sexta-feira, 11 de maio de 2018

Mirante em Borba


Por todas as terras que passo, por todas as ruas com casario antigo, que calcorreio, estou sempre a descobrir casas onde me imagino a viver. Não sei exactamente de onde me vem esse desejo. Talvez seja por viver num apartamento muito pequeno e ambicione um espaço maior para enche-lo com antiguidades ou talvez porque na infância e juventude conheci ainda casas de família com história e aprendi com o meu pai e a minha avó a valorizar esse passado, que impregna cada uma dessas casas antigas, mesmo quando já foram abandonadas se encontram em ruínas. Viajo sempre com esse sentimento romântico de querer viver naquele solar abandonado, na grande residência burguesa do século XIX ou naquela casinha com um portal quinhentista, estejam estes edifícios no Alentejo, em Guimarães, Chaves ou no Porto.
 

Desta vez apaixonei-me por uma casa antiga com um mirante, na vila Alentejana de Borba. Em 1863, o proprietário desta casa teve a deliciosa ideia de construir um mirante no telhado e certamente que não foi por razões práticas. Daqui poderia ver os extensos vinhedos, que rodeiam a vila, enquanto tomava um chá sentado numa cadeira de verga e nas noites do terrível verão alentejano, talvez aqui em cima se sentisse uma brisa fresca. No dia da procissão do Senhor dos Aflitos era certo que o Mirante estaria engalanado de colchas e que os vários membros da família se acotovelariam para ver passar os andores. 

Enfim, confesso que também me imaginei neste mirante, até porque sou um homem curioso, que gosta de ver os outros passar na rua sem outro objectivo aparente senão o de observar a humanidade.
 
 

14 comentários:

  1. Muito bonito , Luís. Parece um local encantado

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Leonor

      De facto este mirante tem qualquer coisa de um conto de encantar, onde se posta uma Rapunzel ou uma Sherazade.

      Bjos

      Eliminar
  2. Deve ser agradável viver nessa casa :-) Bom Domingo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Margarida

      Acho que os mirantes destas casas antigas são um sinónimo de qualidade de vida. Um bom Domingo também para si

      Eliminar
  3. Luís

    Mais uma vez nos mostra o seu ecletismo. Hoje foi um mirante, de Borba, pintado com as cores quentes do Alentejo. Também por muitas terras se encontram belos exemplares. Basta saber olhar, mesmo que seja nas quase ruínas que proliferam pelo país. Aqueles de que mais gosto são os que apresentam estruturas em ferro forjado. Muitas vezes parecem rendas, daquelas que saíam das mãos de fada das nossas avós.
    A ver vamos se fotografo alguns que até estão bem perto de mim.

    Um abraço

    if

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ivete

      Muito obrigado pelo seu comentário. Com efeito este blog reflecte o meu leque de interesses, que é grande. Sou um bocadinho enciclopédico, característica que herdei do meu pai e que desenvolvi nesta profissão de bibliotecário.

      Também adoro os mirantes de ferro forjado, que aparecem mais no Centro e Norte do País. A casa de umas primas da minha mãe em Chaves tinha um desses mirantes, onde de um lado se via o próprio jardim da casa e do outro o Jardim do Bacalhau. Era uma graça.

      Acho muito boa ideia a Ivete fotografar os mirantes perto de si. Creio que dariam uma bela colecção fotográfica no seu blog.

      Um abraço

      Eliminar
  4. Estes tipos de construção fazem-me sempre lembrar longas tardes de estio, uma confortável cadeira de deck, uma bebida fresca ao lado e um livro e ... deixar o tempo correr. Uma sesta também seria bem vinda.
    Ou então uma folha de papel e deixar escorrer o traço do meio riscador por ela.

    Não sei porquê, mas traz-me à memória também a Sicília e as longas tardes tórridas com o "Leopardo" do Visconti.
    Muito bem apanhada esta construção!
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel

      O mirante chamou-me logo à atenção e depois como quase tudo no Alentejo, está impecavelmente bem arranjado, caiado e pintado com a cores tradicionais.

