segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ainda o cantão popular dito de Miragaia: Fábrica Lusitânia e Fábrica do Cavaco


No meu post de 1 de Outubro de 2009, escrevi sobre o chamado padrão do salgueiro, o Willow pattern e de como este foi adaptado de forma muito livre e popular em Portugal por vários fabricantes, dando origem a uma loiça que incorrectamente se designa por Miragaia e que deverá antes designar-se por cantão popular. Referi também que a maioria dessa loiça não se apresenta marcada, mas pelas diferenças que apresentam entre si pressentimos que saíram de oficinas diferentes e que até ao momento presente só tinha encontrado peças marcadas da Fábrica Lusitânia, aqui de Lisboa.

Retomo hoje o assunto, onde ficou. A Lusitânia ficava ali ao Campo Pequeno, no local onde hoje está o edifício da Caixa Geral de Depósitos. Ainda me lembro, nos meados dos anos 80, uns dias antes da demolição, de ir com a minha ex-mulher fotografar a fábrica para um trabalho, que ela estava a fazer na faculdade e de termos ficado fascinados com a fachada, que dava para a Biblioteca das Galveias, integralmente revista a azulejos. O edifício funcionava como uma espécie de montra das produções da fábrica ou um tipo de catálogo de azulejos. Demoliram essa fachada magnífica para fazer aquele horror da Caixa Geral de Depósitos, cujo estilo só me recorda o palácio, que aquele homem monstruoso, o Ceauşescu, mandou erguer em Bucareste. Da antiga fábrica só ficou a chaminé, que ainda se vê no meio do horror faraónico da Caixa Geral de Depósitos.


Consegui encontrar estas imagens no site do Arquivo fotográfico de Lisboa, cuja visita recomendo http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/. Infelizmente, as fotografias são só a preto e branco e não dão uma justa ideia do dinamismo, que todos aqueles azulejos coloridos davam à fachada.

Apresento aqui uma molheira com este padrão de cantão popular, fabricada pela Lusitania. Está marcada e pertence ao meu amigo Manel, que fez o favor de ceder estas 3 fotografias Sobre a Lusitânia ver mais no Post 18-03-10
Mais recentemente, descobri que a Fábrica do Cavaco no Porto também fabricou este cantão popular e que há peças marcadas. Na obra a Cerâmica em Vila Nova de Gaia. - Vila Nova de Gaia: fundação Manuel Leão, 1999 da autoria de Manuel Leão são mencionadas duas peças da Fábrica do Cavaco (1862-1920) com este motivo do cantão popular, um bule zoomórfico (pág. 242), com marca, propriedade dos Museus Municipais do Porto e um prato (pág. 244), da colecção Adosinda Anes, que fazia parte de um serviço feito no final do período de laboração. Não reproduzo imagens do livro, porque custa 44 euros e não me está a apetecer gastar tanto dinheiro....

Finalmente, apresento mais uma peça cantão popular, também adquirida na feira-da-ladra e cuja decoração foge bastante ao esquema habitual e que julgo tratar-se também duma fábrica ou oficina distinta. Aqui o processo de abstracção feito nacionalmente ao padrão do salgueiro ou Willow pattern é levado ainda mais longe. Por exemplo, as figurinhas que correm na ponte são transformadas pura e simplesmente em cruzes. A água é representada por um conjunto de riscos paralelos. Os artistas cubistas do princípio do século XX gostariam certamente deste prato.



4 comentários:

  1. Agora que mencionas, recordo o edíficio, em ruínas já, dessa fábrica de cerâmica, mas não sabia ser aquele o da famosa "Lusitânia" que aparece em algumas peças que possuo (também estas com o padrão do salgueiro).
    Vá-se lá saber porquê, colocava essa fábrica lá para os lados do Rato ... ideias tontas!
    Ainda bem que escreves este blog, sempre vou aprendendo!
    Manel

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  2. Entretanto adquiri um prato semelhante a este último que reproduzes do artigo. Achei-o tão bonito!
    Manel

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  3. A proposito: a Fabrica Lusitana não era duma familia Vitorino?

    J. Antonio

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  4. Caro J. António.

    Boa pergunta a sua. Vasculhei todo o google e não encontrei resposta. Fui ao site do Museu Nacional do Azulejo http://mnazulejo.imc-ip.pt/pt-PT/Coleccao/Coleccoes/ContentDetail.aspx?id=380
    e só tem meia duzia de informações sobre a Fábrica e nada refere sobre a família proprietária.

    Hoje à noite vou consultar o Dicionário de História de Lisboa e para ver se tem alguma entrada sobre a Fábrica.

    Abraço e agradeço-lhe a pergunta pertinente

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