sexta-feira, 4 de maio de 2018

Um serviço de chá para bonecas


Este pequeno serviço de chá para bonecas foi-me oferecido por uma amiga, a Ema, que o herdou das suas madrinhas, senhoras nascidas por volta de 1895 e que teriam idade para brincar com este servicinho por volta de 1900.

O serviço é composto por um tabuleiro, duas chávenas e respectivos pires, um bule e ainda um açucareiro. É aquilo que os franceses costumam designar por um tête-à-tête.



Não está marcada, o que era comum nestes serviços para bonecas, já que o espaço disponível era muitas vezes insuficiente para colocar uma marca. Mesmo assim, fiz umas quantas pesquisas na net em francês e inglês por antique tea toy set ou ancienne dinette service à thé, mas os resultados foram inconclusivos. Vasculhei os catálogos da fábrica de Sacavém, que tem uma produção vastíssima, mas também não encontrei nada. Inesperadamente, encontrei servicinhos iguais a este, mas em porcelana, fabricados pela Vista Alegre entre 1924-1947, reproduzidos no II leilão da Vista Alegre: Lisboa: Estar Editora, 1998, com as entradas 221 e 228. Nesta última entrada refere-se que a marca não está nas peças, mas sim na caixa original.

II leilão da Vista Alegre: Lisboa: Estar Editora, 1998


Fiquei um bocadinho desconcertado com este resultado, pois que eu tenha conhecimento a Vista Alegre nunca produziu faiança e pensava que o serviço fosse do início do século XX. Em todo o caso o molde dos servicinhos da Vista Alegre e o molde de onde saiu o serviço, que me foi oferecido pela Ema, eram iguais. Sendo a Vista Alegre uma casa conservadora, talvez já fabricasse este modelo no início do século ou então o serviço foi adquirido entre 1924-1947 pela referidas madrinhas, para que com ele brincasse alguma sobrinha ou afilhada, já que as senhoras nunca tiveram filhos. Creio ser mais provável, que seja datado entre 1924-1947, já que o desenho das peças acusa o toque do modernismo e da art deco. A Ana Fernandes, uma prima minha, tem um igual e em tempos terão lhe dito que era de uma fábrica de Águeda, talvez do Outeiro, que empregou artistas saídos da Vista Alegre.
 
II leilão da Vista Alegre: Lisboa: Estar Editora, 1998
Estes serviços para bonecas têm uma história já antiga e nas escavações arqueológicas de quase todo o mundo antigo aparecem utensílios de cozinha e mesa em miniatura, certamente usados como brinquedos. No século XVIII são conhecidos serviços para bonecas em porcelana, prata ou estanho, mas eram objectos muito caros, apenas ao alcance da aristocracia ou de uma burguesia muito abastada. Só a partir de 1850, no apogeu da revolução industrial se começaram a generalizar serviços para bonecas em faiança fina ou stoneware, muitos mais baratos que os de prata ou porcelana. Em todo o caso, estes servicinhos eram objectos frágeis, com as quais as crianças brincavam sobre vigilância dos adultos, para as impedir de partir tudo logo no primeiro dia e tinham sempre a função de educar as meninas, de as familiarizar com a gestão doméstica e de as transformar numas perfeitas senhoras capazes de tomarem chá com elegância.


Alguns links e obras consultadas:


II leilão da Vista Alegre: Lisboa: Estar Editora, 1998

14 comentários:

  1. Por incrível que pareça, a Vista Alegre chegou a produzir faiança, por um breve período lá no início de sua história, e nos últimos anos, criou a marca "Casa Alegre", para sua nova produção mais simples e jovem, tudo em faiança.
    Lindo o seu jogo de bonecas! Adorei.
    abraços saudosos
    F

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    1. Fábio

      Obrigado pelo teu comentário. Talvez pela Vista Alegre ter tido uma produção tão vasta e diversificada, eu julgue há probabilidades de este serviço ter sido saído da fábrica de ílhavo, mas sem certezas.

      Um grande abraço

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    2. Boa tarde, LuisY. Tenho um servicinho de chá com bule, prato de bolo, manteigueira, açucareiro, 4 chávenas e respectivos pires da Vista Alegre, marcado com as letras habituais ( VA). Tenho tentado saber qual o seu valor.

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  2. E eu que pensava que a VA só tinha produzido vidros, no início, e, posteriormente, só porcelana. Que o tenha feito nos últimos anos, acho, no mínimo, curioso.
    Nunca o tinha ouvido ou lido, mas o Fábio elucidou o facto, e ele deve saber do que fala, pois esteve a trabalhar para a VA durante algum tempo. Agradeço ao Fábio a informação.