      Estes mirantes são definitivamente um convite ao ócio, à literatura, à arte e à contemplação.

      Um abraço

      Eliminar
  5. O interior do nosso país,tem coisas tão lindas que basta abrir os olhos e ter um pouco de sensibilidade para captar todas essas belezas.O Luís faz isso com uma simplicidade e alegria ,que nos comove.Muito obrigado por nos ir mostrando ,tudo isso.Graciete

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Graciete

      Muito obrigado pelo seu comentário tão simpático.

      Para além das igrejas, palácios e castelos, referenciados em todos os guias turísticos, atraem-me estes pormenores como uma janela, uma varanda de ferro forjado, uma balaustrada em faiança ou um mirante, que não são mencionados em nenhum roteiro, mas que nos surpreendem pela sua graça e beleza.

      Um abraço

      Eliminar
  6. É linda essa varanda, mirante, mansarda, água-furtada seja lá que nome tenha esses espaços que se erguem acima dos telhados. Eu adoro e sempre fico a admirar as casa que o possuem. Me lembro de duas aqui em Salvador que, infelizmente, foram demolidas. Mas, há muitas casas aqui, onde se erguem pequenos quartos com janelinhas. É tão bonito! Esse "seu" mirante é muito bonito e tem uma pintura que se destaca, um mirante para olhar e ser olhado.
    Tenho até que postar um casarão do XIX que fotografei de carro e que tem uma água-furtada, uma casinha dentro da casona.
    Luís você precisa mudar para esta casa do mirante! kkk as velharias querem respirar!
    Abraços.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Jorge

      Muito obrigado pelo seu comentário e vou estar atento às novas postagens do seu blog sobre as maravilhas dos telhados de Salvador.

      Normalmente chamam-se mansardas ou trapeiras às estruturas fechadas com janelas, que se erguem nos telhados e que servem para dar luz e ventilação às divisões do sótão. A minha casa aqui em Lisboa, construída à volta de 1870, tem uma pequena mansarda, debaixo da qual se situa a sala de jantar. Normalmente o mirante é descoberto, embora haja muitas variantes de Norte a Sul do País, e tem apenas uma função lúdica, mirar as vistas, observar quem passa na rua, assistir às procissões ou simplesmente para apanhar ar fresco.

      Estes elementos arquitectónicos do passado são fascinantes.

      Bem que precisava mudar de casa para uma maior e no interior de Portugal as casas são baratas. Mas, nessas cidades pequenas do interior não há empregos e tenho toda a minha vida organizada em Lisboa. Mesmo assim, sonho muitas vezes mudar para uma dessas cidadezinhas ou vilas do interior e comprar e restaurar uma casa antiga.

      Um grande abraço

      Eliminar
  7. Olá Luís, muito obrigada por esta janela para aquele mundo encantado onde, creio, todos sonhamos viver.
    Na verdade, para quem vive numa cidade ou num subúrbio qualquer, apinhado de caixotes, onde nos enfiamos quais batatas, ou cebolas, uns por cima e ao lado dos outros a nossa identidade vai-se perdendo.
    Encontramo-la aqui, nestas verdadeiras relíquias de um passado, ainda tão próximo e ao mesmo tempo já tão longínquo.
    Grata e uma boa noite.
    Maria

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Maria

      Tem toda a razão. A maioria dos portugueses vive em caixotes de betão, impessoais, feios e sem qualidade. Por essa razão é que estes pormenores da arquitectura tradicional, como os mirantes, as mansardas, as varandas em ferro, ou as belas portas em madeira trabalhada nos seduzem tanto. Procuramos neles uma qualidade de vida que poderíamos ter, se não vivêssemos num país onde o território está tão mal ordenado.

      Um grande abraço

      Eliminar