sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Faiança: as imitações de Miragaia



Num dia de passeio, vindo do Sul, antes de chegar a Ílhavo, comprei num antiquário à beira da estrada esta travessa cheia de gatos, com um encanto rústico, que me fez abrir os cordões à bolsa e leva-la para a casa, onde continuo a namora-la na parede.

A travessinha é uma imitação ingénua da célebre decoração designada por tipo “País”, fabricada por Miragaia entre 1822 e 1850 (ver foto em baixo). Esta decoração representa uma paisagem com edifícios sendo o central coberto por uma cúpula. O conjunto está envolto em arvoredo. Os pratos e travessas têm sempre uma aba preenchida por uma cercadura de flores. A maioria desta loiça é azul e esta cor tornou-se de tal maneira sinónima da produção de Miragaia, que lhe são atribuídas todas as peças com outro tipo de paisagens estampilhadas a azul. No excelente catálogo a “Fábrica de Louça de Miragaia. – Lisboa: IMC, 2008”, Margarida Rebelo Correia caracteriza e explica muito bem esta decoração, bem como a sua origem.

Prato Miragaia, decoração País do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv. 1118 Cer



Contudo, o Tipo País que celebrizou a produção de Miragaia é por sua vez uma imitação de uma decoração feita com muito sucesso por uma fábrica inglesa, localizada perto Liverpool e que laborou entre 1793/4 e 1841, a Herculaneum Pottery. Neste período, o Reino Unido inundou o mercado europeu com bonitas faianças representando paisagens e vistas de monumentos, executadas a partir de gravuras, que se tornaram extremamente populares. Explica-se assim o nome dado a esta decoração, o “país”, porque nela eram representadas vistas de diferentes países.





Prato da Herculaneum Pottery, motivo View in fort Madura, ca 1815


As três fotografias destas peças de faiança recordam-me a alegoria da caverna de Platão. Temos o arquétipo, que é o prato inglês, depois uma sombra desse arquétipo, o prato de Miragaia e finalmente uma sombra da sombra, a minha pobre travessinha. Na alegoria de Platão, as sombras são qualquer coisa que perdeu a qualidade do original. Na faiança, temos antes recriações. As cópias reinventam o motivo e transformam-no em qualquer coisa de novo.




Pormenor de terrina da Herculaneum Pottery, que pertence ao meu amigo Manel (Grrr!! que inveja!!!)

Aspecto geral da terrina da Herculaneum Pottery, do meu amigo Manel

Ver mais sobre imitações de Miragaia

A google books disponibiliza parte dum catálogo sobre a fábrica The Herculaneum pottery: Liverpool's forgotten glory/Por Peter Hyland. – Liverpoop University Press, 2005, http://books.google.pt/books?id=LUqlbFnUaeYC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false

13 comentários:

  1. qualquer coisa de novo e de delicioso! Linda a sua travessa. Adoro a forma como em um determinhado ponto o padrão floral se perde da borda e quase invade o meio da travessa!

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  2. Ai Luís, sou tão pouco perspicaz!
    Quando julgo que tenho poder de observação, reparo que não! A minha terrina estampilhada Herculaneum tinha um desenho que me parecia familiar. Quanto mais o observava mais familiar me parecia, mas não conseguia fazer a ligação!
    Eu que possuo o catálogo de Miragaia, que o vejo amiúde, que vejo a minha terrina todos os dias e ... só hoje, vendo a tua última imagem, dei conta que os desenhos afinal são os mesmos! Que tonto sou!
    Mas finalmente percebi porque a terrina me parecia tão familiar ... hehehe
    Manel

