quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Faiança de Miragaia ou dita de Miragaia

Nesta imagem, está uma das minhas peças preferidas, a terrina de faiança, dita de “Miragaia”. Estas louças identificadas nos mercados de velharias por “Miragaia” são um caso bem curioso da faiança portuguesa.
Enfim, conseguimos perceber a origem do motivo, que é a célebre loiça inglesa do Willow pattern (o padrão do Salgueiro, desenhado por thomas Minton em 1790). Basicamente, este motivo, é a narração da história de um amor contrariado passado na China, que tal como Romeu e Julieta, termina mal. No site http://www.thepotteries.org/patterns/willow.html há uma boa descrição que conta o significado preciso de cada uma das partes da decoração. Este padrão terá se inspirado nos motivos chineses de Cantão.



Contudo, os fabricantes portugueses dos "miragaias", libertaram-se das amarras do padrão original do salgueiro e interpretaram-no livremente, com pinceladas rápidas, num resultado cheio de energia e com um gosto muito popular. Na dita loiça de Miragaia, as motivos que constituem o padrão do salgueiro são simplificados e esvaziados do seu significado original. Por exemplo, em vez de dois edifícios, passa a haver apenas um, ou ainda desaparecem as figuras humanas que representavam os apaixonados da lenda (Ver imagem em baixo). Já vi uma travessinha desta faiança em que a casa chinesa mais parece um prédio pombalino... No fundo há um processo de abstracção muito grande, só que em vez de ser levado a cabo por pintores modernistas em Paris, é feito por artífices populares em Coimbra ou no Porto.


Não há quase nada escrito sobre esta faiança. Percebemos que houve vários fabricantes ao longo de um período de tempo muito grande (inícios do século XIX até a segunda metade do século XX), que produziram este motivo com muitas variantes entre si. Contudo, as peças nunca têm marcas. Só uma vez apanhei uma marcada da Fábrica Lusitânia, que estava sediada em Lisboa.



No Itinerário da faiança portuguesa do Museu Nacional Soares dos Reis, p. 160 chamam a este motivo, o Cantão Popular ou o Cantão de Miragaia, por esta fábrica se ter destacado na sua produção. Mais tarde seriam as oficinas de Coimbra a darem-lhe continuidade pelo que chegou até nós popularizado como Cantão de Coimbra. Contudo, nesta recente exposição que se fez em 2008, no Porto, no Soares dos Reis, intitulada Fábrica de Louça de Miragaia, refere-se que nunca se encontrou nenhuma loiça com o motivo do salgueiro, com as marcas características da Fábrica Miragaia. No catálogo da exposição adianta-se que essa fábrica tornou-se famosa por fazer um tipo de motivo com uma paisagem em azul, conhecida por "País" (foto de cima) e que daí em diante toda a louça em azul com paisagens passou a ser conhecida por Miragaia.


Mo Museu Abade de Baçal em Bragança vi umas quantas peças deste nosso motivo dito de Miragaia ou de cantão popular e estão atribuídas ao um centro de fabrico em Coimbra (foto de cima). Creio que foi a Dra. Margarida Rebelo Correia do Museu Nacional Soares dos Reis que esteve recentemente em Bragança a reclassificar as peças de faiança. A da imagem acima pertencente ao museu brigantino é algo semelhante a uma das minhas peças (foto inferior). Em todo o caso, em que critérios se basearam para atribuir estas peças a Coimbra?



Enfim o mistério não se resolve.

Tenho imensas peças desta faiança dita de Miragaia. Comecei com duas peças herdadas da minha avó, e depois fui comprando mais e mais e agora tenho pratos, travessas e travessinhas, uma terrina, jarro, uma jarra, uma saladeira e sei lá que mais. Passei até a mania a a um amigo meu, companheiro destas andanças da Feira-da-Ladra, que neste momento já tem mais “miragaias” do que eu.

