Alegre / Jorge Manuel Ferreira. Lisboa: Caleidoscópio, 2006 e muito curiosamente é identificado como representando o Sol e a Lua. A cara sorridente será o sol, a base, a lua em quarto crescente, e o azul do pedestal representará o céu, conforme observou o meu amigo Humberto. No entanto, esta Lua sorridente e brincalhona, que talvez afinal seja seja um Sol só me recorda o filme mudo Le Voyage dans la lune, realizado em 1902, por Georges Méliès. 
É um filme contemporâneo da produção desta peça, com cerca de 8 minutos, absolutamente delicioso, com astronautas de chapéu alto a visitar a lua, e que se defendem dos ataques dos selenitas com golpes de guarda-chuva e ainda mete um cortejo de bathing beauties a festejar a partida e chegada do foguetão.


10 comentários:

  1. Também gosto muito da sua lua. :))
    Que compra feliz.
    Tenho um paliteiro VA da mesma época mas não é tão giro.
    Alguma inveja... :))))
    Beijinho.

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    1. Ana

      Estes paliteiros são sempre peças um bocadinho "kitch". Aqui tentei fotografar o paliteiro num ambiente que se adequasse a época e ao gosto em que foi produzido.

      Um abraço e obrigado

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  2. Bom dia Luís,

    Respeitando outras opiniões mais doutas, de facto, a impressão com que fiquei quanto vi o paliteiro, seria a de que a imagem sorridente representaria o brilhante Sol, a base seria o quarto crescente da pálida Lua e a parte central a uni-los poderia representar o céu azul ou num caso menos provável, o planeta terra visto do espaço (azul com as manchas amarelas a representar os continentes).

    Não tendo a versão do autor destas pequenas obras de arte, é sempre interessante ver as várias interpretações que surgem dando azo à nossa imaginação.

    Sem estas tuas pesquisas, este (e outros objectos que aqui nos trazes) seria mais uma peça esquecida numa qualquer estante ou vitrine.

    Aqui, dás-lhe vida e um significado que por vezes vai para além do que os seus autores poderiam imaginar na época em que os produziram.

    Fazes um excelente trabalho e é sempre bom vir por aqui apreciar as tuas “velharias”.

    Um abraço,
    Berto

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    1. Humberto

      Muito obrigado pelo teu comentário.

      Julgo que a tua leitura desta peça está correcta. Aliás, em função do e-mail que me escreveste alterei um pouco o texto.

      Claro, quem criou este paliteiro, concebeu-o como uma fantasia, engraçada para se colocar à mesa, sem preocupações de realismo e portanto há sempre várias leituras possíveis, mas o que escreveste faz sentido.

      Eu quando comprei esta peça tão divertida veio-me imediatamente à memória o Le Voyage dans la lune de Georges Méliès. Mas, foi uma mera associação de imagens.

      Tentei através do texto e das fotografias recriar o gosto e as imagens do período em que este paliteiro foi concebido.

      Um grande abraço

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  3. Luís, acho este paliteiro “Lua” certamente o mais criativo e engraçado dos antigos paliteiros da Vista Alegre.
    É um objeto muito imaginativo que pode ter várias leituras, mas eu vejo naquela cara redonda e corada uma lua-cheia muito coquete com os seus lábios pintados de vermelho vivo 
    Depois assentaram-na numa forma mais ou menos esférica a representar um céu estrelado e acrescentaram ainda como base uma das imagens mais reconhecíveis da lua, a branco, um quarto crescente ou minguante...
    Veja só como a minha leitura difere da do seu amigo Humberto, igualmente plausível e legítima. É essa a graça destes objetos, servirem de “talking point”.
    São realmente bibelots muito engraçados, mas que nunca me despertaram o interesse precisamente pelos altos preços que sempre atingiram. Digo como a raposa: “Estão verdes, não prestam...” LOL.
    Tenho aqui uma revista da Vista Alegre de 2001 que mostra que um destes paliteiros foi vendido em leilão por 125.000 escudos a partir de uma base de 40.000. Agora em euros, imagine o que seria!
    Foi um belo achado e o Luís tratou de o apresentar aqui num cenário muito adequado e bonito - até o tecido do seu sofá parece um céu estrelado... ;)
    Beijos

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    1. Maria Andrade

      De facto tem razão. Quando comprei este objecto associei-o imediatamente ao fime "Le Voyage dans la lune" de Georges Méliès, embora até seja mais plausível, que represente o Sol e a Lua.

      O paliteiro é muito engraçado e comprei-o por muito menos, mas muito menos do que 125.000 escudos. Em 2001 o País ainda se achava rico e as antiguidades eram vendidas ao preço do ouro. Hoje os preços caíram muitíssimo e tenho muitos conhecidos que compram muito em leilões por preços fantásticos. Em todo o caso este paliteiro, foi partido e colado, o que lhe diminuiu o valor, porque também já os vi a venda, em bom estado por cerca de 100 euros.

      Independente da questão do preço é uma graça de uma peça e mostra bem um tempo em que não havia satélites, foguetões e naves espaciais a fotografar os astros e os planetas e em que se podia imaginar uma lua sorridente e brincalhona, para colocar em cima da mesa com palitos.

      Bjos

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  4. Caro Luís
    Ando completamente aluada! :)
    Só vi hoje este post e porque o fui espreitar ao facebook.

    Também gosto de paliteiros e muito especialmente dos da Vista Alegre, mas não tenho nenhum. São quase sempre caríssimos. Este é patusco e fez muito bem em comprá-lo. Como sempre arranjou-lhe o sitio ideal, desta vez, ao pé dos seus parceiros de fabrico.Aliás, este seu conjunto de peças da Vista Alegre é um regalo para os olhos. Bjs e boa semana

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    1. Maria Paula

      Não se apoquente, pois também só escrevi este post há uns 3 ou 4 dias e o facebook serve precisamente para melhor divulgar o blog, pois como é sabido, quem não está no facebook não existe decisivamente para a sociedade e julgo que mesmo perante o bom Deus.

      Aprecio muito toda a produção da Vista Alegre do século XIX e este meu armário, que era de origem uma livreira, acaba por ter alguma coerência estética.

      Bjos

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  5. Boa tarde
    A minha mãe tem um paliteiro muito antigo que era da minha bisavó.É um sapato castanho e tem dois ratinhos em cima do sapatinho.
    Está em muito mau estado mas émuito engraçado. Lembro-me de o ver em casa da minha avó e de lho pedir e ela disse que um dia mo dáva. Parece que prometeu o mesmo à minha irmã :)
    Gostáva de saber mais ou menos a data e a origem. Já pesquisei mas não encontrei nada, de facto os paliteiros já são um objecto em vias de extinção...
    Se quiser posso mandar mail com a foto ( já mandei um outro sobre outro assunto mas não obtive resposta)
    Cumprimentos

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    1. Cara Dulce Pedroso

      Peço-lhe desculpa, por ainda não ter respondido ao seu mail, que me mereceu a melhor atenção, mas ainda não tenho uma resposta para ele.

      Os paliteiros são de facto objectos em completa extinção. Os palitos foram condenados pelo fio dental, pelos dentistas e pela ASAE. Contudo, quando apareceram, os palitos em madeira, que eram, descartáveis eram muito mais higiénicos que os palitos em prata.

      Paradoxalmente, hoje em dia, os paliteiros são alvo de um intenso coleccionismo e no mercado de velharias atingem preços altos.

      Quando os objectos não estão marcados é mais complicado saber exactamente onde foram fabricados, mas pode-me enviar fotografias, que tentarei dizer-lhe qualquer coisa.

      Um abraço

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