quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Janelas e portas de Bragança


Julgo que foi a pintora Maluda (1934-1999) quem tornou moda, no final a década de 70, a pintura ou fotografia de portas e janelas, que hoje está tão generalizada. Com efeito, a obra daquela pintora foi amplamente copiada por toda uma série de artistas amadores, como militares na reforma, donas de casas com filhos já criados e antigos professores liceais. Também na internet, há uns quantos blogues que se dedicam à fotografia de janelas, portas e aldrabas com uma clara influência maludiana. As obras de Maluda foram reproduzidas em selo, multiplicadas em serigrafia, postais e creio que é a única artista plástica recente realmente popular, que toda a gente conhece e sobretudo gosta de forma espontânea, sem precisar de ler de nenhum manual de arte para aderir às suas pinturas.

Esta popularidade do tema das janelas e das portas é do ponto de vista da psicologia humana compreensível, pois capta-las através do pincel ou da câmara é querer transpô-las e penetrar na intimidade de uma casa. 

Também é bem verdade, que no passado quem encomendou a feitura de janelas, com caixilharias complicadas, emolduradas em cantaria de pedra lavrada, varandas de ferro forjado ou portas almofadadas, pretendia transmitir uma imagem de si e da sua família a quem passava na rua. Queria-se demonstrar riqueza e luxo, ou então elegância e sobriedade e até mesmo pudor. Há pois uma mensagem em cada portão, varanda ou janela.
Uma varanda de ferro forjado

Também sou sensível à beleza das janelas e às vezes suficientemente afoito para empurrar um portão mal fechado e penetrar em casas decrépitas e tentando captar um pouco de um certo ambiente, que ainda sobrevive das famílias que ali viveram durante gerações.
Uma escada antiga

Desta vez andei por Bragança, cidade que não me é indiferente, pois foi aí que o meu pai passou parte da sua meninice e juventude e fotografei aqui e ali alguns portões, janelas, escadarias e varandas, que transmitem uma imagem de solidez e intemporalidade, próprias de que quem faz obras a pensar não só em si, mas nas gerações futuras.

20 comentários:

  1. Não queria ser a primeira, nem queria ser a última. Gostei das imagens, principalmente quando se conjuga a pedra com o ferro.
    Também gosto muito de varandas, mas principalmente de caixilhos de janelas. Onde os vi mais bonitos, pelo menos para mim, foi em Lamego, no centro da cidade e no Porto, nos prédios junto à Sé.
    Uma estrutura, daquelas com inúmeras divisões, colocada sobre uma parede, só por si fazia uma decoração riquíssima.
    Divagações!

    Um abraço

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  2. Ivete

    Ivete
    É verdade, sempre que vou ao Porto fico encantado com a caixilharia elaborada das janelas das casas antigas. são os tais pequenos detalhes que fazem o encanto de uma casa antiga. Aqui em Lisboa são sempre simples, talvez uma herança dos tempos da reconstrução pombalina, em que os materiais de construção foram feitos com poucas variantes e em grandes quantidades.

    Um abraço

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  3. A zona histórica de Chaves também as tem bem bonitas!
    Temos uma arquitetura típica tão bela que os novos edíficios enquadrados em zonas históricas me causam arrepios.Não consigo compreendê-los ou aceitá-los.
    Obrigado pelas belas imagens, alimentam a alma!
    Ana Silva

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    1. Ana Silva

      Sim, a cidade de Chaves tem janelas lindas, mas sobretudo os balcões em madeira das suas casas é que me encantam. Até já escrevi umas duas vezes sobre esse assunto aqui no blog.

      Também me arrepiam as novas construções nos centros históricos. Julgo que algumas delas deveriam mesmo ser implodidas sem dó nem piedade, como aquele prédio setentão, em Coimbra, ao lado do arco da Almedina, ou o prédio ao lado do Palladium na Av. da Liberdade em Lisboa e em seu lugar, refazer os antigos edifícios que lá estiveram. Os polacos reconstruíram o centro histórico de Varsóvia a partir do nada, de um terrível vazio deixado pelos alemães e quando o fizeram, a Polónia não era um país rico.

      Um abraço

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  4. Portas, janelas, fechaduras... tudo me fascina. Sempre que visito uma localidade, procuro captar esses elementos.
    Obrigada pelas partilha, de imagens e texto.

