quinta-feira, 16 de julho de 2015

Sacavém e Copeland

Saladeira copeland
Já é um lugar comum falar na influência que faiança inglesa exerceu ao longo do século XIX na louça de Sacavém, quer na decoração, quer nos processos de fabrico. Se conhecemos essa influência em algumas peças, como o motivo cavalinho, o faisão ou o Júpiter, para muitas outras decorações produzidas ao longo da segunda metáde do séc. XIX por Sacavém, falta estabelecer uma relação com a loiça feita em Inglaterra ou em outras fábricas europeias, durante o mesmo período.


A saladeira Copeland ao lado da pequena terrina de Sacavém. As semelhanças falam por si.

Em Janeiro de 2013, já aqui tinha mostrado uma pequena terrina, ou talvez uma molheira, com a marca de Sacavém, correspondente ao período de 1856-1861, ou seja à época mais antiga da Fábrica, anterior aos patrões ingleses, que dominaram praticamente toda a existência de Sacavém. Quando mostrei esta peça, fui de opinião que a influência inglesa era óbvia, mas não a relacionei com nenhum padrão em particular, até que o Manel e eu colocámos esta peça ao lado de uma saladeira da Copeland, de que já aqui tinha apresentado duas azeitoneiras e uma molheira do mesmo serviço e as semelhanças eram eloquentes. 

Portanto, em Sacavém, entre 1856-1861 alguém tomou como modelo a decoração e as formas de um serviço da Copeland, registado em 1849 e conhecido pelos nomes de garland ou rose briar.

As semelhanças são tão evidentes nas fotografias, que escuso de maçar quem lê estas linhas, com descrições exaustivas da decoração, referindo que há um filete aqui, uma grinalda acolá e uma faixa decorativa acoli. Não há dúvida que Sacavém copiou Copeland, mas fê-lo com gosto.
Sacavém copiou Copeland, mas com gosto

11 comentários:

  1. Fico sempre admirado como a influência inglesa na nossa produção foi tão forte.
    Tinha esta pequena terrina dos primórdios da Sacavém, e ainda não tinha dado conta da semelhança.
    Só com a tua ajuda dei conta que o padrão é o mesmo!
    Até a forma dos relevos da loiça é semelhante.
    Tal era o prestígio da louça inglesa!!!!

    Mas fiquei encantado por descobrir esta ligação, a qual foi feita graças a ti

    Manel

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    1. Manel

      É engraçado como aos poucos se vai descobrindo a genealogia dos padrões decorativos de Sacavém.

      A semelhança foi descoberta por mero acaso ao colocar as peças uma ao lado da outra.

      Um abraço

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    2. É verdade que não passa de uma tontaria passar a vida a comprar estas faianças inglesas, quando tenho as paredes, prateleiras e armários completamente "atafulhados" delas.
      No entanto, quando vejo as coleções com peças semelhantes, igualmente inglesas, que foram deixadas pela célebre Gloria Swanson, e que acabaram por ser vendidas por leiloreiras de prestígio nos EUA, tendo arrecadado verdadeiras fortunas (estas peças só atingem preços fabulosos neste país, ainda que os alcançados em Inglaterra não sejam nada de desprezar), acabo por pensar que a beleza desta louça não sou só eu que a encontro.
      Há mercado para ela e só espero que os americanos (até mesmo os ingleses) não o saibam, para que aqui possamos continuar a usufruir deste tesouro por preços muito módicos - infelizmente já vou começando a ver peças destas com preços que, lentamente, vão aumentando :-(
      Manel

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    3. Manel

      É verdade. Por cá ninguém parece apreciar ou dar muito valor à louça inglesa. Por exemplo, nos EUA, um simples prato raso de meados do século XIX inglês custa 75 USD e isto é se for de uma fábrica pouco conhecida.

