quarta-feira, 29 de julho de 2015

Velharias do Luís em obras ou remodelação da minha casa de banho.

Tal como o fado Madrugada de Alfama, em que a personagem mora numa água-furtada, que é a mais alta de Alfama, e que o sol primeiro inflama quando acorda à madrugada, também eu vivo num sótão, quase no alto de uma das colinas da velha Lisboa, onde de um lado vejo o Castelo, a Graça, a Senhora do Monte e de frente avisto um torreão do Terreiro do Paço e o Tejo. Enfim, é tudo muito Amália Rodrigues. Aliás, diz-se que a grande diva do fado, nasceu na minha rua. Não é verdade, pois Amália era natural da Beira Baixa, mas se tivesse nascido ali, o carácter popular da rua combinaria muito bem com a personagem. 

A minha casa apresenta uma característica bem típica de todas as águas furtadas, isto é, a possibilidade de crescimento em direcção ao céu de Lisboa. Normalmente, nos últimos andares há uma caixa-de-ar entre os telhados e os apartamentos propriamente ditos e as obras de remodelação destas casas, passam sempre por subir os tectos até aos telhados, conseguindo-se um pé direito muito mais alto, tornando-as casas espaçosas e mais frescas, sobretudo quando se faz um bom isolamento. Já tinha feito obras semelhantes de eliminação dessa caixa-de-ar para duas divisões e para a cozinha e resolvi na passada semana fazer o mesmo para a casa de banho, uma divisão pequenina, onde tinha que pedir autorização ao tecto para tomar duche.

As obras largaram uma poeiraçada incrível, andei acantonado em casa durante quase uma semana, vivendo na maior das confusões. Depois seguiu-se a arrumação e a limpeza das centenas de velharias, que revestem as paredes e os tectos do meu apartamento.

Aproveitei as obras para mandar colocar um friso de azulejos dos finais do século XVIII, que há muito tinha encontrado num contentor das obras, ali atrás da estação do Rossio e depois nas tarefas de arrumação, passei para a casa de banho a faiança inglesa, que andava mais ou menos dispersa. 

Até há lugar para um carro eléctrico na minha nova casa de banho.
Como podem ver pelas fotografias que publico, o resultado valeu bem a pena. A casa de banho ficou maior e mais fresca e com uma decoração ao gosto muito carregado do século XIX, que emprestou graça a um espaço, que tradicionalmente é sempre tão asséptico e aborrecido em todas as casas.

19 comentários:

  1. Ficou ótimo Luis!
    Agora já tenho (mais um) motivo para ter que voltar à Lisboa. Só que com o euro a R$ 4,17 tá difícil... Se ao menos a Vista Alegre me pagasse os trocadinhos que me deve...
    Agora fiquei com vontade também de entupir meus banheiros com louças. :-) Eles ainda eram zonas livres de faianças e porcelanas, mas já não sei...
    abraços!

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    1. Fábio

      As decorações destas faianças inglesas são quase sempre paisagens com lagos, rios ou o mar ao fundo. Portanto, estes temas aquáticos vão bem com o espírito do banheiro. Os azulejos ficam bem em qualquer lado, como tu bem o sabes.

      Realmente, a Vista Alegre parece ser uma firma que aperta muito os cordões à bolsa.

      Um abraço

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  2. Deve ter ficado lindíssima. Bom trabalho!

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  3. Luís

    Depois do trabalho concluído é quando dá mais gosto de olhar. Esquecidos todos os contratempos que foram o tirar as peças dos locais, encontrar onde as guardar, passar pelas várias etapas, então chega aquele momento inigualável que é o de apreciar a obra, depois de arrumar e colocar tudo nos lugares pensados.
    Gostei do pormenor da faixa de azulejos e da porcelana inglesa. Os tons coadunam-se na perfeição.
    Também, há uns tempos não era assim, gosto da decoração cheia, tão ao modo do século XIX.
    Um abraço

    if

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    1. Ivete

      Com efeito, o excesso na decoração não está moda. Mas, quando se é um colecionador, ainda que amador, como resistir ao ecletismo e ao horror pelo vazio tão ao gosto do século XIX?

      Os efeitos com as misturas são sempre surpreendentes e no fundo em termos de investimento o que está nesta casa de banho é quase nada. Os azulejos foram encontrados no lixo, o espelho adquirido na Feira-da-Ladra por menos de 10 euros, o armário estilo arte nova comprei-o naquela associação de apoio aos drogados que há em Benfica e a faiança inglesa encontra-se a preços estupendos.