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    1. Deep

      Obrigado pelo seu comentário.

      Concordo consigo. Janelas, fechaduras e portas fazem toda a diferença e constituem os pormenores que dão o toque final a um edifício histórico. Mexer neles e substitui-los por materiais novos implica desfigurar uma casa histórica. Repare por exemplo na casa muito simples com as portas almofadadas. Se algum dia alguém resolver tirar aquelas portas e cheira-me que esse dia está próximo, aquela casinha perde metade do seu encanto.

      Um abraço

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  5. Portas, janelas, fechaduras... tudo me fascina. Sempre que visito uma localidade, procuro captar esses elementos.
    Obrigada pelas partilha, de imagens e texto.

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  6. Eos edíficios frente à Maternidade Alfredo da Costa? Um mesmo em frente e outro do outro lado da av, ao lado do hotel? Quando trabalhava no Marquês adorava aqueles prédios, um era uma casa senhorial mas o outro era uma casa de habitação com quintal e uma ponte até ao portão que dava para a avenida. De repente passo lá e onde é que eles estão? Dois enormes buracos... Aqui no centro histórico de Leiria a Caixa Agrícula restaurou o palacete dos Ataídes e depois nas traseiras construiu um auditório que mais parece uma caixa negra!!! Já para não falar num centro de cultura dedicado a Eça de Queiróz salvo erro e que é um verdadeiro mamarracho na rua principal da zona histórica que é conhecida por rua direita mas é imensamente torta... è só atentados...
    Em relação às varandas de madeira adoro as de São Pedro de Moel... A zona da casa de Afonso Lopes Vieira é deliciosa!
    Abraço
    Ana Silva

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    1. Ana Silva

      A lista de monstruosidades construídas nas cidades portuguesas é infindável. A propósito da zona em volta da maternidade Alfredo da costa, há uns anos trabalhei numa exposição sobre o pintor José Malhoa e foi necessária uma fotografia da Casa-Museu Anastácio Gonçalves, que foi o atelier daquele pintor. Quando o gráfico viu o resultado, que é uma moradia lindíssima, perfeitamente esmagada por um monstro, sentiu-se várias vezes tentado a retocar a fotografia e apagar o prédio de 10 andares, que serve de pano de fundo aquele museu.

      Um abraço

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  7. Luis,

    Nem me fale sobre adentrar casarões arruinados, abrir antigos baús ou gavetas emperradas...

    Se sabe, ou pelo menos se diz, que de médio e louco todos temos ou pouco. Talvez destes que adentram uma casa abandonada, como quem cata uma moeda perdida ou algo assim, também. Falo de mim, certamente, mas não consigo pensar que possa haver outra postura, totalmente alheia e sem o menor atrativo de "fuçar" vidas passadas, coisas perdidas ou deixadas...
    Quando menino tinha sonho de morar perto de uma oficina de carros batidos ou depenados mas também os baús ou guardados dos avós me traiam tanto. Selos, moedas e tanta coisa de vidas que passaram, ou que ficaram nestas velharias.
    Uma vez deixei uma festa inteira (ou quase) de um colega porque em sua vizinhança havia uns casarões tombados, nos dois sentidos... Tanto papel de parede, pinturas em estêncil, mobílias carcomidas e cacos de louças... Sem falar de nichos ou peanhas vazias. E as capelinhas tomadas de marimbondos e estrume de morcegos?
    E me lembro que quase morri do coração quando folheava ou tentava desgrudar livros de uma casa já sem telhados, deixados todos numa velha prateleira que resistia ao tempo. Ouvi atrás de mim passos apressadas: algum herdeiro com certeza, pensei e gelei como se estivesse num terrível crime. Que nada, era uma novilha à procura de sal ou coisa assim. Depois do alívio jurei nunca mais entrar numa casa abandonada... Que nada nada. Era promessa de criança assustada..

    Um abraço.

    ab



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    1. Amarildo,

      Julgo que pessoas como nós, que desde meninos começaram a gostar de história se sentiram atraídos por casas antigas e sobretudo em ruínas. Elas despertam em nós um gosto de aventura de viajar numa máquina do tempo, ou um sentimento de nostalgia e tristeza. Ao longo dos séculos a ruína tem sido um material fértil para pintores, escritores e outros artistas. Mais, recentemente, o Gastão Brito e Silva, dedicou um blog inteiramente ao tema das casas e igrejas abandonadas, que se tornou um sucesso em toda a internet. As suas fotografias são simultaneamente obras de arte, denúncias à incúria com que é tratado o património, mas revelam também uma um sentimento de atracção pela ruína profundamente nostálgico e romântico.

