Infelizmente a minha casa é pequena e qualquer coisa para lá entrar, deve sujeitar-se a uma regra de ouro, ser pequena, tal como esta bela caneca inglesa, com uns desenhos bonitos, muito bem executados, como é hábito da loiça inglesa, através da técnica do transfer way.
A caneca apresenta o padrão roselle, que é composto por um romântico chalet e uma árvore, que ladeiam um lago, onde se avista ao longe um castelo. Roselle é o nome de uma localidade italiana no Sul de Florença, que era um ponto de escala do chamado Grand Tour
Vista de Roselle no início do Século XIX |
O Grand Tour era uma grande viagem efectuada por jovens oriundos das mais altas classes britânicas ou alemãs, destinada a aperfeiçoar a sua educação. A moda começou no século XVII e prolongou-se pelos séculos XVIII e XIX.
Os destinos principais eram a França, os Países Baixos, a Alemanha, a Suiça e sobretudo a Itália e mais tarde a Grécia e a Ásia Menor. Estas viagens eram longas, duravam por vezes mais de um ano e os jovens eram acompanhados por um tutor e tornaram-se uma prática instituída, considerada absolutamente necessária a uma boa educação. Serviam também para o jovem nobre fazer a sua educação sexual e ao que consta Veneza era a cidade preferida para essa iniciação, e enfim, nós só lhe podemos gabar o bom gosto.
O Grand Tour foi também o caminho escolhido dos amantes das belas artes, dos coleccionadores e dos escritores. Por essa forma, as classes cultas do Norte da Europa começaram a conhecer a arte do renascimento italiano e arte geco-romana e consequentemente o Grand Tour ajudou assim a difundir o palladianismo e o neoclassicismo, modas que reintroduziram o gosto pelo clássico na arte europeia.
Esta pequena peça de loiça, que traduz essa moda do Grand Tour, terá sido produzida entre 1837-97, em Tunstall, sede da John Meir & Son para gente da classe média, que não tinha dinheiro para viajar até Itália ou até a Grécia, mas que se comprazia a imaginar essas viagens ao pequeno almoço tomando leite ou chá nestas canecas.
Em Portugal, segundo aprendi com o mercador veneziano, O Roselle foi copiado pela Fábrica de Massarelos. Foi também adaptado de forma popular por um fabricante que algumas leiloeiras identificam como Vilar de Mouros e outras por loiça de Coimbra.
Gostei muito da versão simplificada em estanhola da peça portuguesa!
ResponderEliminarabraços
Fábio
Caro Luís
ResponderEliminarAdorei a explicação!
Abraços e bom fim de semana
Maria Paula
Bem...a explicação e a caneca, que é sem dúvida uma bonita peça.
ResponderEliminarM.Paula
Espantosamente bem esclarecido Luis muito bem!!
ResponderEliminarParabens
Cumprimentos
Teixeira
Não é só o Luís que vai aprendendo qualquer coisa com os meus posts, a dádiva é recíproca, já q eu também vou por aqui completando os meus conhecimentos.
ResponderEliminarJá conheço há bastante tempo este padrão Roselle, de q tenho um açucareiro, mas não tão bonito como a sua caneca porq o transfer é castanho e não nesse belo azul, mas não sabia q o nome vinha de uma cidade italiana e por isso nunca o ligaria ao Grand Tour.
Também já me tinha ocorrido q este padrão decorativo inglês pudesse ter influenciado a decoração de alguma da nossa faiança mais rústica, q apresenta edifícios com este tipo de telhado alpino, como esta sua travessa e uma terrina q mostrei em Setembro, por isso, estamos de acordo.
Quanto ao Grand Tour, sempre vi este hábito da aristocracia inglesa ser ligado à entrada de grande quantidade de obras de arte e antiguidades no Reino Unido. Os jovens nobres quando saíam levavam as bolsas bem recheadas e não só educavam o seu gosto pelas artes, mas também tinham como missão adquirir belas peças para as suas casas de família. Desconhecia a parte q diz respeito às artes de alcova em Veneza, mas q o sítio foi bem escolhido, também não tenho dúvida. Até me veio à memória o magnífico “Morte em Veneza” de Visconti, pensando na predisposição para a arte da sedução q o próprio local favorece…
Abraços
Maria Andrade
LuisY disse...
ResponderEliminarMuito obrigado a todos pelos vossos comentários tão simpático.
A Maria Andrade tem toda a razão. Muitas das boas colecções privadas europeias e também americanas numa fase mais posterior fizeram-se durante o Grand Tour e é por essa razão que este circuito turístico foi tão importante para o desenvolvimento do gosto, do coleccionismo e também dos próprios museus. Em Itália ou França os incipentes museus ou galerias reais ganharam dinasmismo para acolher os ingleses, que foram os primeiros turistas do mundo.
Abraços a todos
Olá Luís
ResponderEliminarAtrasada. Confesso que prefiro a travessa, olaria de Coimbra, Viana,Bandeira, porque de Vilar de Mouros não me parece, usavam mais a meia tinta. A caneca de cariz extraordinário no padrão Roselle não me satisfaz na plenitude. Desculpe, aprecio a delicadeza da peça, mas como já disse anteriormente não me fascino por loiças estrangeiras nem técnicas de pintura importadas.Adoro de sobremaneira as faianças mais grosseiras, de todas as nossas.
No entanto gabo a sua colecção e uma caneca é sempre uma peça que aprecio, pelo nome e utilidade no passado, tão usadas.Tenho uma mais alta de litro atribuída a Massarelos com pintura a transfer way em verde, comprada na feira da ladra há coisa de 30 anos.
Outras mais pequenas da viúva Lamego e ainda outra tipo ratinho
Beijos Isabel
Apesar de saber que todas estas peças, cuja decoração é obtida a partir de um método sistemático e repetitivo, são praticamente iguais umas às outras, não havendo grande intervenção da capacidade criativa do artesão ou trabalhador, nunca me canso de admirar os motivos, a sua beleza, os coloridos e a sua tendência para o boculismo!
ResponderEliminarFico fascinado pela sede de cultura que estes povos experimentavam, panorama contrastante com a que caracterizava o mundo aristocrático português de então, famílias que praticamente viviam enclausuradas nos seus ambientes algo asfixiantes e pequenos, como nos é informado por vários dos escritores que se dedicaram a caracterizar a sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX; entre estes não quero deixar passar em branco a correspondência da condessa de Rio Maior dirigida aos filhos, onde expressava que um dos seus maiores receios era que estes ficassem uns inúteis e analfabetos como era hábito entre os filhos-família da aristocracia de então.
Sempre que encontro uma peça deste tipo, e se tiver com que adquiri-la, não hesito.
Fazem sonhar e são belíssimas
Manel
Escapou o "bucolismo"!
ResponderEliminarManel
Ola Luís como esta?
ResponderEliminarBoa noite a todos os "bloggers"
Luís, como promessa é divida eu decidi criar um blog que tenha algumas peças da minha minúscula colecção.
Pois é fi-lo a meio desta semana.. Mas preciso muito da sua ajuda..
Veja:
http://traposcacosevelharias.blogspot.com/2011/02/identificacao-urgente-pote.html
Não sei de que Fabrica ou Olaria provem, mas é uma peça que admiro muito, e creio não haver muitas..
Cumprimentos
Flávio Teixeira