terça-feira, 12 de abril de 2016

Alpendre com cobertura revestida de azulejos em Elvas


Elvas é daquelas cidades que se visita sempre a correr, de preferência em passagem para a Espanha ou para outro lado qualquer do Alentejo. Acabamos por conhecer mal a cidade e é uma pena, pois em termos patrimoniais é fabulosa. As muralhas seiscentistas do tempo em que Portugal esteve em guerra com Espanha, 28 anos ao todo, justificam plenamente a visita, mas também o casco histórico é bonito e bem preservado, cheio de pormenores interessantes, que nos fazem abrir a boca de espanto, como este alpendre, com uma cobertura de revestida de azulejos enxaquetados, formando como que uma complexa cúpula . 

Este alpendre faz parte do colégio jesuítico de Elvas, construído sobre a antiga igreja de Santiago e que é hoje a biblioteca pública da cidade. Segundo os dados que encontrei no site monumentos.pt, este alpendre e a sua cobertura azulejar terão sido executados em 1716, embora os azulejos tenham um efeito tão surpreendente, que mais parecem uma obra feita por um modernista qualquer para a Exposição de Artes Decorativas de Paris, de 1925.

São pormenores arquitectónicos deste tipo, que as terras alentejanas conservam sempre muito bem e que espalhados aqui e acolá transformam uma cidade em qualquer coisa de muitíssimo atraente. Claro foi uma chatice fotografar este alpendre sem apanhar automóveis. Aliás, os carros surgem sempre com tanto destaque nas fotografias dos monumentos, que muitas vezes penso ser possível fazer uma história do automóvel no nosso País através das histórias da arquitectura em Portugal.

Em todo o caso, este alpendre é um exemplo muito engraçado de uma prática, que ainda era rara em Portugal no século XVIII, que era a colocação dos azulejos no exterior. Nessa época o uso da azulejaria no exterior circunscrevia-se aos jardins e às coberturas das torres de algumas igrejas.
 
 

10 comentários:

  1. Esta cúpula de enxaquetados é lindíssima.
    Foi difícil fotografá-la sem apanhar muitos fios, carros e outros elementos disruptivos do ambiente que ali foi criado.
    Dá ideia de uma construção intemporal, que poderá ser vetusta ou modernista, depende da cultura visual de quem a vê e da sua propensão no momento.
    Elvas é um local verdadeiramente interessante e, parece-me, algo inexplorado por quem ali passa. Quem sai, já tem como objetivo qualquer destino em Espanha, quem vem, destina-se já a uma qualquer terra portuguesa, seguramente longe de Elvas.
    Elvas vale bem o tempo que se leva a percorrê-la e a saboreá-la, pois come-se bem pelas suas ruelas
    Manel

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    1. Manel

      Todos os guias turísticos recomendam no Alentejo uma visita a Évora, Castelo de Vide, Marvão e costa vicentina e esquecem-se de cidades tão ricas em termos patrimoniais como Elvas ou Portalegre.

      Metade da minha vida foi passada a correr por Elvas, dentro de camionetas ou carros e sempre com vontade de parar, de explorar aquelas ruas e ver as igrejas e os fortes todos. Progressivamente tenho vindo a conhecer a cidade e gosto muitíssimo e mesmo assim queria visitar as fortificações com a devida atenção.

      Um abraço

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  2. Elvas é uma cidade linda. Não me lembro desta cúpula mas devo tê-la visto, certamente.
    Obrigada por a trazer aqui.
    Um abraço aos dois e parabéns pelo post anterior.

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    1. Ana

      Sou um turista muito atento, que repara e mete o bedelho em tudo. Julgo até que para a maioria das pessoas serei uma companhia de viagem chata, sempre a querer ver mais uma igreja, mais um beco e chamar a atenção de toda a gente para um oratório, uma janela ou uma varanda e depois sofro de uma certa tendência para comandar as tropas quando viajo em grupo. Aliás, deve ser a única altura da vida, em que tenho espírito de liderança.

