A Rua do Benformoso é um sítio complicado. Mete um certo receio a quem vem de fora. Começa no Martim Moniz e termina no Largo do Intendente, zona de prostituição muito miserável. Há uns anos, numa noite qualquer, o Manel e eu andávamos a vaguear ao acaso pelo centro da cidade e quando nos aproximámos do Benformoso, alguém nos avisou para não irmos mais além. Julgo eu que até se nos dirigiu em inglês, pensando que eramos turistas,
No entanto durante o dia não é assim tão assustador. Costumava fazer essa rua para ir do Martim Moniz até ao Largo do Intendente, onde era o meu Centro de Saúde. Naquela Rua da Mouraria, sentimo-nos estrangeiros, porque ali ninguém fala português. Todas as lojas e casas estão ocupadas por chineses, indianos, nepaleses, senegaleses e gentes do Bangladesh. Até há uma mesquita no primeiro andar de uma daquelas casinhas. No fundo, o Islão voltou a ocupar um espaço que lhe pertenceu durante muito tempo.
Aquelas pessoas que por ali circulam e trabalham causam-nos estranheza. Vêem-se muitas mulheres inteiramente veladas como nos países muçulmanos mais conservadores e e aqueles panejamentos todos até são elegantes.
O mais antigo prédio de rendimento de Lisboa |
Mas além das pessoas, os edifícios de arquitectura popular Lisboeta são muito interessantes. Há nessa rua uma casa anterior ao terramoto, que se julga ser o mais antigo prédio de rendimentos de Lisboa
Um padrão incomum |
E depois há a azulejaria absolutamente fantástica e invulgar. Descobri um prédio revestido com padrão de xadrez muito incomum. Nunca tinha visto nada assim.
Mais adiante outro prédio com um padrão esponjado e um friso, com uma espécie de gregas, também muito original.
São prédios aparentemente modestos, mas bons exemplos de azulejaria do século XIX e tem a graça de estarem num conjunto urbano ainda coerente.
Vale a pena ir à Rua do Benformoso ver as mulheres veladas da Ásia e os azulejos portugueses. A mistura nem fica mal.
Luís
ResponderEliminarParabéns pelos apelativos azulejos de fachada de alguns prédios lisboetas com que nos brindou. A simplicidade dos motivos são a sua riqueza intrínseca.O azul e branco alternam ritmadamente, formando um padrão simples, mas cheio de força. Lembra-nos o azul do céu de Lisboa e das águas do Tejo. Fomos e seremos mestres na arte da azulejaria. Os exemplos que abundam por todo o país assim o demonstram.
Cumprimentos.
if.
Cara If
ResponderEliminarfico sempre surpreendido com a quantidade de padrões diferentes, que as fábricas de azulejos portugueses produziram no século XIX. E talvez me surpreenda mais ainda com a originalidade deles. O padrão do Xadrez é uma graça e no entanto é tão simples.
Normalmente valorizam-se muito os azulejos do séc. XVII e XVIII e muito bem, pois são lindos, mas a azulejaria industrial do século XIX é também extremamente criativa, nomeadamente a que reveste as fachadas das casas.
Abraços
Veja lá, Luís, que passei nesta rua há muito pouco tempo e não reparei nestes prédios de azulejos. Ia mais atenta ao ambiente ao nível da rua! :)
ResponderEliminarTambém não levava a máquina fotográfica, talvez por isso não fosse tão atenta às fachadas…
São realmente azulejos muito invulgares, quer num caso quer noutro e o efeito resulta muito bonito.
Mas lembro-me de ver na zona prédios antigos como este anterior ao terramoto, assim com os andares superiores mais salientes, a ver-se o apainelado de madeira que sustenta o avançado.
Oxalá as preservem!
Achei interessante o Luís referir que aquela zona acabou por ser ocupada recentemente por gentes com a mesma matriz cultural dos habitantes originais, pelo menos dos que deram origem ao topónimo Mouraria.
Os novos habitantes acabaram por encontrar ali alguma identidade talvez por isso, mas é sobretudo o multiculturalismo que lá impera e esse aspeto, embora também potenciador de conflitos, é uma riqueza para qualquer sociedade.
Desejo-lhe uma boa semana de trabalho, e já agora, a caminho ou em pequenos desvios, vá descobrindo e fotografando outros recantos da nossa bela Lisboa.
Um abraço
Com a Viúva Lamego ali tão próximo, até não me surpreenderia que os azulejos viessem dali.
ResponderEliminarEstes azulejos do séc. XIX só vivem quando vistos em conjunto, pois, perdem o interesse e não estão à altura dos seus congéneres do séc. XVII ou XVIII, quando vistos isolados.
Esta rua do Benformoso até nem está mal durante o dia, mas de noite ... dá algum receio
Manel
Desculpe-me a ignorância mas... o que são prédios de rendimento? Além do que possa eventualmente inferir do nome.
ResponderEliminarUm abraço de fora de Lisboa (talvez dái não conhecer essa expressão)
Maria Andrade
ResponderEliminarTalvez por serem consideradas zonas más, o Benformoso e o largo do Intendente foram pouco mexidos, ao contrário, por exemplo dos bairros circundantes do CC das Amoreiras, em que todos os dias vai abaixo mais uma casinha antiga, para fazer um condomínio ou prédio de luxo.
Abraços
sim, Manel, não me admiro que estes azulejos sejam Viúva Lamego. Pena que a Fábrica não publique um catálogo das suas produções desde o início até aos dias de hoje
ResponderEliminarMeu caro anónimo(a)
ResponderEliminarNão sei se "prédios de rendimento" será a expressão mais correcta, pois não sou jurista, mas normalmente são prédios de apartamentos em que cada um dos andares é alugado. O senhorio tira dessa actividade rendimentos. Creio que essa é a origem da expressão
Abraços
Pronto!
ResponderEliminarJá há (mais) uma razão para retornar logo à Lisboa!
E ainda nem consegui organizar as minhas fotos desta viagem...
abraços!
Fábio
Fábio
ResponderEliminarFoi um enorme prazer conhecer-te. Só tive pena de não te poder mostrar mais azulejos, mais coisas em Lisboa, mas o tempo não chegou para tudo.
Espero ver no teu blog as fotografias dos azulejos lisboetas com o teu olhar carioca.
Abraços lisboetas
Ah amigo!
ResponderEliminarAinda não consegui regularizar minha rotina.
Foi muito tempo que em Portugal passei, e muita coisa incrível que vivi. Ainda sinto um vazio causado pela volta.
Se pudesse, voltava correndo!
abraços!
Fábio
ResponderEliminarFiquei muito supreendido com todo o interesse demonstrado por tudo o que viste em Lisboa, ainda que não fosse cerâmica. Andavas sempre com olhos bem abertos para a arquitectura, as pessoas, ou as peças de mobiliário e ourivesaria, que vimos no museu.
Eu so hoje tive oportunidade de ler estas mensagens.Oque me deu muita tristeza.pois brinquei muito junto do chafariz.E ao ler o nome manel lembrei me do manecas que cresceu comigo no mesmo predio no 108.fui muito Feliz a60 anos nessa rua.Vou escrever os nomes das pessoas que me ensinaram a andar.A A Feijoca a Felismina e o Barroso. Se alguem conhecer o Manecas e me responder eu ficaria muito Feliz Saozita
ResponderEliminarVamos procurar o Manecas...
EliminarVou tentar ajudar!
Procuramos o Manecas da Rua do Benformoso nº 108 do 5º andar. Os seus padrinhos chamavam-se Felismina e Barroso, com quem ele viveu nos anos 50 / 60. Agradecemos qualquer informação.
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