Esta Páscoa, o meu amigo Manel e eu metemo-nos novamente ao trabalho de encastrar mais azulejos antigos na sua casa alentejana. Desta vez o sítio escolhido, foi um vão por debaixo da janela do seu quarto, que estava cheio de humidade. O objectivo de colocar ali azulejos foi obviamente estético, criar um ponto de interesse no quarto, um cenário de museu, mas também destruir um reboco apodrecido pela humidade.
O quarto antes dos azulejos. São visíveis as manchas de humidade no reboco. |
O painel escolhido foi uma mistura de azulejos coleccionados em diferentes alturas, ao longo de mais de 15 anos, alguns deles comprados em feiras de velharias, outros pura e simplesmente achados nos contentores das obras. Ao nível do chão, escolhemos uma barra de azulejos marmóreados, como era tradição na segunda metade do século XVIII, depois usamos um friso, uma espécie de concheado barroco, mas que o Manel crê que sejam uma representação já muito abstracta das franjas de um tapete, o que faz sentido pois a propósito do Museu Regional de Beja, já aqui se falou da influência dos têxteis na azulejaria portuguesa. Por dentro, fez-se o enchimento deste tapete cerâmico com azulejos de estrelinha e no centro tive a ideia de colocar um anjinho solto, comprado pelo Manel há muitos anos.
O mesmo quarto durante os trabalhos |
Todos eles fazem parte daquilo que se chamam os azulejos seriados pombalinos, isto é, datados da segunda metade do século XVIII e que apresentam esta característica espantosa, a possibilidade de com eles se poderem fazerem inúmeras combinações diferentes.
O anjinho tornou-se o centro do painel. |
Reconheço, que este processo de rebentar com uma parede para encastrar azulejos não é para todos. Desta vez, o Manel usou um martelo pneumático eléctrico, o que faz menos lixo do que a técnica do martelo e o escopro, que usámos anteriormente. Porém, o resultado final compensa a poeiraçada toda e os 40 azulejos postos transformaram toda uma divisão, criando naquele vão de janela um ambiente palaciano, para o qual os nossos olhos convergem de imediato.
Caro Luís
ResponderEliminarMais uma vez fico sem fôlego, perante tanta coisa bonita.A conceção do painel está fantástica. O anjinho ao centro faz toda a diferença e torna este painel único. Muito bonito e elegante. Estão de parabéns, o Luís e o Manel.
Não pude deixar de reparar nos reposteiros e sanefa. Irrepreensivelmente escolhidos.
Bjs
Maria Paula
EliminarMuito obrigado, mas o mérito pertence mais aos mestres azulejares do século XVIII, que foram capazes de conceber azulejos sempre passíveis de novas e engenhosas combinações.
As cortinas opulentas são uma especialidade do Manel. Cada peça daquelas leva metros, metros e metros de galões, borlas, franjas, fios dourados e outras passamanarias e é tudo costurado por ele.
O conjunto realmente resultou muito bem e só temos que nos orgulhar de quem há 300 anos concebeu estes azulejos.
Bjos e mais uma vez obrigado
PARABÉNS meninos! ficou "brutal" como dizem os "novinhos" tugas. Lindo lindo lindo! Eu mesmo já achei numa caçamba de restos de obra 2 ou 3 destes azulejos marmoreados em manganês, nem todos inteiros, sujos de muita tinta, que dei para o Manel, na esperança que ele os conseguisse limpar e aproveitar.
ResponderEliminarabraços!
Fábio
EliminarMuito obrigado. É verdade, tu até já tiveste o prazer de nos acompanhar nas nossas expedições aos contentores das obras em busca de azulejos.
Nas renovações das casas as pessoas continuam a atirar para o lixo os velhos azulejos. Azar o deles, sorte a nossa.
Um abraço e obrigado
Que bonito painel!!!
ResponderEliminarObra de artistas de novo! Fico toda invejosa! E estou de acordo com a Maria Paula, o anjo ao centro é a cereja no topo do bolo. Enquadrado pelo rico reposteiro, o conjunto dá um efeito de palácio setecentista, sem dúvida.
Beijinhos e muitos parabéns aos dois!
Maria Andrade
EliminarEste painel que nós compusemos resultou muito bem. O anjinho dá-lhe o toque português final. A arte portuguesa não vive sem anjinhos e meninos jesus rechonchudos. Alguns até jogam às cartas com santas.
Bjos e obrigado
Excelente ideia, ficou muito bem,os meus sinceros parabéns.
ResponderEliminarCaro António José
EliminarMuito obrigado!
Um grande abraço
Luis (e Manel).
ResponderEliminarAnjos, estrelas e nuvens (azuis sobretudo) são uma combinação perfeita para alegrar e dar toda leveza que um lar precisa. Antigos então...