      Abraço

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    4. Boa tarde sr. Luis, pretendia entrar em contato, pode facultar-me o seu email?
      Muy grata.
      Cptos,
      Elisabete

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  2. Boa noite, Luís!
    Tenho estado a banhos com a malta miúda e quase não me lembro de vir aqui! ;)
    Realmente, é impressionante a semelhança entre a peça inglesa e a de Sacavém, mas às vezes estas evidências não nos saltam aos olhos... Eu tenho uma peça muito semelhante à inglesa, também Copeland, mas neste momento não dá para fazer a comparação...
    Muito belas fotos de novo! Está um mestre!
    Bjs.

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    1. Maria Andrade

      Imaginei que estivesse a banhos algures pelo País com a sua prole. A chamada "silly season" não ocorre só na imprensa, mas também nos blogues. Toda a gente está de férias, ou a preparar-se para as férias ou traumatizada com o regresso ou trabalho após as férias e a não apetece a ninguém escrever nada ou ler muita coisa, a não ser romances.

      Quanto as fotos, chego quase a tirar vinte ou trinta fotografias, para escolher duas ou três. Julgo que o blog me fez estar atento à fotografia. Também fui aprendendo com a Maria Paula, que é um talento, mas igualmente consigo a importância de uma boa imagem para valorizar um post.

      Aguardamos por um post seu dessa peça da Copeland.

      Um abraço e continuação de boas férias

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  3. LUIS,

    Um post breve e vibrante,como costuma fazer.
    "Louça" é quase sinônimo de "Louça Inglesa", já comentamos isso. Uma colonização sem armas a não ser a da sedução...
    Mas como Você disse, essa colonização não foi sem reação. Reproduzir mas não simplesmente "xerocar".

    E o Manel a se deliciar com as próprias louças ou pequenos tesouros para quem sabe olhar, desejar e desfrutar de peças que trazem um meio mundo de cultura, histórias e vidas...

    E eu querendo preparar meu post de SAVP ou qualquer louça afim (um GRANDE vaso de jardim) e eis que sou abordado pela Sorte ou meia sorte pelo menos, pelo estado que me veio: Um outro VASO DE JARDIM as bem marcadinho "Fa. de Sto. Antonio Porto".

    Pena que não consigo ser tão sucinto na maioria das vezes. Mas vou tentar.

    Sobre a terrina SACAVEM ainda: gosto tanto de ver o fundo das peças, o tipo de marca, etc. mas acredito em Você e no que diz.

    Um abraço.

    Quando fizer o post dos vasos adoraria sua apreciação bem como a do Manel que contato e igualmente mando um abraço por aqui.

    ab

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    1. Amarildo

      Num post anterior, a 8 de Janeiro de 2013, para o qual fiz um link no texto, apresentei a fotografia da terrina, bem como a respectiva marca de Sacavém. Sei que o Amarildo não é muito ágil nestas coisas da internet (tem outras qualidades em compensação) e por isso transcrevo aqui o link onde publiquei a marca http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2013/01/uma-terrina-dos-primordios-de-sacavem.html.

      Que sorte ter encontrado um vaso marcado Sto António de Vale da Piedade!! Isso só mostra como de facto aquela fábrica tinha um belíssimo mercado no Brasil.

      Um abraço

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    2. Luis.

      Obrigado.

      Não sei quem é mais lento: eu ou minha máquina.
      Recortei o link mas deu erro então fui no campo de pesquisa de seu blog e consegui. Acho que não tenho este recurso no meu ou não sei ativar.

      Achei muito bela a antiga marca da Sacavem em círculo bem trabalhado e com monograma.
      Na postagem retrasada da Maria A. há uma mostragem de marcas Sacavém e este tipo da terrina figura entre os demais.

      Já comentei, eu penso, que as marcas, em alguns casos são mais elaboradas e interessantes que o próprio motivo que decora certas peças. Praticamente uma segunda ou primeira arte decorativa.

      Mas as louças não marcadas têm o charme de ser intrigantes (às vezes literalmente) e um ar mais singelo e despretensioso.

      Acabei fazendo a tal postagem de meus novos vasos de jardim, um marcado outro não. Depois me diga o que achou.

      Um abraço.

      ab

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