      Experimente dar uma olhada em http://ruinarte.blogspot.pt/.

      Um abraço

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    2. Mais uma vez por terras transmontanas, não é verdade, Luís? E a partilhar connosco apontamentos que o seu olhar seleciona, neste caso portas e janelas bonitas de uma cidade com história!
      Lindo texto e imagens!
      Beijos

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    3. Maria Andrade

      Infelizmente já regressei. Mas, aproveitei para rever Bragança, cujo centro histórico tem vindo a ser recuperado aos poucos. Fui ver a Domus e também o museu Abade de Baçal, que tem uma boa colecção de escultura religiosa, prataria, mobiliário, pintura naturalista e também cerâmica. É curioso, que tem algumas peças de cantão popular, com aquela cercadura em forma de grinalda muito estilizada, atribuída pelo museu a Coimbra, e que a Laura Cristina Peixoto provou que serão muito certamente Santo António Vale da Piedade. A Maria Andrade, mostrou aliás uma dessas peças no seu blog.

      bjos

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  8. Como um buraco na parede de um qualquer volume pode dar lugar a tanta riqueza.
    Fico sempre admirado com a imaginação da humanidade, que transforma um elemento singelo e vazio (quase um não-elemento), ainda que cheio de funcionalidade, numa riqueza formal decorativa fantástica.
    Nunca me canso de admirar esta nossa capacidade, pois creio que só a nós, humanos, nos assiste esta capacidade imaginativa de transformação.
    Não que os outros seres vivos não atuem sobre a natureza, que o fazem, claro, mas não creio que o façam de forma voluntária, pensada e com um sentido estético por excelência.
    Manel

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    1. Manel

      Gostei do teu ponto de vista de arquitecto. Realmente, pensando bem, as janelas, são buracos, são um vazio e no entanto acabam por ser elemento fundamentais na definição do aspecto de uma fachada ou do interior das salas e dos quartos e das divisões em geral.

      um abraço

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  9. Luis,


    Obrigado.
    As imagens do site são impressionantes, algumas chegam bem perto da sensação de que falávamos, ao adentrar ou admirar certas construções arruinadas. E há imagens que até parecem recortadas das melhores produções da Sétima Arte. Aliás, não sei por quê, estas casas no Cinema são, quase sempre, associadas ao medo, ao terror e ao mal enquanto tantas vezes vemos beleza, magia e um bem. ainda que desprezado ou esquecido.

    Mando daqui um abraço tb para o Manel, que não consigo ver lá em "casa" .

    ab

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    1. Amarildo

      É verdade, as fotografias do Gastão tem uma dimensão artística, que muitas vezes nos transportam para o cinema. Mas, com o Amarildo refere as suas ruínas tem sempre uma imensa e triste poesia.

      Um abraço

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Luís,
    Muito bonitas estas portas e janelas umas mais ricas que outras; umas que mantêm o afecto e outras abandonadas.
    Depois de uma aventura em pequena nunca mais consegui entrar nas casas de outrem.
    Quando era pequena, estava em férias na casa da minha avó, a brincar com os meus primos, no meio do campo e encontrámos uma casa abandonada, entrámos e descobrimos uma arca, lembro-me que cada um, (brincávamos aos "Cinco"), levou uma recordação. A minha avó zangou-se tanto connosco e obrigou-nos a devolver as coisas, mesmo sabendo que alguém iria assaltar a casa, mas não seriam os seus netos.
    Ficámos tristes, perdemos os tesouros mas compreendemos a avó. Desde esse dia e até hoje nem às pinhas consigo ir.
    Beijinho. :))

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    1. Ana

      Não há dúvida que a sua avó a educou em bons princípios.

      Eu por vezes não resisto a entrar numa casa abandonada, embora me falte a coragem do Gastão Brito e Silva, do blog Ruínarte, que esse sim, arrisca o pescoço.

      Em todo o caso, há uns anos, perto de Soure, entrei numa propriedade para admirar e fotografar umas bonitas casas dos finais do XIX e fui surpreendido pelo proprietário, que por um triz não me matou com um sacho.

      Bjos


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