segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Azulejos pombalinos

Tenho a mania dos azulejos e este painel que está na minha casa é dos meus preferidos. A maioria dos azulejos que o compõem foi achada em plena Baixa Pombalina, na rua 1º de Dezembro, num contentor das obras. Aliás, os contentores de obras do bairros históricos de Lisboa são muito ricos em azulejos...

Durante dois ou três dias fiz figura de pedinte a vasculhar o contentor. O Manel andou a ajudar-me e os meus filhos, quando eu passava pelo contentor já me puxavam pela mão, com vergonha. Levei ainda mais que uma vintena de azulejos para casa.

Todos eles estavam pintados dum castanho cor de caca e alguns deles estavam partidos. Fui levando tudo para a minha casa. Depois, com o auxílio de um escopro e de um martelo retirei-lhes a argamassa. Paralelamente, com uma faca, raspei-lhes a tinta castanha toda e começaram a surgir os vibrantes azuis e brancos dos azulejos. Pu-los de molho em água, raspei-os uns contra os outros, para tirar o resto da argamassa e tirar os restinhos de tinta.

Claro, a minha cozinha minúscula ficou um nojo e a roupa para engomar e os restantes trabalhos domésticos foram-se acumulando, mas o resultado foi fantástico. Consegui compor quase um painel de azulejos com este motivo de flores e ainda fiquei com uns 3 ou 4 azulejos marmoreados, uns 8 do motivo da trepadeira e um azulejo solto da fábrica do Rato.

Ficou a faltar-me um canto e uns dois azulejos do lado direito da flor. Fiz um desenho deles e numas quantas idas à feira-da-ladra consegui terminar a montagem do puzzle. Creio que não terei gasto mais do que 15 ou 20 euros. Nesta feira há uns 4 ou 5 vendedores que se especializaram em azulejos. Finalmente, pedi ao Senhor que me costuma fazer obras em casa para encastra-los na parede e ficaram lindos.
Pelo sítio onde os encontrei, a Baixa Pombalina, pela espessura, pela superfície irregular, e pelo vidrado cheio de bolinhas sei que são da segunda metade do século XVIII. São aquilo que vulgarmente se chama azulejos de padrão e que foram usados em larga escala na reconstrução pombalina. Encontrei um padrão igual no Museu Nacional do azulejo, datado entre 1755 e 1780, inv 791

É pena que haja pouca coisa sobre esta azulejaria mais industrial do período pombalino, pois os manuais de arte dedicam-se quase exclusivamente aos grandes painéis historiados. O site do Museu Nacional do Azulejo também não esclarece muito sobre quem quer saber um pouco mais sobre azulejaria de padrão.

6 comentários:

  1. Tens de mostrar outros também, que os tens lindos!
    E palmas para o fabuloso Sr António, sem ele não sei o que faríamos nós, pobres condóminos de edifícios degradados ou em vias de degradação!
    Passa-se muitas vezes por vergonhas, quando estamos enfiados nos contentores, mas que o resultado vale a pena, não há dúvida! Doutra forma acabariam em terrenos baldios para entulhos ...
    Manel

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  2. Soberbo!
    Quisera eu ter tal sorte, também gosto de "vasculhar o lixo", já reciclei algumas coisas lá encontradas, acontece que moro na outra margem e por lá não h+s destas belezas nos contentores de entulhos de restauros. Quanto ao seu mural, apenas direi- magnífico. Também sou fã de azulejos e confesso que tantos os que tenho visto em feiras, realmente os seus são como iniciei o comentário -soberbos!
    Reafirmo o seu peculiar gosto.

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  3. Meu e-mail p contato é: poemadivino@yahoo.com.br Sabes dizer-me onde encontro informações sobre uns azulejos, acho q são séries, pq descrevia toda uma história. Eram marrons ao fundo e o desenho, em preto, tinha índios ou negros, chafarizes e macacos! Eram lindíssimos, e estava na fachada da casa em q residia qdo pequena. Só q casa foi vendida e com ela os azulejos, lastimável pq stão até hj na minha memória, e gostaria muito de revê-los! Obrigada e aguardo algum contato.

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  4. boa noite!
    moro em setubal e tenho uma casa no centro historico de setubal,com um corredor de 10 metros, decorados com magnificos azulejos pombalinos azuis.gostaria de saber mais a cerca deles.se alguem me poder ajudar contacte susy_alexandra@hotmail.com

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  5. este padrão é lindo...nunca tinha visto.Dá vontade de fazer um livro só com exemplos de azulejos pombalinos de padrão em tamanho natural...para ficar como registo histórico...

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    1. Miguel

      Com efeito este padrão é fantástico. O que é mais curioso, é que foram fabricados duas variantes dele. Como podes neste painel, os azulejos não casam todos exactamente uns com os outros, mas o efeito ficou bem conseguido na mesma.

      Tenho um amigo que andou a coleccionar azulejos para colocar numa casa do Alentejo e ia desenhando numa folhinha desdobrável todos os padrões que ia comprando e o resultado foi algo vagamente semelhante a essa tua ideia de fazer um livro só com padrões pombalinos, que a meu ver se justifica plenamente.

      Um abraço

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