    O serviço é uma graça, mas este tipo de forma e o formato da própria asa não me parecem muito antigos, e o colorido até me faz recordar a pintura tradicional de mobiliário que aqui no Alentejo se usa. Mas que sei eu, o que interessa é que são peças com uma história para contar.
    Manel

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    1. Manel

      Também estou mais inclinado que o serviço seja do período 1924-1947, pois as formas já acusam o toque da art deco e do modernismo.

      É curioso que nenhum dos serviços reproduzidos no leilão da Vista Alegre esteja completo, faltando sempre o tabuleirinho.

      Também no dito catálogo se refere que a marca VA está na caixa original, o que poderá explicar porque é que este serviço não está marcado.

      Realmente a decoração lembra os móveis pintados do Alentejo.

      Um abraço

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    2. Manel, só para complementar: se me lembro bem, o que a VA produziu de faiança nos seus primórdios creio que foi apenas experimental, e não se tornou linha de produção. Comercialmente, até anos recentes, só tinha mesmo produzido e vendido vidro e porcelana.
      abraços!

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  3. Salve Luis. Por coincidência adquiri por irrisórios 60 reais um conjunto de chá para crianças com uma chávena, bules, cremeira e açucareiro. Peças do início do século xx em porcelana alemã estampadas com cenas infantis. Um abraço d,além mar. Edwin

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    1. Caro Edwin

      Realmente temos muitos gostos em comum. Creio que todos nós, mesmo já adultos nunca deixámos de gostar de brinquedos. Tenho imensa pena de os meus filhos já serem adultos, pois adorava oferecer-lhes brinquedos. Acho que hoje em dia revertemos esse gosto para o colecionismo de miniaturas.

      Imagino como o seu serviço deva ser bonito, já que os alemães tem sempre porcelana de belíssima qualidade.

      Um grande abraço

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  4. Luís

    Mimoso o seu serviço de chá. Também aprecio miniaturas para casas de bonecas e afins. Em pequena, eu e a minha irmã, tínhamos uma casa de bonecas, com todas as mobílias, incluindo um piano cor-de-rosa, que fazia as minhas delícias. Depois de mais crescidas já não ligávamos. As brincadeiras eram outras.Bem me arrependo, pois algumas das mobílias eram bem bonitas, principalmente a da sala de visitas. Havia, também, o inevitável serviço de chá, um pouco maior relativamente ao seu.
    Agora resta-me recordar...

    Um abraço
    if

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    1. Ivete

      Além da nostalgia da infância, que nos fazem experimentar, estes antigos brinquedos são um mundo em miniatura à nossa disposição, que podemos ordenar e manipular à nossa maneira. Casas de bonecas, soldadinhos de chumbo, miniaturas de automóveis são sempre objectos muito apetecíveis para os colecionadores, pois permitem à criação de um mundo à nossa maneira.

      Um abraço

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  5. Uma gracinha o serviço, ótimo para as meninotas -futuras senhoras - aprenderem a tomar o chá. Mas, gostei mesmo do azulejo atrás do móvel com o serviço, o anjinho. Já colocou aqui??? Muito bonito.
    Abraços.

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    1. Jorge

      O serviço ficará como objectivo decorativo e um dia será para uma neta.

      O azulejo é uma réplica feita por uma artesã aqui de Lisboa, a Cristina Pina, que usou um motivo do séc. XVII. Coloquei-o naquele sítio para disfarçar uma racha na parede, já que a minha casa é muito velha. Assim, antes de adormecer olho sempre para um anjinho!

      Um abraço

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  6. Boa tarde, Caro Luis Y

    Estou a visitar o seu blog, passado tudo este tempo, não imaginava o gosto pelas porcelanas, julgava um adepto da genealogia e de fato mostra uma cultura geral excepcional relativo à porcelana Europeia e Portuguesa.

    É engraçado como surgiu a casa do José Ferreira Pinto Basto o patriarca da Vista Alegre e Atlantis mais a sul. Inicialmente o Sr. José fazia comercio em navios Ingleses da China para Portugal, aqui existia o tabaco e posteriormente as porcelanas e só depois de o José ir à Alemanha, visitar outras industrias da cerâmica é que iniciou em 1824 a produção em Ilhavo - Portugal.

    Só por uma curiosidade no tempo das guerras liberais José esteve na iminência de ser preso por contrabando, o pai deste era também José tinha sido general de D. José I e não existiu mais complicações pela sua influência.

    Cumprimentos,
    João Felgar

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    1. Caro João Felgar

      Sou um homem enciclopédico e interesso-me um pouco por tudo, mas com mais incidência na história, arte, literatura e humanidades. Aliás este blog reflecte essa diversidade de interesses.

      Agradeço o seu comentário com algumas informações sobre o patriarca da Vista Alegre, sobretudo o episódio de este ter estado na iminência de ser preso por contrabando.

      Um abraço

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