Já aqui escrevi que em Outeiro Seco, no Solar da minha família paterna existia uma colecção de gravuras representando os reis de Portugal, de que sempre ouvi o meu pai e a minha avó falar com algum respeito e admiração, embora eu não me lembre deles. Também com dez ou dezasseis anos não estava sensibilizado para reparar em gravuras. Procurei obter alguma informação mais consistente sobre essa colecção, mas em vão. Nos dois filmes que o meu pai fez da casa nos anos 60, não consegui ver estes quadros nas paredes daquela casa e também não constam de um inventário dos bens do solar, que a minha avó escreveu nos 60 ou 70.
Portanto não faço a menor ideia se a colecção era pequena ou muito grande e se contemplaria os cerca de 34 reis de Portugal. Através da memória do meu pai sei que eram bastantes e estavam colocados nas duas paredes que ladeavam a janela da sala de estar. Por herança, recebi três gravuras dessa colecção e a minha irmã, outra e por essa pequena amostra, presumo que fossem gravuras retalhadas de diferentes livros. Terá sido pois um conjunto formado ao longo dos tempos correspondendo a um sentimento de veneração, pois à época os reis eram figuras tidas em grande respeito.
Talvez por essa razão, sempre que vejo uma gravura antiga representando um antigo rei de Portugal compro-a sem hesitar e assim, ao núcleo inicial proveniente do Solar de Outeiro Seco -D. João I, D. João II, D. Manuel – acrescentei já um D. Fernando I e um D. Pedro II e agora há pouco tempo foi juntar-se à esta pequena colecção uma estampa formidável representando D. João IV. Julgo que no fundo agrada-me a ideia de aos poucos ir reconstituindo na minha casa a antiga colecção de retratos dos reis de Portugal, outrora existente no Solar dos Montalvões. Claro, terei que mudar de casa para alcançar essa meta, mais isso já é outra conversa.
Portanto não faço a menor ideia se a colecção era pequena ou muito grande e se contemplaria os cerca de 34 reis de Portugal. Através da memória do meu pai sei que eram bastantes e estavam colocados nas duas paredes que ladeavam a janela da sala de estar. Por herança, recebi três gravuras dessa colecção e a minha irmã, outra e por essa pequena amostra, presumo que fossem gravuras retalhadas de diferentes livros. Terá sido pois um conjunto formado ao longo dos tempos correspondendo a um sentimento de veneração, pois à época os reis eram figuras tidas em grande respeito.
Talvez por essa razão, sempre que vejo uma gravura antiga representando um antigo rei de Portugal compro-a sem hesitar e assim, ao núcleo inicial proveniente do Solar de Outeiro Seco -D. João I, D. João II, D. Manuel – acrescentei já um D. Fernando I e um D. Pedro II e agora há pouco tempo foi juntar-se à esta pequena colecção uma estampa formidável representando D. João IV. Julgo que no fundo agrada-me a ideia de aos poucos ir reconstituindo na minha casa a antiga colecção de retratos dos reis de Portugal, outrora existente no Solar dos Montalvões. Claro, terei que mudar de casa para alcançar essa meta, mais isso já é outra conversa.
Relativamente a esta estampa, fazendo uma pesquisa no Google combinando o título e pelos nomes do criador e gravador, Ioannes 4 Lusitanie Rex / Antonius Horatijs Romanus Benedictus Fariat encontrei rapidamente um exemplar desta gravura no British Museum, com uma data atribuída entre 1661-1724.
Folha de rosto da Istoria delle guerre del regno del Brasile |
A partir dos dados obtidos no British Museum, efectuei mais umas pesquisas na internet acabei por descobrir na Biblioteca Marciana de Veneza que esta estampa fazia parte de um livro intitulado Istoria delle guerre del regno del Brasile accadute tra la corona di Portogallo e la repubblica di Olanda, da autoria de João José de SANTA TERESA, João (1658-1733), editado em Roma pela Stamperia degl' Eredi deI Corbelletti, no ano de 1698. Contudo no exemplar da biblioteca Marciana, que se encontra digitalizado as gravuras foram coloridas à mão. Mais além encontrei no Google books outro exemplar digitalizado desta edição, onde se vê que o retrato do D. João IV estava entre as páginas 4 e 5 do tomo II da referida obra.
Na edição de 1698 esta estampa encontrava-se no tomo II da Istoria delle guerre del regno del Brasile, entre as páginas 4 e 5 |
Pensei então que tinha encontrado a data certa de publicação da minha estampa, 1698, quando descubro no catálogo colectivo das bibliotecas italianas, o OPAC SBN, que a Istoria delle guerre del regno del Brasile teve uma segunda edição em 1700, impressa em Roma nella stamperia di Antonio de Rossi : a spese di Giuseppe Sangermano Corvo, libraro à Pasquino. Consequentemente, a minha gravura tanto poderá ter sido retirada da edição de 1698, como da de 1700.
O Rei coloca o braço de fora da moldura, como estivesse a uma janela observando-nos. |
O autor do desenho da gravura foi o artista italiano Antonio Horacio Andreas, acerca do qual não encontrei muitas informações, mas a quem não faltava seguramente talento, pois a estampa é muito boa e o pormenor do Rei colocar o braço de fora da moldura, como se estivesse a uma janela observando-nos, é delicioso. Quem executou a gravura, foi o francês Benoît Farjat Benoît Farjat (1645-1646 ?-1724), cuja forma latinizada do nome é Benedictus Fariat. Este senhor viveu e trabalhou maior parte da sua vida em Roma.
