segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As combinações de azulejos pombalinos


Este painel de azulejos de padrão está no quarto dos meus filhos e formei-o ao longo de uns bons 4 anos. Comecei por comprar uns sete ou 8 exemplares do padrão, que está nas bordas, a uns ucranianos da feira-da-ladra, por um preço muito bom. A minha primeira ideia era formar uma composição simples de apenas dois azulejos de altura e assim fui comprando aqui e ali, até fazer a parede em todo o seu cumprimento. Quando terminei o painel apaixonei-me pelos azulejos com o padrão da estrelinha e lembrei-me, que ficariam muito bem entre a bordadura, que já tinha formado. Retirei os azulejos todos da fiada superior, raspei-os do cimento cola, inseri no meio os azulejos da estrelinha, e, por cima voltei a colocar a fiada do topo. Gostei imenso do resultado e fiquei a achar que era um rapaz muito imaginativo e criativo.

Poucos meses depois, numa das minhas grandes navegações na Internet, descobri uma combinação de padrões de azulejos exactamente igual à minha, realizada há cerca de duzentos e muitos anos atrás. Esses painéis revestem toda uma divisão do Palácio Tavóra, ali à Mouraria, no nº21 da Travessa da Nazaré e que hoje em dia está ocupado pelo Grupo Desportivo da Mouraria. Creio que esta divisão devia ser a cozinha do palácio, pois do lado esquerdo da foto, vejo uma parte da chaminé.

A lição que tirei desta descoberta foi que afinal eu não era assim tão criativo como julgava e que em termos de imaginação é difícil ultrapassar a extraordinária criatividade dos fabricantes de azulejos da segunda metade do século XVIII, bem como a dos técnicos que procediam à sua aplicação nas paredes.

Para os seguidores brasileiros deste blog, que estarão menos familiarizados com a história da arte portuguesa, estes azulejos são conhecidos por Pombalinos ou de padrão e datam da segunda metade do século XVIII. A seguir ao grande terramoto que destruiu Lisboa em 1755, durante o Governo do Marquês de Pombal, o primeiro ministro do Rei D. José, houve necessidade de arranjar um material de revestimento barato e fácil de produzir, para ser usado nas novas construções, que se erguiam rapidamente por toda a cidade. Assim, as oficinas de cerâmica começam a produzir azulejos de padrão em grande escala para as novas casas e com os quais os compradores e os operários, que os aplicavam, podiam fazer um sem número de combinações diferentes e muito imaginativas.

3 comentários:

  1. Aconteceu-me o pior. Quando relia o meu extenso comentário,fugiu-me o "rato", apagou-se. Fiquei gelada. Não sei se conseguirei repor o que antes escrevi, vou tentar. O seu painel de azulejos é soberbo. A sobriedade de tonalidades de azul no contraste com as diferentes formas de apresentar o mesmo desenho, muito pela pincelada do artista na altura, julgo serem pintados à mão. Magnífico, imponente, se fosse meu demoraria horas a contemplá-lo, a descobrir tantas diferenças, sem diferença nenhuma.Não concordo quando menciona que não teve criatividade na sua montagem porque encontrou à posteriori o mesmo motivo a forrar uma cozinha, e assim deixou de ser inédito. Está enganado. A cozinha forrada a azulejos é eloquente, sobretudo pela imensidão de branco no contraste nos rebordos em azul. Não se torna cansativa, mas é um cenário pesado, gigantesco. Já a sua criatividade levou-o a colocar o referido painel no único lugar que alguém comum nunca escolheria, o quarto dos seus filhos. Sabendo que este local é lugar de afectos, imagino o sussurrar de boas noites a contemplar o brilho que o painel resplandece. Isto sim é muita criatividade, viver em consonância com história, com arte. Memorável. Admiro-o ainda mais, apesar de virtual. Continue, sem medos, ajuda-me a ultrapassar fragilidades, confesso.

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  2. Interessante que os azulejos, quando em conjunto, fazem lembrar uma renda rematada com bordado, mas quando colocados de forma isolada, como o fizeste, faz-nos regressar ao mundo do azulejo, como padrão de revestimento por excelência, que altera o sentido da composição. Dá-lhe um ar intimista de cumplicidades e afectos (como, muito a propósito, refere acima a Luz Maria), o que, ainda que igualmente belo, falta ao outro, maior!
    Se bem que continuo a ficar perfeitamente embasbacado com ambas as soluções pelo espanto cénico que introduzem aos interiores que, doutra forma, poderiam ser perfeitamente anónimos e estéreis!
    Manel

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  3. boa noite!
    moro em setubal e tenho uma casa no centro historico de setubal,com um corredor de 10 metros, decorados com magnificos azulejos pombalinos azuis.gostaria de saber mais a cerca deles.se alguem me poder ajudar contacte susy_alexandra@hotmail.com

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