Embora tenha mais tendência para comprar gravuras do século XVIII, também aprecio muito as estampas coloridas impressas na primeira metade do século XIX, normalmente extraídas de antigos livros de descrições geográficas e históricas ou de narrativas de viagens. Creio que esse meu gosto advém do facto de viajar pouco e assim nas paredes da minha casa, através destas estampas representado cidade e paisagens, vou todos os dias a Paris ou a Londres, nem que seja por uns segundos apenas.
Conhecendo este meu gosto, o meu amigo Manel ofereceu-me esta estampa representando um cruzeiro ou pelourinho da localidade portuguesa de Porto de Mós. Além de bonita, está também muito bem emoldurada, o que é raro. Muitas vezes, quando compramos gravuras temos que deitar fora a moldura e procurar uma coisa mais adequada. Aliás, por esse motivo, estou sempre a comprar molduras nas feiras de velharias e a deitar fora as reproduções de quadros célebres que estão lá dentro. Aliás na minha casa, há uma secção de estampas por encaixilhar e outra de caixilhos sem gravuras, que se procuram constantemente umas às outras.
Conhecendo este meu gosto, o meu amigo Manel ofereceu-me esta estampa representando um cruzeiro ou pelourinho da localidade portuguesa de Porto de Mós. Além de bonita, está também muito bem emoldurada, o que é raro. Muitas vezes, quando compramos gravuras temos que deitar fora a moldura e procurar uma coisa mais adequada. Aliás, por esse motivo, estou sempre a comprar molduras nas feiras de velharias e a deitar fora as reproduções de quadros célebres que estão lá dentro. Aliás na minha casa, há uma secção de estampas por encaixilhar e outra de caixilhos sem gravuras, que se procuram constantemente umas às outras.
A estampa representando o pelourinho em Porto de Mós foi publicada na obra Portugal / par. M. Ferdinand Denis. Paris: Firmin Didot, 1849 |
Esta gravura não está assinada, mas através de meia dúzia de pesquisas no Google, consegui identificar o autor na página de um alfarrabista em Hamburgo, Le voyage en papier - Marc Dechow como sendo obra de Augustin François Lemaitre (1797-1870), impressor, litografo, desenhador e editor, que viveu e trabalhou em Paris. O mesmo site indica a data de impressão como de 1846. Com mais umas buscas no Google e no catálogo da Biblioteca Nacional de França, descobri que a estampa representando o pelourinho em Porto de Mós foi publicada na obra Portugal / par. M. Ferdinand Denis. Paris: Firmin Didot, 1849. Este livro fazia parte de uma gigantesca colecção de 65 volumes, intitulada L'univers pittoresque : histoire et description de tous les peuples, de leurs religions, moeurs, coutumes, industries, etc e que se foi publicando entre 1835-1863.
L'univers pittoresque : histoire et description de tous les peuples, de leurs religions, moeurs, coutumes, industries |
Mais tarde esta gravura foi reutilizada na obra Portugal pittoresco ou descripção historica d'este reino / M. Fernando Denis. - Lisboa : [s.n.], 1846-1847, mas numa versão muito estropiada, litografada por um tal Sá.
Uma cópia de má qualidade desta gravura foi publicada na obra Portugal pittoresco ou descripção historica d'este reino / M. Fernando Denis. - Lisboa : [s.n.], 1846-1847 |
Quanto ao assunto representado, não consegui averiguar sequer se representa o antigo pelourinho ou um cruzeiro da povoação. No site da Direcção-Geral do Património Cultural, menciona-se que é seguro que em Porto de Mós existiu um pelourinho, pois um Livro dos Acordos da Câmara de 1863 refere um Largo do Pelourinho. Mas esse pelourinho foi destruído em data incerta e em 1985 a Câmara mandou erguer uma picota num estilo qualquer incerto. Talvez esta estampa represente o antigo cruzeiro do adro, do qual se conservam um conjunto de fragmentos na Igreja de São Pedro da cidade. Em todo o caso, este monumento devia ser peça muito interessante, com uma imagem de um uma virgem e um menino, e que a julgar pela gravura, deveria ser um objecto de muita devoção pelos habitantes de Porto de Mós.