      Um abraço

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    2. Que belas imagens, Luís! Uma casa de banho única, bem personalizada, que de certeza mais ninguém terá igual!
      Que bem ficaram assim aplicados os azulejos do séc. XVIII! E a faiança inglesa, que eu nunca me lembraria de expor desta maneira, como ficou afinal em harmonia com o espaço!
      Não para de nos surpreender, criatividade não lhe falta... e aliada ao bom gosto, dá nisto!
      Bom fim de semana! Beijos.

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    3. Maria Andrade

      Muito obrigado pelas palavras simpáticas.

      Esta forma de exposição da faiança inglesa também obedeceu a razões práticas. A grande travessa que está por cima do espelho, está a esconder uma saída de electricidade. Do lado oposto está outra travessa também inglesa, a tapar outra saída de electricidade. E depois tentei jogar com os espelhos, que relectem o que está nas outras paredes. Em todo o caso, esta casa de banho continua a ser um cochicho, só que agora, em virtude da nova decoração e dos tectos mais altos, tornou-se um espaço mais atraente.

      Bjos

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Luis,

      Não sei como deve ser sua louça de casa de banho propriamente... Não importa pra ninguém. Mas a louça inglesa é linda e realmente estas fontes,rios e riachos combinam bem com o lugar. Já a caneca fez-me recordar que quando garoto tomava banho "de cavalo" em bacia de lata com ajuda de um canecão de ágata. Isso não era por falta de chuveiro mas por medo de água fria. Quente, nos canos só na casa do avô (*serpentina de fogão").

      Um abraço.

      ab

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  5. Luis,

    Esqueci de elogiar os azulejos ou azulejar os elogios...

    Lindos e penso que assim, ao modo de remates ou molduras ganham ainda mais relevo que num painel fechado,penso.Se bem que estes que possui deviam ser certamente a cercadura de alguma outra decoração, me arrisco sem nada deles entender.

    Outro abraço;

    ab

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    1. Amarildo

      A louça sanitária do "banheiro" é vulgar de Lineu. Já existia quando comprei a casa. Não sendo feia é banal. Por essa razão, evitei que constasse das fotografias.

      Como o Amarildo muito bem pensou este tipo de azulejos eram usados como cercadura para painéis de azulejos seriados pombalinos. Representam uma trepadeira que cresce ao longo de um tutor e eram muito vulgares no interior dos prédios lisboetas nos finais do XVIII. Aliás encontrei-os num contentor de obras ali na Baixa, muito danificados e incompletos. Mas mesmo assim, fazem um belo efeito.

      Um abraço

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  6. Adorei tudo! A conjugação de peças tão diversas como os azulejos, os quadros, as porcelanas, o eléctico , os espelhos e o móvel (ai o móvel, é lindo) formam um conjunto muito harmonioso e fresco. Sinceros parabéns pela criatividade e bom gosto!
    Abraço
    Ana Silva

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    1. Ana Silva

      Muito obrigado!!

      O móvel é de facto uma graça e embora não se veja bem na fotografia tem um certo ar arte nova. Foi comprado na Reto, aquela associação de apoio aos toxicodependentes e estava pintado de um verde impensável. Foi tudo decapado e lixado até ficar da cor da madeira.

      Um abraço

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  7. Não há como alguns azulejos antigos para transformar um espaço assético num outro cheio de charme.
    Como um material tão pobre e comezinho consegue introduzir magia a qualquer espaço.
    As loiças ficaram muito bem, e foi a tua salvação, pois já não sabia onde irias tu inventar espaço para tudo aquilo que vais comprando.
    Desta vez inventaste a casa de banho.
    Bem, ainda tens as telhas do lado de fora da tua mansarda ... lol
    Manel

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    1. Manel

      Tens toda a razão quanto aos azulejos. Estes estavam todos partidos, incompletos e nem sequer casam todos uns com os outros e mesmo assim fazem um vistão.

      Finalmente consegui agrupar num único ponto a louça inglesa e a coisa ficou mais coerente.

      Um abraço

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  8. Pela amostra ficou lindíssima. Sempre achei que é um local que deve ser aprazível. Os romanos cuidavam dos locais dos banhos e eram sempre luxuosos, não é verdade?
    Parabéns, Luís. :))

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  9. Esqueci-me de dizer que achei graça ao carris, :)).
    Um abraço. :))

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    1. Ana
      É verdade. Normalmente a casa de banho é sempre um sítio sem graça nenhuma e então agora que se generalizaram aqueles grandes azulejos tipo Porcelanosa, a coisa ainda ficou mais incaracterística. Com a colocação deste fragmento de uma antiga cercadura de azulejos dos finais do XVIII tentei criar um ponto de interesse na casa de banho, que desviasse a atenção dos restantes azulejos banais e tristes.

      O carro eléctrico foi uma prenda dos meus filhos, que n sabia onde colocar. Resolvi cola-lo sobre a tomada, de modo a dar uma certa nota de humor ao conjunto.

      Um abraço

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