Mesmo os menos crentes saberão que Nossa Senhora das Dores representa a Virgem Maria trespassada pela dor no momento da morte do filho, Jesus Cristo. Por essa razão, a Virgem é normalmente representada com sete espadas no coração ou mais raramente com uma apenas, como no caso deste registo. Também é verdade, que em menos de dois centímetros de área com que conta esta estampa seria difícil representar sete espadas.
Nossa Senhoras das Dores representa um fenómeno do Cristianismo em que Maria une-se ao sofrimento do filho. Esta ideia é fácil de perceber se nos recordarmos de algum velório ou funeral onde as mães lamentam os filhos mortos. Ainda esta semana assisti a um, em que uma mãe destroçada chorava um filho, que suicidou aos 24 anos e quando olhei para ela, não pude deixar de me recordar desta devoção da mater dolorosa, tornada tão popular na Europa, logo partir do Século XIII.
Mas há outra coisa profundamente feminina nesta Nossa Senhora das Dores, que é o trabalho precioso do bordado, que rodeia o registo, feito a fio de ouro, prata e lantejoulas. O complexo lavor quase que se sobrepõe à estampa, remetendo-a para um segundo plano. Quase, se nós não soubéssemos que a intenção desta Senhora tão virtuosa de mãos, era lembrar um filho morto nos braços, talvez único, ou pedir a protecção para os outros filhos ainda vivos a uma qualquer entidade divina, através de um precioso lavor a prata ouro e missangas sobre seda.
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ResponderEliminarLindo, Luis! Que peça encantadora! Preciso ver ao vivo quando voltar à Lisboa!
ResponderEliminarFico ainda mais conectado ao objeto desde que no último quase 1 ano venho pouco a pouco incorporando o bordado aos meus trabalhos de arte. Isto começou depois de minha temporada em Portugal em nov/2011. Não foram apenas os azulejos que eu "trouxe" comigo, mas também os bordados, que atualmente é quase o lavor central em minha criação artística. Em particular, os temas dos lenõs de namorados.
Se me permite ilustrar o que comentei: aqui verás um dos meus trabalhos mais recentes, e e aqui verás um que comecei quando ainda estava no Porto, e terminei no Brasil.
abraços!
Fábio
ResponderEliminarÉ verdade a tua obra tem explorado este mundo dos chamados lavores femininos, que nos encantam pelo seu lado mais intrincado e complexo. Recordam-nos sempre as parcas que teciam o destino da vida dos humanos.
Mas talvez o mais fabuloso desta verónica é que não ultrapassa os 8 cm de área.
Um abraço
Sim! É LINDO tanto trabalho, tanta dedicação, em tão pequeno espaço. abraços
EliminarQue verónica encantadora, Luís! Não sei como desencanta estas maravilhas...
ResponderEliminarA sua hipótese para a autoria deste trabalho, tão bonito quanto minucioso, é muito verosímil, tratando-se de ornamentar uma imagem de Nossa Senhora das Dores. Sabemos como a morte de um filho dilacera a vida de uma mulher e conheço casos em que essas mães enlutadas têm necessidade de manter uma ligação estreita dedicando muito do seu tempo ao embelezamento de campas ou de jazigos também com bordados e rendas.
No entanto, acredito que fosse dos conventos femininos que saíam estes bordados mais elaborados, daí vinha parte do seu sustento. Imagino uma sala austera com as freiras sentadas em semi-círculo a dedicar-se a estes lavores. Assim davam cor e beleza aos seus dias cinzentos...
Enfim, filmes que cada um guarda na memória...
E não posso deixar de dar os parabéns ao Fábio pelas recriações que faz dos lenços dos namorados. O contraste que ele criou pode ter diversas leituras, é muito interessante!
Abraços
Maria Andrade
ResponderEliminaro seu cenário é muito possível. Muitas meninas de famílias nobres eram educadas em conventos, ainda que depois saissem para casar. Outras tomariam votos. Muitas senhoras quando enviuvavam recolhiam-se também em casas religiosas. Todas estas mulheres passariam horas esquecidas a bordar, a costurar e a fazer rendas. Até porque uma mulher séria tem sempre as mãos ocupadas...
Li que que muitos destes registos eram enfeitados com restos de tecidos, passamanes e fios usados na paramentária. E de facto encontro algumas semelhanças entre o trabalho desta Veronica com as casulas que vi recentemente no Palácio de Vila Viçosa. Eu tenho é pena não perceber nada de pontos e bordados, pois julgo que seria possível estabelecer algumas comparações entre estes trabalhos e os da paramentária religiosa. Julgo que ambos serão trabalhos conventuais. Terei talvez que ler qualquer coisa sobre paramentária.
Bjos
Este tipo de trabalho é muito bonito.
ResponderEliminarFico sempre encantado com esta forma de expressão e dou comigo a pensar no difícil que deve ser fazê-lo.
De vez em quando tento recriar este tipo de decoração, muitas vezes no intuito de perceber o trabalho, paciência e criatividade necessários, mas acabo por nunca levar nenhum projeto avante, pois enfado-me rápido.
É mesmo necessária muita paciência e rigor no manejo dos instrumentos.
Aleatório e pouco constante como sou, nunca consigo manter os mesmos padrões de qualidade e ... fica tudo por ali, sem qualquer préstimo e abandonado.
Regresso sempre aos meus trabalhos de restauro, que, esses sim, fazem-me sonhar com as peças acabadas e, a posteriori, com o resultado com que fico, algumas vezes, a superarem as expetativas!
Falta-me a criatividade do Fábio (ao qual aproveito para lhe enviar os meus parabéns, pois a junção que levou a cabo é realmente feliz e muito apelativa) para desenvolver os trabalhos.
Manel
Adorei TUDO.Herminia Cid
ResponderEliminarCara Hermínia Cid
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário tão simpático.
Um abraço