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  3. Caro LuisY
    Inegável a rara beleza que irradia a foto da sua travessa.Identificável, pelo traço espesso azul forte dos beirados do pagode que viriam a perdurar no tempo em tantas outras criações de reprodução livre.Pena que o "Gateador" tenha optado por colocar os "Gatos" na frente da mesma, apesar de adorar gatos... Outro grande encanto é a soberba bordadura em jeito de imitar a faiança Coimbrã. Reconheço o tempo que lhe dedica em simples contemplação!Pasmo só de pensar, também eu uma fã destas peças, no meio de nadas e mui silêncios perco-me a mirá-las...elas conseguem o dom maior de me esquecer do mundo...também, porque absurdamente não discutem, não ralham, não me rejeitam, apenas estão ali na minha frente, olhos nos olhos em completo fascínio ...irradiam paz, a luz do vidrado das pastas na miscelânea de cores cozidas em forno artesanal, é surreal. Transmitem-me contextos de pura inocência , quer dos desenhos, quer de outras belezas que a cada dia adoro descobrir.
    A talhe de foice recebi convites para visitar o salão de Antiguidades a decorrer na antiga FIL, onde fui sábado.Curiosamente os stands abarrotavam de pratas, casquinhas,Companhia das Índias, chinesa Ming e outras Dinastias, Santos...e dois fabulosos escapulários com incrustações a prata, soberbos, talvez usados a tiracolo.O que no imediato me catapultou até si, como imagina, falou recentemente sobre este tema, e ainda não rarefeita eis que no fundo de uma vitrine me despertou a atenção uma bacia de Miragaia muito idêntica à sua travessa que ainda não tinha visto no Post, mas cuja rara beleza me cativou. Chegada a casa abri a net para procurar mais sobre as Olarias de Alcobaça e, estupefacta vi a sua travessa e disse para comigo, tenho de comentar.... impressionante são as tantas coincidências...
    A exposição é abismal, diversificada, contudo esperava mais da dita "Nossa" em prol da dita "Estrangeira".. Salda-se o resultado final pela excelente colecção de faianças ditas do Norte, a saber: Viana do Castelo,pastas translúcidas decoradas com uma simples flor no centro em tom vinhático arroxeado;Bandeira pelos ocres brilhantes, Fervença, Aveiro com os esponjados,OAL de Alcobaça, o tom verde de Coimbra, Brioso e...tudo muito carrérrimo.Valeu para desenferrujar o olhar.Adorei conversar com gente anónima sobre estes temas no intuito de aprender sempre mais, o que aconteceu, fiquei mais rica, sobretudo porque trouxe comigo mais informação sobre as Olarias de Alcobaça, dos carimbos, das cores, do jeito da pincelada sobretudo do Raul da Bernarda. Com tudo isto deixo um convite para visitarem, custa 3€ o bilhete. Acreditem vale a pena, ah no 1º andar há doces e as únicas faianças de Sacavém a um preço módico de 15 €.Muito mobiliário. Atrevam-se!
    Ah como agora apareceu uma amiga com o mesmo nome,logo eu que tenho tantos nomes...difícil é decidir-me qual gosto mais. Pela escrita sabe que sou eu a Maria Isa.
    Boa semana, ....
    Qual será o tema que me irá assombrar antes do Carnaval?
    Aqui fica o mote....Descubra!

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  4. Por lapso esqueci-me de aflorar que a peça fica muito mais enriquecida se tiver um suporte em latão fino. Quando passar por Coimbra na baixa por entre as ruelas vai encontrar a única casa onde os poderá encontrar "Vidreira Saul", há de todos os tamanhos. A beleza é a simplicidade que confere à peça que ostenta uma atitude ímpar.

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  5. Cara Isabel

    Não tenha problema com as confusões de nome, porque a outra Isabel, a “Zoe”, é também pessoa com personalidade bem definida, que não se presta a trocas de identidade.

    Tenho um convite para ir à FIL das antiguidades e quero ver se dou lá um pulo, provavelmente com os meus filhos. Faz bem para educar a vista e o gosto.

    Ainda bem que foi parar ao “velhariasdoluis” numa pesquisa na net. De facto há tão poucos conteúdos úteis sobre faiança portuguesa na Web, que ao fim de 3 ou 4 pesquisas no www.google já os conhecemos a todos. Um dos objectivos deste blog foi proporcionar e partilhar com os outros internautas informações pertinentes, compiladas aqui e ali sobre cerâmica.

    Também não percebo esse fascínio com coisas estrangeiras. Claro, adoro Sévres, Companhias das Índias, Mings e essa tralha toda e não me importaria nada de ter umas pecinhas dessas louças na minha casa, mas a faiança portuguesa tem um encanto muito especial. Associamo-la a pessoas de família que já morreram, férias da infância e histórias do passado em casas antigas.

    É verdade. O suporte é feio. Sabe, esta travessa está pendurada na parede, com uma aranha. Só desceu cá para baixo para a fotografia e foi colocada neste sítio, com aquele suporte de plástico, porque é o local da minha casa com melhor luz. De futuro, Terei que ter mais cuidado a fotografar as minhas pequenas estrelas de cinema.

    Abraços,

    Luís

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  6. Não tens de ter inveja, as "nossas" recriações em nada ficam atrás do original, até lhe emprestam uma beleza mais ingénua e cativante de quem olhou, viu, absorveu o principal e, a partir daí, iniciou uma viagem original, particular e intimista, capaz de nos despertar um mundo de emoções de que o original é incapaz
    Manel

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  7. Tens razão Luís! Eu é mais é bolos!!!!!!!!
    Não há confusão possível!
    Zoe Em busca de uma Vístula!

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  8. Eu queria dizer
    Zoe Em Busca De Uma Mísula
    ou
    Uma Mísula Para Zoe
    Beijinhos
    Zoe (Lê-se Zôé)

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  9. Eu possuo alguns pratos rasos e fundos de porcelana Herculaneum, mas gostaria de literatura ou informações sobre o assunto. Onde posso encontrar?

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  10. Caro Anónimo

    Acerca da Herculaneum pottery consulte o artigo da Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Herculaneum_Pottery

    Há um catálogo sobre a fábrica “The Herculaneum pottery: Liverpool's forgotten glory/Por Peter Hyland. – Liverpoop University Press, 2005, que poderá encontrar num desses distruibuidores internacionais de livros como o amazon.com e que está disponível parcialmente no http://books.google.pt/books?id=LUqlbFnUaeYC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false.

    Lamento não poder ajuda-lo mais

    Abraço e volte sempre

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  11. Olá, tu tem algum email de contato ?
    gostaria de te mostrar umas peças...
    aguardo

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