Como gosto de Cerâmica antiga é natural que os azulejos façam parte de meus desejos... Mas aqui só tenho uns caquinhos que dão, quando muito para descanso de panelas (mentirinha que faço isso).
Mas de todo jeito não tenho nem o miolo de um painel. Por isso os "invejo" tanto a cada Páscoa a aplicar estes belos painéis zuis sobre as paredes alvas da bela casa do Manel.
Na verdade tenho até uma tirinha de uns 6 holandeses que dão até para contar uma historinha. Quando me animar faço uma postagem.
Divido este abrço com o Manel.
ab
Amarildo
EliminarPor cá, não é preciso procurar muito para encontrar bons azulejos, pois sistematicamente eles são arrancados em obras de renovações de casas antigas. As pessoas não gostam de coisas velhas, que lhes recordem a morte, ao contrário de nós, para quem a memória dos que já partiram é reconfortante.
Gosto muito de azulejos holandeses e sei através do Fábio, que o Brasil importou muito azulejo daquele País.
Um abraço
Pois é, são os anjos entre as estrelas, como, afinal, soe ficarem.
ResponderEliminarQuero agradecer muito a todos os comentadores as palavras simpáticas e calorosas.
Realmente, creio que na barra de marmoreados, utilizei dois dos azulejos que o Fábio tão generosamente me deu, pois a maior parte dos outros que tenho deverão ser do século XIX, dadas as dimensões menores (creio que os dos XVII e XVIII - como aqueles que o Fábio me deu, são mais espessos e com dimensões ligeiramente maiores).
Os azulejos com as estrelas vieram da demolição de um dos muitos palacetes de Lisboa, os outros, da barra, foram apanhados aqui e acolá, ou comprados ao longo do tempo. É difícil conseguir fazer um conjunto destes em pouco tempo, é necessária paciência e muito vasculhar.
O do anjinho foi um acaso! Caiu-me na mão quase de forma miraculosa, como deveria acontecer com todos estas figuras celestiais.
Claro que a casa passou a estar em perigo, agora que descobri o martelo pneumático :-)
Foi bastante mais fácil abrir o buraco para colocar os azulejos.
Aquilo que antes demorava uma tarde de muito penar, muito bufar, muito suor e irritação da minha parte (coitado do Luís, que bem tinha de me aturar), desta vez foi coisa de meia hora!!!! ... e toca a andar que se faz tarde!!!
Tal como muito bem notou o Amarildo, escolho sempre esta época pascal para colocar azulejo, pois, quer o Luís quer eu, temos alguns dias livres. Poderia haver outras tarefas mais agradáveis para fazer, mas esta acaba por ser tradição.
Mas não quero deixar passar a oportunidade de agradecer ao Luís a ajuda
Manel
Manel
EliminarConfesso que me dá muito gozo estas sessões de colocação de azulejos. Dou continuidade às experiências, que iniciei em minha casa e sinto que desta vez acertamos na mouche. Um abraço
Muito trabalho mas que compensou bem o esforço. Imagino a trabalheira que deve ter sido!
ResponderEliminarNas fotografias do antes e depois ainda se consegue ver melhor a diferença brutal que fazem os azulejos. E combinam tão bem com o resto da decoração do quarto. Casa mesmo bem :)
Boa continuação de semana!
Catarina H.
EliminarOs azulejos tradicionais portugueses tem esta qualidade de transformar os espaços. Foram e são um material barato que no passado permitiu transformar igrejas e palácios arquitectonicamente pobres em espaços deslumbrantes.
Um abraço
Caros Luís e Manel,
ResponderEliminarAtrasada é certo, mas simplesmente extasiada com o vosso trabalho, e com a beleza desses azulejos!
Muito honestamente, bem que gostaria de ter o vosso jeito para esses trabalhos de restauro, mas julgo que me faltará a força braçal que dois homens têm! Imaginem pouco mais de metro e meio de mulher com um martelo pneumático nas mãos...hão-de convir que não será de todo um quadro romântico, digno de uma já cinquentona...
Bom, mas vamos ao essencial, a casa do Manel que, ao que tenho podido constatar, já era bela, ficou enriquecida com esse painel. Mas tenho a dizer que também fiquei fã da cadeira que anteriormente lá estava, bem como da encimalha (será que é assim que se nomeia?).
Parabéns pelo trabalho e continuação de bons restauros, que tenho a certeza, partilharão connosco!
Um enorme abraço aos dois
Alexandra Roldão
Alexandra.
EliminarMuito obrigado. O martelo pneumático também não era daqueles das obras. Era uma coisa mais pequena. E depois há sempre o recurso ao martelo e ao escopro ou pode-se optar por colar os azulejos sobre a parece.