A delicadeza e o colorido suave da gravura, aliado à moldura fez-me gostar da peça assim que a vi.
ResponderEliminarE, como não podia deixar de ser, lá conseguiste chegar à informação toda sobre ela.
Mas percebo agora como se pode abastardar e tornar feia uma gravura quando colocada em mãos menos capazes.
A arte da gravura não é para qualquer um, é bem verdade.
Ainda bem que gostaste
Manel
Manel.
EliminarEsta gravura é muito bonita e está impecavelmente bem emoldurada e tiveste muito bom olho ao descobri-la.
A gravura é uma arte onde a cópia é um fenómeno corrente e abundante. A litografia do Sá é realmente uma cópia muito trapalhona do original.
Não consegui apurar muita coisa sobre este pelourinho ou cruzeiro, que parecia uma coisa tão bonita. Apesar de ter um bonito castelo, Porto de Mós é uma terra descaracterizada, onde tudo o que era antigo foi progressivamente demolido ou modernizado, como muitas outras terras da zona Oeste. Enfim, esta estampa será um documento interessante para quem quiser saber o que foi Porto de Mós no passado.
Um abraço
Luís
ResponderEliminarMais uma estampa primorosa, Parabéns.
if
Ivete
EliminarObrigado pelo comentário. O meu problema é gostar de tanta coisa. Tanto aprecio faiança, como porcelana, gravura, mobiliário ou ferragachos estranhos e a minha casa vai enchendo, enchendo...
Um abraço
É um cruzeiro com uma imagem que deveria ter muitos devotos, as beatas estavam todas lá genuflexas. É muito bonita a gravura e a moldura, um ótimo presente. Ajoelhe e agradeça!
ResponderEliminarAbraços.
Jorge
EliminarSabe que me espanta muito que a memória deste pelourinho ou cruzeiro tenha quase desaparecido da memória de Porto de Mós. Interrogo-me também sobre a imagem da Virgem e do Menino, que as pessoas na imagem prestam culto. Não sou um especialista em pelourinhos, símbolos, do poder municipal, mas creio que nunca vi nenhum com uma imagem de uma virgem com o menino. Talvez seja isso, que me leve a pensar que se trate de um cruzeiro.
Um grande abraço
Oi, Luís, aqui em Salvador tem um cruzeiro no bairro do Santo Antonio. Com a violência que anda por aqui e muitos roubos, a imagem que tinha lá nem sei se ainda está lá. Uma hora dessas vou lá ver a quantas anda.
ResponderEliminarAbraços.
Realmente a moldura é muito bonita, assim como a gravura, tão delicada.
ResponderEliminarE a pesquisa foi tão bem conclusiva.
Maria Gloria
EliminarAlém de preciosas nas nossas casas, estas pequenas estampas são também importantes para a história local, sobretudo para uma terra como Porto de Mós, que foi apagando tudo o que era antigo. Resta-lhe o castelo e pouco mais.
Bjos
Essa obra é anterior à data que indica (1846) pois apareceu na obra Tourist In Portugal - By W.H. Harrison (1839), ou foi "inspirada" na ilustração de James Holland . Se algum dia tiver interesse em vender a peça, contacte por favor. Cumps
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarCaro Luís Matias.
EliminarO seu comentário pertinente fez-me rever um pouco as pesquisas todas que fiz há cerca de 5 anos.
Com efeito, a ed. The Tourist in Portugal de 1839 contem uma estampa igual a a esta minha gravura, mas a preto e branco.
O problema é que quem emoldurou esta gravurinha, cortou parte da legenda. Quando chegar a casa vou novamente olhar para ela com mais atenção.
Não penso vende-la. Gosto muito dela e faz parte da paisagem da minha casa.
Mais uma vez agradeço o comentário pertinente e um abraço
Sim, por isso penso que a obra ou seja anterior a 1846 ou foi inspirada na ilustração que James Holland fez para a obra The Tourist In Portugal, o que me parece mais acertado.
EliminarDe facto é uma gravura lindissima, e que tem muito significado para mim sendo eu de Porto de Mós.
Se algum dia mudar de opinião sobre a possibilidade de vender a obra, estarei na primeira fila.
Cumps