Relativamente ao tema, a obra descreve as guerras entre a Holanda e Portugal no Brasil no século XVII e apresenta muitas cartas e vistas daquele país, sobretudo do Nordeste e é uma fonte preciosa para a história brasileira. Uma parte desta obra está também digitalizada na Biblioteca Nacional do Brasil, mas apenas algumas cartas e vistas, que integram o volume factício Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas, coligidos por Diogo Barbosa Machado, um bibliófilo (1682-1772), que se entreteve durante a sua vida a cortar partes de livros, manuscritos e a formar com eles colecções temáticas com anotações suas. Essa impressionante colecção do qual também faziam parte muitos livros raros e valiosos foi doada no tempo de D. José à biblioteca real, biblioteca essa que no tempo das invasões francesas foi para o Brasil, por lá ficou e deu origem a actual Biblioteca Nacional brasileira, no Rio de Janeiro.
Relativamente ao tema, a obra descreve as guerras entre a Holanda e Portugal no Brasil no século XVII e apresenta muitas cartas e vistas daquele país, sobretudo do Nordeste e é uma fonte preciosa para a história brasileira. Uma parte desta obra está também digitalizada na Biblioteca Nacional do Brasil, mas apenas algumas cartas e vistas, que integram o volume factício Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas, coligidos por Diogo Barbosa Machado, um bibliófilo (1682-1772), que se entreteve durante a sua vida a cortar partes de livros, manuscritos e a formar com eles colecções temáticas com anotações suas. Essa impressionante colecção do qual também faziam parte muitos livros raros e valiosos foi doada no tempo de D. José à biblioteca real, biblioteca essa que no tempo das invasões francesas foi para o Brasil, por lá ficou e deu origem a actual Biblioteca Nacional brasileira, no Rio de Janeiro.
A Istoria delle guerre del regno del Brasile é uma fonte importante para a história do Brasil. Vista de S. Luís do Maranhão. Biblioteca Nacional do Brasil |
Dispersei-me um bocadinho neste post acerca desta estampa italiana, impressa em 1698 ou 1700, representando D. João IV e que tem tempos fez parte de um livro sobre as guerras no Brasil com os holandeses. Comecei em Outeiro seco, uma aldeia transmontana, passei por Roma, dei um pulo ao Nordeste Brasileiro e acabei no Rio de Janeiro. Cronologicamente também andei de trás para a frente, mas os objectos tem esta capacidade de nos fazer viajar no tempo e no espaço..
Só para lembrar...
ResponderEliminar1700 ainda é século século XVII! :-)
Os séculos começam no ano 1. Portanto, sua gravura ainda seria do século XVII!
abraços
Fábio
EliminarTens toda a razão. Já corrigi o texto.
A Istoria delle guerre del regno del Brasile tem também uma vista do Rio de Janeiro, mas é uma coisa esquemática. Em todo o caso, no início do século XVII, a cidade maravilhosa não deveria ser muito maior do que aquilo que é representado naquela vista.
Um abraço
O detalhe da mão se apoiando na moldura é muito bonito.
ResponderEliminarProssiga em refazer a antiga coleção de gravuras de seus pais,mas, haja parede!
Que tal um novo solar???
Abraços.
Jorge
EliminarO seu comentário fez-me sorrir. Eu moro num apartamento minúsculo, do tamanho de uma caixa de sapatos, no centro histórico de Lisboa.
As casas grandes estão fora de Lisboa e foram construídas num tempo em que as famílias eram muito grandes e com muita criadagem. As famílias agora são muito pequenas, as empregadas internas desapareceram da sociedade portuguesas nos anos 60 e não há empregos na província. Mas se tivesse algum capital, comprava a casa da família da minha mãe no Norte, que é muito grande e enchia-a de móveis antigos, faianças, porcelanas, gravuras, muitos e muitos santos, virgens e crucifixos. (risos)
Um grande abraço
Nunca se sabe o que o futuro nos reserva...
EliminarCaro Jsantos
EliminarÉ verdade. O ser humano é sempre irremediavelmente optismista. De outra forma desistiríamos de todos os projectos e de todos os ideais.
Um abraço
Esta estampa é uma delícia. O desenho muito bem feito, as formas barrocas da moldura perfeitamente em sintonia, realmente foi um bom achado.
ResponderEliminarParabéns
Manel
Manel
EliminarEsta estampas deve ser sem dúvida das melhores que eu tenho. Todos os pormenores são fantásticos, até as rendas de bilros, que enfeitam a indumentária de D. João IV, são representadas com imenso realismo.
Um abraço
Uma bonita gravura, rica em detalhes, com a mão apoiada na moldura. O rosto é triste, parece cansado.
ResponderEliminarLuis, deixo beijinhos e já aproveito para desejar-lhe um bom final de semana.
Cara Maria da Glória.
EliminarInteressante a sua perspectiva. D. João IV teve um reinado complicado, iniciado em 1640 com a revolta, que pôs fim ao domínio espanhol em Portugal. Os restantes 16 anos do seu reinado foram passados em guerra. Os espanhóis acossaram as fronteiras portuguesas e no Brasil e Angola dirigiu as lutas contra os holandêses. Talvez essa tristeza e cansaço resultassem das preocupações com as guerras constantes, que teve que conduzir durante seu reinado.
Beijinhos
Os olhos Luis, me passam um imenso cansaço. E fui olhar a imagem novamente, para confirmar.
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