A nossa seguidora misteriosa presenteou-nos com mais um prato ratinho da sua colecção, representando um galo e que pertence à categoria dos zoomórficos (os animais), como este prato da antiga colecção do António de Capucho, que o Fábio fez-me o favor de me enviar.
Recordo mais uma vez que esta loiça ratinha se divide tradicionalmente nas seguintes categorias:
-zoomórficos (os animais), vegetalistas (plantas) e geométricos, que são os mais antigos.
-figuras populares, masculinas ou femininas, figuras fantásticas, caricaturas e retratos.
A propósito deste tipo de loiça tão característica, que não se confunde com mais nenhuma, tenho visto na Feira de Estremoz muitas destas peças à venda. Ao contrário, nas feiras de Lisboa, aparecem poucos ratinhos e quando isso acontece vendem-nos ao preço do ouro.
De facto se pensarmos bem, é natural que no Alentejo haja mais ratinhos do que em Lisboa, pois no passado, os trabalhadores beirões que chegavam às terras alentejanas para as ceifas trocavam a sua faiança ratinha por roupa usada. Mas, talvez o mais curioso disto tudo é que em Estremoz, a venda de velharias está praticamente toda na mão dos ciganos, coisa que nunca tinha visto em lado nenhum. Normalmente, vejo os ciganos feiras a venderem roupa nas feiras e droga na Baixa Lisboeta.
Mas, em Estremoz quase todas as bancas de velharias estão na mão dos ciganos e segundo me disseram são respeitados neste comércio de antiguidades. Todos eles apresentam uma vantagem negoceiam sempre. Primeiro atiram com um preço alto. Nós torcemos a cara. Baixam o preço. Voltamos a torcer o nariz e eles perguntam-nos quanto queremos oferecer. Portanto, é uma gente com a qual se pode comprar coisas a preços mais aceitáveis.
Os ciganos são um povo que me fascina sempre. Tenho-lhe algum receio, mas a história de nomadismo, que transportam consigo desde a Índia fascina-me. Recentemente tive por vizinhos umas quatro ou cinco famílias de ciganos moldavos (enfim, eu moro num bairro intercultural do centro de Lisboa) e olhei-os sempre com um misto de medo, admiração e nojo. As crianças eram duma beleza rara, mas aquelas famílias viviam no meio do maior lixo, como se estivessem num bairro da lata. Confesso que quando os vi longe respirei de alívio.
Passei dos Ratinhos a Estremoz e daí aos ciganos, mas o pensamento humano é feitio através destas estranhas associações
Então ,Luis?
ResponderEliminarMedo dos ciganos
Rapaiz,voçê não precisa ter medo,não
Um homem espadaúdo como você...
Com essa peitaça.
Mas que eles gostam de viver no lixo.Isso gostam.Alguns.Não todos
Conheço muitos que são bem esmerados
No Brasil,eles até são respeitados
Criança que não quer comer .é logo ameaçado com o cigano do saco preto
Eu tenho um misto de respeito e de admiração pelo povo cigano
Não tenho nenhum prato ratinho,mas gostaria de ter
Tenho muitos pratos antigos
E até peças de origem Romena
Trazidos pelos meus avós da Roménia para o Brasil em 1932
Cumprimentos amigos
Caro Anónimo
ResponderEliminarNão tenho um medo terrível dos ciganos. Receio-os um pouco, talvez por vê-los muitas vezes associados ao tráfico de droga ou talvez porque ao longo dos séculos foram associados ao crime e ao roubo.
No entanto, como todos os europeus, desde a Idade Média, admiro a sua liberdade, a capacidade de viverem à margem da sociedade, sem perderem a identidade e também o seu lado artístico. Há muitos anos assisti a um casamento cigano num baldio, que existia em em frente à casa dos meus pais e passei 4 ou 5 noites acordado até mais tarde a vê-los dançar e cantar. Aprecio também a beleza rara que alguns deles apresentam. Enfim, é um sentimento misto de medo e admiração, que julgo ser comum a todos nós que temos uma vida respeitável nas cidades.