15 comentários:

  1. Olá Luís
    Gostei muito do teu artigo sobre o padrão dito "Miragaia" e que, sabemos hoje, de Miragaia terá muito pouco.
    Parabéns pelo blog, que gostei muito.
    Vamos lá a ver se isto agora é publicado
    Manel

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  2. Caro Luís,

    Eu tenho duas peças de pó-de-pedra brasileiras com interpretações ingênuas em estanhola (estampilha em português.pt) que gosto muito, justamente pela ingenuidade e simplificação que esta forma de decoração impõe.

    uma delas está aqui:
    http://porcelanabrasil.blogspot.com/2008/11/pombinhos-ingnuos-ii.html

    a outra aqui:
    http://porcelanabrasil.blogspot.com/2008/09/compras-sexta-05-e-sbado-06-092008.html

    é a última peça, o prato da Cerâmica Campo Largo

    abraços!
    Fábio

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  3. Caro Fábio Carvalho

    Fiquei muito contente com os seus comentários oportunos. Ter contributos no meu blog de um amante de velharias do país irmão, o Brasil, irá alargar certamente o interesse deste blog. Achei imensa graça saber que no Brasil também produziram o padrão do salgueiro, o Willow pattern. Realmente foi um padrão popular pela Europa e pelas Américas, que revela o fascínio exercido pelos temas chineses ao longo de séculos. Aqui em Portugal este padrão foi também produzido pelas fábrica de Sacavém e Massarelos, mas duma forma mais próxima do original inglês, que este cantão popular. Tentarei falar disso num próximo post.

    Um grande abraço

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  4. OLá Luis,

    O prazer foi imenso meu! Achei tão interessante teus escritos, que estou divulgando para os assinantes do meu site www.porcelanabrasil.com.br

    Aqui também se produziu muito "azul pombinho" bastante fiel ao original,

    http://www.porcelanabrasil.com.br/p-irfm-kanton.htm

    http://i12.photobucket.com/albums/a245/fabiocarvalho/porcelanabrasil/img14/p-oxford03.jpg

    mas eu ainda prefiro as interpretações ingênuas!!

    grande abraço!
    Fábio

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  5. Caro Fábio

    Muito obrigado. Acho o termo "Azul pombinho" delicioso. Por vezes os brasileiros recriam a língua portuguesa de uma forma irresistível.

    É bom saber que no Brasil também se produziu o willow pattern. Fico com uma perspectiva mais abragente deste universo da faiança, menos reduzida a este rectângulozinho que é Portugal. Além de que um dia posso apanhar alguma peça brasileira por cá e assim já sei que posso ir ao porcelanabrasil.com.br encontrar informações.

    Tal como o Fábio também prefiro as interpretações ingénuas do "azul pombinho".São muito mais imaginativas.

    O porcelanabrasil.com.br é um site muito completo com imensa informação sobre faiança e porcelana. Tenho que explora-lo melhor

    Abraço e apareça sempre

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  6. Oi Luisy, tudo bem? Tenho um brechó com várias peças de porcelana e fainças, incluindo o padrão Willow. Qdo vi em seu blog, identifiquei imediatamente :)
    Se quiser, dá uma passadinha no meu blog e veja alguns dos meus produtos :)
    Abraços.

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  7. Então um "brechó" é uma casa que vende velharias e antiguidades? Qual é a origem do termo? veio do francês ou do inglês?

    Gostei dos seus pratos com o motivo Willow. Realmente traduzem o gosto que Ocidente sentiu durante séculos por tudo o que era chinês(Na época a China fazia coisas de qualidade ao contrário dos dias de hoje...) Como pôde ver no meu blog, em Portugal produziram-se uma imitações populares do Wilow, muto ingénuas que são encantadoras.

