No mercado de velharias e coisas de segunda mão, a faiança inglesa do século XIX é vendida quase sempre por preços interessantes e é complicado conseguir resistir à tentação de comprar mais um prato, uma travessa ou uma simples azeitoneira, com aquelas paisagens e vistas tão características da produção britânica.
Desta vez comprei uma travessa do padrão Muleteer, uma das séries decorativas mais populares da fábrica inglesa Davenport, produzida mais ou menos entre 1830 e 1850. Representa um almocreve, a sua companheira e um burrinho atravessando uma ponte, tendo por fundo uma catedral gótica, uma cascata, um lago, sendo toda a cena enquadrada por arvoredo. Enfim, tem todos os elementos que caracterizam o romantismo, o gosto pela Idade Média e pela paisagem e o ainda elogio da vida simples do campo.
Contudo, o que é mais engraçado é que esta decoração do Muletteer apresentava pequenas diferenças, consoante se era aplicada numa travessa, numa terrina, num prato ou numa caneca, ou ainda numa molheira. Ao todo conhecem-se 12 versões diferentes deste padrão.
Uma das dozes variantes da série Muleteer |
Este caso da série Muleteer da Davenport não foi único na faiança inglesa. Já na década de 70 do século XVIII, Catarina Grande da Rússia encomendou um gigantesco serviço de jantar em faiança à Wedgwood, para 50 pessoas, representando um total de 1222 paisagens inglesas, que ficou conhecido por La grenouille. Porém, nessa época, isto era um luxo só permitido à realeza. Mas logo nos primeiros anos do século XIX, com a produção em massa da louça em transfer-way, foi possível começar a vender a um preço acessível esses serviços de jantar com vistas ou variantes da mesma cena a uma burguesia cada vez mais numerosa, só que em vez de terem 1122 vistas como o serviço La grenouille, tinham apenas 15 ou 20 paisagens ou variantes da mesma cena. Normalmente nestes serviços, o desenho da bordadura era sempre igual, mas a cena central ia tendo variações consoante o tipo e a dimensão da peça.
Uma das 1122 vistas do serviço La grenouille. Foto Victoria And Albert Museum |
Tenho apenas uma travessinha série Muleteer, mas imagino a beleza que seria ter um serviço de jantar completo, disposto numa mesa, com as doze variantes do padrão.
Links consultados:
Catálogo on line da exposição Printed British Pottery and Porcelain
http://printedbritishpotteryandporcelain.com/what-did-they-make/pottery-item/covered-tureen
http://printedbritishpotteryandporcelain.com/what-did-they-make/series-types
http://printedbritishpotteryandporcelain.com/what-did-they-make/series-types
Um padrão típico deste período e desta produção. Sempre me encantou sobretudo pelas diversas variantes e pelas tonalidades mais claras do azul.
ResponderEliminarManel
Manel
EliminarA produção inglesa desta época é linda, em particular a de Davenport e confesso que depois de fazer este post fiquei com um desejo irrealizável de colecionar um serviço inteiro deste padrão. Claro, vou acabar por ter juízo, mas...
Bem bonitas! Lembraram-me a minha terrina :-) Bom dia e bom feriado!
ResponderEliminarMargarida
EliminarA loiça inglesa de meados do XIX anda sempre à volta dos mesmo temas, as igrejas góticas, as ruínas da antiguidade, os lagos, paisagens venezianas imaginadas ou vaquinhas, burrinhos e outros temas campestres.
Um abraço e bom feriado