Bjos e obrigado
Boa tarde Alexandra. Quero agradecer-lhe as simpáticas palavras.
ResponderEliminarRealmente devo conceder que é necessário alguma força para estar meia hora com um martelo pneumático nas mãos.
Eu, que, apesar de tudo, estou habituado ao uso de ferramentas, e a trabalhos algo pesados (mobiliário pode ser bastante pesado e como tenho de trabalhar com ele, acabo por ficar habituado a esforços), fiquei estafado no final do trabalho. Não é efetivamente para qualquer um.
Quanto à cadeira e sanefa, pertencem a um grande conjunto de sala de estar constituído por um conjunto anormalmente grande de peças (pelo que as tenho distribuídas por várias divisões), como era uso na sociedade elegante e da grande burguesia do século XIX, e que depois caiu em desuso, face ao tamanho cada vez mais pequeno das casas urbanas.
Só grandes casas poderiam conter tal número de peças.
Mas é um conjunto que, à luz dos dias de hoje, é até algo impressionante.
Obrigado, mais uma vez, pelas suas amáveis palavras
Manel
Ficou lindo, mas que trabalheira!!!! Mas valeu, os azulejos são lindos. Salvei a foto. Vou recortar e usar como vinheta em alguma postagem do meu blog.
ResponderEliminarAbraços.
Jorge
EliminarObrigado. Pela minha parte vou achar graça ver este painel no seu blog, sendo divulgado nas terras de Vera Cruz.
Um abraço
Luís
ResponderEliminarMais uma aventura e que aventura! O trabalho resultou em pleno. O anjinho central, como que orientando a visão unitária, ficou magnífico. Realmente, os azulejos pombalinos permitem composições cheias de beleza e originalidade. A sua reinterpretação permite novos conjuntos conferindo-lhes graça e novo sentido, na sua doce velhice. Parabéns, extensivos ao Manel.
Um abraço
if
Ivete
EliminarNós os portugueses adoramos anjinhos. Creio que herdamos esse gosto do período barroco.
Não há duvida que este painel é uma reinterpretação dos azulejos pombalinos, mas que no fundo acaba por ser fiel ao esquema de combinações característico daquele período.
Um abraço
Obrigado Ivete pelos parabéns.
EliminarNa verdade também creio que ficaram muito bem neste local. O Luís, nestas coisas, tem mais sensação do que fica bem do que eu.
Limito-me a ir juntando as peças ao longo do tempo e o Luís vai orientando a colocação, que nem sempre é a mesma que tinha pensado inicialmente. Mas o resultado acaba por lhe dar razão.
Desejo-lhe uma boa semana
Manel
Manel (e Luis),
ResponderEliminarOlhando o trabalho (ou trabalheira, no dizer de tantos comentários) final fica difícil imaginar a quantas mãos ele se deu. E quantos séculos também. Imagina XVII, XVIII, XIX. O apanhar o barro, fazer a massa, os desenhos, as cozeduras. o transporte, as vendas, as aplicações primeiras e segundas, quem sabe...
Isso só falando lá do passado, onde nem se sonhava com algo como a Rede. Depois as reformas atuais ou demolições, o jogar fora, o recolher, o repassar (e até presentear, veja o Fábio), o guardar e aguardar o tempo oportuno de reassentá-los uma segunda ou terceira vez... (ainda bem mesmo que se pode contar com amigos como o Luis e ferramentas como esse tal martelo que não conheço ainda).
Mas ao final o trabalho ou trabalheira sempre vale a pena.
Abraços aos dois e parabéns pela crença nos Santos Anjos, pois se existem bruxas muito mais existem estes bons amigos e inseparáveis companheiros, presentes do Criador, mesmo para os ateus.
ab
Amarildo
EliminarO percurso de cada um destes azulejos desde o momento em que começaram por ser barro, passando pela moldagem, pintura, cozedura, colocação, destruição e novamente colocação daria só por si para escrever uns quantos romances históricos. Os objectos tem por vezes uma estranha vida interior.
Um grande abraço
Parabéns pelo resultado, ficou muito bonito.
ResponderEliminarO anjo rodeado de estrelas foi uma opção estética brilhante.
Um abraço.:))
Ana
EliminarMuito obrigado!!!
Bjos
Luís e Tó... ficou uma "belezura" como se diz aqui na roça brasileira... rsrs! Estão ambos de parabéns... pelo trabalho, pelo bom gosto e pela dedicação de tornar esse local cada vez mais aconchegante =) Beijos e abraços aos dois.
ResponderEliminarRegina.
EliminarMuito obrigado pelos parabéns. De facto, desta vez conseguimos um resultado muito bom.
Fico também muito feliz por reencontra-la ainda que seja só na internet.
Bjos