    Um abraço e parabéns pelo seu brechó

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  8. Caro amigo
    Este blogue está fabuloso.
    Esta noite vou revirar todas as peças que possuo, tipo "miragaia", para ver se alguma tem marcação.
    Continue a aceder ao meu blogue, vai encontrar objectos interessantes.
    htp://cafemuseu.blogspot.com
    Um abraço
    Carlos Pereira

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  9. Olá Luisy,

    Parabéns pelo teu blog! Todo ele muito interessante! Em relação ao Cantão Popular, tenho 2 jarras com os mesmos motivos, ambas muito antigas.

    Estão marcadas com S.S.C. Serão de Coimbra?

    Obrigado e um abraço,

    João Colimão

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  10. Caro João Colimão

    Muito obrigado pelo teu comentário. Fiquei completamente intrigado com essas marcas S. S. C! Fui consultar o Dicionário de marcas de faiança portuguesas e não encontrei nenhuma referência a essas iniciais. Aliás só as fábricas do Cavaco e da Lusitânia marcaram os seus cantões populares. Seria possível enviares-me para o meu e-mail uma imagem das jarras e sobretudo da marca?

    montalvao.luis@gmail.com

    Abraço

    Luís

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  11. Olá Luis,
    A lenda conta que brechó derivou do nome "Belchior", que era um sujeito que pelos inícios do séc. XX tinha um comércio no centro do Rio de Janeiro. Em um dado momento, alguém pediu para deixar peças que estavam fora de uso para vender de segunda-mão em sua loja. A coisa deu tão certo, que mais pessoas passaram a deixar velharias por lá. No final das contas, o tal Belchior passou a vender apenas velharias, e esta teria sido a primeira loja a vender exclusivamente velharias. E com o tempo, a "loja do Belchior", vai saber a razão, passou a ser chamada "loja brechó", e depois apenas brechó.
    O termo é largamente usado no país todo. Em alguns lugares, como São Paulo, Brechó vende apenas roupa usada. Lá, loja de cacarecos, roupas, móveis, qualquer tipo de velharia é "bazar".
    abraços!

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  12. Luis,
    Segundo li num blog aqui, o Belchior teria tido a loja dele no séc. XIX.
    Só pra acrescentar: no Rio Grande do Sul, usam o termo "brique" para este tipo de loja.
    Como é o nome de loja de livros usados por aí? Aqui é "sebo".
    Continuando a pesquisar, achei a seguinte explicação:

    No século XIX um mascate chamado Belchior ficou conhecido por vender roupas e objetos de segunda mão no Rio de Janeiro. Com o tempo o nome se transformou por corruptela em "Brechó".

    Aparece no conto "Idéias de Canário" de Machado de Assis, onde o protagonista logo no início adentra um estabelecimento por nome "belchior":
    “ ... sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de uma loja de belchior... A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio.

    Como sempre, estas palavras originadas por corruptela tem MIL versões!

    abraços

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  13. Fábio

    Estão está explicada a origem do termo Brechõ. Tudo começou com a loja do Senhor Belchior.

    Aqui em Portugal também se usa o termo Brique, ou melhor brique a braque, que tem origem no termo francês "bric-à-brac", para designar uma loja que vende de tudo, inclusive velharias. Também se pode usar depreciativamente para uma casa, como a minha, cheia de tralha.

    A loja que vende livros antigos é um alfarrabista, termo obviamente de origem árabe.

    abraços e obrigado pela explicação

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  14. Olá Luis,
    Aqui, o povo que quer ser mais sofisticado, usa o termo alfarrábio também. Mas no dia-a-dia, o que se usa é sebo, termo que me dava nojo quando eu era criança.
    abraços

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  15. Olá Luís,
    fiquei interessada não pelo motivo do salgueiro, nem pela cor, mas sim pela forma.
    É q tenho uma terrina com uma forma muito aproximada mas com fundo amarelo canário e desenhos em rosa e verde. Não tem marca e como não sou conhecedora, pergunto a todos se saberão qual a origem da peça.
    Não posso mandar-lhe uma foto?

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