Toda a literatura, toda a música e toda a pintura do Ocidente está cheia de obras que traduzem esta mistura de medo e admiração pelos Ciganos. Basta recordarmo-nos da Carmen, o romance de Prosper Merimé, adaptado a ópera pelo Bizet.
Abraços
Olá Luís!
ResponderEliminarAcho muito interessante este ratinho, não só pela figura do galo, que não conhecia neste tipo de peças, mas também pelo facto de a decoração de flores e folhagem ser diferente nos dois lados do prato.
É realmente uma peça muito bonita e invulgar.
Parabéns a quem a adquiriu e obrigada por a partilhar connosco.
Cumprimentos.
Olá Luís
ResponderEliminarEstive ausente.
De qualquer das formas quero agradecer a gentileza da dona deste Ratinho em nos presentear com mais um excelente exemplar. O primeiro que vejo assim, conhecia o da colecção de António Capucho, atribuído a Brioso, cujo formato é mais bacia, enquanto este é um prato de aba larga mais grosseiro de uma época posterior, contudo encantador e em óptimo estado de conservação.
Esta seguidora blogista tem uma colecção invejável, bem podia abrir um Museu e eterniza-lo com o seu nome de família.
Todos nós vemos todas as semanas nas feiras espólios inteiros de casas cujos donos morreram e os filhos se desfizeram sem dó nem piedade, outros optam por deitar tudo nos contentores do lixo.
Uma boa colecção como a que temos tido o prazer de conhecer será uma mais valia de recurso financeiro, sendo necessário passar o testemunho, explicar, para os herdeiros não serem desfraldados.
Uma destas feiras fiquei perplexa, o vendedor tinha sido chamado a Torres Novas ver um espólio, ficou boquiaberto tal a quantidade , desde pianos, espadas, faianças, o dono tinha morrido há 8 dias, e as filhas que não falavam com o pai há coisa de 30 anos queriam vender tudo,ao desbarato...
Peças de inestimável valor tem de perdurar no tempo para as gerações vindoiras conhecerem o nosso passado.
Peço desculpa de me ter alongado
Beijos
Isabel
Cara Maria Isabel
ResponderEliminarSeja bem vinda. Já sentíamos a sua falta e começávamos já vê-la como a filha pródiga que tarda a voltar a casa paterna. Lol
Também me impressiona ver as famílias desfazerem-se friamente de todo o recheio de um parente mais velho, mesmo quando desse recheio constam peças interessantes, ainda que não sejam propriamente de museu. Sei que hoje as casas são pequenas e já ninguém tem espaço para pianos de cauda, mesas de sala jantar para 14 ou 16 pessoas, mas há muita coisa que se pode conservar, loiças, cadeiras, cómodas e fotografias, pois é a forma de mantermos viva a memória dos que já morreram e ensinar os primeiros passos da história aos nossos filhos.
Mas este desapego pelo passado está muito presente na realidade contemporânea portuguesa. Um dos nossos seguidores, o Teixeira queixava-se amargamente num comentário da destruição sistemática do histórico centro de Leiria e até me pediu para escrever sobre o assunto no blog.
Talvez se o Teixeira começar também a escrever um blog, talvez se berrarmos todos juntos, com as nossas palavras se consiga pelo menos despertar mais os cidadãos para o património cultural. Quem sabe
Beijos
Esta peça é fantástica, sobretudo pela assimetria.
ResponderEliminarOs meus agradecimentos aos donos da peça por nos permitir admirá-la, ainda que prefira os de cariz mais geométrico.
O lado direito tem um desenho de fazer perder a cabeça!
Manel
Ola Luis
ResponderEliminarJá iniciei um blog para mostrar as minhas peças da minha minúscula colecção..
Vou escrever sobre o centro historico e documentar pictoricamente o assunto.
Aguarde
O blog chama-se Trapos Cacos e Velharias