      Perco-me neste tipo de pormenores.

      Bjos

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  3. Luís

    Mais uma pequena grande maravilha, que escapam aos olhos destreinados da maioria daqueles que percorrem terras e ruas, sem apreciar devidamente o que lhes é oferecido. Achei graça à sua expressão de "comandante das tropas".
    Ainda bem que existem tão bons comandantes, que nos abrem os olhos para estas preciosidades escondidas em lugares tão visíveis, mas que passam tão desapercebidos.
    Um abraço
    if

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    1. Ivete

      Muito obrigado. Por vezes tenho até alguma vergonha quando conduzo amigos por uma cidade estranha. Sinto-me como aqueles guias de grupos japoneses que usam um apito. Mas tenho um gosto enorme em partilhar os lugares secretos que fui descobrindo ao longo de uma vida.

      Um abraço

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  4. Luis,

    além de outros contratempos tenho, como sabe uma rede que pega quando quer...

    Daí muitas vezes os sumiços ou demoras, mas como já confabulamos aqui mantemos os blogues, entre motivos maiores, porque ele não são como os demais espaços e recursos da web que requerem respostas imediatas e até mesmo podem dispensá-las, por vezes.

    Vamos tentar um cmt:

    Embora seja meio apaixonado por Arte clássica em geral, não tenho muita leitura nem me apego muito em terminologias precisas. Algumas subdivisões de períodos, estilos, em vez de atrair,acabam por enfadar. Mas para os senhores Arquitetos, Professores de Arte, etc, sejam necessárias.

    Então: Concordo quando diz que este alpendre se pareça com uma obra modernista. Também lembra o figurino dos bobos da corte bem como qualquer coisa de Gaudi ou outro catalão.

    O termo alpendre, usado por meus pais e toda a gente de onde cresci designa uma varanda elevada. Algo como um balcão coberto, comum em nossas casas. Agora valorizo tanto o que nem notava, de certo modo. Tenho que confessar minha saudade da casa de telhado de 4 águas, mais um cômodo de 2 águas (cozinha) e o tal alpendre que dava para a estrada que ficava ao longe, até à casa só um trilho...

    O Fábio postou um coreto ou algo assim. Embora toda arquitetura humana se assemelhe nos pontos ou retas ou por algum imperativo de intenção, penso que se aproxima deste alpendre, pelo menos na finalidade imediata de proteger do Sol e da Chuva, só que azulejos em painéis internos. Vi o seu cmt lá mas não sei quem postou primeiro.

    Um abraço.

    ab

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    1. Amarildo

      Os alpendres tem uma história já longa na arquitectura e na arte portuguesa há alguns maravilhosos. O revestimento azulejar deste alpendre em particular é tão surpreendente, que parece que não tem uma época. Poderia ser uma coisa do Gaudi ou Art Deco. No fundo, o é uma obra clássica, que nunca passa de moda e é sempre actual.

      Um grande abraço

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  5. Luís,
    É sempre muito motivador percorrer as nossas cidades antigas à espera de encontrar algo que nos surpreenda e nos encante e efetivamente o Alentejo guarda muitos tesouros!
    Este alpendre, que não conheço, também teria certamente atraído o meu olhar e deixado presa à sua contemplação, tentando guardá-lo em fotos... Mas graças ao seu olho clínico, pude conhecê-lo, não só visualmente, mas também no seu enquadramento arquitetónico e usufruir das considerações que ele lhe sugeriu...
    Já cá tinha vindo, mas só agora com tempo para me concentrar na escrita... ;)
    Beijinhos

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    1. Maria Andrade

      Julgo que por causa da dinâmica criada pelo seu blog, o da Maria Paula, o da Ivete e o do Fábio e também aqui do velharias tornamo-nos todos mais atentos a azulejaria e mais capazes de reparar e admirar estes pequenos apontamentos.

      Bjos e obrigado por ter cá vindo deixar o seu comentário tão simpático

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